JORNAL A TARDE
SEGUNDA-FEIRA 20 DE ABRIL DE 1987
JURACI DÓREA VAI PARTICIPAR DA 19ª BIENAL DE SÃO PAULO
Esta composição de 23
artistas atende ao projeto geral da mostra e foi formada durante quatro meses
de pesquisas que tiveram como subsídio 580 dossiês e propostas enviadas por
artistas e instituições, além de indicações de críticos de arte de todo o
Brasil. Complementando este trabalho, a Curadoria Geral da 19º BISP e
assessores visitaram ateliês de artistas em diversos pontos do País, para conhecer
sua produção.
ENCONTROS DE CRÍTICOS
A seção paulista da
Associação Brasileira de Críticos de Arte e a Fundação Bienal de São Paulo
promoverão, dias 3, 4 e 5 de outubro, semana de inauguração da 19ª Bienal, o
Encontro Internacional de Críticos de arte.
Serão organizadas duas
mesas com participação internacional sobre os seguintes temas: “ A Linguagem da
Crítica: em Busca de uma Terminologia Comum” e o “ O Ofício do Crítico”,
atendendo diversos aspectos, tais como: Crítica e Artista; Crítica e Poder;
Crítica e educação; Crítica e Meios de Comunicação; Crítica e o Espaço da
Crítica; Crítica e Mercado de Arte.
Uma terceira mesa, formada
apenas por críticos brasileiros, discutirá “A Situação da Crítica no Brasil”.
O objetivo do encontro é a
reunião crítica brasileira estrangeira presentes á abertura da 19ª Bienal
Internacional de São Paulo, para um intercâmbio de idéias e reflexões.
A CASA DE ARTE BRASILEIRA
REÚNE NAIFS NUMA MOSTRA
Pintores e escultores de Norte a Sul do Brasil
estão participando de uma mostra naif intitulada “Brasil Arte da Gente” na
Casa de Arte Brasileira, em Campinas, São Paulo. O organizador é o batalhador
Zé Cordeiro, que reuniu 70 obras dos artistas Aécio e Malu Delibo, de São
Paulo; Josinaldo, de Guarulhos, conhecido também como pintor do Rio São
Francisco; de Guarujá-SP, vem o escultor alagoano Zé Ribeiro, com 50 anos de
escultura; Waldomiro de Deus, baiano que reside em Osasco-SP; Nerival,
Pernambucano, de Garanhuns e que reside em Mogi das Cruzes-SP; Januário, mineiro
de Dores de Guanhães, reside no Rio de Janeiro; João das Alagoas, de Capela-AL;
Verônica, a menina pintora de Recife, o santeiro Zeus, que vive no Poço da
Ribeira, na Serra de Itabaiana, em Sergipe; Armandos Sell, de Joinville, vem de
Santa Catarina. Obra ao alto de Zé Cordeiro.
A apresentação é do artista Zé Cordeiro, que nos envia uma carta solicitando a divulgação do evento. Há anos que ele vem divulgando a arte naif brasileira. Vejam o que ele fala desta exposição:
A apresentação é do artista Zé Cordeiro, que nos envia uma carta solicitando a divulgação do evento. Há anos que ele vem divulgando a arte naif brasileira. Vejam o que ele fala desta exposição:
“Da capital de São Paulo,
temos Aécio e Malu Delibo muito conhecidos; de Guarulhos-SP vem Josinaldo, o
pintor do Rio São Francisco, baiano que residiu em Paris; de Guarujá-SP o
escultor alagoano Zé Ribeiro, 50 anos de esculturas, desde 1962 vem
colecionando prêmios nos salões de São Paulo; Waldomiro de Deus, baiano que
reside em Osasco-SP, é o artista brasileiro mais conhecido no exterior, já
expôs em toda a parte do mundo; Nerival, pernambucano de Guaranhus é uma
promessa no campo das artes plásticas, vivendo em Mogi das Cruzes-SP; Januário,
mineiro de Dores de Guanhães, reside há muito tempo no Rio de Janeiro,
começando a expor em 1963 no Salão dos Novos-RJ “conquistou o mundo em sua
pintura impregnada de misticismo”; João das Alagoas, reside em Capela-AL,
sertão de Alagoas, onde nasceu, sem nunca ter exposto é um artista nato, dotado
de grande sensibilidade, sem recurso material, pinta sobre madeira, Eucatex,
papelão ou qualquer coisa que lhe caia em mãos, obras marcantes pela pureza e
singeleza, a arte para João é tão importante como o ar que se respira; sua
obra, ainda tímida, é um embrião que brotará e crescerá sem dúvida alguma; Zito
reside em Aracaju promete; Verônica, a menina pintora de recife, foi aos 10
anos de idade convidada a participar do X Salão dos Novos no Museu de Arte
Contemporânea de Olinda-PE, menina prodígio que consegue pintar telas de bom
tamanho como no jogo de “Amarelinha”: pinta brincando, e brincando pinta como
gente grande. Será, sem dúvida alguma, uma grande artista; e o santeiro Zeus?
Meu Deus, só mesmo um Zeus para conviver tão bem com
São Francisco e conhecer tão bem Nossa Senhora da Conceição. É de Deus os santos do santeiro Zeus.Vive no Poço da Ribeira na serra de Itabaiana-SE e somente ele pode “pode retirar do âmago de uma umburana magnífica imagem de São Francisco”;Amandos Sell, de Joinville, Santa Catarina, estado onde a colonização alemã influenciou consideravelmente nos costumes e, na paisagem, mostrando um Brasil diferente do Norte, a paisagem com casas de cachamel dá-nos uma visão típica da Europa encravada nesta verdadeira colcha de retalhos, neste caldeirão que é o Brasil, onde as raças e culturas se misturam, amalgando-se e fundindo uma só raça e cultura. Ao lado a obra São Francisco,de Januário.
São Francisco e conhecer tão bem Nossa Senhora da Conceição. É de Deus os santos do santeiro Zeus.Vive no Poço da Ribeira na serra de Itabaiana-SE e somente ele pode “pode retirar do âmago de uma umburana magnífica imagem de São Francisco”;Amandos Sell, de Joinville, Santa Catarina, estado onde a colonização alemã influenciou consideravelmente nos costumes e, na paisagem, mostrando um Brasil diferente do Norte, a paisagem com casas de cachamel dá-nos uma visão típica da Europa encravada nesta verdadeira colcha de retalhos, neste caldeirão que é o Brasil, onde as raças e culturas se misturam, amalgando-se e fundindo uma só raça e cultura. Ao lado a obra São Francisco,de Januário.
Quem duvidar da força, da
imaginação, da capacidade criativa e artística do homem brasileiro, do homem
comum, do matuto que vive esquecido, relegado e à margem de tudo, que venha
ver, que venha conferir, e como escreveu Olney Kruse, crítico de arte do Jornal
da Tarde, na apresentação do calendário Artistas da Terra da Copersucar 87:
“Peço, mais uma vez:
deixem o Brasil existir sem opressão, repressão colonização. A Arte brasileira
existe”
A DISPUTA DE CARGOS
A DISPUTA DE CARGOS
Estamos assistindo movimentos corporativistas querendo impor nomes nos diversos escalões do governo estadual. É plausível esta movimentação que ora se desencadeia na sociedade brasileira e em particular na baiana, mas não podemos aceitar que todas as manifestações corporativistas sejam vitoriosas.
Agora o movimento chega
aos museus. Com a possibilidade de escolha de um nome, de um jovem artista,
integrante da Geração 70 para coordenar os museus baianos eis que
corporativistas se agitam e levantam suas bandeiras, equivocadamente. Admito
que para os cargos técnicos não se pode abrir mão da presença de técnicos, cada
um dentro de sua especialidade. Mas a direção de uma coordenação ou mesmo de um
museu, não necessita que seja um técnico do setor. O cargo tem também uma
conotação política e é preciso mudar.
Acredito que as tão
propaladas mudanças estão ameaçadas. Tenho informações de que existe a
possibilidade da continuidade do marasmo que se abateu sobre o Museu de Arte
Moderna, no Solar do Unhão. Talvez as marolas que batem preguiçosamente nas
pedras que sustentam o velho casarão tenham contaminado todas as pessoas que lá
fincaram os pés. Defendo uma mudança radical, defendo que as Oficina de Arte que
lá funcionam precisam também de um novo tônico para que atraía gente nova e
também o público. Os museus baianos não tem público.
Não tem porque os
dirigentes nada fazem. Sou obrigado a lembrar que na mostra Geração 70
conseguimos levar o maior público que o Museu de Arte da Bahia, na Vitória, já
teve.
Isto foi muito pouco! Acho
que os futuros dirigentes têm que estar atentos às manifestações dos jovens
artistas que se batem por espaços e terminam por expor suas idéias em shoppings ou salões de recepção de hotéis,
enquanto nossos museus ficam às moscas, porque não lhe dão espaço e não lhes
atraem.
Os museus baianos são hoje
simples depósitos de obras de arte! O que se faz é insignificante. Não existe
um projeto de levar o público residente na capital e interior para ver as obras
e mesmo qualquer atividade que venha atrair pessoas.Nas exposições realizadas
só comparece aquele mesmo público, bem reduzidos os parentes dos expositores.
Quando viajo e visito
museus na Europa e nos Estados Unidos fico imaginando como se poderia melhorar
a freqüência dos nossos museus. Evidente, que para isto é preciso de verba. Não
muita, porque os dirigentes têm que ter imaginação para arrecadar. Na venda de
livros, de catálogos, na exploração de uma cantina, na realização de pequenos
shows musicais. Enfim, existem muitas formas de se conseguir algum dinheiro
para tocar o museu. É preciso ganhar público! É preciso criar no baiano o
interesse pelos museus.
Quanto aos
corporativistas, tenho notado que estão unidos apenas na revindicação de
cargos. O que já fizeram pelos museus? Que tipo de ajuda , de projeto, já
apresentaram para que os museus baianos se desenvolvam. Nada! Parece que a
mudança está calcada na disputa por cargos. Com cargos ou não, é preciso
cooperar. Daqui deste espaço tenho defendido maior atenção aos museus, tenho
divulgado as poucas promoções que se realiza em seus salões e mesmo já promovi
alguns eventos, todos vitoriosos. Acho que a mudança deve ser radical. Esta
geração que não teve espaço até agora precisa ser convocada. Depois vamos
cobrar a sua ação.
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