quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O LIRISMO DE JENNER AUGUSTO ENALTECE A PAISAGEM BAIANA -13 DE JUNHO DE 1988

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 1988

O LIRISMO DE JENNER AUGUSTO ENALTECE 
A PAISAGEM BAIANA
Uma visão do bairro de São Lázaro.Ao fundo a igrejinha
São vinte e cinco telas de tamanhos variados que enfocam um mundo poético, longe do barulho das descargas de automóveis, dos escritórios frívolos dos executivos e das chaminés das indústrias poluidoras. Seu autor é um homem sensível, ativo e sábio porque, como ninguém, faz um trabalho que resgata o espaço vital, que preserva as coisas boas, que antevê o futuro e, portanto, e eternamente atual. Seu nome é Jenner Augusto, um sergipano que também por força da sua sabedoria sabe ser baiano sem desprezar sua terra natal. Nesta junção de vivências a sua obra demonstra uma emoção consciente, doce, como se estivesse captando momentos para serem contemplados sem a preocupação com o tempo.
As gerações preocupadas com novas linguagens e envolvidas por outros elementos contemporâneos estão em linhas paralelas às percorridas por este artista, que reflete com a sua obra uma percepção do seu próprio mundo, das coisas que lhe tocam de perto e que também integram a nossa realidade. Jenner é um construtor de paisagens líricas, que confundem-se com a mansidão do seu jeito de ser, da sua maneira de falar.
Ora enfoca os Alagados transformando aquele lugar fétido, onde as pessoas vivem marginalizadas, num lugar paradisíaco como a reclamar a necessidade de providências. Ele preferia que aquela gente estivesse vivendo dias melhores. Logo mesmo diante de uma situação triste ele enxerga em contraponto o lado poético revelado em sua obra.
As dunas brancas do Abaeté e suas lavadeiras
Ora são as procissões, são os coroinhas com suas roupas de um vermelho intenso! São as lavadeiras alheias às máquinas de lavar ou às lavanderias automáticas, que teimam em sobreviver de uma profissão que tende a desaparecer, a estender as roupas coloridas dessa gente da classe média em seus varais e mesmo nas areias brancas dos lagos e principalmente da Lagoa do Abaeté.
São as doces mulheres dos pescadores que ficam olhando o mar se perder no horizonte à espera do amado, que demora. São os vendedores de coco a mercar o seu produto tangendo um burro velho ou um cavalo esquelético.
De repente, são os casarões, o detalhe de uma paisagem eleita e com a maestria do seu pincel nos brinda com obras de qualidade. É o poeta da cor, nesta Bahia que se desmancha pela sandice dos incorporadores inescrupulosos. E, esta veia poética de Jenner Augusto está ligada ao seu gosto pelo mar, por esta terra que te cheiro de África, e também, de Europa. Como diz Vinícius de Moraes:Trouxeste de Sergipe a contida paixão, a ascese, a fome, o fulcro/Da alma nativa, a agreste crispação/Da mata branca a caatinga, a alta tensão/Da palha de onde os pássaros/Se picam ao latir dos estampidos/De uma nova vingança, os paroxismos...
Esta sua exposição, no Escritório de Arte da Bahia, é mais uma constatação que ele dará aos baianos de sua visão poética, uma evidência do lirismo que derrama em suas telas. È fiel a sua terra natal e sem ser infiel é ao mesmo tempo um amante da Bahia, que o acolheu de braços abertos e incorporou a sua obra a essa paisagem.

SALÃO BAIANO VAI MESMO SER REALIZADO ESTE ANO

Dois eventos importantes devem ocorrer este ano em Salvador no campo das artes: O Salão Baiano de Artes Visuais e a Bienal Baiana de Arte. Para êxito dessas promoções será preciso que tanto a Secretaria da Cultura, Fundação Cultural e algumas empresas se disponham a dar apoio efetivo a esse dois eventos que certamente contribuirão para enriquecer o movimento cultural do estado. È preciso abrir a janela, sair do quadrado ideológico em que estão postadas alguns luminares instalados nesses órgãos e que venham olhar o que está ocorrendo ao redor. A Bahia é um dos estados onde a produção artística, estou falando das artes visuais, não tem diminuído, nem mesmo nos momentos de incertezas e de falta de apoio que enfrentamos há algum tempo.
Tenho conhecimento que o grupo da Fundação Cultural liderado pelo artista Zivé Giudice vem trabalhando para a concretização desses eventos e que inclusive o Salão será realizado a partir  de 1º de novembro, tendo como local o majestoso Solar do Unhão. O Regulamento já estaria esboçado.
Serão convidados três críticos baianos, mas um de São Paulo, um do Rio de Janeiro e outro de um estado nordestino. O s críticos de fora indicarão 20 artistas de qualquer estado e os críticos locais vão selecionar os baianos.
Serão distribuídos 10 prêmios e as inscrições estarão abertas dentro de alguns dias. Portanto, se você é artista é hora de pensar neste salão, que terá repercussão nacional.
Por outro lado, chamo a atenção que, se pensam em realizar uma Bienal é hora de começar a discuti-la com mais intensidade, sob pena de não ser concretizada. Esses eventos vão envolver boa soma de recursos financeiros e muito trabalho.

CALEIDOSCÓPIO DE ELISA

A artista plástica Elisa Galeffi abriu recentemente, no restaurante Pituaçu, a exposição Caleidoscópio , composta de quadros de tamanho 90 x 90, em estamparia sobre tecido. O tema do trabalho são mandalas, composições geométricas que convergem em direção a um centro. Cada um desses trabalhos nasceu da longa busca de autoconhecimento tentando atingir um equilíbrio interior rumo ao centro e a uma posição de harmonia com o todo maior, diz Elisa.
A partir de módulos que se repetem, ela cria estruturas sólidas e fechadas.. A cor tem importância fundamental como expressão da forma . Elisa Galleffi foi restauradora do Museu de Arte Moderna da Bahia durante sete anos e atualmente é professora das Oficinas de Expressão Plástica do Mamba. Os trabalhos da artista vão estar exposto no restaurante Pituaçu.

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