JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 18 DE OUTUBRO DE 1975
Frans Krajcberg pesquisando na praia de Nova Viçosa, na Bahia. |
O escultor o fotógrafo Frans Krajcberg
está indignado com certas declarações que estão sendo veiculadas em jornais e
revistas do sul do país. Nessas declarações determinadas pessoas querem impingir
a autoria de 23 quadros ao escultor. Disse Frans que "nunca pintei marinhas e os quadros que estão
afirmando ser de minha autoria jamais os vi, a não ser quando da realização de
leilão numa galeria carioca. O que desejo saber dos
responsáveis por esta trama é o artista é, ou não é a pessoa indicada para
reconhecer os trabalhos de sua autoria? Qual o direito que tem o artista de
reconhecer a sua obra. Devo adiantar que não acredito que alguém faça um quadro
e não se lembre que o criou."
Com relação a execução de alguns
azulejos, quando ele juntamente com Volpi, Zanini e outros trabalhavam na
Cerâmica Ozerarte, em São
Paulo , disse Krajcberg que "nós apenas transportávamos desenhos
consagrados por artistas de renome como Portinari. Querem dizer são aquarelas,
mas na realidade são desenhos que copiávamos num trabalho artesanal de
transportá-los para o azulejo. Esses desenhos não são de minha
autoria, nem tampouco de meus colegas. Os desenhos eram fornecidos pela
direção da cerâmica Ozerarte."
RESIDÊNCIA
Com relação a sua residência na Rua Tenente
Pena. em São Paulo Frans
Krajcberg disse que realmente residiu na rua Tenente Pena, por período de tempo
variáveis, entre 1949 e 1951. Os aluguéis do quarto que ali ocupava foram
sempre pagos com dinheiro e nunca com trabalhos como quer afirmar a dona da
pensão. Em 1952 transferi-me para o Paraná onde permaneci até 1956 trabalhando
nas indústrias Klabin, em
Monte Alegre. Portanto, não me encontrava em São Paulo entre 1952 e
1956. Vim para o Rio em 1956 e viajei para Paris e não em 1956 conforme
declaram após receber o Prêmio Nacional da Bienal de São Paulo em 1957.
RIU A VALER
O escultor Frans Krajcberg riu a
valer quando leu uma reportagem onde uma entrevistada afirmava que ele teria
retalhado todos os quadros expostos na Bienal.Disse Frans que "não retalhei
qualquer tela exposta na Bienal de São Paulo. Estes trabalhos expostos no Museu de Arte
Moderna de New York, são das coleções de Ernesto Wolf (São Paulo), e Adolfo Bloch
(Rio), entre outras.Todas as obras foram vendidas
durante a Bienal, São Paulo. É fundamental nesta questão que o artista é o mais
qualificado para identificar sua própria obra e sabe por onde a mesma está
indevidamente incluídos como parte de minha obra."
VIAJOU
Depois de conceder esta
entrevista Frans Krajcberg seguiu para a cidade de Nova Viçosa, no extremo sul
da Bahia, onde está desenvolvendo um projeto integrado com participação de
vários artistas que trabalham em madeira. Disse ele que estava residindo em Paris
quando se encontrou com Zanini, que lhe convidou para vir, à Nova Viçosa. Dois
meses depois voltava ao Brasil, mais exatamente para Nova Viçosa, onde iniciou
o seu trabalho. Criou ali um ambiente de trabalho em grupo onde cada um dos
artistas integrantes do dá sua participação. Há dois anos está em Nova Viçosa . Disse Frans que a cidade está passando por uma grande transformação principalmente com a
especulação imobiliária. Mesmo assim pretende continuar morando por lá. Ele
está necessitando que o Governo tome conhecimento do seu projeto, que vai lançar a Bahia ainda mais no cenário internacional. Ele quer apoio para
que possa montar o maquinário necessário para execução do seu projeto.
PINTORES BAIANOS EXPÕEM EM
GENEBRA
Os artistas Adelson Nunes, Da Trindade, Guilherme A. Almeida, Joel Santos Rosa, José Orlando Pereira de
Matos, Renato Affonso M. de Souza, Waldirene Borges do Nascimento participaram
de uma exposição em Genebra, Intitulada
Um Ciclo Plástico do Cacau.
Embora não sejam muito conhecidos
em Salvador, todos eles são conceituados na região cacaueira pela qualidade de
seus trabalhos.
A exposição foi organizada com o
objetivo de mostrar que existe um clima de espontaneidade, onde o homem pode
criar, e também dar uma visão plástica do Sul da Bahia. Foram expostas 34
obras, de nove artistas, e a mostra foi patrocinada pelo Conselho Consultivo
dos Produtores de Cacau. Cooperativa Central dos Agricultores do Sul da Bahia.
Muitos desses artistas não tem ligação com os chamados centros, onde estão os
museus e as galerias que proporcionam a comercialização. O trabalho é feito sem
a preocupação da venda, é feito com amor e acima de tudo com o aproveitamento
da exuberância das cores que enchem as retinas no Sul da Bahia.
EULER, UMA VIDA DEDICADA ÀS ARTES
Euler de Pereira Cardoso ou Euler
como era mais conhecido nos meios artísticos. Nasceu em 20 de outubro de 1923
no bairro de Jaraguá, em Maceió, Alagoas. Residia na Bahia desde 1941.Começou a desenhar e pintar ainda
jovem, tendo recebido boa influência de sua mãe, que também era artista.
Em 1939 foi cenógrafo do Teatro
de Estudantes de Maceió, e de 1943
a 1944 integrou o Teatro dos Estudantes da Bahia (TEB).
Possuía vários cursos livres de
desenho e pintura, tendo recebido orientação e incentivo dos professores:
Lourenço Peixoto, Santa Rosa, Philomeno Cruz e Robespierre Farias. Realizou
diversas exposições individuais e coletivas, tendo trabalhado em vários Estados e
também no exterior.
Foi fundador da Galeria Le Dome
com seus irmãos, desligando-se dois anos depois para fundar a Panorama
Galeria de Arte, sendo um dos maiores incentivadores da arte nesta Cidade.
Em seu atelier orientava com
carinho todos que o procuravam, tendo lançado vários artistas plásticos nesta Capital e outros estados. De fala mansa e de jeito de homem simples, Euler
viveu intensamente a Bahia, inspirando-se em seu mar azul e na tipologia de seu
povo.
Seus trabalhos estão espalhados
em vários museus, galerias e coleções particulares. Possuía trabalhos em
guache, óleo, bico de pena e crayon, bem como suas pesquisas em pinturas em
esmalte e acrílico líquido. Dotado de estilo próprio, com pintura limpa e sem
relevos, dando movimentos e formas naquilo que queria transmitir.
Publico esta biografia de Euler
em homenagem a sua tenacidade e ao trabalho que realizou no decorrer dos anos,
transmitindo seus conhecimentos a todos àqueles que privaram de sua amizade e
gostam de pintura.
Como disse na semana passada, sua
esposa e filhos darão continuidade à sua obra e uma prova disto é o Salão
Infanto Juvenil, que a Panorama está realizando.
OS TEMAS POPULARES DE JOSÉ PINTO
Os temas populares, as cores e o romantismo da pintura de José Pinto garantem um lugar de destaque no cenário nacional, especialmente entre os chamados pintores ingênuos. Um ingênuo de categoria, com experiência que poderiam lhe transportar para outras paragens. Mas, José Pinto permanece fiel a sua infância, aquilo que lhe marcou durante sua vivência no sul da Bahia, onde a vegetação farta e espessa colorida pelos frutos dos cacaueiros e coqueiros. è uma pintura acima de tudo instintiva, que é concebida com simplicidade, ingenuidade, sem ser simplória. Ele já pintou as madonas e figuras da mitologia, mas hoje sua pintura está voltada para passagens do Velho Testamento onde grandes ceias, Adão e Eva, e outras ,surgem como pano de fundo o verde das matas baianas e o azul do seu mar.
É uma pintura cheia de lirismo e beleza onde José Pinto consegue unir sua criatividade espontânea com um refinamento consciente. O artista ama acima de tudo os pássaros coloridos e as árvores, que ultimamente estão sendo dizimados sem piedade por inescrupulosos.
Apesar de ter vivido em cidades grandes , em metrópoles, José Pinto conseguiu manter um isolamento pictórico. Seu trabalho que é concebido na solidão permite conservar a pureza de sua pintura. Outros artistas partiram para trabalhos de vanguarda, para pesquisas e preocupações com assuntos ligados a sociedade tecnológica. Ele não. É antes de tudo um homem consciente daquilo que faz\. Sua pintura não pode ser classificada simplesmente como primitiva, ou seja aquela pintura feita e vendida como uma lembrança para o turista curioso. Está mais do que provado que não se pode rotular de primitiva uma pintura onde estão ausentes as cores cruas. Embora suas formas sejam parecidas com formas primitivas elas transpõem e vão mais além, chegando perto de um refinamento consciente. É como diz José Pinto "um objeto primitivo com formas simplificadas pode ser um objeto sofisticado. Minhas pintura não é primitiva no sentido que se preste ao primitivo".
Aliás este artista não está muito interessado em rotulações de críticos, que estão diariamente com a foice e um cutelo à procura de suas vítimas. O que na realidade lhe importa é desenvolver o seu trabalho num processo de criação contínuo, sempre procurando aperfeiçoar a sua pintura.
No entanto não posso deixar de reconhecer que as raízes de sua pintura mergulham em fontes primitivas - vejamos a temática - pelo desenho que a veicula. Já o seu colorido não é primitivo porque não vemos as cores cruas , e sim cores diluídas, claras e suaves que finalmente nos apresenta um cromatismo, equilibrado. Não existe em José Pinto aquela limitação de cores que identifica e torna os primitivos iguais.
OS TEMAS POPULARES DE JOSÉ PINTO
Casa de Farinha, óleo sobre tela de 90x80cm |
É uma pintura cheia de lirismo e beleza onde José Pinto consegue unir sua criatividade espontânea com um refinamento consciente. O artista ama acima de tudo os pássaros coloridos e as árvores, que ultimamente estão sendo dizimados sem piedade por inescrupulosos.
Apesar de ter vivido em cidades grandes , em metrópoles, José Pinto conseguiu manter um isolamento pictórico. Seu trabalho que é concebido na solidão permite conservar a pureza de sua pintura. Outros artistas partiram para trabalhos de vanguarda, para pesquisas e preocupações com assuntos ligados a sociedade tecnológica. Ele não. É antes de tudo um homem consciente daquilo que faz\. Sua pintura não pode ser classificada simplesmente como primitiva, ou seja aquela pintura feita e vendida como uma lembrança para o turista curioso. Está mais do que provado que não se pode rotular de primitiva uma pintura onde estão ausentes as cores cruas. Embora suas formas sejam parecidas com formas primitivas elas transpõem e vão mais além, chegando perto de um refinamento consciente. É como diz José Pinto "um objeto primitivo com formas simplificadas pode ser um objeto sofisticado. Minhas pintura não é primitiva no sentido que se preste ao primitivo".
Aliás este artista não está muito interessado em rotulações de críticos, que estão diariamente com a foice e um cutelo à procura de suas vítimas. O que na realidade lhe importa é desenvolver o seu trabalho num processo de criação contínuo, sempre procurando aperfeiçoar a sua pintura.
No entanto não posso deixar de reconhecer que as raízes de sua pintura mergulham em fontes primitivas - vejamos a temática - pelo desenho que a veicula. Já o seu colorido não é primitivo porque não vemos as cores cruas , e sim cores diluídas, claras e suaves que finalmente nos apresenta um cromatismo, equilibrado. Não existe em José Pinto aquela limitação de cores que identifica e torna os primitivos iguais.
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