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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

QUADROS DE MASO FORAM CENSURADOS EM ITABUNA - 17 DE SETEMBRO DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR, 17 DE SETEMBRO DE 1984

QUADROS DE MASO FORAM CENSURADOS EM ITABUNA

O artista Maso ao lado de sua tela que foi censurada na cidade de Itabuna, Bahia.


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Podemos afirmar que as telas de Maso transpiram sensualidade. Mas, uma sensualidade poética que está muito longe de agredir ou alcançar o perigoso campo do erotismo.Porém, não foi assim que entenderam alguns velhos senhores, que ficaram corados... com a presença das 20 telas do artista, especialmente com esta que publico tendo ao lado o seu autor. Uma atitude que lembra aqueles coronéis de tempos passados que perante a família ficavam horrorizados com um simples palavrão, e que, paralelamente, faziam suas orgias com amantes e prostitutas. Desconfio muito daqueles que pregam uma rigorosa moral... Acho até que é uma maneira de esconder o que fazem às escondidas contra esta mesma moral estabelecida pelo sistema social.
Depois de viajar quilômetros até Itabuna levando seus quadros que medem 1m por 1m, com exceção deste da foto que tem 2m por 1m, e montar sua exposição na sede do CPC, ele teve o desprazer de ser “convidado” a retirar seus trabalhos porque “algumas pessoas acharam indecentes”. No meu entender, indecente é uma atitude baseada em critérios pessoais e cheia de maldade, a ponto de censurar uma obra de arte, que, ao contrário, destaca a beleza da mulher. O belo muitas vezes choca quando está cara a cara com o feio! Talvez aí esteja uma explicação plausível para esta atitude de censura. O artista Maso é paulista de nascimento, e reside em Salvador desde 1962. Em 1977 ingressou na Escola de Belas Artes, já tendo realizado várias exposições individuais e coletivas.
Hoje, Maso desponta como um artista da nova geração, marcando sua presença com uma técnica aprimorada e demonstrando controle da cor e da forma. Seus quadros aproximam-se do real onde o corpo da mulher é enaltecido.
Nestes últimos quadros um novo elemento surge: o inseto. Maso parece querer estabelecer um clima lúdico com o observador de seus quadros. O inseto, embora pequeno, desperta a atenção e provoca intriga. Alguns reagem dizendo trata-se de uma presença estranha, porém, não é desproposital. Uns gostam de insetos que parecem perturbar a sensualidade. Finalmente, outros mais curiosos que querem passar ligeiramente as mãos na tela na tentativa de sentir através do tato, a textura do inseto. Portanto, Maso consegue estabelecer um jogo, consegue mexer com o espectador que não fica satisfeito apenas comas formas suaves e sensuais de suas figuras.

               OBRA DE URBANO PROVOCA MÚLTIPLA INTERPRETAÇÃO

Urbano Mena , tendo ao fundo algumas obras  
mais recentes .
Montanhas, ondas, ventanias, maremotos, horizontes e figuras humanas diluídas são algumas das expressões que se pode ter observando a pintura de Urbano Mena, que esteve expondo na Galeria de Arte do Hotel Méridien. Duas características chamam imediatamente a atenção do observador: a utilização de um colorido visivelmente influenciado pela iluminação e uma textura impressa com o vigor de quem não pretende ser ligar comum. Na opinião do artista, nada é definitivo ou definido, o público é que determina o que está vendo e dessa forma ele pode conseguir uma variedade de interpretações.
“A pintura é uma coisa mágica, no fundo é um mistério”, diz Urbano, como que adivinhando a impressão que qualquer observador tem ao visualizar seus trabalhos. “Quando começo a fazer um quadro, continua, tenho só uma leve impressão do que vou conseguir”. Com esta afirmação, Urbano Mena lembra Picasso, que repetia:
“Se eu soubesse o que vou pintar, não pintava”. Mas essa maneira mágica e misteriosa que o artista atribui à pintura e ao próprio processo de criação fica bem definida quando tenta relembrar o surgimento do quadro Caminhos pro Infinito, impregnado de cores muito quentes. A pintura se parece com uma onde e tudo, diz ele, começou com uma forma indefinida, que depois foi ganhando um movimento, que caminhava em direção a um horizonte distante.
“Cada quadro é uma história, uma aventura diferente”, conta bem Urbano, conhecedor que é dos mistérios da criação e dos seus resultados. Antes de se descobrir um desenhista apaixonado, freqüentou um curso de Arquitetura no Rio de Janeiro, depois a disciplina de Desenho Artístico funcionou como mola impulsionadora. Abandonou o curso e foi morar na Itália e aí estudou na Escola de Belas Artes de Florença, retornando ao Brasil para assumir, definitivamente, sua tendência artística, em 1975.
Antes de vir a Salvador, onde expôs pela primeira vez, seus 30 quadros ocuparam  Galeria do Teatro Nacional de Brasília, arrancando os melhores comentários da crítica e do público.
Suas abstrações levam o observador a divisar, através do acrílico sobre tela, um mundo imaginário, surrealista, fruto das observações quotidianas. Por isso, cada figura está sempre em movimento, como se estivesse acompanhando a pulsação da vida. Assim é a onda, a montanha, o horizonte e outras imagens possíveis de se vislumbrar através de suas cores fortes.
Como o próprio artista diz, não é uma pintura estática, ao contrário, ela é rápida e os efeitos vão sendo descobertos á medida que o observador penetra no quadro.
Urbano confessa-se um artista sempre em movimento e interessado em perceber novas formas de expressão. Atualmente está estudando a caligrafia oriental, depois de ter tentado absorver toda a precisão dos antigos pintores, que pôde ver nos museus europeus. “A escrita oriental é de uma riqueza visual muito grande, é uma composição reta, mas com um movimento fantástico”, explica o artista, que certamente, muito breve, inaugura nova fase.

                                 LYGIA MILTON RETORNA COM A SOLIDÃO URBANA

A artista Lygia Milton expõe suas novas obras na Época, no Rio Vermelho, e como diz o físico e crítico Mário Schenberg, ela vem conseguindo “aprofundar a sua intuição poética originária da paisagem urbana e do tempo, graças ao aprimoramento do seu domínio da cor, da linha e da composição espacial, e ao desenvolvimento da sua musicalidade espacial e cromática.Conseguiu ver e fazer sentir a beleza e o mistério de Salvador." Mário referia-se às obras da exposição que Lygia realizou em São Paulo.
Antes dessas exposições de São Paulo e da Galeria Época, escrevi um texto do qual reproduzo um trecho, onde mostro o que sinto e vejo na obra desta artista  que é uma intérprete da nossa solidão urbana. Vejamos:
“As árvores desfolhadas deram lugar aos pinheiros perfilados e a figura humana, antes estática, move braços e pernas numa mudança significativa na obra de Lygia Milton... O movimento é agora presença nos gestos da figura humana e nos pinheiros perfilados.
Estes, por sinal mais parecem seres humanos prontos para invadir os espaços vazios do mundo imaginário e límpido de Lygia Milton. Tudo é feito cuidadosamente com a homogeneidade na textura, mesmo quando existe uma variação maior de cores.
Fora da paisagem, Lygia Milton mostra também a sua capacidade criadora e a sua técnica. Os monumentos são apresentados por meio de detalhes que ganham força e pujança. A técnica, o jogo dos personagens são elementos incontestáveis do seu talento e uma demonstração que contínua produzindo com a seriedade. "

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