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terça-feira, 23 de julho de 2013

I SALÃO UNIVERSITÁRIO BAIANO DE ARTES VISUAIS

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 15 DE JULHO DE 1978


Guache e dois dos seus trabalhos premiados
Foi razoável o nível dos trabalhos expostos pelos quarenta e quatro universitários, das várias escolas da Universidade Federal da Bahia e da Universidade de Feira de Santana e de outras que participaram do salão. Gostei sobretudo da maneira que os universitários começam a encarar um certame, onde está presente a concorrência, já que existiam cinco prêmios a serem dados àqueles trabalhos considerados os melhores. Gostei também da maneira como receberam a premiação. Parece-me que todos aceitaram, e se existem alguns descontentes só posso acreditar que estão entre os 26 que tiveram seus trabalhos recusados numa pré-seleção feita pela Comissão Julgadora do Salão. Acredito mesmo que esses recusados temos que voltar mais ainda nossa preocupação, no sentido de que retiram das cinzas todas as lições que uma derrota pode determinar. A recusa não deve servir de desestímulo. Ao contrário, deve levar o participante a procurar trabalhar mais, a observar as obras expostas e a avaliar o seu próprio trabalho.
Zivé e seu painel que lhe deu o segundo lugar
Pode ser que a Comissão Julgadora tenha cometido algum engano, não deixando que um ou outro integrasse o grupo dos expositores, mas se isto aconteceu não foi nada premeditado. Acho, até que o trabalho da Comissão deste ano, foi até mais tranquilo do que o ano passado e as decisões foram amadurecidas durante dois dias, sem contar que alguns trabalhos e mesmo a produção artística de alguns, é conhecida por quase todos os que gostam das artes visuais em Salvador. A Comissão procurou acima de tudo ser justa e acho que conseguiu o que almejava.
Mas não está afastada, insisto, a possibilidade de um engano, já que são homens que julgam pautados na cultura e nos conhecimentos e informações adquiridos com suas experiências profissionais.
Notei também que o universitário baiano não aprendeu o exemplo do Salão Nordestino, do qual também fui jurado no ano passado, quando recebeu o primeiro prêmio um grupo integrado de danças, música e artes plásticas.
Digo isto porque apenas um grupo mostrou um trabalho coletivo. Trata-se do Grupo Arvoredo, que infelizmente recebeu apenas uma Menção Especial, porque seus integrantes não conseguiram executar a contento a proposta.Achei inclusive a ideia excelente, mas o grupo pecou pela falta de força do espetáculo, que apresentava espaços vazios.
Talvez se tivessem colocado mais gente a coisa funcionasse bem. Também a ideia de utilizar a luz do dia como elemento do espetáculo contribuiu para o esvaziamento. Assim todos foram unânimes em afirmar que o Grupo Arvoredo, não tinha conseguido executar bem a sua proposta. Dois outros inscritos não conseguiram executar seus projetos e foram definitivamente eliminados de qualquer participação neste Salão.
                                                             PREMIADOS 

Habitaiba, proposta de Pitanga
De acordo com a ata de sessão de premiação redigida e assinada pela Comissão Julgadora composta de Fayga Ostrower, Wanda Pimentel de Carvalho, Juarez Paraiso, Sílvio Robatto e este colunista, e após uma livre e criteriosa discussão ficou decidido o seguinte: Primeiro Prêmio: autor Guache, com as obras Mãe Útero, Mãe Terra e Mãe Dor, no valor de CR$30 mil, Prêmio Funarte; Segundo Prêmio, autor Zivé, com as obras Fazer Face às Faces e Fazer Frente ás Forças, dois painéis, no valor de CR$20 mil, Prêmio Instituto Nacional de Artes Plásticas; Terceiro Prêmio, autor Márcia Magno Baptista, com os trabalhos Projeto Papagaio I e I, no valor de CR$15 mil, Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia; Quarto Prêmio,autor Antônio Benedito Bonfim (Bené), com  as obras Vai Um, Vai Dois e Vai Três, no valor de CR410 mil, Prêmio Instituto Cultural Brasil-Alemanha; Quinto Prêmio, autor Luís Carlos Guimarães Pitanga, com a Proposta Habitaiba, no valor de CR$10 mil, Prêmio Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Decidimos também conceder cinco Menções Especiais aos seguintes participantes: Neto (fotografias); Iza Assumpção Guimarães (jóias), Grupo Arvoredo, com a participação de Lívia Serafim, Murilo, Luís Tourinho, Maguary, Carlos Pita, Kátia Maria Bastos e Chiquinho Brandão; Terezinha Lima (gravuras) e Roberto Wilson (técnica mista).

                                                     ORGANIZAÇÃO

As gravuras que viraram pipas na proposta
de Márcia
Quero também fazer uma referência à dedicação e ao criterioso trabalho da Coordenação do Festival de Arte da Bahia, ao professor Ernest Widmer, e também, ao coordenador do I Salão Universitário Baiano de Artes Visuais, professor Ivo Vellame, que há vários dias vem trabalhando ininterruptamente para apresentar um grupo de trabalhos de nível. Reconhecimento também pela maneira como conduziu o estágio das inscrições, quando uns poucos tentavam sorrateiramente, com atitudes mesquinhas boicotar o Salão.
Atitude compreensiva, é a pleiteada indenização pelo acidente ocorrido no ano passado, quando um barracão da Escola de Belas Artes pegou fogo e foram destruídas algumas obras recusadas. Mas,  partir para boicotar um Salão que tem  por objetivo beneficiar e estimular a criação é uma distância muito grande. Basta uma rápida leitura no Regulamento do Salão, que no primeiro item tem o principal objetivo  é estimular e promover o desenvolvimento das Artes Visuais entre os estudantes universitários do Estado da Bahia, possibilitando uma visão global das suas potencialidades criativas. Acredito mesmo que aqueles que desejam boicotá-lo são pessoas sem condições de participar de um certame por falta de capacidade criativa. Conheço alguns deles, ou simplesmente têm receio que apareçam no cenário das artes no meio universitário novos expoentes reconhecidos através de premiação. Mas felizmente a ideia não vingou e o Salão está aí vitorioso e deve ser um orgulho, especialmente, dos estudantes da Escola de Belas Artes, por que a grande maioria dos premiados é de alunos desta unidade universitária. Isto vem também comprovar o que afirmei nu comentário que escrevi recente sobre a importância da escola como núcleo para elaboração de um trabalho de qualidade, reconhecendo que daí devem surgir as informações.

                                                           OS TRABALHOS

Os quadros de técnica mista de Bené Fonteles
Numa ligeira apreciação sobre os trabalhos de Guache devo dizer que tem uma técnica excelente, mas que está numa linha que certamente terá de abandoná-la dentro de pouco tempo. Tem técnica, mas a temática, o estilo, já está cansando um pouco e acredito que Guache com sua maneira de percepção e sensibilidade saberá partir para outra, sempre conservando a alta qualidade do seu desenho.
Zivé é talvez o mais talentoso entre os premiados. De temperamento agressivo ele carrega nos gestos de suas figuras toda aquela inquietação de sua juventude. Um artista nato, inquieto que sabe dominar a anatomia das formas humanas. Uma pintura forte e acima de tudo atual. Problemas da própria inconstância e não arrefecimento do jovem que não concorda com muita coisa que anda por aí. Um prêmio merecido.
Os projetos Papagaio I e o II de Márcia Magno não chegam a constituir uma coisa fora de série, excelente. Mas valeu apenas pela inovação, pelo trabalho de fazer várias gravuras que utilizam como suporte as flechas das pipas e as uniu através de linhas. Uma ideia até certo ponto inovadora. Gostei das gravuras, da limpeza, e das formas impressas.
Gostei da técnica mista de colagem e apropriação das formas de figuras através da utilização da transferência para o papel branco, de Bené. Um trabalho inclusive semelhante ao apresentado por Bené Fonteles numa exposição realizada no Icba no ano passado. Tem contemporaneidade e agrada.
A proposta ecológica Habitada de Pitanga, tem muita força. Mostrou o problema essencial de qualquer animal que é a habitação. A dificuldade que existe principalmente no homem sem recursos na grande metrópole e também, na zona rural para construir uma casa para seu abrigo e de sua família. Um trabalho forte, que não foi entendido por alguns, mas que fiz questão fechada em premiá-lo.
Espero que esta proposta seja um caminho para que Pitanga possa nos apresentar outros trabalhos mais apurados e cheios de conteúdo social e humano.
                                    
                                                ARTISTAS PARTICIPANTES

Alberto da Silva Rocha, Alberto José de Araújo, Ângela Cunha, Antenor Lago Costa, Antônio Benedito Bonfim (Bené), Antônio Ferreira Neto, Antônio Pedra Braga, Bel Borba, Carlos Alberto dos Santos, Clara O. Souza, Decaconde, Else Coutinho de Matos, Emílio Adrian Beramendi Pardeve; Ernâni de Melo, Florival Oliveira; Geraldo Ribeiro de Santana, Grupo Arvoredo, Guache, Ione Passos, Iza Assumpção Guimarães, Izanéia Fiterman, Jaime Santana Sodré Pereira, Josanildo Lacerda (Nildão), José Araripe Cavalcante Júnior, José Bonfim Amorim, José Carlos Lauria, Luís Carlos Guimarães Pitanga, Márcia, Magno Baptista, Maria do Rosário Barroso; Maso, Moacyr D’Ávila, Murilo, Renato Medeiros, Roberto Wilson, Rosa Amaral, Rosa Magali Serrano Leonelli, Sebastião Amaral do Couto (Tião), Sônia Margarida Guerra Cardoso, Terezinha Lima, Túlio Vasconcelos, Victor Hugo Kleiber e Zivé.

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