quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

WASHINGTON SANTANA ESTÁ RECUPERANDO SUAS OBRAS - 28 DE MARÇO DE 1988


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA, 28 DE MARÇO DE 1988

WASHINGTON SANTANA ESTÁ RECUPERANDO SUAS OBRAS

O artista trabalhando na recuperação das peças
O artista plástico Washington Santana, autor das esculturas que estão expostas no Centro de Convenções, trabalha duro na recuperação das peças que estavam, há cerca de quatro anos abandonadas.
O artista disse que são três esculturas adquiridas em 1982 pelo Centro de Convenções e duas delas estavam em fase crítica de conservação, completamente abandonadas e parcialmente destruídas, devido à falta de sensibilidade da administração passada.
As estruturas, feitas de ferro, medem, aproximadamente, de dois a 5m de altura, sendo uma revestida de fibra de vidro. Depois de restauradas, essas peças serão remanejadas para áreas mais próximas do centro.
A direção do Centro de Convenções, através do seu presidente, Armando Colavolpe, não tem medido esforços para recuperação das mesmas e estuda ainda a possibilidade de compra das duas outras restantes que, com a reforma atual do Centro de Convenções, justifica o investimentos.Estas mesmas esculturas foram colocadas em 1981 por Washington Santana no Dique do Tororó e retiradas e danificadas, arbitrariamente, por prepostos da Prefeitura.

CERAMISTA JÁ TEM ASSOCIAÇÃO

Recebi uma carta da Associação Baiana de Arte Cerâmica (ABAC) a respeito do artigo que escrevi sobre Sônia Costa uma ceramista que luta com muitas dificuldades para levar avante a sua arte. Transcrevo a carta para que Sônia entre em contato com o pessoal do ABAC e outros ceramistas saibam que existe uma associação, que pode ser um caminho para uma maior presença da cerâmica no mercado de arte baiano. Vejam:
Temos acompanhado sua coluna (Arte Visuais), no jornal A Tarde, e já era nosso intento procurá-lo mesmo antes de sua coluna ser posta a nossa disposição, já que somos ceramistas.
Dia 29 de fevereiro temos a respeito da carta da ceramista Sônia Costa e posteriormente, dia 14 de março uma reportagem sobre os seus trabalhos. Gostaríamos que ela soubesse que existe uma associação de ceramistas que ela pode procurar, bem como os interessados.
A ABAC- Associação de Arte Cerâmica, foi fundada e 12 de novembro de 1987 e visa fortalecer os ceramistas, conscientizar seus membros em relação  a profissionalização e, principalmente, criar uma consciência de classe, unindo os ceramistas em torno de sua arte.
Infelizmente, nós também concordamos com a carta de Sônia Costa, mas queremos lembrar que, o ceramista precisa se unir para vencer, precisa trabalhar em prol da comunidade para poder abrir caminhos para todos. O que se vê e sente são pessoas lutando para aparecer se preocupando apenas com o seu lugar ao sol. Quando conseguem, não abrem espaços a mais ninguém.
Não é dessa maneira que se cresce. A troca de experiências é fundamental e quem tem valor não precisa se preocupar, nem temer concorrência.
A ABAC  está aberta a todos que queiram trabalhar para mudar essa mentalidade existente, e gostaríamos de contar com o seu espaço para divulgar nosso trabalho.
Para maiores esclarecimentos estamos reunidos, todas as segundas-feiras, das 14 às 17 horas no Ceag do Rio Vermelho. Antecipadamente agradecemos. Atenciosamente Vera Regina Bonaspetti, Presidente.

                   TREZE ARTISTAS REUNIDOS NUMA COLETIVA DA ANARTE
 Treze artistas foram reunidos pela Anarte numa exposição denominada Rotas e Perspectivas pela Anarte que será aberta amanhã, às 20h30min. São trabalhos de Bel Borba, Celuque, César Romero, Chico Diabo, Fred Schaeppi, Justino Marinho, Maso, Murilo, Ramiro Bernabó, Sérgio Rabinovitz, Tati Moreno, Vauluízo Bezerra e Zivé Giudice. Nomes conhecidos dos baianos, alguns mais ousados, que teimam em fazer coisas novas, em provocar as nossas emoções em criações incontidas. Outros, menos ousados, mas não menos talentosos.
Ônibus, óleo s/tela , 1988, de 1m x1m, de Murilo.
Na apresentação feita pelo mestre Mário Cravo Júnior, ele contesta as denominações que normalmente são utilizadas pelos críticos e mesmo por aquelas pessoas que acompanham o desenvolvimento e o mercado de arte, chamando-os de artistas novos ou jovens. Discordo do mestre por uma simples razão. Esta denominação não é pejorativa nem tampouco prejudicial. É apenas um parâmetro com relação à própria existência humana ou ao próprio aparecimento do artista no mercado O novo ou o velho aí é no sentido figurado, de estarem realmente pouco tempo no mercado. O que realmente interessa, é aí concordo com Mário cravo, é o talento, e esta gente reunida pela Anarte esbanja talento.
Entre os que estão expondo, podemos destacar Vauluizo Bezerra , sempre ousando, percorrendo caminhos desconhecidos, revisando clássicos, olhando as tradições e em seguida surgindo com sua visão, que acima de tudo é perfeitamente identificável porque é coerente. Caladão e quase sempre escondido em seu atelier, o Vauluizo é realmente um artista que pode figurar em qualquer exposição ou salão deste país.
O Murilo, para minha alegria, escolheu um trecho que escrevi sobre sua obra que prefiro transcrever:"Murilo é um dos artistas da Geração 70 que apresentam um trabalho contemporâneo e em constante evolução. Atento às coisas que estão acontecendo em outros centros, ele vai captando, com uma sensibilidade aguçada, os elementos capazes de possibilitar melhor expressão. Agora, está mostrando um trabalho vibrante, onde os traços fortes permitem a identificação de formas em composições que enfocam o cotidiano. Realmente, entre as paredes de um apartamento, debaixo do teto de uma casa e nas ruas das cidades  acontecem situações ternas e, muitas vezes, violentas. Esta temática é muito rica e Murilo, com sua versatilidade e a qualidade técnica que alcançou, tem muito que realizar (...)
O próprio Bel Borba falou do seu trabalho e classificou de “menos virtuoso, mais livre”.
Livre? Mais livre? Digo que o Bel Borba é a própria liberdade em todo o significado que esta palavra pode expressar. Suas formas ora estão mais figurativas, de repente entrelaçadas numa confusão de traços, são tubos que se encontram e desencontram. Sua arte é como um vídeo clip onde você fixa alguns fotogramas. Ora são enfoques de situações amalucadas dos grupos de rock que duram uma estação, apocalípticos ou fantásticos. Como queira imaginá-los. Mas, não é uma arte descartável, como o Bel insinua. Sua arte deve ser vista como um retrato de uma sociedade conflitiva.
Sérgio Rabinovitz também apresenta seus trabalhos gestuais, longe de convenções, dando vez ao instinto de suas emoções. Sua mão corta o papel em ondulações que lembram um maestro com seus gestos ora suaves ora bruscos para interpretar uma nota musical. No dançar de suas mãos surgem composições belíssimas.
Zivé Giudice é um dos artistas mais discursivos da nova geração. Utiliza figuras deformadas para demonstrar insatisfação diante do que acontece. Das injustiças sociais é um combatente em tempo integral. A arte serve como arma contra o que considera injusto. É o grito com a boca aberta contra o que oprime.
Tati incorporou a magia dos deuses africanos, que aqui nós conseguimos abaianá-los, numa coisa que os de fora não entendem que é o sincretismo, isto pode ser medido quando a gente se depara com um novo líder religioso que toma fôlego para combater o sincretismo e de repente cala, porque é mais forte. Suas peças me tocam de perto e parecem estar eternamente em vigilância. Tem um poder expressivo e toda uma volúpia de movimentos.

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