JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE MARÇO DE 1988
WASHINGTON SANTANA ESTÁ
RECUPERANDO SUAS OBRAS
O artista trabalhando na recuperação das peças |
O
artista disse que são três esculturas adquiridas em 1982 pelo Centro de
Convenções e duas delas estavam em fase crítica de conservação, completamente
abandonadas e parcialmente destruídas, devido à falta de sensibilidade da
administração passada.
As
estruturas, feitas de ferro, medem, aproximadamente, de dois a 5m de altura,
sendo uma revestida de fibra de vidro. Depois de restauradas, essas peças serão
remanejadas para áreas mais próximas do centro.
A
direção do Centro de Convenções, através do seu presidente, Armando Colavolpe,
não tem medido esforços para recuperação das mesmas e estuda ainda a
possibilidade de compra das duas outras restantes que, com a reforma atual do
Centro de Convenções, justifica o investimentos.Estas
mesmas esculturas foram colocadas em 1981 por Washington Santana no Dique do
Tororó e retiradas e danificadas, arbitrariamente, por prepostos da Prefeitura.
CERAMISTA
JÁ TEM ASSOCIAÇÃO
Recebi
uma carta da Associação Baiana de Arte Cerâmica (ABAC) a respeito do artigo que
escrevi sobre Sônia Costa uma ceramista que luta com muitas dificuldades para
levar avante a sua arte. Transcrevo a carta para que Sônia entre em contato com
o pessoal do ABAC e outros ceramistas saibam que existe uma associação, que
pode ser um caminho para uma maior presença da cerâmica no mercado de arte
baiano. Vejam:
“Temos
acompanhado sua coluna (Arte Visuais), no jornal A Tarde, e já era nosso
intento procurá-lo mesmo antes de sua coluna ser posta a nossa disposição, já
que somos ceramistas.
Dia
29 de fevereiro temos a respeito da carta da ceramista Sônia Costa e
posteriormente, dia 14 de março uma reportagem sobre os seus trabalhos.
Gostaríamos que ela soubesse que existe uma associação de ceramistas que ela
pode procurar, bem como os interessados.
A
ABAC- Associação de Arte Cerâmica, foi fundada e 12 de novembro de 1987 e visa
fortalecer os ceramistas, conscientizar seus membros em relação a profissionalização e, principalmente, criar
uma consciência de classe, unindo os ceramistas em torno de sua arte.
Infelizmente,
nós também concordamos com a carta de Sônia Costa, mas queremos lembrar que, o
ceramista precisa se unir para vencer, precisa trabalhar em prol da comunidade
para poder abrir caminhos para todos. O que se vê e sente são pessoas lutando
para aparecer se preocupando apenas com o seu lugar ao sol. Quando conseguem,
não abrem espaços a mais ninguém.
Não
é dessa maneira que se cresce. A troca de experiências é fundamental e quem tem
valor não precisa se preocupar, nem temer concorrência.
A
ABAC está aberta a todos que queiram
trabalhar para mudar essa mentalidade existente, e gostaríamos de contar com o
seu espaço para divulgar nosso trabalho.
Para
maiores esclarecimentos estamos reunidos, todas as segundas-feiras, das 14 às
17 horas no Ceag do Rio Vermelho. Antecipadamente agradecemos. Atenciosamente
Vera Regina Bonaspetti, Presidente.
TREZE
ARTISTAS REUNIDOS NUMA COLETIVA DA ANARTE
Treze artistas foram reunidos pela Anarte numa
exposição denominada Rotas e Perspectivas pela Anarte que será aberta amanhã,
às 20h30min. São trabalhos de Bel Borba, Celuque, César Romero, Chico Diabo,
Fred Schaeppi, Justino Marinho, Maso, Murilo, Ramiro Bernabó, Sérgio Rabinovitz,
Tati Moreno, Vauluízo Bezerra e Zivé Giudice. Nomes conhecidos dos baianos,
alguns mais ousados, que teimam em fazer coisas novas, em provocar as nossas
emoções em criações incontidas. Outros, menos ousados, mas não menos
talentosos.
Ônibus, óleo s/tela , 1988, de 1m x1m, de Murilo. |
Entre
os que estão expondo, podemos destacar Vauluizo Bezerra , sempre ousando,
percorrendo caminhos desconhecidos, revisando clássicos, olhando as tradições e
em seguida surgindo com sua visão, que acima de tudo é perfeitamente
identificável porque é coerente. Caladão e quase sempre escondido em seu
atelier, o Vauluizo é realmente um artista que pode figurar em qualquer
exposição ou salão deste país.
O
Murilo, para minha alegria, escolheu um trecho que escrevi sobre sua obra que
prefiro transcrever:"Murilo é um dos artistas da Geração 70 que apresentam um
trabalho contemporâneo e em constante evolução. Atento às coisas que estão
acontecendo em outros centros, ele vai captando, com uma sensibilidade aguçada,
os elementos capazes de possibilitar melhor expressão. Agora, está mostrando um
trabalho vibrante, onde os traços fortes permitem a identificação de formas em
composições que enfocam o cotidiano. Realmente, entre as paredes de um
apartamento, debaixo do teto de uma casa e nas ruas das cidades acontecem situações ternas e, muitas vezes,
violentas. Esta temática é muito rica e Murilo, com sua versatilidade e a
qualidade técnica que alcançou, tem muito que realizar (...)
O
próprio Bel Borba falou do seu trabalho e classificou de “menos virtuoso, mais
livre”.
Livre?
Mais livre? Digo que o Bel Borba é a própria liberdade em todo o significado
que esta palavra pode expressar. Suas formas ora estão mais figurativas, de
repente entrelaçadas numa confusão de traços, são tubos que se encontram e
desencontram. Sua arte é como um vídeo clip onde você fixa alguns fotogramas.
Ora são enfoques de situações amalucadas dos grupos de rock que duram uma
estação, apocalípticos ou fantásticos. Como queira imaginá-los. Mas, não é uma
arte descartável, como o Bel insinua. Sua arte deve ser vista como um retrato
de uma sociedade conflitiva.
Sérgio
Rabinovitz também apresenta seus trabalhos gestuais, longe de convenções, dando
vez ao instinto de suas emoções. Sua mão corta o papel em ondulações que
lembram um maestro com seus gestos ora suaves ora bruscos para interpretar uma
nota musical. No dançar de suas mãos surgem composições belíssimas.
Zivé
Giudice é um dos artistas mais discursivos da nova geração. Utiliza figuras
deformadas para demonstrar insatisfação diante do que acontece. Das injustiças
sociais é um combatente em tempo integral. A arte serve como arma contra o que
considera injusto. É o grito com a boca aberta contra o que oprime.
Tati
incorporou a magia dos deuses africanos, que aqui nós conseguimos abaianá-los,
numa coisa que os de fora não entendem que é o sincretismo, isto pode ser
medido quando a gente se depara com um novo líder religioso que toma fôlego
para combater o sincretismo e de repente cala, porque é mais forte. Suas peças
me tocam de perto e parecem estar eternamente em vigilância. Tem um
poder expressivo e toda uma volúpia de movimentos.
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