Vemos o mural de autoria de Udo Knoff e o teto destruído da casa onde morou e trabalhou. |
A oficina está em ruínas |
Numa conversa que mantive por telefone com sua filha Patrícia ela me confirmou que não existe mais nada lá. Disse que seu marido também faleceu, e que ela e seus irmãos não se interessaram em dar prosseguimento ao trabalho que seu pai Udo Knoff desenvolvia. Portanto, só resta o Museu no Pelourinho, já que o acervo e as oficinas na residência do artista não mais existem.
Ainda existe no Centro Histórico , no Pelourinho, na Rua Frei Vicente, número 3 , o Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica que reúne a coleção particular do artista de azulejos dos séculos XVII , XVIII, XIX e XX de origem portuguesa, inglesa, francesa, holandesa , mexicana e belga, além de telhas vitrificadas, jarros e reproduções de azulejos antigos, em sua maioria de casarões que foram demolidos. Também você pode apreciar painéis, telhas de beiral, ferramentas, maquinário, objetos e fotografias. O artista escreveu o livro Azulejos na Bahia , que foi lançado em 1986 pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Ensinou também cerâmica na Escola de Belas Artes, da Ufba.
Museu Udo Knoff está fechado faz tempo. |
Estive no dia 12.6.2021 no Centro Histórico com o objetivo de visitar o Museu Udo Knoff. Encontrei inexplicavelmente todos os museus fechados, e não consegui nem autorização para tirar uma foto das obras do ceramista expostas . O que pude fazer foi fotografar sua fachada e apelar para outras fontes a fim de concluir este texto. Dizem que ao vender sua coleção ele acreditava ser a melhor forma de preservá-la , além de concretizar um de seus sonhos que era a existência de um espaço de oficinas como meio de educar e difundir a arte da azulejaria em nossa Bahia. Acontece que as más administrações nos últimos anos têm desprezado os museus baianos, e o Museu Udo Knoff está fechado há vários meses sem perspectiva de abertura. As informações são desencontradas. Uns dizem que estaria passando por reformas e também que foi fechado por causa da pandemia. À esta altura não se justifica permanecer fechado, basta criar protocolos para visitação. Já tinha enviado um e-mail pedindo informações e não me responderam. É assim que eles estão tratando a cultura em nossa Bahia.
Além de conter inúmeras peças de autoria de Udo Knoff tem muitos azulejos que ele recolheu durante sua existência de demolições de casarões do período colonial. Em 1994 , o então Banco do Estado da Bahia, o Baneb como era mais conhecido, adquiriu parte de sua coleção e inaugurou o Museu Baneb de Azulejaria e Cerâmica Udo Knoff . Cinco anos depois o Baneb foi privatizado e o acervo foi doado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia ( Ipac) , que inaugurou o museu em 2003 .
O Museu é composto por dois ambientes , sendo que a exposição Azulejaria na Bahia contém materiais da arte da cerâmica e do azulejo , além de apresentar uma visão cronológica da existência do azulejo dos séculos XV ao XX, incluindo sua chegada ao nosso país no século XVII.
O museu conta ainda com fotografias de prédio revestidos com azulejos confeccionados nas oficinas de Udo Knoff, que foram destruídas recentemente. Esses trabalhos são frutos de projetos de artistas os quais recorriam ao Udo para confeccionar os azulejos.
O grande ceramista em seu atelier de Brotas. |
O ceramista Horst Udo Enric Knoff nasceu na Alemanha, , na cidade de Halle , em 20 de maio de 1912 e faleceu em Salvador no dia 7 de junho de 1994. Era filho de fazendeiros Erich Alfred Wilhem Knoff e Klara Von Muller Knoff. Chegou a estudar agronomia , quando conheceu a estudante de Belas Artes Ivotici Becker Altmayer ,chegando a se matricular em Belas Artes. Porém devido a proibição de cursar duas faculdades, terminou optando por Agronomia onde se diplomou. Em 1948 casou-se com Klara Von Muller e por volta de 1950 veio morar no Rio de Janeiro, e passou a trabalhar na Cerâmica Duvivier , em Jacarepaguá. Daí se apaixonou pela arte de cerâmica e passou a fazer alguns cursos de especialização, e em 1952 a convite do professor Carlos Eduardo da Rocha veio fazer uma exposição de obras em óleo sobre tela na então Galeria Oxumaré, que funcionava no Passeio Público. Gostou da Bahia e veio de vez morar na Avenida D. João VI, em Brotas, onde manteve durante anos cinco fornos para a queima de suas peças e de outros artistas. No ano de 1960 por indicação do professor Mendonça Filho foi contratado pelo reitor Edgard Santos para lecionar na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Oito anos depois passou a recolher antigos azulejos de casarões em demolição, formando um acervo considerável. Em 1975 foi para Portugal e em Lisboa coletou material suficiente para finalizar sua pesquisa no Museu Madre Deus, hoje conhecido por Museu do Azulejo. Em 1986 publicou o livro Azulejos da Bahia.
Uma vista parcial do museu Udo Knoff quando estava funcionando. |
A palavra azulejo significa pedra cintilante ou polida, e é uma tradição maometana que data de 894 . Os azulejos revestem a mesquita de Sidi Okba , em Kairouan, com elementos vindos de Bagdá. Também são presença na Pérsia , hoje Irã, onde desde o século XII houve uma grande expansão de sua produção sendo exportados para toda Península Ibérica. Foram os portugueses que trouxeram os azulejos para o Brasil no século XVII, sendo logo aceitos para revestimento dos casarões por ser esmaltado e portanto impermeável resistente às intempéries . Um detalhe interessante que é na região Nordeste onde se encontra até hoje a maioria de azulejos no Brasil. Esta é a Mesquita de Sidi Okba, Kairouan, na Tunísia, onde os azulejos foram usados inicialmente.
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