JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 17
DE AGOSTO DE 1981
Sante ao lado de um de seus últimos quadros,em sua casa no bairro de Itapuã |
É este o mundo onde hoje gravitam
estes novos personagens, sempre presentes na obra mística de Sante Scaldaferri.
Aliás, o genótipo de Sante lembra um beato em puro estado de penitência.
Sua fala mansa, seu olhar terno
e seu jeito de andar lembram, sem qualquer dúvida, àqueles muitos Antônios
Conselheiros que de quando em vez surgem nos sertões, especialmente quando a
seca castiga as terras e os rebanhos. Portanto, perfeitamente identificado com
este mundo de beatos, ex-votos e pagadores de promessas Sante vai palmilhando o
seu universo mítico.
Sua obra é uma das mais ricas e
cheias de individualidade criativa que existe no mercado de arte da Bahia.
Sua capacidade em captar o
sentimento da religiosidade do Nordeste transpõe o regional, como afirma o
critico Walmir Ayala e alcança o universal especialmente agora quando suas
aquarelas e telas apresentam os ex-votos que viraram gente.
São os biótipos desta gente
avarenta e cheia de pecados que luta com unhas e dentes para sobreviver levando
consigo a avareza, a inveja, a gula, a luxúria e toda a série de pecados que
contribuem para nos tornar mortais pecadores, segundo os regulamentos das
religiões. Não podemos deixar de salientar em sua obra, principalmente nesta
sua fase, que Scaldaferri sobrepuja o folclore, pois a grandiosidade de sua
criação está bem acima da simples reprodução. Diria que é uma recriação de uma
manifestação popular dentro de uma visão ampla do universo global do universo.
Seus trabalhos podem assim ser aceitos e identificados com o que existe de mais
significativo em termos de manifestação de religiosidade e mesmo da fraqueza
dos homens. E, esta briga pela sobrevivência entremeada de pecados está em toda
a parte, se duvidar dê uma olhadela nas pessoas que estão ao seu redor.
Sante Scaldaferri preparou três
exposições sendo uma para São Paulo, outra para o Rio de Janeiro, e esta que
vai brindar os baianos a partir do dia 27 com suas novas aquarelas que estarão
expostas na Galeria Genaro de Carvalho, da Dometila Garrido.
MEMBROS DO GRUPO RAÍZES NA ÉPOCA GALERIA
Da esquerda para direita:Roberto, Luis Caetano, a proprietária da Galeria e Heitorzinho |
O livro está dividido em três
partes, sendo que na primeira será feita uma breve viagem às origens do artista
ou seja, onde ele nasceu, sua infância,seus primeiros amigos e parentes mais chegados.
Na segunda parte o livro trará seus versos, seus parceiros e poesias dedicadas
a ele por Drummond, Bandeira, Hermínio Belo de Carvalho, dentre muitos outros.
Na última parte sua busca de manifestar-se através da pintura, declarações de
pintores amigos e reproduções de seus principais quadros. Para finalizar,
apresentações de artistas que seguiram seus passos e ensinamentos, os quais
estão agora expondo em Salvador.
Jogo de Cartas, Heitor dos Prazeres |
Cresci e fui trabalhar, com meu
pai na Rádio Nacional e em 1964 fomos dispensados.Mas, sempre continuei
acompanhando de perto o seu trabalho e terminei virando pintor".
Quanto ao Roberto, sua ligação
com Heitor era uma transa burocrática. Eu entregava os quadros do velho, ia
receber o dinheiro e entregar convites para novas exposições. Aí a coisa ficou
ruim e virei pintor.
O Grupo Raízes está sendo apoiado
pelo marchand Luís Caetano S. Queiroz que os acompanha nesta empreitada
juntamente com o pessoal da Época Galeria de Arte.
O artista Heitor dos Prazeres fez várias obras com o nome Jogo de Cartas,apresentando personagens bem parecidos.
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