JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 14 DE
OUTUBRO DE 1978
Obra As Bailarinas, de Samson Flexor |
O artista Samson Flexor |
Especializou-se em pintura de
murais afrescos e arte sacra e em 1946 vem para
São Paulo onde fundou a escola e o movimento Atelier Abstração.Samson Flexor é um pioneiro da
abstração na América Latina e por diversas vezes proferiu conferências no
Brasil e mesmo no exterior. Sua obra é vasta, pois trabalhava diariamente em
seu atelier deixando um acervo considerável, que agora depois de sua morte
passa a ser disputado pelos colecionadores.
Falando de sua importância o
mestre Clarival do Prado Valadares disse em 1968, que "Por ter sido um dos
pioneiros da chamada arte abstrata, a muitos parece que tal capitulo esteja
encerrado uma vez que ele próprio se transferiu para uma outra linguagem.
Cessaram, sim, os motivos éticos, de natureza filosófica, que o fizeram
abstracionista-geométrico naquela data em que a ordenação de valores parecia
ser a meta da condição humana.
Abstrato, obra de Samson Flexor |
A PINTURA INGÊNUA DE CARLOS MANSO
O pintor argentino Carlo Manso
expõe até amanhã na Galeria do Praiamar Hotel, os seus quadros. Viveu de 1960 a 1962 em Salvador como
pianista do Seminário de Música da UFBa., profissão que exerceu até 1970,
quando, no carnaval daquele ano, em visita à Bahia, fez um retrato do Largo de
São Francisco, no Terreiro de Jesus. Daí em diante deixou definitivamente a
música pela pintura e segundo ele, está feliz por isso, embora goste de música.
Trata-se da primeira exposição de
Carlos Manso, no Brasil, embora já tenha feito várias em Buenos Aires , Madrid,
Servilha, Barcelona e outros lugares.Segundo ele, o motivo de escolher
a Bahia "é compreensível pois tenho um amor muito grande por isso aqui. O lugar
onde desejo morrer é bem junto ao mar. Esse apego ao mar e à Bahia não é o
mesmo que muitos artistas, por vedetismo, dizem ter, mas é porque aqui foi onde
coloquei a cabeça no lugar e fiz as minhas amizades mais gratas. Carlos Manso
dá a impressão de que a paz é o encontro consigo mesmo, que as pessoas comuns é
mesmo os artistas procuram. Ele já encontrou esta paz. Os gestos comedidos, a
voz pausada, são bem diferentes, dos descendentes espanhóis."
Sobre a temática, seus quadros
abordam os bairros de Buenos Aires, o campo argentino, as festas de aniversário
comemoradas com churrascos, as cidades espanholas e as ruas da Bahia, mas tudo
com originalidade. Um exemplo disso é o seu primeiro quadro, pintado aqui
quando veio passar o carnaval de 1970 e se tornou pintor em borá confesse
também que,desde menino eu gostava de fazer caricaturas. Ao pintar o Terreiro
de Jesus, principalmente o Largo do São Francisco, Carlos Manso excluiu os
automóveis, os postes elétricos, o vai-e-vem das pessoas e pintou apenas os
sobrados, a igreja, o Cruzeiro, um burro e uma paia , como se estivesse
pintando a paisagem no século XIX.
O GOSTO PELO POVO
O que eu gosto mesmo é dos
ambientes populares, do calor humano, confessa. Por isso diz ser estas coisas
que formam essência do seu trabalho. E assim Carlos Manso parece fazer com que
as pessoas com quem ele conversa acreditem que aí estão explicações dos seus roteiros
de viagem. Como pianista fez tournées pelas Filipinas, Japão, vários países da
Europa até chegar aos Estados Unidos. Fez uma viagem de San Diego ao Panamá, de
ônibus e do Quito, no Equador, até Buenos Aires, de trem e de dois em dois anos
vai à Espanha, terra dos meus descendentes.
O gosto pelo povo está explícito
na sua fisionomia quando ele fala dos amigos, principalmente dos que convivem
com ele durante os anos de 60 a 62 , aqui em Salvador. Dos vivos
a mesma saudade, e esperança de reencontrá-los.
POUCO CONCORRIDO CONCURSO DE ARTE
Obra de Juarez Paraíso que foi selecionada, a qual hoje está em frente do Parque de Exposições |
Mural de Celso Cunha no Centro de Convenções |
Deveriam ser escolhidos 10
projetos dos 26 que concorreram. No entanto, os que seriam destinados ao
Hospital Roberto Santos na modalidade rural em número de quatro não atingiram
qualidade artística à altura da premiação não podendo ser indicados vencedores.
O mesmo aconteceu com dois inscritos para o Centro de Recuperação e Triagem não
tinham nível qualitativo desejado. Também o Centro de Convivência e Cultura do
Parque de Pituaçu não teve trabalhos indicados pois nenhum dos inscritos possuíam valor artístico.
Durante dois dias ininterruptos o
corpo de jurado composto pelo arquiteto Carlos Campos (presidente), professores
Ivo Vellame, José Rescála e Mercedes Krushewsky, realizaram apreciação dos
trabalhos dentro dos critérios de valor artístico, viabilidade de execução,
originalidade, economicidade e domínio de técnica. A promulgação dos vencedores
foi feita no Palácio da Aclamação, pelo governador.
Na verdade o que podemos observar
é que muitos artistas não tiveram condições técnicas e mesmo econômicas de
realizar seus projetos para concorrer e alguns foram premiados por absoluta
falta de concorrentes. Lembro aqui algumas esculturas, especialmente uma de
metal, indicada pelo júri, que lembra fitas entrelaçadas que enfeitam presentes
de Natal.
Toda sua concepção é de péssimo
mau gosto. Também outras que tive oportunidade de examinar não refletem a
criatividade baiana e de seus autores.
Fiquei apenas feliz com a escolha
de trabalho de Celso da Silva Cunha porque dos que pude examinar é uns dos
poucos que se salva, juntamente com os de Jamison pedra. Os demais poderiam ter
sido dispensados e realizado outro concurso com uma abertura um pouco maior
para que os inibidos aparecessem. Creio que algo deve ser feito para aproveitar
o dinheiro que havia sido destinado para compra de trabalhos de arte para esses
novos edifícios oficiais.
PAINEL
KANTOR ESTÁ NO RIO- Acabo de
receber mais uma das cartas do artista argentino Kantor que fala de sua
exposição no Museu Nacional de Belas Artes.
Uma exposição onde o velho
artista, que tanto gosta da Bahia, apresenta trabalhos feitos aqui por volta de
1977 e outros de Roma, Televiv e no Rio de Janeiro.
ESCULTOR CAREL VISSER- O Museu
Municipal de Amsterdan expôs, em 1972, uma série de obras do escultor e
gravador holandês Carel Visser- sobre quem aliás, o Consulado Geral holandês,
no Rio, possui belo documentário em 16 mm , para empréstimo a entidades, associações ou
escolas.
Desde aquela última individual,
Carel Visser dedicou crescente interesse às colagens. Sobre fundo escuro,
ele utiliza produtos da natureza ( ostras, penas de pavão, lã de carneiro,
chumaços de cabelo, de revistas ou prospectos, cartões postais ou reproduções de
obras de arte, inclusive esculturas.
A obra de Carel Visser teve,
desde o início, fortes laços com a natureza, a observação de formas e
estruturas tendo lhe servido de fonte inspiradora em borá esta relação nem
sempre fosse evidente.
Parte das obras desta nova fase,
recentemente mostrada ao público no Stedelijk Museum, consiste em colagens
superpostas ou conjugadas. A composição menos rígida, mais liberta, destes
trabalhos; o colorido e a temática caracterizam a surpreendente modificação nos
rumos da obra de Carel Visser.
CARTAZES- Criar cartazes que
através de imagens e/ou textos conscientizem o servidor público quanto ao uso
racional do material de serviço colocado
à sua disposição nas tarefas diárias, estimulando-o á economia e
conservação, é o objetivo do I Concurso Nacional de Cartazes, promovido pela
Divisão do Material do Departamento de Administração do Ministério da Fazenda e
a Fundação Movimento Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social-MUDES.
O Concurso Nacional de Cartazes é
aberto a toda pessoa domiciliada ou residente no território nacional, em
especial aos estudantes universitários, funcionários públicos, profissionais e
artistas do campo da comunicação. Cada participante poderá inscrever um ou mais
trabalhos até o dia 29 de dezembro, às 17 horas, pessoalmente ou pelo correio,
com AR-aviso de recebimento, na sede da Fundação MUDES, à Rua México, 119, 12º
andar, RJ.
Aos vencedores serão atribuídos
os seguintes prêmios: 1º lugar- CR$50 mil; 2º lugar- CR$30 mil e 3º lugar-CR$15
mil.
O Regulamento do Concurso está a
disposição dos interessados nas Secretarias do Ministério da Fazenda nos estados,
faculdades e na sede da Fundação MUDES.
ARTE DO ACRE -O 1º Festival de Arte do Acre é
uma promoção conjunta do Departamento de Cultura, da Secretaria Estadual de
Educação e Cultura do Acre, Universidade Federal do Acre e da Funarte, e tem
por objetivo incentivar e divulgar a produção artística e cultural no estado.
Ele está sendo realizado de 9 a
15 de outubro, no Campus da UFAC, e conta com exposições de artes plásticas,
espetáculos de música popular, de teatro amador e palestras sobre diversos
aspectos do Estado.
A Funarte vem ampliando
gradativamente sua participação nas promoções culturais realizadas no Acre.
Este ano, o estado foi incluído no circuito da Rede Nacional de Música, e
também participou de programas da Funarte visando à compra de instrumentos
musicais para a Universidade Federal e o governo do Estado. Em 1979 o Acre deverá
participar efetivamente do Projeto Espiral cursos para formação de
instrumentistas e produção de instrumentos musicais. E também será incluído no
circuito Norte-Nordeste do Projeto Pixinguinha.
CLAUDIO VALÉRIO- Um dos trabalhos
mais comentados do 2º Salão Carioca de Arte, atualmente na Galeria Funarte
Rodrigo Melo Franco de Andrade, chama-se Fuzilamento, uma imensa cartolina,
presa ao teto da Galeria, e que se esparrama pelo chão. Nela, desenhado com
lápis-cera de cor vermelha, as quatro sequências, quase fotográficas, de um
fuzilamento: o tiro, a queda e a morte.
O autor deste trabalho, o carioca
Cláudio Valério, está mostrando desenhos como este, na mesma Galeria Funarte
Rodrigo Melo Franco de Andrade (Rua Araújo Porto Alegre 80, Rio, em exposição
inaugurada ontem, e que irá até o dia 31 de outubro.
Filho do pintor Oswaldo Teixeira que o iniciou nos mistérios das Artes Plásticas,
Cláudio é formado em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Já
participou de três salões Nacionais de Arte Moderna, da Bienal Nacional de São
Paulo de 1974, de diversos Salões Universitários, além de coletivas em todo o
país.
Assim Cláudio define seu
trabalho: O artista é agredido pelas realidades que são seu objeto. Logo, ele
também as agride, representando-as em instantâneos límpidos e claros. O desenho
de Cláudio pretende aproximar-se ao máximo da realidade, de modo a revelá-la
como ela é: Em minha arte não há espaço para
a ilusão.
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