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terça-feira, 16 de outubro de 2012

CIRCUITO ENCERRA ETAPA E SELECIONA 106 ARTISTAS - 28 DE NOVEMBRO DE 1983


JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 1983

CIRCUITO ENCERRA ETAPA E SELECIONA 106 ARTISTAS

Trabalho em madeira e couro de Juraci Dórea.
Obras de 106 artistas integrarão a mostra itinerante que marca a segunda etapa do Circuito de Artes Plásticas do Nordeste. Com a etapa das mostras estaduais seguida de um debate de avaliação, reunindo as comissões regional e estadual, artistas e membros da Secretaria do Circuito, foi encerrada a primeira etapa.
Prevista para o próximo ano, a mostra itinerante, reunirá obras representativas de todos os estados nordestinos e terá um caráter didático, permitindo uma análise das vertentes existentes na produção artística da região.
                                                                                                                                                                                                                     
Após visitar todas as mostras estaduais realizadas, a Comissão Regional pôde identificar as muitas dificuldades que afligem as artes plásticas em estados do Nordeste. A absoluta falta de informação nos campos teóricos e visuais gera, segundo a Comissão, “uma carência em termos de uma reflexão crítica do artista em relação ao seu meio e à sua própria produção”. Além das mostras ocorreram debates durante o Circuito com representantes dos artistas plásticos. Nos inúmeros debates realizados uma constatação aflorou como a mais importante: a necessidade de uma política nacional voltada para o Nordeste. E mais, que esta política deve refletir, com precisão, os anseios de todos os nordestinos envolvidos com artes plásticas a incorporar, sempre, as diretrizes apontadas pela própria região.
Vinte artistas baianos integrarão a mostra itinerante: Antônio Brasileiro, Guache, Murilo, Bel Borba, César Romero, Edsoleda, Emma Valle, Florival, Gustavo Uzeda, Juarez Paraíso, Juraci Dórea, Luís Jasmin, Márcia Magno, Paulo Serra, Reinaldo Eckenberg, Sonia Rangel e Yeda Maria.
Representarão Sergipe cinco artistas:Henrique Luís, Jorge Luiz, José Fernandes, Marinho Neto e Oziel Polia.

RELATÓRIO DA COMISSÃO É A RADIOGRAFIA DO QUE SE FAZ NO NORDESTE

A arte de Francisco Liberato , óleo sobre eucatex.
A Comissão Regional do Circuito de Artes Plásticas da Região Nordeste deu início às suas atividades no Maranhão no dia 10 de outubro, na cidade de São Luís, e, após visitar as nove capitais do Nordeste, encerrou sua participação em Salvador no dia 26. Esta viagem deu à comissão a possibilidade única de obter uma ampla e diversificada visão dos trabalhos mais recentes em artes plásticas produzidos na região. Apesar de artistas de reconhecido mérito não terem participado das exposições organizadas nos estados visitados, nem por isso a representatividade da produção artística deixou de ser abrangente, dando subsídios necessários para identificar a refletir sobre as possíveis vertentes dessa produção.


Os debates ocorridos com representantes de associações, algumas estabelecidas e, outras em formação, e também com artistas e profissionais, deixou patente a necessidade de uma política cultural nacional voltada para o Nordeste.
A absoluta falta de informação, quer no campo visual ou teórico gera uma carência em termos de uma reflexão crítica por parte do artista em relação ao seu meio e à sua própria produção.
O material deficitário e caro dificulta, sobremaneira, a possibilidade do fazer artístico, provocando limitações e até equívocos nessa área específica.
É evidente que a mera constatação desses fatos não acarreta automaticamente qualquer mudança real neste sistema. No entanto, este documento servirá para que entidades ligadas ao setor possam se colocar, com maior clareza, diante dos problemas que afligem a região no sentido cultural.

TROCA DE IDÉIAS

A abertura de um espaço para a troca de idéias, impressões, novas colocações diante da imagem, a postura crítica diante do trabalho, sem a hegemonia dessa ou daquela tendência seria o ideal desse circuito.
Durante o debate foi enfatizada a necessidade de melhor estruturação das associações de artistas plásticos profissionais existentes e da criação das mesmas nos locais onde ainda não foram implantadas, reconhecendo-se o caráter político reivindicatório que devem assumir, fato fundamental para a própria conscientização desse processo de intercâmbio e articulação que constitui o circuito. O evento não deverá convergir apenas para a exposição itinerante, mas para uma realidade mais diversificada de atividades e iniciativas da qual a mostra deverá desempenhar uma função deflagradora de um processo que se está iniciando, e, como tal, demonstra provavelmente naturais limitações e carências desse mesmo processo .
As exigências, impostas pelo mercado de arte tem um papel importante, limitando e orientando a produção artística em detrimento da necessidade de transformações da linguagem e de novas propostas no universo da arte.
Tais condicionamentos do mercado, bem como as limitações de oportunidades e a carência de materiais, instalações e equipamentos destinados à produção artística colocam em questão a própria produção das artes plásticas e têm dificultado a compreensão do exercício profissional como prática de liberdade.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A liberdade de expressão artística é, prioritariamente, a liberdade no sentido mais amplo, isto é, valores voltados para a obtenção da justiça social, garantia de direitos humanos e implantação de um processo democrático. Pois o artista á antes de tudo um cidadão.
A nível ideológico, há uma distância entre a concepção puramente estrutural da sociedade e o seu reflexo na produção das artes plásticas. Se por um lado existe um relativo consentimento no que se diz respeito às transformações sociais voltadas para uma maior justiça social e criação de oportunidades para todos, por outro, a nível de especifico, as idéias continuam geralmente vinculadas a um sistema onde a liberdade seria exclusiva e endógena ao processo de criação artística.
O caráter competitivo das premiações deve ser diluído, divulgando e implantando, nos diversos estados participantes do circuito, concursos públicos de projetos de artes plásticas a exemplo daqueles realizados no Estado da Bahia e recentemente, por iniciativa do INAP, a realização do Concurso “Ivan Serpa”.

CRITÉRIOS E AVALIAÇÃO

Partindo do pressuposto que a mostra deverá representar uma síntese da produção atual das artes plásticas na Região Nordeste, entendeu a comissão que todos os estados participantes do evento deveriam estar presentes na mostra itinerante, excluindo de início o critério de excelência. Procurou entender cada exposição preparada e/ ou indicada pelas respectivas comissões estaduais, como uma realidade própria dentro do próprio contexto cultural, evitando estabelecer critérios de referência a outras realidades. Dentro de cada contexto estadual, a comissão procurou identificar as obras mais representativas da produção artística.
Obras da pintura naif Emma Valle  e do artista Sante Scaldaferri.

Considerando, por outro lado, a realidade dos contextos culturais analisados, ficou decidido que a mostra itinerante não deveria ser organizada por estados. Distribuir as obras selecionadas por vertentes evitando assim os tradicionais agrupamentos de caráter meramente geográficos, foi a postura adotada. Tal proposta imprimirá à mostra itinerante um caráter didático e permitirá uma análise dos diversos aspectos culturais.
Constatada a ausência de artistas da região, de reconhecimento nacional nas mostras visitadas, a comissão recomenda aos organizadores do circuito que se incluía no mesmo uma “sala especial” acompanhando a mostra itinerante com obras, recentes dos artistas ora selecionados. No caso de serem detectadas certas dificuldades para a sua realização, preparar pelo menos um audiovisual que permitirá analisar o conjunto de obras desses artistas, que são: Rubem Valentim, Gilvan, Samico, João Câmara, Francisco Brenann e Miguel dos Santos, tidos como artistas representativos do Nordeste pelas contribuições que vêm dando às vertentes de expressão, particularmente no que concerne ao processo da produção artística relacionada com a identidade cultural da região.
A comissão regional foi formada por:- Hermano Guedes- representante da Paraíba; -Kate Van Scherpenberg- do INAP, Rio de Janeiro; Pasqualino Magnavita-da Bahia.

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