JORNAL A TARDE SALVADOR, 17 DE
JUNHO DE 1985
O IMPRESSIONISMO E A PAISAGEM
FRANCESA
Le Dejeuner, 1873/1974 , obra de Claude Monet, Museu d'Orsay |
Paris
( Via Varig ) O estrondoso sucesso da mostra Impressionismo e a Paisagem Francesa
marcam o ano da França no terreno das Artes Plásticas. Desde a sua
inauguração até o seu recente fechamento, a mostra deslumbrou 450 mil pessoas,
entre franceses e turistas de todo o mundo. Filas intermináveis se formaram em
torno do Grand Palais, o espaço nobre das exposições em Paris, no começo dos
Champs Elysées, numa média de sete mil visitantes por dia. O inesperado afluxo
provocou até uma greve dos funcionários encarregados da mostra, que se julgaram
afinal mal remunerados face á renda obtida. Apresentada anteriormente em Los Angeles por
ocasião dos Jogos Olímpicos de 84 e depois em Chicago, a pintura do final do
Século XIX voltou ao seu país de origem e apagou o brilho da Nova Bienal de
Paris, que reunindo trabalho de 120 artistas contemporâneos de 23 países,
pretendia ser o acontecimento do ano.
Em
um mês e meio de inaugurada, conseguiu atrair pouco mais de 100 mil pessoas.
Foram
ao todo 125 telas, representadas por artistas que participaram de uma ou várias
exposições impressionistas entre 1874 e 1886, constituindo um importante
conjunto de obras, executadas por nomes como Monet, Pizarro, Sisley, Renoir,
Boudin, Bazille, Caillebotte, Berthe Morisot e Guillumin. A estas foram
adicionadas telas pintadas por Manet e outros artistas habitualmente
considerados como pós impressionistas: Cézanne, Gauguin, Bernard, Van Gogh,
Seurat, Signac e Cross.
A
exposição foi montada de maneira a sobretudo ressaltar que as paisagens impressionistas são
mais complexas do que a facilidade de entendê-las a uma primeira visão. Se
durante muito tempo o destaque foi dado apenas à originalidade de sua técnica,
em detrimento do seu valor artístico, os impressionistas, longe de serem
indiferentes, escolheram, pelo contrário, seus motivos com atenção e criaram
paisagens onde se equilibram uma imagem tradicional da França e elementos novos
do progresso industrial que modificaram a fisionomia da paisagem francesa e em
consequência introduziram a “modernidade” na pintura.
SALÃO
DOS REJEITADOS
O
movimento que mais tarde ficou conhecido como Impressionismo teve início em
meados do século passado (1860-65), quando um grupo de pintores ligados à
Escola Francesa abandonou os princípios tradicionais e clássicos da paisagem
histórica e o aspecto pitoresco da paisagem romântica por uma visão mais
próxima da natureza. Esta rejeição às convenções acadêmicas chocou o estado
francês, que não reconhece a manifestação. Os críticos da época também não
aceitam essa nova proposta de uma pintura e simples, por isso às vezes banal. O movimento deve seu nome a
uma tela de Monet, chamada Impressões, de 1872. Dois anos mais tarde, em
1874, aconteceu a primeira grande exposição impressionista, denominada Salão
dos Rejeitados.
O
auge do Impressionismo vai de 1875
a 1885. Neste período, os pintores, amigos, realizavam
suas obras em grupo, geralmente sobre o mesmo tema em estações diferentes,
razão pela qual existe uma forte semelhança entre as telas. A grande revolução
estava em pintar a paisagem por ela mesma, verdadeira, e o mais próximo
possível da realidade, e não mais como pano de fundo: os personagens passaram a
ser elementos secundários nas telas. A dificuldade de transporte neste período
faz com que os artistas não se distanciem de Paris, assim são comuns os quadros
pintados ao longo do Sena e em vilas próximas á capital, como Barbizon,
Mariotte e Chailly-em-Bière.
Entre
elas, destacam-se de Claude Monet, o precursor do Impressionismo: uma atmosfera
colorida, plantas, reflexos de vilas e pontes nas águas de riachos, portos,
fumaça de vapores, jardins privados e públicos. Os personagens não são
colocados ao centro dos quadros, mas retratados de costas, por exemplo; o lado
nostálgico das paisagens vazias de Alfred Sisley; Camille Pissarro: cenas da
vida parisiense (pintava da janela do Hotel de Louvre), campos e camponeses,
pessoas que trabalham; Renoir, tido como o maior nome do Impressionismo: A
pintura mais habitada, sobretudo mulheres e seu vestuário. Cores mais fortes,
com o vermelho característico; Paul Gauguin, um pintor marginal; Emile Bernard
com seu geometrismo e a partida para a pintura cubista do século XX.
De
Cézanne, as mais belas telas de exposição: não se interessou por personagens;
paisagens puras, solitárias, vilas desertas; a pintura trabalhada (uma única
tela) do holandês Van Gogh, que se naturalizou francês e morou na região da
Provence, no Sul, onde morreu louco. O período de 1885-90 assinala o final do
movimento, quando os artistas se dispersaram por várias regiões da França.
Mudança não só de lugares (Normandia, Bretanha), de temas-ondas do mar,
litorais, barrancos, falésias mas também de técnica: fragmentação das cores
para dar detalhes aos objetos. Uma divisão de toques chamada “pontilhismo”, um
lado mais fixo e imóvel da paisagem, do qual os expoentes são Seurat e Signac.
(Texto de Eduardo Jasmin Tawil)
RETROSPECTIVA
DE AUGUSTE RENOIR
Paris (AFP) Mais uma centena de obras de Auguste Renoir, o pintor francês mais popular de todos os que simbolizaram o “Impressionismo”, foram expostas por mais de três meses, no Grand Palais de Paris, numa grande retrospectiva patrocinada por três grandes museus mundiais e pela ajuda generosa de coleções públicas e particulares. Incluídas da América Latina.
La Grenouillere, uma das obras expostas de Auguste Renoir. |
Mas,
como a cronologia tem a sua razão de ser e no caso de Renoir mais
particularmente, convém começar a visita da mostra por suas obras dos anos 70,
bem antes de que ulcerado pelo academicismo reinante decidisse incorporar-se ao
Grupo de Claude Monet e Pissaro, as duas cabeças visíveis do impressionismo em
1874.
São
estas as suas obras da juventude: O Cabaré da Tia Antony'm ,Os Noivos, Verão, e La
Grenouillere (Chargo de Rãs), nome que Renoir deu ao famoso
balneário da Ilha de Croissy, nas imediações de Paris, e são as que, muito
depois dele deixar de ser pintor de flores ou de repetir interminavelmente em
pratos de porcelana o perfil da rainha Maria Antonieta, rememoram aquela época.
Bem
diferentes uma das outra, as duas têm uma característica comum- a luz e os tons
verde-azuis quebrados por alguns toques de cor viva- e que já são o prenúncio
da nova tendência do pintor.
Argenteuil,
a Meca do Impressionismo, surge em suas Regatas de 1874 e é, por sua maneira
de tratar os reflexos da paisagem na água, uma das particularidades, talvez a
origem, do que seria a principal característica dos seguidores de Monet, cujo
Sol Nascente um brilhante e alaranjado amanhecer normando com o sol refletido
no mar e hoje considerado como o catalizador da nova escola.
É
necessário lembrar que se a geração impressionista nasce entre os anos 1830 e
1841 (Pisarro em 1830 , Manet em 1832, Degas em 1834, Cézanne e Sisley 1839,
Monet em 1840 e Renoir, Azille, Guillaumin e Berta Morisot em 1841). Nenhum
destes “inovadores” da pintura tem um traço em comum até 1860 e Renoir, em
particular, pelo menos até 1871/72, e mais sensível a “maneira” do naturalista
Manet do que as novas teorias do grupo de Argenteuil. Dessa época datam sua
Parisienses Vestidas de Argelinas espécie de transposição das Mulheres de
Argel, de Delacroix, onde Renoir procurou descobrir as perdidas técnicas
pictóricas dos mestres venezianos e de Rubens.
As Senhoritas Cahen de Antuerpia, do acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP),
precede de muito pouco a década de 80, singularmente representada por um dos
mais famosos e conhecidos quadros do pintor, O Almoço dos Barqueiros. Em As Senhoritas.. . aparece pela primeira vez a sua futura mulher, Aline Chariot, um de seus
modelos favoritos com a sua prima e governanta Gabriela Renard.
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