JORNAL A TARDE SALVADOR, 30 DE
SETEMBRO DE 1985
PRESSÃO POLÍTICA JÁ ATINGE A
TAPEÇARIA
A tapeçaria, assim com as artes e educação, hoje se ressente da pressão
política militarista que marcou o Cone Sul nos últimos anos. Esse é um dos
pontos em comum a que chegaram três expressivos nomes do Encontro dos Artistas
Têxteis durante o Evento Têxtil 85, que reuniu perto de 200 participantes do
Brasil, Argentina e Uruguai em Porto
Alegre. Além disso, apontam eles, a
tapeçaria passa por transformações que tanto pode ter suas raízes na transição
da tapeçaria tradicional para a nova tapeçaria, como pelo fato de se constituir
num produto de um mundo em crise, e que expressa esta crise, como já definiu
Sábato Magaldi.
O uruguaio Luiz Ernesto Arostegui |
Enquanto
o ensino nas escolas reúne vários mestres, o ensino em tapeçaria nos ateliers
sofre as limitações de possuir um mestre só. Falta a preparação cultural, e
isto é muito sério, diz Aroztegui, que atuou como professor de desenho durante
18 anos e é tapeceiro há 25.
Ele
ressalta ainda que na América do Norte e Europa, é dedicado um ensino de nível
universitário à Tapeçaria.
Ainda
que entenda como importante a observação das últimas novidades que vêm de fora,
em termos de ponto e material, diz que elas não devem servir como meta ou
padrão para o Terceiro Mundo, que “olha” demais para lá. Às vezes, afirma,, as
limitações ajudam na criação.
Os índios Paracas, anteriores aos Incas, foram os melhores tecedores do mundo e
não tinham nada. Na África, em pequenas aldeias no meio da floresta, fazem
maravilhas em esculturas e máscaras.
Ainda
mais expressivas que as de Picasso, que nelas se inspirou em seu período
expressionista. Mas nós não somos Índios nem africanos e temos que ficar com
olhos atentos para nos defendermos do colonialismo.
MAIOR
LIBERDADE
Apesar
de todos os problemas que a Argentina enfrenta hoje, destaca Tana Sachs,
representante do Centro Argentino de Artistas do Tapete, a tapeçaria alcançou
uma situação de destaque em seu país. E aponta duas bienais que se intercalam,
uma nacional e outra municipal, em Buenos Aires , e as 14 mostras itinerantes anuais,
feitas em vários museus da Argentina, como prova disso. Mesmo assim, ele
considera a falta de identidade que a tapeçaria está sofrendo como causa de uma
crise que não sabe no que vai resultar.
A
tapeçaria passou de um estágio de arte menor para maior, e essa mudança
implicou numa falta de limites de interferências de outras artes nela. A
tradicional tapeçaria passou por uma liberdade maior, dentro das artes cênicas.
Está bem, mas na sabemos a que isso conduz.
Um tapete de Zorávia Bettiol |
Uma
das precursoras da nova tapeçaria no Rio Grande do Sul, Zorávia Bettiol, é de
opinião de que esta expressão artística no Brasil tece sua expansão cerceada em
razão dos 21 anos de ditadura militar.
A
nova tapeçaria no Brasil está em absoluto crescimento.
Não
acredito em crise e, sim, num retardamento de sua evolução por causa da
repressão política violenta que sofremos nos últimos anos.
Zorávia
lembra que a nova tapeçaria apropriou-se da tridimensionalidade, usa, sem
preconceitos, fibras as mais variadas, além de outras técnicas têxteis e outras
linguagens plásticas quando acha necessário. Ela surgiu por volta de 1955, na
Europa, depois da guerra. As mudanças de pós-guerra, através de reformulações
de conceitos, também atingiu esta forma de expressão plástica, da Linguagem
milenar, passou à sua forma mais contemporânea.
Então,
historicamente, é pouquíssimo tempo para que esta forma de expressão plástica,
como qualquer coisa em termos de cultura ou arte, esteja solidificada. E,
sabendo que a nova tapeçaria surgiu no Brasil no final da década de 60, com
Nicole Douchez, em São Paulo ,
podemos dizer que aqui ela é recentíssima.
Assim,
conclui ela, a tapeçaria é uma linguagem muito nova, tendo no Brasil, muitos
poucos profissionais realmente atuantes, embora exista um número muito grande
de pessoas interessadas e envolvidas com ela. Segundo Zorávia, é fundamental
que aconteçam mudanças em todos os níveis no País, proporcionando também que
mais artistas têxteis se aprofundem nesta área e se profissionalizem no seu
sentido mais amplo e profundo, em busca da qualidade. “E, para isso, seria
necessário que a tapeçaria fosse mais difundida que os mistérios da área de
educação e cultura se empenhassem em divulgá-la”.
ESTUDANTES
VÃO À BIENAL
Professores
e estudantes da escola de Belas Artes estão recebendo doações de artistas
baianos para arrecadar recursos para visitarem a 18.ª Bienal de São Paulo que
será aberta ao público de 4 de outubro a 15 de dezembro. Vários artista há
doaram seus trabalhos entre eles Calasans Neto Floriano, Mário Cravo, Maso, Bel
Borba, Ângela Cunha, Rescála, Astor Lima, Ailton Lima e muitos outros.
Todos
os trabalhos ficaram expostos na Galeria O Cavalete, gentilmente cedida por
Jacy Brito, e os interessados devem aparecer por lá porque os prelos são
convidativos.Com
o dinheiro arrecadado os estudantes terão oportunidade de conhecer o que está
se fazendo de novo neste País e no exterior.
Portanto,
além da oportunidade de você adquirir um trabalho de qualidade soma-se o mérito
de estar ajudando na formação profissional de muitos jovens. Na foto alguns dos
trabalhos que serão vendidos.
LEONEL
MATTOS E ROGÉRIA PREMIADOS PELA PIRELLI
Dois
baianos foram selecionados no II Prêmio Pirelli “Pintura Jovem”. Trata-se do
casal Mattos. O inquieto Leonel Rocha Mattos e sua esposa Rogéria Teixeira
Mattos. Eles
saíram de Salvador para tentar a sorte em São Paulo e estão participando de salões e
exposições em várias cidades.
O
júri final foi constituído por Icléia Cattani, de Porto Alegre; Maristela Tristão,
de Belo Horizonte; Marcus de Lontra Costa, do Rio de Janeiro e Roberto de Lima
Galvão, de Fortaleza, sob a presidência de Olney Kruse, de São Paulo,
selecionou várias obras dentre as quais 20 foram contempladas com o
prêmio-aquisição de três milhões de cruzeiros cada.
Três
deles foram escolhidos pelo professor Pietro Maria Bardi para receber as
medalhas de prata que levam o seu nome e entre eles está Rogéria Teixeira
Mattos. Os outros dois são: Antônio Eduardo Eloy Ferreira (CE) e José Roberto
Costa Gonçalves (RJ)
Já
Leonel Mattos está entre os que ganharam o prêmio aquisição. Nenhum dos
artistas baianos que aqui participaram da pré-seleção foram premiados. Eis os
demais premiados:
PRÊMIO
AQUISIÇÃO
Juscelino
Ferreira Ramos, SP; Tito Luiz Fadel Camargo, SP; Francisco S. F. de Oliveira,
SP; Leonel Rocha Mattos, SP; Antônio Malta Campos, SP; Rogéria Teixeira de
Mattos, SP; Marcelo Reginato, SP; José Guedes Martins Neto, CE; Antônio E. Eloy
Ferreira, CE; José R. Costa Gonçalves, RJ; Genilson Paes Soares, RJ; Jadir
Falcão Lino Freire, RJ; Mário César de Azevedo, RJ; Mohamed Ali EL Assal, PR;
Milton Wurdig Júnior, RS; Fernando O. F. Lindote, SC; Marcos Sestini, MG;
Rui Antônio Santana, MG; Mário Lúcio Arreguy Maia, MG; Maia, MG; Egídio Dias
Maciel Júnior, MG.
DANIFICADO
MURAL DE DIEGO RIVERA
Parte do mural de Quetzalcoatl, de Rivera. |
A
obra, instalada no Palácio Nacional e visita quase obrigatória dos turistas que
chegam a este País, consta de 12 secções que mostram a história do México desde
o início de suas culturas indígenas até a época atual.
Três
rachaduras atravessam uma das sessões, “A lenda de Quetzalcoatl”, na qual se
representa o mundo pré-hispânico, simbolizado pelas três principais culturas do
antigo México: Maia, Tolteca e Asteca.
Esse
mural foi um dos maiores que realizou Diego Rivera, a quem no próximo ano o
México dedicará uma infinidade de atos culturais para comemora o centenário de
seu nascimento.
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