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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O SUCESSO GRANDIOSO DA EXPO GERAÇÃO 70 - 29 DE JULHO DE 1985


JORNAL A TARDE SALVADOR, 29 DE JULHO DE 1985

O SUCESSO GRANDIOSO DA EXPO GERAÇÃO 70

Foto mostra quanta gente jovem na  
abertura da exposição da Geração 70 .
A exposição integrada Geração 70 é um sucesso absoluto de qualidade e de público. Todos que estiverem na abertura da exposição se expressavam espontaneamente sobre o afluxo de pessoas que para lá se deslocaram para apreciar os trabalhos dos 10 artistas plásticos, do pessoal da dança, da música e do teatro. Como afirmei anteriormente, geração 70 ficará como um marco na História das Artes Plásticas Baianas. Se alguém se dispuser a escrever daqui a alguns anos sobre as últimas décadas das artes baianas terá forçosamente que falar de Geração 70.
Nilda Spencer e Fernando Schimdt.

O importante é que o público de Geração 70 é composto essencialmente de jovens, que normalmente não frequentam museus e aberturas de exposições.Eles lá estavam soltos e alegres com suas roupas coloridas dando ao ambiente um aspecto descontraído. Não é uma exposição para ser vista obrigatoriamente por aquelas figuras que surgem nos vernissages simplesmente para serem notadas.
Quem foi a Geração 70 pode sentir a vibração dos trabalhos de Astor Lima, que surpreendeu a todos com esculturas feitas de instrumentos de trabalho da zona rural. As soluções dadas por Astor, com as enxadas, cavadores, estrovengas e pás criando caras de cavalo, touros e ave, realmente foram muito significativas. Sem falar na escultura que ficou á entrada do salão que representa uma flor feita com sucata dos dentes de uma esteira de um trator. Logo à entrada, o espectador depara-se com os trabalhos de Fred Schaeppi, que demonstrou competência através de uma pintura solta, limpa e tecnicamente perfeita, quanto à composição e jogo de luz e tecnicamente perfeita, quanto à composição e jogo de luz. Arte é acima de tudo luz, e a luz se derrama com todo esplendor nas obras de Fred.
Fred Schaeppi e,Cleyde Morgan e esposas.
Ao lado estão os quadros de Guache. Grandiosos, no que trazem em suas mensagem, porque enfocam o lado burlesco dos homens. Aquele lado caricato e grotesco que agente está acostumado a observar nas posturas das pessoas que nos cercam. Além do tema, não podemos esquecer as soluções pictóricas para ressaltar suas figuras em situações de comicidade.
E, nos chega Florival com suas formas sinuosas, onde se vê a influência do barroco baiano. Embora seja uma visão contemporânea, acredito que Florival esteja influenciado, às vezes, até inconscientemente, admito, pelas formas que engradecem as nossas igrejas.
D. Olivia Barradas  e outros .
O descansado Bel Borba! O homem que chega sempre atrasado, mas que chega! E,veio com grandes painéis vivenciando situações das metrópoles. Quantas expressões de surpresa e de alegria pude ver e ouvir na última sexta-feira, principalmente de jovens, diante de seus trabalhos! É isto que deixa o artista feliz, e acredito que Bel, como os demais viveu um grande dia.
Nelson, Rafael Oliveira e Antonio Brito.
Os trabalhos de Justino Marinho, suaves, onde o desenho sobressai como marca fundamental. As figuras de mulheres em composições realmente criativas.A disposição das figuras, o desenho que tende ao relevo. Enfim um trabalho já conhecido e amadurecido, com tons amarelos.
Zivé Giudice com seus monstros enfocando o lado estúpido dos homens de uma maneira muito forte, onde as pessoas que olham seus desenhos ficam a imaginar como ele consegue àquela uniformidade, que vai diminuindo ou aumentando a tonalidade de acordo com o seu desejo. As posturas dos monstros andando e debruçando sobre sua própria estupidez. Cada uma revela situações do cotidiano.
Luiz Jasmim,Carlos Bastos e Heitor Reis.
Murilo com grandes painéis, onde grossos traços pretos se entrelaçam como um verdadeiro jogo de armar. Uma pintura baseada nos grafites, definindo com poucos traços as suas figuras que povoam os lares. Lar doce lar, onde as pessoas encontram refúgio e vivem seus próprios dramas, tão cheios de fantasias e tragédias.
Maso conseguiu com o banco apresentar trabalhos que intrigam as pessoas. Parecem fotografias! Exclamavam alguns. Ou, não se continham e até passavam o dedo para sentir no tato o que tinha feito o artista. Um dos quadros que me chamou a tenção foi aquele que representa um prato com uma colher. Maso é um pintor que sabe usar de todas as nuances que a técnica pode proporcionar.
Grupo Pega e Maluca Ludmila em cena.
E o caro Chico Diabo com seus grandes panos, onde as figuras repetidas foi outro ponto alto de Geração 70. Vieram me perguntar o que Chico fazia para dar as suas formas uma falsa ideia que tinham sido impressas. Realmente só o Chico para explicar, e esta dúvida demonstra exatamente quanto seus trabalhos estão bem feitos.
Tendo Geração 70 um movimento jovem integrado, não podemos deixar de ressaltar o empenho das dançarinas Lívia Serafim, Lia Rodrigues, do Grupo Trancham, que preparam espetáculos de cuta duração, com tanto esmero que foram muito aplaudidos e disputados pelos que lá estiveram. O espaço do museu foi pequeno para tanta gente que queria ver o trabalho das dançarinas. Logo depois, veio Márcio Meirelles com seu Grupo Pega e Maluca Ludmila, encantando os presentes. Eles falam e dançam uma linguagem moderna, uma linguagem assimilada pelas centenas de jovens que lá foram aplaudi-los.
O Sexteto do Beco encantou os presentes.
A expectativa passou para outro salão onde o pessoal do Sexteto do Beco improvisava, tendo a cantora Andréa Daltro dando mais uma vez prova da sua competência com a voz maravilhosa que possui. Os integrantes do Sexteto do Beco derramaram um som  realmente da pesada.
Enfim Geração 70 está aí, aberta ao público e à crítica. É um evento vitorioso que não pertence a mim, nem a Heitor Reis, e nem aos próprios artistas. É do público que sofreu com 20 anos de autoritarismo, porque esta geração viveu momentos de agonia.
A exposição plástica visual e musical é como um despertar para o amanhecer que ainda está para chegar.
Aqueles que não acreditaram no seu sucesso devem ir ao Museu de Arte da Bahia e fazer uma autocrítica.
Quanto aos salieris da vida, estão roendo as unhas de inveja. As fotos são de Carlos Santana, que documentou Geração 70.

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