JORNAL A TARDE SALVADOR,
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 1987
A SENSUALIDADE DA MULHER EM 20
QUADROS DE MASO
O resultado de três meses de trabalho incessante do artista Maso está sendo
mostrado na Galeria Mato Grosso 50, em São Paulo. São
vinte pinturas a óleo, onde o artista mostra toda a sensualidade da mulher. Nos
corpos retorcidos ressaem detalhes do tronco e das coxas em movimentos
devidamente estudados. Uma pintura limpa, onde o espectador fica procurando
olhar com mais cuidado alguns-detalhes, como os pelos, distribuídos pelo corpo,
uma gotícula de água estrategicamente colocada. Enfim, neste jogo de luz e
sombra, Maso vai construindo o seu mundo pictórico entre a fotografia, base de
sua arte, e a pintura. Ele consegue colocar as pinturas muito realismo, ao
ponto de provocar excitações em algumas pessoas mais sensíveis.
Prefiro
vê-las pelo lado da arte, da poética, da sensualidade que evoca situações de
contemplação, imagino a técnica, o desenho, a fotografia sendo revelada e
transportada para a tela branca. Imagino as primeiras pinceladas, as fases
posteriores, onde as formas começam a se definir até que toda a sensualidade
chegue e se fixe forte e bela nos olhos de quem sabe enxergar. Com uma
tranqüilidade invejável, Maso vai seguindo por este labirinto de corpos nus.
Porém uma nudez celestial, romântica até, que não choca. Apenas eleva os
sentimentos, principalmente daqueles que gostam e apreciam a beleza da mulher.
UMA
OBRA DIVIDIDA ENTRE O BEM E O MAL QUE NOS CERCAM
Familiarizado
rapidamente com os pincéis da vida, os que lhe dão colorido e os que também
pintam a lúgubre amargura da alma, já aos 13 anos Carlos Araújo representava o
Brasil em uma exposição internacional realizada em 1963, em Bruxelas.
“Alegoria
do Carnaval” foi o painel que o fez saltar pela primeira vez as fronteiras
brasileiras.
Dez
anos mais tarde, voltou a participar, em Bruxelas, na exposição “Imagens do
Brasil”, mas ao contrário do que se podia acreditar, Carlos de Araújo nunca
sentiu maior desejo de abandonar sua terra para tornar mais amplo seu universo
artístico.
Embora
já tenha trabalhado em
Nova Iorque no início do gigantesco painel América (15 metros X 14 metros ), destinado a
expressar em pintura a força telúrica do continente americano, somente agora
sentiu um desejo maior de divulgar seu trabalho em todos os continentes.
Em
Paris, decidiu aceitar a edição de um livro sobre sua obra e também programar
uma série de grandes exposições européias e interamericanas.
O
Museu de Arte de São Paulo parecia estar monopolizando até agora o produto da
esotérica obra de Carlos de Araújo Filho.Pintor
figurativo, este artista brasileiro já tem em seu cofre uma obra de 1.300
quadros.
Eu
sou minha pintura. Minha pintura é uma ambigüidade. Pessoas divididas entre o
bem e o mal.
A
eterna luta do homem, disse o brasileiro ao classificar sua obra.Aos
13 anos, fiz uma de minhas obras mais fortes, pois tinha maior liberdade de
expressão. Não tinha compromisso algum com a sociedade, nem com a própria
pintura.Estava
livre de influências, explicou.
Se
ele sempre se considerou um pintor figurativo, com uma marcante influência
renascentista, por suas origens italianas e porque estudou a fundo este
movimento produzido na Europa nos séculos XV e XVI, agora tem o desejo, “ a
capacidade e a força” para tornar-se um “pintor político-social”. O
Renascimento deu uma libertação quase absoluta ao artista da época, embora
respeitando a forma e os cânones clássicos e com a noite dos tempos, muitos
pintores e escultores, logicamente, herdaram tal liberdade, na busca da beleza
mais exigente.
Carlos
de Araújo se sente renascentista.
Quero
ser um cronista de minha época. Sinto-me preparado para refletir em minha obra
a realidade próxima da pobreza espiritual, que por sua vez está refletida na
pobreza material do homem, explicou.
O
esotérico e o terreno. A ambigüidade de um pintor moderno.
LIANE
KATSUKI COM MUITAS ATIVIDADES NA HOLANDA
Liana Katsuki trabalha muito. |
O
sol voltou a brilhar no início deste mês na Holanda e Liane Katsuki manda
notícias sobre suas atividades. Diz ela que o verão foi horrível com muito
frio, dias cinzas e chuvosos. “Os raríssimos dias de sol, só fizeram aumentar
as saudades do meu País, e acelerar meu desejo de logo estar aí”.
Vemos,
portanto, uma Liane saudosa deste sol que brilha com intensidade nesta Bahia
cheia de dengo e alegria. Mesmo nos tempos de vacas magras, que vivemos, os que
teimam em destruí-la não conseguem, tal a sua presença forte.
Atualmente
ela está no Teatro Smedery (na New Jonker Street) fazendo uma performance de
suas jóias e desenhos com um grupo de dançarinos. A coreografia é baseada no
projeto de Liane que trabalhou inclusive todo o cenário. Está ainda mostrando
seus trabalhos em Amsterdam, na Galeria da Vila Baranka, juntamente com 22
mulheres sul-americanas.
O
nome desta mostra é Dochters Van Moeder Aarde.
Dia
22 a
inquieta Liane estará com seus desenhos e esculturas na Galeria Mediation Art
Today, em Amsterdam.
Ela trabalha ainda para uma fábrica e uma escola de
computadores.
Diz
ainda Liane que presenciou um movimento muito significativo na cidade de Emmen,
onde está residindo. Toda a cidade foi povoada de esculturas monumentais
colocadas estrategicamente nos parques, lagos, em frente aos edifícios
públicos, nos jardins, e os lojistas convidaram os artistas a expor seus
quadros nas vitrines.
Tanto
os artistas amadores como os profissionais participaram do evento que contou
com o apoio da prefeitura municipal. Lembra a artista baiana que temos tanto
espaço e tantos lugares bonitos em Salvador que seria
um boa ideia um movimento deste nível envolvendo toda a comunidade.
Mas
minha cara Liane a distância entre os elos de cultura e civilização da Holanda
e o Brasil é muito grande. Estamos num país carente de tudo. De caráter, de
comida, de transporte, de escola, de educação, de cultura, enfim aqui tudo está
por chegar. Quando se consegue fazer um movimento na área cultural é quase um
milagre. As dificuldades são imensas. A falta de apoio uma razão muito forte ao
desestímulo.
Enfim,
vamos continuar teimando em realizar.
LINA
BO BARDI TRARÁ SUA EXPERIÊNCIA PARA A BAHIA
Dentro
de poucos meses estarão concluídas as obras de restauração de quatro casas no
quarteirão da Misericórdia. O projeto, que prevê a permanência dos moradores da
área, além do funcionamento de centro comercial e restaurante nos casarões,
será a primeira grande experiência de recuperação do Centro Histórico do
Salvador na atual administração municipal. A depender dos resultados, obras
semelhantes poderão ser executadas em toda a área tombada como patrimônio da
humanidade pela UNESCO, órgão cultural da Organização das Nações Unidas.
Lina reencontra a Bahia depois de 22 anos. |
A
informação é da arquiteta Lina Bo Bardi,
autora do projeto que vai utilizar a tecnologia de argamassa armada,
desenvolvida pela Fábrica de Equipamentos Comunitários da Prefeitura.
Criadora, em 1959, do Museu de Arte Moderna da Bahia, entre outros projetos
arrojados da Arquitetura contemporânea, Lina Bo Bardi foi entrevistada no
programa, o presidente da Fundação
Gregório de Mattos, Gilberto Gil, falou sobre a importância da arquiteta Lina
Bo Bardi no desenvolvimento cultural da Bahia.
É
mais uma das muitas promessas que os moradores do centro e mesmo de Salvador
estão cansados de ouvir. Estamos registrando e futuramente vamos cobrar. A
memória do brasileiro costuma ser curta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário