JORNAL A TARDE, SALVADOR, DIA 7
DE JANEIRO DE 1985.
AS CRÔNICAS VISUAIS DE NEWTON
MESQUITA
Ao
abrir o catálogo deparei com estas palavras : “ Vão passando os anos e eu não
te perdi... meu trabalho é te traduzir...” Exatamente ai está definida a
preocupação maior de Newton Mesquita que estará expondo de
9 a 19 deste mês, na Galeria O
Cavalete, oito pinturas e doze desenhos que traduzem a emoção maior deste
artista que foge do cartão postal e consegue fixar como uma máquina fotográfica
cenas de ruas dos homens e mulheres anônimas que povoam as ruas desta grande
metrópole paulista. As cenas abordadas por Mesquita podem ser confundidas com
cenas semelhantes as que observamos em Salvador, no Rio de Janeiro ou em outra
grande cidade brasileira. É uma arte calcada na vida urbana moderna, que
demonstra forçosamente a sua preocupação com o social. O pulsar de uma grande
metrópole é o reflexo do próprio país e o trabalho de Mesquita é um retrato
suave pelos traços e cores, que desaguam no limite inconfundível da poesia.

A
ideia que me vem a cabeça quando observo seus trabalhos é que ele saiu às ruas
de caderno em punho fazendo suas anotações nas praças, nas esquinas e em frente
as vitrines das lojas. A temática urbana abordada nos lembra os cronistas dos jornais diários que captam
situações vividas por mensagens anônimas ou não. Me parece que seus personagens
são os anônimos captados por acaso ou “sequestrados.”Através de um processo
suave sem qualquer conotação de violência que esta palavra possa significar.
Aqui o “sequestro” acontece em benefício da arte e com uma vantagem de fixar
momentos e eternizar estes personagens. É um brotar de emoções que trazem em
seu bojo a contemporaneidade dos dias de hoje com inflação galopante, esperança
demasiada em mudanças , que certamente não acontecerão com a intensidade
desejada... É como os personagens anônimos que olham através das vitrines os
violões , desejando tocar... Mas , como neste País são muitos os espectadores,
e poucos os espectadores, eles vão ouvindo... O homem da pasta, da bicicleta, o
do pacote, o que sai da sapataria, enfim os personagens que povoam as suas
telas nos levam a momentos de solidão. Anônimos e solitários, integram esta platéia
que a tudo assiste trabalhando, mas sem força para opinar, para participar.
Aliás, a sua participação, se assim podemos chamar, limita-se ao trabalho, a
observar o mundo girar e os outros mandar.

São
os silenciosos que enchem as ruas e passam apressados na sinaleira para tomar o
metrô com destino a periferia onde estão as fábrica,s do outro lado da cidade.
Acalentam no meio do caminho a ideia de adquirir um objeto qualquer , longe do
seu alcance e disponibilidade financeira, mas que ficam sossegados quando
conseguem “namorá-los” do outro lado da vitrine.Pensam em silêncio e a cada
parada aumenta e acalenta o desejo de possuí-lo.
Diria
que Newton Mesquita é um cronista visual. Enquanto Carlos Eduardo Novais, João
Ubaldo Ribeiro, Fernando Sabino e muitos outros que fixam o cotidiano através
de suas crônicas escritas, ele nos apresenta este cotidiano através de cores
suaves e deixa que o espectador invente as frases escolhendo as palavras que
mais traduzem as suas emoções. Portanto, cada espectador de acordo com o
universo de palavras e linguagem próprias vai fazendo a sua crônica do cotidiano,
o que , de certa forma dá mais participação.As
situações não estão prontas como numa crônica qualquer, mas aqui ela tem uma
integração maior através da decodificação dos sinais visuais que formam suas
composições.
Depois
do que escrevi é só visitar na Galeria O Cavalete, que fica na Avenida
Presidente Vargas, 2338, ou seja na loja 7, do Salvador Praia Hotel.
AS
TAPEÇARIAS DE ZORAVIA BETTIOL EXPOSTAS EM OSLO
 |
A alegria de Zoravia Bettiol |
Tenho
recebido com certa regularidade informações sobre a obra de Zoravia Bettiol, que
residindo fora do eixo Rio-São Paulo mantém acesa toda uma infra estrutura
profissional realizando exposições No exterior
e em outros estados. Conheci Zoravia há alguns anos,quando visitei uma
exposição de suas gravuras na Pousada do Carmo. Convidaram a artista para expor
e não moveram uma palha sequer para promove-la. Ficou Zoravia, uma artista de
renome internacional, entregue à própria sorte, a amizade de alguns baianos e a
curiosidade do crítico, que já vinha desde aquela época acompanhando através de
leitura a sua obra. Atitude de incapaz, que não sabe promover coisa alguma mas
ocupa cargo e assume compromissos sem condições de cumpri-los. Recentemente,
tivemos uma prova disto com um “passeio” à Bahia promovido pelo Museu de Arte
Moderna da Bahia e outros bichos...
Porém,
é de Zoravia que me interessa falar. Recentemente teve algumas tapeçarias
expostas no Kunstindustriemuset , de Oslo, onde apresentou quatro séries;
Metamorfose – são formas tecidas em sisal em estruturas metálicas, onde a
artista combina dois ou três elementos têxteis apoiados no solo, faz várias
combinações. Transparência Geométrica – formas tridimensionais tecidas , também
em sisal, que se dependuram no teto. Transfigurações da Pedra nº 1 – são
tapeçarias de parede nas quais ela uniu pedras ( ágatas, jaspes, ametistas,
quartzos rosa, quartzo verde, dentre outras) ou conchas ao elemento tecido com
fibra de algodão. Finalmente Transfiguração da Pedra nº 2 – Nesta série cada
proposta têxtil é formada por três a cinco elementos complementadas por pedras.
“E, explica Zoravia – a série Metamorfose , uma obra aberta na qual o
espectador pode fazer um sem número de combinações no muro”.
Os
noruegueses ficara satisfeitos com a sua exposição,. E possivelmente será
apresentada em Bruxelas, Finlândia, Suécia, Holanda, Alemanha, França e
Espanha.
O Kunstindustriemuset, de Oslo, adquiriu uma tapeçaria intitulada Romanza,
da Série Metamorfose e o Museu de Arte Têxtil, de Heidelberg a peça
Transfigurações da Ágata nº 41. Portanto, ao lado de seu esposo o escultor
Vasco Prado, a nossa querida Zoravia Bettiol vai alçando vôos cada vez mais
altos numa demonstração da qualidade do seu trabalho, aliada a uma dedicação à toda prova.
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