JORNAL A TARDE SALVADOR, 01 DE
OUTUBRO DE 1984
VAMOS COLORIR SALVADOR LEVANDO A
ARTE ÀS RUAS
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Este é o grande mural pintado por oito jovens artistas no bairro do Rio Vermelho, em Salvador |
A
nossa cidade vem sofrendo, há alguns anos, um processo de deterioração muito
rápido que está preocupando todos aqueles que amam Salvador. As pistas de
rolamento estão completamente esburacadas, a orla marítima totalmente
descaracterizada, com construções medonhas, e nossas praias poluídas por
esgotos. Em determinados locais ela apresenta-se cinzenta com paredes e muros
sujos. Por isto tudo é preciso dar uma melhor visualização à cidade. Esta
providência torna-se uma necessidade premente, e já vem sendo executada em
várias cidades em torno do mundo.
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Figuras disformes de Zivé Giudice |
Aqui
no Brasil, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, alguns artistas já estão mobilizados
para melhorar o visual destas cidades, e principalmente, para levar às ruas a
arte. Este é um ponto que devemos insistir retirando a arte do ambiente fechado
dos museus, das galerias e das casas dos colecionadores. É preciso que um maior
número de pessoas participe ativamente
do processo cultura. Desta forma, ganham as cidades, que ficam mais coloridas
com o afastamento da sujeira e do cinzento dos seus muros e laterais dos
prédios, e também, a população que cada vez mais vai se integrando no processo
cultural, os artistas ficam mais conhecidos e seus nomes passam a ser
pronunciados com certa freqüência na comunidade, proporcionando, é claro,
condições melhores no mercado da arte.
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O grafismo de Celuque |
Enquanto
em São Paulo
e no Rio de Janeiro existe uma predisposição das autoridades ligadas à cultura
de incentivar este projeto de colocar a arte nas ruas, aqui as coisas são
diferentes... Apáticas diante do que vem ocorrendo em outros centros culturais,
as nossas autoridades fazem ouvidos de mercadores e vivem de braços cruzados
pensando em outros projetos inexeqüíveis.
O
caso de São Paulo é um bom exemplo, porque a Prefeitura Municipal não vai
gastar nada! Apenas intermedeia com os proprietários dos imóveis os locais onde
as pinturas vão ficar e empresas privadas financiam os murais. É um custo relativamente
abaixo e de grande valor cultural. Aqui poderíamos fazer o mesmo convocando
empresas a participarem do projeto para que Salvador, a segunda cidade mais
visitada deste País, possa se maquilar e ficar mais bonita.
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Os labirintos de Ângela Cunha |
Existe
uma predisposição muito positiva e muito significativa dos artistas baianos em
participar deste projeto que lanço aqui como um desafio ás autoridades e aos
artistas. Juntos eles podem melhorar a imagem de Salvador; juntos eles podem
colorir esta cidade além de ajudar na educação artística do nosso povo. É
preciso melhorar a paisagem de Salvador, dar mais cor e alegria para que a
tropicalidade seja mais acentuada em toda a sua exuberância.
Quando
falo que existe uma disposição e uma vontade quase que contida dos artistas
baianos em colorir esta cidade, provo com estas fotos que reproduzem o painel
que Celuque; Ângela Cunha, Bel Borba, Chico Diabo, Zivê, Maso, Flori e Janira
fizeram num muro que fica na curva da Mariquita, no Rio Vermelho.
É
um painel de grande plasticidade e importância, porque representa um pouco da
produção desses artistas da nova geração. Dentro de alguns anos serão
reconhecidos como os grandes expoentes da arte baiana, porque todos eles
refletem em suas obras, que venho acompanhando de perto, o que de mais
significativo está acontecendo no campo das artes plásticas baianas. Evidente
que existem ainda alguns poucos nomes que não está integrando este painel, mas
eles, também, tenho certeza que estão dispostos a colorir a cidade.
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Visão contemporânea de Bel Borba |
O
painel que este grupo de artistas fez no Rio Vermelho brotou espontaneamente.
Eles solicitaram do proprietário da CSA a autorização para pintá-lo e
arranjaram as tintas e outros materiais com um comerciante de uma loja que
vende tintas. Pagaram do próprio bolso a um operário para que preparasse o
muro, dando uma mão de massa corrida. Portanto, um esforço que merece ser
aplaudido, porque muitos deles ainda estão lutando com dificuldades no mercado
de arte, logo não faturam o suficiente, para que possam investir por conta
própria em outros projetos.
Além
deste painel, outro foi pintado na lateral do antigo Cinema Guarani, hoje Cine
Glauber Rocha, por vários artistas baianos. Portanto, é hora de todos nós
arregaçarmos as mangas e partir para colorir esta cidade. Quem, de uma forma ou
outra, puder realizar alguma coisa não deve esperar pelas autoridades, porque a
burocracia emperra as emoções e as iniciativas mais brilhantes. O que deve
existir é a vontade, a satisfação em ver a nossa Salvador mais bonita, Mais
colorida e seus cidadãos em contato direto com a arte.
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O lirismo de Chico Diabo |
Como
estamos vivendo um momento de abertura democrática, é chegada a hora de
democratizar o consumo da arte. E, para isto, é preciso que levemos a arte para
as ruas porque as galerias, museus e casas de colecionadores são locais que
apresentam certa dificuldade para a presença de grandes contingentes de
pessoas. Nas ruas todos são obrigados a olhar e a reagir diante das imagens que
vão ou podem ser criadas por nossos artistas. (Fotos de Carlos Santana)
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Vemos ai um pedestre passando diante do trabalho de Maso que sempre pinta as mulheres |
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