JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 15 DE
NOVEMBRO DE 1975
Banhistas, obra do escultor Cheschiatti |
"Com dois bons amigos vemos
caminhando pela vida.
Eu, absorvido pela Arquitetura,
inventando formas, brincando com o concreto armado; ele, o nosso Cheschiatti, a
fazer suas esculturas. Essas mulheres lindas, barrocas, cheias de curvas, que
seu talento cria para o mármore. Como gosto de vê-las", Oscar Niemeyer.
Esta declaração de Niemeyer é
suficiente para entendermos a importância de Cheschiatti, escultor, autor das
Banhistas, aquelas duas mulheres puxando os cabelos instaladas estrategicamente no lago do Palácio da
Alvorada, dos anjos e dos profetas da Catedral de Brasílica e das três figuras
militares do Monumento aos Mortos de II Guerra, no Rio.
Agora ele está expondo na Bolsa
de Arte, reunindo trabalhos de diversas fases, compreendidas num período que
vai de 1942 a
1972.
Uma coisa curiosa é que a maioria
dos artistas reluta em encomendas porque é uma concessão. Nem sempre, e uma
prova disto é que Cheschiatti responde " prefiro as encomendas, porque o trabalho
fica localizado numa arquitetura.Gosto que ele tenha um destino,
que funcione para alguma coisa."
Ele não expõe há 19 anos e
declara que "hoje, acho que a moderna escultura está ficando acadêmica. Todas
tem as mesmas formas abstratas. Através da figuração creio que se pode fazer
sempre coisas diferentes."
Justificando a exposição
Cheschiatti respondeu que "fiz esta exposição porque me cobraram. Eu não sentia
necessidade, porque meu trabalho sempre foi o de complementar a arquitetura,
colaborando com Oscar e outros arquitetos. Uma escultura muito engajada. E além
disso eu já não sou mais novidade, diante desta garotada toda que expõe todo
dia." Prefere ficar em seu atelier, no Santo Cristo, no Rio de Janeiro.
QUINZE BAIANOS NA GALERIA GENTILLI
Quinze plásticos estão reunidos na Galeria Gentil, que fica na Rua Guedes Cabral, 203, no Rio Vermelho. Entre esses destaco Edmilson Ribeiro, Almiro Borges e Hamilton Ferreira, cujos trabalhos já tive a oportunidade de examiná-los e acompanho na medida do possível o desenvolvimento de suas obras.
Entalhe de Edmilson |
Almiro Borges continua pintando a velha Bahia, os seus pontos postais como o Elevador Lacerda, das ladeiras incertas ou as igrejas em ruínas. Vindo de Alagoinhas Almiro integrou-se na magia de Salvador e daí retira a essência para a elaboração de seus quadros.
Hamilton Ferreira identifica-se com o candomblé e suas figuras míticas dançando, movimentando-se num colorido tropical. Suas figuras são singelas e frágeis e quase sempre representam Orixás, ou mesmo baianas, que normalmente vemos nos bairros mais tradicionais como Santo Antônio, Pelourinho e outros.AS SEREIAS
Trinta e três artistas estão
mostrando sereias na Galeria Sereia, no Pelourinho as quais estão sob os
cuidados de Dimitri. A exposição foi inaugurada ontem, à noite, razão porque
não posso fazer uma apreciação melhor já que a coluna é feita com certa
antecedência. Entre alguns participantes destacam-se Alonso, Anito Sartori,
Luís Britto, Bronko, Bruno Furrer, Candoca, Carlos Bastos, Carybé, Edsoleda
Santos, Faróleo, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Jotacê, Juarez Paraíso,
Lozano, Miguel Najar, Pedroso, Eckenberger, Udo Knoff e Yuriko.
O marchand Dimitri escolheu o tema Sereia para
que esses artistas apresentassem alguns trabalhos em homenagem ao próprio nome
da Galeria, que vem se destacando no movimento artístico baiano.
PORTRAITS
A Bahia foi transformada num bom
mercado para os retratistas. Estamos com três ou quatro que retratam as madames da sociedade ou
expoentes da economia, da educação e assim por diante. Agora é a vez da
exposição de Gilberto Vital, na Pousada do Convento do Carmo com abertura
prevista para hoje, ás 21 horas.
Como retratista, o Gilberto
preferiu colocar em seu catálogo três fotografias suas, o que demonstra uma
preocupação narcisista.Porém, não é original. Outro
pintor vem cultuando o seu físico por este Brasil afora, e o clímax foi uma
exposição realizada na igrejinha do Solar do Unhão, onde ele aparecia numa foto
enrolado numa imensa cobra colorida.
UMA IDEIA, UM MERCADO
A ideia de um local no Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro para vendas de livros, desenhos, revistas,
pequenas esculturas, objetos, gravuras, tapeçarias, pinturas e outras peças faz
surgir em 1973 a Galeria no MAM, que passou a funcionar com acervo de
trabalhos de vários artistas, em consignação. Atualmente
a Galeria está vendendo desenhos de Wanda Pimentel, Ivens Machado, Rogério Luz,
Sérgio Campos Mello, Nelson Augusto e gravuras de Eduardo Sued, Thereza
Miranda, Anna Bella Geiger, Ivan Serpa, Abelardo Zaluar e outros. A Galeria
funciona de terça a sábado, das 14 horas às 19 horas no foyer do MAM.
ARTE GAÚCHA NO SOLAR DO UNHÃO
Foto de Zorávia Bettiol |
Oxalá e Yemanjá no País do Sol, xilo de Zorávia Bettiol |
Quando falamos em gaúchos
pensamos logo em churrasco, em paisagens dos pampas.Mas, nada disso o que é louvável
nos é apresentado nesta mostra.Isto demonstra uma preocupação em
apresentar um agrupamento de trabalhos sem regionalismo. É a ambição da
universalidade da arte que rompe com este regionalismo que limita a
criatividade voltando-se para um mercado de lembranças. As gerações vem se
sucedendo, pesquisando, e procurando novas formas e utilizando novos materiais
os quais devem ser aplicados e jogados dentro desta concepção maior, a busca de
uma linguagem universal.
Enquanto os gaúchos nos
apresentam uma arte rompida com o regionalismo muitos baianos continuam
pintando casarios, alagados e outras coisas já saturadas, desgastadas e
inertes.
Mesmo a paisagem urbana de Ado
Malagoli não se identifica com o regionalismo e pode ser considerada uma
paisagem urbana de qualquer parte do país ou mesmo europeia.
Já a gravura pioneira de Danúbio
Gonçalves demonstra uma disciplina e uma técnica apurada.E, finalmente, quero destacar as
xilos de Zorávia Bettiol que poderiam ter sido feitas por um baiano devido a
temática tratada.
MESTRE RAYMUNDO AGUIAR NA GALERIA LE DÔME
O mestre Raymundo Aguiar com uma obra recente |
Quando falamos em Raymundo Aguiar
lembramos dos seus 82 anos de idade e aquela vontade de criar.Agora ele mostra 15 trabalhos,
concebidos nesses últimos meses.
Ao lado disso, temos a festa de
dez anos de fundação da galeria que vem lutando terrivelmente para continuar
realizando novos valores e principalmente tentando desenvolver o incipiente
mercado de arte na Bahia. Uma coisa curiosa que acontece aqui é que a maioria
dos artistas baianos trabalha para fora, produzem aqui e vendem para turistas
ou colecionadores do sul o País. Poucos vendem trabalhos a colecionadores
locais. Assim a Galeria Le Dôme merece um respeito e consideração pelo trabalho
pioneiro, como outras galerias, que realiza. Uma das metas de sua atual
diretoria é conseguir uma sede própria onde este trabalho possa crescer ainda
mais.
Voltando ao mestre Raymundo
Aguiar, notamos em seus trabalhos uma segurança cada vez maior, dentro é claro,
do estilo que ele executa. Raimundo tem mais de 50 anos de vida dedicada à pintura e seu primeiro prêmio foi quando da realização do Salão Oficial em
comemoração ao Centenário da Independência da Bahia.
Dedicou-se também aos desenhos,
charges, gravuras e principalmente ás pinturas, e paralelamente ensinava na
Escola de Belas Artes. Para os que não conhecem de perto Raymundo Aguiar nasceu
em Portugal, em 1893. Fez curso primário, secundário em Lisboa, chegando ao
Brasil com 29 anos de idade para ser comerciante. Naturalizou-se brasileiro e
somente em 1917 começa a trabalhar com o mestre Oséas dos Santos e na A Tarde.
Em 1923 participa de um salão oficial, em 1927 realizou mais duas exposições em Santo Antônio de
Jesus e Salvador. Em 1928 largou o comércio dedicando-se às artes plásticas.
Estudou Belas Artes e foi convidado para Professor Assistente na mesma escola,
na cadeira de Sombras, Perspectiva e Estereotomia, tornando-se catedrático e
afastando-se por força de aposentadoria aos 70 anos de idade.
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