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quinta-feira, 18 de julho de 2013

O ARLEQUIM NO CARNAVAL INTIMISTA DE LUÍZ JASMIM

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 18 DE MARÇO DE 1978

Um guache executado por Luíz
Jasmim
O carnaval da Bahia é uma festa onde predomina a participação popular e o trio elétrico serve de instrumento para uma terapia de milhares de pessoas.Mas, o artista observa e vê as coisas à sua maneira, dentro de sua visão pessoal e assim interfere nas coisas e mesmo na paisagem. Ele retira do real e transporta ao irreal e vice-versa. Isto demonstra a inquietação que deve carregar consigo porque como diz Alain Robbe-Grillet autor de Ano Passado em Marlenbard  que não há uma ordem eterna e que os artistas são os responsáveis pelas mudanças e sonhos. É preciso sonhar e nas ideias é que estão as novas linguagens.
Essas e outras afirmações foram feitas por Grillet numa entrevista que fiz no ano passado quando aqui ele esteve, para a revista Manchete. Mas o que interessa é que Jasmim revela-se este inconformista. Vendo a grande participação popular, e talvez mesmo porque não participou com muito afinco deste carnaval resolveu fazer o seu carnaval particular. Assim surgiram as belas figuras dos arlequins, que antes eram palhaços das antigas comédias italianas e hoje, até significam os farsantes o os cínicos. Mas eles carregam nas telas de Jasmim uma grande visão contemplativa.
Jasmim identificou-se muito com os retratos que fazia das pessoas de destaque na sociedade brasileira, especialmente as mulheres onde criou um estilo próprio com tendência ao surrealismo, colocando na composição elementos carregados ou tendentes a esta corrente da pintura. De lá partiu para colocar alguns animais, como os gatos e os micos em sua pintura.
Os animais apresentam-se quase que humanizados. Nesta exposição que será em São Paulo no próximo dia 5 de abril na Galeria Ipanema, Jasmim apresenta alguns trabalhos, especialmente os guaches com os arlequins segurando gatos e pássaros humanizados.
Assim considero Carnaval e Cinzas uma manifestação intimista do artista, que afirmou "agora brinco muito menos que antes. Talvez por isso este carnaval que passou tenha me emocionado muito. Fiquei este ano aqui durante o carnaval para sentir o povo brincar". Revela ainda Jasmim que de folião passou a espectador e ai sentiu a tristeza do arlequim. Todas as figuras guaches e óleos revelam uma tristeza e um olhar contemplativo.
Sempre que você observa um quadro depara-se com um olhar lhe fixando. É uma sensação interessante e ao mesmo tempo misteriosa. Ele acha que já consegue com o óleo toda àquela liberdade de seu traço de desenhista, onde com poucas e finas linhas consegue limitar os volumes e as formas.
Não concordo inteiramente. É verdade que antes seus quadros a óleo eram estáticos, e que agora estão com movimentos e transparências, principalmente nas vestes que dão leveza às figuras. Mas certamente dentro de pouco tempo conseguirá os movimentos extraordinários quando desenha, nas suas telas a óleo. Tudo é uma questão de exercício.
Outro detalhe que notei é que o branco e as cores tênues sobressaem e que seu trabalho é disciplinado. A temática é o arlequim e assim a desenvolveu do princípio ao fim, e o que é importante, sem se repetir. Mais uma vez Luíz Jasmim demonstra o seu grande talento de retratista, desenhista e agora pintor.

                                       O NORDESTE DE WILTON DE SOUSA

Cerca de 30 quadros de Wilton de Souza, em exposição na Galeria  Le Dome, até o final deste mês. A exposição foi aberta na semana passada, contando com a presença de muitos artistas.
Wilton de Souza, é um pintor de sentimentos, que transforma telas em poemas, contando a cada pincelada, toda a história do povo nordestino.
Nessa sua exposição o tema de seus quadros é baseado nos retalhos dos casarios do Recife, no folclore entre tantos outros.
Essa é a terceira vez que expõe na Bahia.Outras vezes já escrevi aqui e a primeira delas foi a convite do Governo do Estado, quando da inauguração do Solar do Unhão. A segunda foi na Bienal de Artes Plásticas, em 1965. "Diante desses acontecimentos importantes em minha carreira, acredito que a Bahia é o maior celeiro de arte do Nordeste. Daí a preferência de escolha para minha exposição, onde mostrei o meu trabalho, que podemos chamar de genuinamente brasileiro, pois procuro evitar o emprego de cores europeias, além de manter o intercâmbio de conhecimentos com colegas daqui." Wilton de Souza é pernambucano, de Recife, e desde menino que teve sua atenção voltada para a pintura.
Wilton pintou recentemente uma série de
telas sobre a vida de Lampião
É um autodidata que obteve sucesso nos mais diversos campos das artes plásticas, é desenhista, pintor, escultor, gravador, cenógrafo e cronista de arte na Imprensa pernambucana.
Também é detentor de vários prêmios do Salão de Pintura de Pernambuco e já figurou nas amostras de Gravuras Brasileiras em diversos países europeus. Além de todos os requisitos ocupa atualmente a cadeira número 30 da Academia de Artes e Letras de Pernambuco.

                                              WILMA LACERDA EXPORÁ EM SALVADOR

Carranca de Caboclo D'água,obra de Wilma
A pernambucana Wilma Lacerda está preparando algumas telas para uma exposição que fará em Salvador durante o mês o julho, provavelmente no Solar do Unhão. Um trabalho surrealista longe daquele comumente visto em nossas gáleas, ou seja calcado numa cultura européia fora de nossa realidade. Wilma soube pegar a técnica surrealista e colocar uma temática verdadeiramente brasileira onde surgem as favelas, a arquitetura rural e as famosas carrancas do Rio São Francisco. Como sabemos as carrancas são usadas na proa das embarcações Rio São Francisco para espantar o maus espíritos, portanto carregam consigo toda uma gama de mistério tão presente em muitos dos trabalhos de renomados surrealistas. Portanto esta artista desenvolve um trabalho surrealista com forte dose de presença das manifestações populares da gente brasileira. Um mundo primitivo que de repente torna-se fantástico e misterioso as telas desta pernambucana.

Obra Carranca do São Francisco, espantando
os espíritos ruins
Uma visão particular, mas que revela sua capacidade em utilizar o elemento primitivo com a força do mistério e do fantástico.Assim debruçada sobre as águas cálidas e barrentas do rio da Integração nacional ou nas favelas onde vivem milhares de pessoas sem as mínimas condições de higiene, Wilma Lacerda vai recriando o seu mundo onde existe uma predominância do amarelo. Algumas figuras esquálidas chegam a chocar a talvez seja esta a sua intenção.
Ela foi convidada a fazer algumas exposições em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, pela Vasp, que segundo fui informado abrirá algumas galerias de arte nas principais capitais brasileiras. Não sei se realmente esta notícia tem fundamento.Se for verdade, é gratificante e espero que a Bahia esteja incluída no plano desta empresa de aviação . A escolha foi boa porque Wilma Lacerda é uma artista incorporada à vida cultural brasileira e seu trabalho demonstra sua preocupação com as coisas deste país.

                                                        PAINEL
CAFÉ CONCERTO – Enquanto aguardamos o funcionamento do anunciado Café Concerto da Galeria Teresa o médico Jessé Acioly apresenta suas telas feitas sem um sentido maior de artista profissional. Já estive em outras exposições onde estavam expostas telas de sua autoria,e posso afirmar que tem muito que trabalhar daqui para frente.

ARTE RELIGIOSA – aproveitando a Semana Santa a Galeria Panorama organizou uma coletiva intitulada Arte Religiosa onde apresenta quadros de Anna Georgina, Cristiano Coelho,( MG), Eugênio Roberto, Fred Schaeppi, Ivonete Dias , Lourival Motta Filho , Luciana Pereira, Luguimar Vieira (MG), Miguel Najar e Mirabeua Sampaio.

FREIRAS – Também a Galeria O Cavalete apresenta uma coletiva com a temática Freiras, talvez também aproveitando a Quaresma. Assim estão expostos telas de Adelson do prado, Almiro, Anísio Dantas, Antenor Lago, Antoneto,Antônio Carlos Rodrigues, Antônio Rebouças, Augusto Rodrigues, Carlos Bastos, Bruno, Carl Brussel, Capelotti, César Romero, Costa Lima, Edson da Luz , Ivan Matos, Joubert , Justino Marinho, Luíz Jasmim, Murilo e Sérgio Velloso.


ZULENO PESSOAUma boa pedida será a exposição de Zuleno Pessoa, caso sejam concretizados os entendimentos que estão sendo mantidos com os encarregados do Museu de Arte Moderna da Bahia. Ele traduz com o pincel toda a realidade que o rodeia. Esteve ligado ao desenho publicitário e ilustrações para os jornais.
Artista plástico, Zuleno Ferreira da Veiga Pessoa nasceu a 02 de agosto de 1915,na cidade de Pesqueira, agreste de Pernambuco, onde viveu uma infância pobre e depois mudou para o Recife.Entre os anos de 1950 e 1970 foi ilustrador do Jornal do Commercio e do Diário 
da Noite. Trabalhou também com desenhos para publicidade.A partir 
de 1970 passou a dedicar-se exclusivamente à pintura. Um dos artistas pernambucanos mais conceituados no Brasil, chegou aos 90 anos de idade se dizendo "apenas um aprendiz" e que "não vou parar de pintar nem tão cedo".

ENCARDENAÇÕES- O setor de Arte da Biblioteca do Estado está expondo livros onde se destaca o trabalho artesanal. A mostra é intitulada Encadernações Artísticas, em comemoração a Semana Nacional da Biblioteca, que vai de 9 a 19 do corrente.

PICASSO – Após a morte de Pablo Picasso é a primeira vez que Jacqueline Picasso vai à Barcelona para uma exposição organizada pelos admiradores do mestre. Picasso quando deixou a Espanha levou consigo um forte propósito de só voltaria à sua pátria com a queda do franquismo. Infelizmente ele morreu antes, e não pode assistir o processo de democratização porque passa neste momento a Espanha. É hora de Guernica , seu quadro mais famoso, que está no Museu de Nova Iorque, ser transferido para a Espanha, conforme seu desejo.



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