Translate

domingo, 7 de julho de 2013

ARTISTAS PROTESTAM

JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 20 DE MARÇO DE 1976

Recebi um abaixo assinado contendo mais de uma centena de assinaturas de artistas e outros profissionais liberais protestando contra os termos com que foi lavrado o prefácio do Catálogo da XIII Bienal de São Paulo, págs. 55 e 56. Diz o documento:

"Os artistas abaixo assinados vem manifestar seu protesto contra os termos com que foi lavrado o prefácio do catálogo da XIII Bienal de São Paulo pags 55 e 56, que pretende apresentar e comentar as manifestações passadas e contemporâneas das artes plásticas no Brasil.
A esqualidez da argumentação, a incoerência das noções aí enunciadas, e o deficiente e apressado balanço histórico da trajetória de nossa produção estética, prestam um invulgar desserviço á informação pública, nacional e estrangeira.
Além de evidenciar a imperícia de seu autor para lidar com tal matéria, esse texto, que não passa de um conjunto de anotações pilhéricas e desrespeitosas, compromete a imagem da Bienal de São Paulo diante dos artistas, do público em geral, e das entidades particulares e governamentais, que lhe emprestam prestígio e lhe facultam a sobrevivência.
É lamentável que essa instituição tenha autorizado e avaliado tamanha insolência aos autores do acervo artístico deste País. E é incompreensível.Pois o texto, advogando um vago e estranho sectarismo artístico, agride o próprio espírito de livre expressão da Bienal de São Paulo.
Ao registrarmos nosso pasmo e nossa indignação, lançamos um alerta contra tais irresponsabilidades que somente contribuem para desencorajar a colaboração e o apoio que a Bienal de São Paulo tem angariado em nosso meio.
Entre os insatisfeitos podemos citar: Mabe, Volpi, Charoux, Ionaldo Cavalcanti, Rebolo, Lucilla de Toledo Mezzotero; Presidente da Associação Internacional dos Artistas Plásticos, Carlos Scliar; o Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo apoiou os artistas, bem como a Diretoria do Clube dos Artistas e Amigos da Arte em São Paulo."

Eis o texto que gerou o protesto:

         ARREMEDOS, FASCÍNIOS E REVOLUÇÕES

"Os gregos fascinaram os romanos. Picasso fascinado, descobriu a arte negra e inventou o Cubismo. Nós, os brasileiros, fascinados, descobrimos e assimilamos o mundo. Isso foi a partir de 1951.
Naquele ano começava a Bienal de São Paulo e a revolução estética que ela traria à nossa pobre, desinformada, raquítica e ingênua arte contemporânea. Antes da Guerra, apenas a Semana de 22 tinha alterado, um pouco, o nosso delírio morno, perdido numa nostalgia e idolatria muito exageradas pela Europa. Perdão pela França.
Depois da Guerra surgiram o Museu de Arte de São Paulo e a Bienal de São Paulo. A província se assustou um pouco e os quadros acadêmicos e as estátuas de mármores da Avenida Paulista estremeceram, um pouco, nas suas bases. Naquele tempo, onde andava a arte brasileira?
Um pouco (muito expressivo) da arte ocidental ainda está no MASP, o museu orgulho dos paulistas. Como se sabe, povo pioneiro. Lá na mesma Avenida Paulista, no lugar dos quadros acadêmicos e das estátuas de mármore branco (esverdeado) está um acervo que resume o pensamento humano de alguns séculos.
Nas paredes brancas e vazias da Bienal de São Paulo não existe nada. Museu-vivo do homem do século vinte, a Bienal de São Paulo não guarda vestígios físicos do que ela mostrou nesses últimos 25 anos. Nem precisaria, tal a sua força revolucionária e o seu jeito, muito especial, de reunir, mostrar e observar a arte do mundo. Para depois começar a irradiação.
Por este prédio sólido e solene passou o pensamento estético, político e social do homem do século vinte. Em apenas 25 anos. (Sem esses 25 anos, a arte contemporânea brasileira estaria, certamente, na estaca zero. Ou reeditando as discussões da Semana de 22. Ou ainda querendo saber se pintura figurativa é mais importante, - válida - que a abstrata.)
A Bienal de São Paulo, repito, é um museu-vivo. Até nisso elA é pioneira e revolucionária. Para quem não tem tempo ou é muito jovem; (?) existe a opção arqueológica do vestígio indestrutível. Arquivo e Memória.
                                                  INTERMEZZO
Perguntas ( mesquinhas) que meu irmão me fez ontem à noite depois do jantar.
-Quem é mais construtivo: Francisco Matarazzo Sobrinho ou Pietro Maria Bardi?
-Quem é mais "contemporâneo": Walter Zanini ou a cidade de Brasília?
-Quem é mais misterioso: Greta Garbo ou Waldick Soriano?
-O texto do jornalismo deve ser literário ou apenas informativo?
-Quem é mais elegante: Audrey Hepburn, Wilza Carla ou Tereza Leite de Sousa Campos?
-Quem é o melhor : Picasso ou Portinari?
-Quem é mais erudito: o critico que vem da literatura ou o que saiu do jornalismo?
-Quem é mais sexy: Regina Duarte ou Leonor Fini?
-Quem está mais lúcido no momento: Roberto Pontual ou Walmir Ayala?
-Quem é mais honesto: Denise Renée, Malvina Gelleni ou Pierre Restany?
-Quem tem, no momento, uma verdade mais absoluta: Juscelino Kubistchek de Oliveira ou D. Evaristo Arns?
-Quem faz a melhor diagramação: Vasurely? TV Globo? Jornal da Tarde? Modrian? Los Angeles Times? Abelardo Zaluar? The New York Times?
-Quem é mais brilhante: a estrela Veja ou o strass?
-Quem é mais contundente: Telmo Martino quando escreve ou Aracy de Amaral quando fala?
-Quem é mais alegre: Ed Sullivan ou Chacrinha?
-Quem é mais feminina: Florinda Bolkan ou Veruscka?
-Quem é mais "nacionalista ": Aldemir Martins ou Bernard Buffet?
-Na hora do acoplamento quem deu a primeira torção para a direita: a Apollo ou a Soyuz?
-Quem é mais original: Claes Oldenburg ou Antônio Henrique Amaral?
-Quem é mais inventivo: Givenchy ou Clodovil?
-Quem é melhor: Sérgio Mendes ou Ray Connif?
-Quem renovou mais: Jogoda Buié ou Madeleine Colaço?
Última exaustiva pergunta:
-Quem chegou primeiro: Hartung ou Maria Bonomi? A revista Veja ou o Time? Emerson Fittipaldi ou o Sptunik? Tereza D’Amico ou Robert Rauschenberg? Walter Lewy ou Magritte? Cartier Bresson ou Stefânia Bril? Albers ou Arcângelo Ianelli e Paulo Roberto Leal?

                                                          FINALE
Antes foi o fascínio. Hoje, a realidade sem humildade e sem introspecção ninguém descobre nada. Nem mesmo a identidade nacional da arte. E hoje, vale a pena que cada país tenha sua marca registrada na sua arte? Vale. A grandeza da arte africana aí está, respondendo afirmativamente à discutida polêmica.
Os Estados Unidos, depois de dois séculos de absorção, apreensão e aquisição da arte universal encontraram seu próprio caminho a partir da Pop Art. Que, por usa vez, redescobriu um gênio: E. Hopper. (Sua influência na arte atual é enorme, eficaz. Remember Rafael Canogar e, pelo menos, três artistas da Espanha nesta XIII Bienal).
E o Brasil com está depois de 1951? Mal, confuso. Com muito ódio concentrado. Reclamando sempre e monotonamente contra a Bienal de São Paulo. Como se ela fosse a culpada pelo vazio da invenção pessoal. Como se ela tivesse a obrigação de dizer ( principalmente aos que ainda estão copiando, perdão, assimilando a arte do mundo) que é preciso parar.
Parar e pensar . Pensar e mudar. Mudar e Construir. Construir mergulhando - com sinceridade e sem demagogia ou falso ufanismo- na nossa realidade cultural. Nos nossos problemas sociais, políticos, econômicos.No nosso folclore tão odiado, incompreendido, desconhecido e mal amado.
É preciso esquecer o fascínio. O delírio também. É preciso ter a coragem da humildade e ver o que somos. É preciso que a nossa arte reflita a nossa verdade cultural. É preciso assumir o que somos. A Arte Brasileira só será respeitada e admirada lá fora e por nos mesmos quando ela for uma extensão natural do que somos. Caso contrário, ainda vão continuar sorrindo de nossos trabalhos, do nosso número sempre maior de artistas expondo o arremedo subproduto da Arte do mundo.
Mas, hoje, vale a pena ter preocupação com uma arte nacional? Como uma Arte Brasileira só vai surgir ou aparecer quando esquecermos, também, o "estilo mediterrâneo" ou "neoclássico" da nossa arquitetura. E quando nossos apartamentos , à beira mar não tiverem veludo vermelho, móveis dourados, lustres de cristal, prataria." Olney Kruse
(Transcrição do Catálogo Oficial da XIII Bienal de São Paulo)

                GALERIA  PANORAMA TEM COLETIVA

Palhaço, obra de Anna Georgina
Anna Georgina, Antônio Rebouças, Emídio Magalhães, José Mirabeau Sampaio, Luís Fernando Pinto, Odete Valente e Odete Magalhães estão participando de uma exposição coletiva na Galeria Panorama desde ontem. Esta é a primeira exposição de 1976 da Panorama, que reúne sete conhecidos artistas baianos, que se destacam pela qualidade dos seus trabalhos, respeitados os seus estilos característicos. Assim formas e cores variadas, dentro de temas os mais diversos, emprestam especial beleza ao conjunto dos quadros expostos, evidenciando a criatividade de cada um.
O mestre Emídio Magalhães, ex-Diretor da Escola de Belas Artes é detentor de vários prêmios nacionais, ex-membro do Júri do Conselho Nacional de Artes Plásticas.
José Mirabeau Sampaio conhecido por suas madonas folheadas a ouro, é do chamado grupo do escritor Jorge Amado. É baiano nascido na freguesia de São Pedro em 1911. Outro expositor, é o psiquiatra Luís Fernando Pinto que  trabalhou com Adam Firnekaes já tendo realizado uma série de exposições coletivas e individuais.
Antônio Rebouças ou simplesmente Rebouças, como é mais conhecido, é também um artista de talento, escultor que se impôs pela sua individualidade, e hoje, está trabalhando com óleo sobre tela. Uma figura controvertida no lidar com as pessoas, mas que extravasa todo o seu talento na hora da criação. Odete Magalhães, Odete Valente e Ana Georgina formam o trio de mulheres que participa desta mostra.


               OS SIGNOS DE ANTÔNIO LUÍZ

Estamos na era da Comunicação onde os sinais alcançam através de canais repetidores os mais distantes locais. Estamos na era onde o homem lança mão de diversos instrumentos para alcançar o objetivo maior que é a recepção dos sinais e signos lançados pelos meios de comunicação de massa. É dentro deste pensamento que o artista Antônio Luiz M. Andrade apresenta os seus signos.
Os Signos de A.L.M.Andrade
Para ele um operário ou guerrilheiro da linguagem armada com a teoria da informação e a semiótica, está se preparando para lutar contra as linguagens acadêmicas, propondo novas codificações e envolvendo o público no processo criativo.
Tomando-se a arte como informação e não apenas suporte de mensagens, o artista procura realizar um projeto criativo com a participação do público. Ele está interessado em participar das mudanças, em criar linguagens e matrizes para outros usos. Só que estas matrizes criadas podem, dentro de pouco tempo, serem também consideradas acadêmicas. Sim, porque estamos vivendo num momento de criação contínua. O que foi feito ontem ou hoje não podem simplesmente serem desprezados pelo que estaremos fazendo amanhã.
Confesso que gostei do depoimento de Antônio Luiz, que demonstra uma certa consciência do seu papel dentro da sociedade, o que infelizmente não acontece com a  maioria de seus colegas, que estão preocupados em faturar desenhando, pintando ou esculpindo coisas que na realidade não sabem porque.


Nenhum comentário:

Postar um comentário