JORNAL A TARDE SALVADOR, 29 DE
JULHO DE 1985
O SUCESSO GRANDIOSO DA EXPO
GERAÇÃO 70
A exposição integrada Geração 70 é um sucesso absoluto de qualidade e de
público. Todos que estiverem na abertura da exposição se expressavam
espontaneamente sobre o afluxo de pessoas que para lá se deslocaram para
apreciar os trabalhos dos 10 artistas plásticos, do pessoal da dança, da música
e do teatro. Como afirmei anteriormente, geração 70 ficará como um marco na
História das Artes Plásticas Baianas. Se alguém se dispuser a escrever daqui a
alguns anos sobre as últimas décadas das artes baianas terá forçosamente que
falar de Geração 70.
Nilda Spencer e Fernando Schimdt. |
O
importante é que o público de Geração 70 é composto essencialmente de jovens,
que normalmente não frequentam museus e aberturas de exposições.Eles
lá estavam soltos e alegres com suas roupas coloridas dando ao ambiente um
aspecto descontraído. Não é uma exposição para ser vista obrigatoriamente por
aquelas figuras que surgem nos vernissages simplesmente para serem notadas.
Quem
foi a Geração 70 pode sentir a vibração dos trabalhos de Astor Lima, que
surpreendeu a todos com esculturas feitas de instrumentos de trabalho da zona
rural. As soluções dadas por Astor, com as enxadas, cavadores, estrovengas e
pás criando caras de cavalo, touros e ave, realmente foram muito
significativas. Sem falar na escultura que ficou á entrada do salão que
representa uma flor feita com sucata dos dentes de uma esteira de um trator.
Logo à entrada, o espectador depara-se com os trabalhos de Fred Schaeppi, que
demonstrou competência através de uma pintura solta, limpa e tecnicamente
perfeita, quanto à composição e jogo de luz e tecnicamente perfeita, quanto à
composição e jogo de luz. Arte é acima de tudo luz, e a luz se derrama com todo
esplendor nas obras de Fred.
Fred Schaeppi e,Cleyde Morgan e esposas. |
Ao
lado estão os quadros de Guache. Grandiosos, no que trazem em suas mensagem,
porque enfocam o lado burlesco dos homens. Aquele lado caricato e grotesco que
agente está acostumado a observar nas posturas das pessoas que nos cercam. Além
do tema, não podemos esquecer as soluções pictóricas para ressaltar suas
figuras em situações de comicidade.
E,
nos chega Florival com suas formas sinuosas, onde se vê a influência do barroco
baiano. Embora seja uma visão contemporânea, acredito que Florival esteja influenciado,
às vezes, até inconscientemente, admito, pelas formas que engradecem as nossas
igrejas.
D. Olivia Barradas e outros . |
O
descansado Bel Borba! O homem que chega sempre atrasado, mas que chega! E,veio
com grandes painéis vivenciando situações das metrópoles. Quantas expressões de
surpresa e de alegria pude ver e ouvir na última sexta-feira, principalmente de
jovens, diante de seus trabalhos! É isto que deixa o artista feliz, e acredito
que Bel, como os demais viveu um grande dia.
Nelson, Rafael Oliveira e Antonio Brito. |
Os trabalhos de Justino Marinho, suaves, onde o desenho sobressai como marca
fundamental. As figuras de mulheres em composições realmente criativas.A
disposição das figuras, o desenho que tende ao relevo. Enfim um trabalho já
conhecido e amadurecido, com tons amarelos.
Zivé Giudice com seus monstros enfocando o lado estúpido dos homens de uma maneira muito
forte, onde as pessoas que olham seus desenhos ficam a imaginar como ele
consegue àquela uniformidade, que vai diminuindo ou aumentando a tonalidade de
acordo com o seu desejo. As posturas dos monstros andando e debruçando sobre
sua própria estupidez. Cada uma revela situações do cotidiano.
Luiz Jasmim,Carlos Bastos e Heitor Reis. |
Murilo
com grandes painéis, onde grossos traços pretos se entrelaçam como um
verdadeiro jogo de armar. Uma pintura baseada nos grafites, definindo com
poucos traços as suas figuras que povoam os lares. Lar doce lar, onde as
pessoas encontram refúgio e vivem seus próprios dramas, tão cheios de fantasias
e tragédias.
Maso
conseguiu com o banco apresentar trabalhos que intrigam as pessoas. Parecem
fotografias! Exclamavam alguns. Ou, não se continham e até passavam o dedo para
sentir no tato o que tinha feito o artista. Um dos quadros que me chamou a
tenção foi aquele que representa um prato com uma colher. Maso é um pintor que
sabe usar de todas as nuances que a técnica pode proporcionar.
Grupo Pega e Maluca Ludmila em cena. |
E
o caro Chico Diabo com seus grandes panos, onde as figuras repetidas foi outro
ponto alto de Geração 70. Vieram me perguntar o que Chico fazia para dar as
suas formas uma falsa ideia que tinham sido impressas. Realmente só o Chico para
explicar, e esta dúvida demonstra exatamente quanto seus trabalhos estão bem
feitos.
Tendo
Geração 70 um movimento jovem integrado, não podemos deixar de ressaltar o
empenho das dançarinas Lívia Serafim, Lia Rodrigues, do Grupo Trancham, que
preparam espetáculos de cuta duração, com tanto esmero que foram muito
aplaudidos e disputados pelos que lá estiveram. O espaço do museu foi pequeno
para tanta gente que queria ver o trabalho das dançarinas. Logo depois, veio
Márcio Meirelles com seu Grupo Pega e Maluca Ludmila, encantando os presentes.
Eles falam e dançam uma linguagem moderna, uma linguagem assimilada pelas
centenas de jovens que lá foram aplaudi-los.
O Sexteto do Beco encantou os presentes. |
A
expectativa passou para outro salão onde o pessoal do Sexteto do Beco
improvisava, tendo a cantora Andréa Daltro dando mais uma vez prova da sua
competência com a voz maravilhosa que possui. Os integrantes do Sexteto do Beco
derramaram um som realmente da pesada.
Enfim
Geração 70 está aí, aberta ao público e à crítica. É um evento vitorioso que
não pertence a mim, nem a Heitor Reis, e nem aos próprios artistas. É do
público que sofreu com 20 anos de autoritarismo, porque esta geração viveu
momentos de agonia.
A
exposição plástica visual e musical é como um despertar para o amanhecer que
ainda está para chegar.
Aqueles
que não acreditaram no seu sucesso devem ir ao Museu de Arte da Bahia e fazer
uma autocrítica.
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