JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 09 DE
DEZEMBRO DE 1978
Menina com Flores,obra de Roberto |
O pintor carioca Roberto de Souza
está expondo na Galeria Grossman, localizada na Rua Clóvis Spínola Orixás
Center, loja 12. As 25 peças apresentadas tem como tema a figura infantil,
mostrando sempre a inocência e pureza.
"Eu pinto a figura da criança com
uma paisagem bonita de fundo, para lembrar o contato com a natureza, tão
necessário. O Rio de Janeiro foi tomado por arranha-céus de concreto e esse
tipo de quadro, além de transmitir tranqüilidade, mostra uma coisa que não
existe mais e que é importante para seu filho", explicou Roberto de Souza.
Menino no Pomar, 1999 |
Interessa ao artista fixar na
tela deliciosas e ternas expressões de meninos e meninas, crianças e
adolescentes no alumbramento da descoberta da natureza e na do seu despertar
ainda cheio de ilusões e esperança. O momento, enfim, da inocência pela
refletido na tela."
Diz Roberto de Souza que " nos meus
quadros, em vez de mostrar toda a problemática social de nossos dias, eu mostro
o oposto, procurando apresentar tudo de
bom que está se perdendo às custas do progresso, como uma espécie de progresso,
como uma espécie de protesto passivo."
O pintor carioca, entre outros
prêmios, recebeu a Medalha de Ouro na VII Salão Maçônico, deste ano; Medalha de
Ouro da Sociedade Brasileira de Belas Artes; Medalha de Ouro Salão Batista de Costa; Medalha de Prata do Salão Nacional hors-concours.
Participou de leilões de quadros
no Brasil e de várias coletivas, nas principais galerias do Rio de Janeiro e
São Paulo.Na Bahia é a sua segunda
exposição, sendo a primeira realizada em 1974, no Museu do Estado.
Essa exposição vai até o dia 22 e
poderá ser visitada a partir das 9 horas.
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE ARTISTA
A regulamentação da profissão do
artista plástico voltou a ser discutida, desta vez no Primeiro Seminário de
Gravura, que se realizou em
Curitiba. A proposta foi apresentada pela artista gaúcha
Zorávia Bettiol, mas, apesar dos gravadores alertarem para a necessidade da
medida, mostraram-se pessimistas quanto á sua execução.
Para Rubens Gerchmann,"a
regulamentação está na estaca zero. É importante que isso ocorra porque somos
considerados biscateiros, mas alguém fora da classe é que deve batalhar pela
nossa regulamentação profissional. Para nós, artistas, é difícil nos unirmos
aos juristas. Somos individualistas demais." A mesma opinião foi apresentada
pela gravadora Anna Letycia, para quem até mesmo uma associação entre os
artistas é difícil.
"O artista plástico," comentou Anna
Letycia, "é muito egocêntrico e quando se reúne o grupo não dura nem um ano. Há
30 anos estou no meio artístico e sou muito descrente que a nossa
regulamentação possa acontecer. Ela desistiu até mesmo de lutar pla insenção de
taxas de importação de material artístico: se nem para a medicina o governo
concede, ainda mais para a arte", sentenciou.
MILTÃO, EXPOSIÇÃO PÓSTUMA
A exposição dos trabalhos do
escultor Miltão, recentemente falecido num acidente durante trabalhos numa
sonda da Petrobrás, está no Solar do Unhão.O artista, soldador por
profissão, com a sensibilidade e habilidade operária, criou dos metais os
orixás, os pássaros e os signos.
Alguns dos seus trabalhos, que
ele os chamava de abstratos eram formações metaloplásticas da sua concepção de
consciente, reflexões, deuses em metais, e outros trabalhos as quais imprimiu
uma característica aparentemente primitivista, mas com uma profundidade de
criação raramente vista.
Seu sonho era expor os trabalhos
para os companheiros operários.
Antes que conseguisse concretizar
seu desejo, morreu tragicamente, brutalmente, como nenhum ser humano, sobretudo
um artista, deveria morrer. Miltão morreu, mas felizmente deixou a marca de sua
criatividade. Por duas vezes uma entrevista a apreciação sobre seus trabalhos.
Fiquei com esta dívida, por
motivos profissionais.
Acredito que seus trabalhos
refletem exatamente sua vida no mar soldando pesados tubos e pequeninas peças
metálicas.
Era um artista de força, como uma
flor que brota de uma pedra.
AS MÁSCARAS DE REBELLO
Foi de Tápes que veio Rebello,
Sílvio Luís Rebello da Rosa, um jovem que vivia apaixonado pelo nome Bahia e
que daqui só fazia ideia através um postal do Farol da Barra. Chegou no verão
de 1972, com a firme decisão de ficar.
Veio para trabalhar em arte e era
seu propósito inicial se dedicar à pintura a óleo, cujo êxito estaria
assegurado se a isso tivesse se dedicado.Logo que chegou, foi tragado pelo
fascínio e magia da cidade, que imaginava mais primitiva. Impressionou-lhe,
sobremodo, a alma do povo: simples, acolhedor, bem falante, místico e alegre.
A sensualidade desse mesmo povo
lhe marcou definitivamente e Rebello não
teve dúvidas de que veio para ficar. Depois, havia o mar, sua grande paixão,
com seu azul inconfundível e dadivoso. Sentia uma irradiação, algo que lhe
integrava, sempre e cada vêz mais, à terra.
Rebello não pensava encontrar
muitas dificuldades de adaptação. Trouxera pouco dinheiro, é verdade, e a
sobrevivência teria de ser conseguida com o seu trabalho. Trabalho em arte.
O elevado custo de vida da nossa capital não o
desanimou. Quando ainda estava em Tápes e olhava para o postal do Farol da
Barra, acreditava que naquele lugar poderia lançar a rede e pescar, com fartura
e jamais lhe faltaria o alimento, nessa Bahia que ele aprendera amar por culpa de Jorge Amado e Caetano Veloso.
A sua temática principal são máscaras, em forma de painéis, estandartes, colheres de pau,onde entram,
habilmente, búzios de Itaparica, seixos, cabaças, fibras de piaçava da Feira de
São Joaquim, palhas, couros, cascos e peles de animais, jibóia, tartaruga,
jabuti, jacaré, arcada de tubarão, etc, tudo pintado com tinta especiais,
muitas delas fruto de suas pesquisas.
MULHERES DE SÉRGIO FRANCO MARTINOLLI
Uma obra recente do artista italiano Sérgio |
Nego o cotidiano que me reflete
uma dia-a-dia cruel, mais importante é para mim recriar u mundo transfigurado,
de energias positivas.
Acho que a época que
instintivamente reflito é a Renascença, um
cosmo que historicamente é chamado de Renascimento Italiano, o fausto e
o gosto pelo décor é o mesmo, voluptuoso e cristalizado, empoeirado de veneno e
de mistério.
Minhas damas alongadas, minhas
crianças rechonchudas e meio belle époque da série dos jardins e circos, as
figuras crepusculares, freqüentemente flutuantes o submersas, procuram sempre
expressar a ambivalência da natureza humana bondade/maldade, amor/ódio,
realidade/fantasia, verdade/mentira."
Este depoimento de Sérgio Franco
Martinolli é um retrato das figuras que povoam seu mundo anterior ao nosso. Um
mundo onde as mulheres gordas eram modelos e as crianças com seus cabelos
dourados e desnudas representavam a graça e a beleza.
Uma pintura romântica
simplesmente. Ele expõe na Kattya Galeria de Arte.
ANA MARIA MIRANDA EXPÕE DESENHOS
CIRCENSES
Minha sensação diante desta
exposição está muito bem representada pela figura de uma de minhas bailarinas de
circo: ela está tirando a roupa para a platéia, está se desnudando.
Eu também ficarei sem portas, sem
muralhas, sem defesa. E minha expectativa é saber como meu universo vai atuar
nos universos alheios. Ana Maria Miranda assim se posiciona diante de sua
primeira mostra individual de desenho inaugurada na Galeria Macunaíma, Rua
México esquina com Araújo Porto Alegre, no Rio.
São 25 desenhos em pastel oleoso
e uma série de desenhos a lápis de cor. O são personagens são figuras de circo.
Ana Maria Miranda não se limita apenas a documentar esse mundo; sua maior
intenção é interpretá-lo, seja através de figuras isoladas ou em grupos,
desnudando-as em sua condição humana. O circo, no caso, é apenas um pretexto
para a artista revelar o ridículo absurdo de certas situações sociais. E não só
situações sociais completa Ana Miranda, como as minhas situações internas, o
meu mundo, o meu universo.
Ana é cearense. Começou a
desenhar quando morava em Brasília, onde fez uma exposição em 69.
Foi a sua primeira experiência profissional.
Depois foi penetrando cada vez mais fundo no campo das artes plásticas. Diz
Ana, a crítica tentou me enquadrar como uma futura pintora de prancheta, uma
das poucas artistas jovens que não estava fazendo arte conceitual. Eu não tenho
compromisso com a arte conceitual, nem com nenhuma outra escola. Meu
compromisso é comigo mesma.
Nessa época, meus desenhos
estavam voltados para o aspecto social e folclórico brasileiro, sem uma técnica
muito apurada: era a minha visão do mundo exterior como ele é.
Nesse mesmo ano, Ana foi para o
Rio onde estudou com vários artistas plásticos. Ivan Serpa, detonou em mim uma
viagem, um mergulho no meu universo.
"Com Roberto Magalhães tive uma
identificação muito profunda em termos de temática. Foi enriquecedor. Rubem
Gerchman me dirigiu para um equilíbrio em ter o meu universo interno e o
quotidiano. Lígia Clark fazia análise sobre cada um dos elementos que eu
desenhava. E fiz com ela um laboratório onde a matéria-prima eram as sensações
e a sensibilidade. Encontrei no meu mundo interior as imagens vindas do meu
inconsciente, figuras da minha própria mitologia carregada de simbologia,
fantasmas, demônios; era todo o meu inferno colocado para fora. Daí surgiu o
circo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário