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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

VAMOS COLORIR SALVADOR LEVANDO A ARTE ÀS RUAS - 01 DE OUTUBRO DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR, 01 DE OUTUBRO DE 1984

VAMOS COLORIR SALVADOR LEVANDO A ARTE ÀS RUAS
Este é o grande mural pintado por oito jovens artistas no bairro do Rio Vermelho, em Salvador
A nossa cidade vem sofrendo, há alguns anos, um processo de deterioração muito rápido que está preocupando todos aqueles que amam Salvador. As pistas de rolamento estão completamente esburacadas, a orla marítima totalmente descaracterizada, com construções medonhas, e nossas praias poluídas por esgotos. Em determinados locais ela apresenta-se cinzenta com paredes e muros sujos. Por isto tudo é preciso dar uma melhor visualização à cidade. Esta providência torna-se uma necessidade premente, e já vem sendo executada em várias cidades em torno do mundo.
Figuras disformes de Zivé Giudice
Aqui no Brasil, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, alguns artistas já estão mobilizados para melhorar o visual destas cidades, e principalmente, para levar às ruas a arte. Este é um ponto que devemos insistir retirando a arte do ambiente fechado dos museus, das galerias e das casas dos colecionadores. É preciso que um maior número de pessoas participe  ativamente do processo cultura. Desta forma, ganham as cidades, que ficam mais coloridas com o afastamento da sujeira e do cinzento dos seus muros e laterais dos prédios, e também, a população que cada vez mais vai se integrando no processo cultural, os artistas ficam mais conhecidos e seus nomes passam a ser pronunciados com certa freqüência na comunidade, proporcionando, é claro, condições melhores no mercado da arte.
O grafismo de Celuque
Enquanto em São Paulo e no Rio de Janeiro existe uma predisposição das autoridades ligadas à cultura de incentivar este projeto de colocar a arte nas ruas, aqui as coisas são diferentes... Apáticas diante do que vem ocorrendo em outros centros culturais, as nossas autoridades fazem ouvidos de mercadores e vivem de braços cruzados pensando em outros projetos inexeqüíveis.
O caso de São Paulo é um bom exemplo, porque a Prefeitura Municipal não vai gastar nada! Apenas intermedeia com os proprietários dos imóveis os locais onde as pinturas vão ficar e empresas privadas financiam os murais. É um custo relativamente abaixo e de grande valor cultural. Aqui poderíamos fazer o mesmo convocando empresas a participarem do projeto para que Salvador, a segunda cidade mais visitada deste País, possa se maquilar e ficar mais bonita.
Os labirintos de Ângela Cunha
Existe uma predisposição muito positiva e muito significativa dos artistas baianos em participar deste projeto que lanço aqui como um desafio ás autoridades e aos artistas. Juntos eles podem melhorar a imagem de Salvador; juntos eles podem colorir esta cidade além de ajudar na educação artística do nosso povo. É preciso melhorar a paisagem de Salvador, dar mais cor e alegria para que a tropicalidade seja mais acentuada em toda a sua exuberância.
Quando falo que existe uma disposição e uma vontade quase que contida dos artistas baianos em colorir esta cidade, provo com estas fotos que reproduzem o painel que Celuque; Ângela Cunha, Bel Borba, Chico Diabo, Zivê, Maso, Flori e Janira fizeram num muro que fica na curva da Mariquita, no Rio Vermelho.
É um painel de grande plasticidade e importância, porque representa um pouco da produção desses artistas da nova geração. Dentro de alguns anos serão reconhecidos como os grandes expoentes da arte baiana, porque todos eles refletem em suas obras, que venho acompanhando de perto, o que de mais significativo está acontecendo no campo das artes plásticas baianas. Evidente que existem ainda alguns poucos nomes que não está integrando este painel, mas eles, também, tenho certeza que estão dispostos a colorir a cidade.
Visão contemporânea de Bel Borba
O painel que este grupo de artistas fez no Rio Vermelho brotou espontaneamente. Eles solicitaram do proprietário da CSA a autorização para pintá-lo e arranjaram as tintas e outros materiais com um comerciante de uma loja que vende tintas. Pagaram do próprio bolso a um operário para que preparasse o muro, dando uma mão de massa corrida. Portanto, um esforço que merece ser aplaudido, porque muitos deles ainda estão lutando com dificuldades no mercado de arte, logo não faturam o suficiente, para que possam investir por conta própria em outros projetos.
Além deste painel, outro foi pintado na lateral do antigo Cinema Guarani, hoje Cine Glauber Rocha, por vários artistas baianos. Portanto, é hora de todos nós arregaçarmos as mangas e partir para colorir esta cidade. Quem, de uma forma ou outra, puder realizar alguma coisa não deve esperar pelas autoridades, porque a burocracia emperra as emoções e as iniciativas mais brilhantes. O que deve existir é a vontade, a satisfação em ver a nossa Salvador mais bonita, Mais colorida e seus cidadãos em contato direto com a arte.
O lirismo de Chico Diabo
Como estamos vivendo um momento de abertura democrática, é chegada a hora de democratizar o consumo da arte. E, para isto, é preciso que levemos a arte para as ruas porque as galerias, museus e casas de colecionadores são locais que apresentam certa dificuldade para a presença de grandes contingentes de pessoas. Nas ruas todos são obrigados a olhar e a reagir diante das imagens que vão ou podem ser criadas por nossos artistas. (Fotos de Carlos Santana)
Vemos ai um pedestre passando diante do trabalho  de Maso que sempre pinta as mulheres

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