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A página original. |
Jornal A Tarde ,25 de janeiro de 1971.Texto Reynivaldo Brito
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Pintor Adelson do Prado |
Diversas
galerias de arte de Salvador fecharam suas portas. As razões ainda não foram
bem esclarecidas. Para uns , é falta de mercado, porque os colecionadores são
poucos e os turistas só querem levar quadros baratos, como quem compra um
objeto num mercado popular, principalmente o turista nacional, o estrangeiro
paga um pouco mais. Isto para Renot “é porque eles têm um padrão de vida mais
elevado". O proprietário da Galeria
Panorama diz que a maioria das pessoas prefere colocar uma gravura de uma
revista qualquer, com uma linda moldura do que comprar uma verdadeira obra de
arte”. Talvez a falta de cultura artística de nosso povo ou o baixo poder aquisitivo
não permitam que os baianos consumam arte.
IDEALISMO
O Euler de Pereira, artista de
profissão e proprietário da Galeria Panorama, é de opinião que "para se tiver
uma galeria de arte é necessário, acima de tudo, que a pessoa seja idealista e sonhadora.
Não recebemos nenhuma ajuda governamental e os órgãos encarregados do turismo
desconhecem as galerias de arte e, muito pior, distribuem roteiros turísticos
da Cidade sem constar o nome d galeria. Isto é uma situação ruim e prejudicial
para a cultura da Bahia".
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Obra de Adelson do Prado. |
Quanto ao problema de mercado
de arte na Bahia, o Euler de Pereira disse que "o turista, em geral, gosta
de arte barata. Um quadro para ser vendido ou comercializado pode custar mais
de Cr$300,00. Já o turista estrangeiro emprega mais dinheiro, porque sabe que é
um bom investimento. Mas, esses turistas são poucos. Os sulistas preferem um
berimbau, que custa vinte cruzeiros. O importante para eles é levar uma
lembrancinha da Bahia".
MERCADO
O Mercado de arte na Bahia é
considerado fraco pelos proprietários de galerias e entendidos de arte. Os
pintores são o que mais sofrem. Alguns de talentos excepcionais ficam aí a
"ver navios". O Euler de Pereira acrescentou que "o baiano
ainda não está acostumado com o consumo da arte plástica. A gente em Salvador
ainda entra numa casa suntuosa de gente rica e encontra uma gravura de uma
revista numa moldura ricamente confeccionada".
"E não precisa você
levantar-se desta cadeira para constatar o que afirmo: veja naquele belo
apartamento aquela gravura". E aponta para um edifício em frente à galeria,
onde realmente existe uma gravura de revista emoldurada.
Para ele a falta de idealismo é
a principal razão do fechamento de galerias em nossa cidade. Adianta:
"Muita gente pensa que montar uma galeria "é negócio da China" e
que vai ficar rico. Na realidade, isso no ocorre".
INTERMEDIÁRIOS
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Euler de Pereira Cardoso. |
Pelo visto, o artista é quem
mais sofre com a comercialização de sua arte. Muitas vezes entrega os seus
trabalhos a um marchand que só visa o lucro e não tem nenhuma sensibilidade
artística e nem procura conhecer as dificuldades do artista. O que eles querem
é vender a obra de arte por um preço elevado e pagar bagatela ao pintor. Para o
Euler de Pereira os marchands deveriam ser artistas, porque assim, teriam mais
sensibilidade e conheceriam melhor as dificuldades do profissional. “Não se
pode vender arte como se vende um metro de pano”.
As galerias geralmente cobram
uma taxa para quem quiser expor. A taxa varia de acordo com a galeria e são
destinadas ao pagamento da luz, fotografias, garçons, coquetel, impressos, e despesa
com os Correios. Mas, os proprietários das galerias ainda cobram mais de 30%
por cada obra vendida durante a exposição. A duração de uma exposição
individual ou coletiva é de quinze a vinte dia e algumas deles não passam de
dez dias.
VIVER DE ARTE
O Euler de Pereira afirma
"que embora existam todas essas dificuldades, é possível se viver de arte
na Bahia. Falo como artista e dono de uma galeria, porque atualmente só vivo de
arte". Para que um pintor realize sua exposição em nossa galeria,
nós recebemos os seus trabalhos e entregamos a cinco professores que são
artistas plásticos para apreciarem os trabalhos. Caso a |Comissão goste e aprove,
ele expõe. Caso contrário, devolvemos os trabalhos. “Desde que fundamos esta
galeria, já devolvemos mais de cinquenta”.
NÃO HÁ GALERIA
O tapeceiro Renot acha que não
há galerias de arte na Bahia e que sua casa não é uma galeria e sim seu
atelier. "Registrei a minha casa como atelier. Já tentei, durante algum
tempo, manter uma galeria - a Quirino- onde realizei e promovi várias
exposições de artistas novos. Fui eu quem desenvolveu e criei o mercado de arte
na Bahia. Mas, desisti da galeria porque os colecionadores baianos continuam
sendo os mesmo de 1957, quando comecei. Não consegui um desenvolvimento satisfatório.
Desejava expandir a arte para a classe média baiana, mas, infelizmente o baixo
poder aquisitivo dessas pessoas não permitiu que obtivesse sucesso."
Acima o tapeceiro Renot ex-proprietário da Galeria Querino que fechou as portas. Atualmente, o Renot está voltado para seus tapetes. e entalhes. A comercialização da arte e lançamentos de outros pintores novos não está por enquanto em suas cogitações.
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Belo tapete de Renot. |
Para Renot, a galeria de arte
tem que ser um ambiente comercial por excelência e o capital de giro é
indispensável. Os proprietários das grandes galerias compram os trabalhos dos
artistas e revendem com lucros. Isto acontece em toda parte do mundo. Mas,
também é preciso que esta pessoa tenha sensibilidade e esteja integrada com a
História da Arte Brasileira. Com isto, evitaria que fosse levada ao público uma
imagem distorcida de arte e mesmo distorções culturais, que prejudicam,
sensivelmente, o nosso povo e a cultura do país. “Para se abrir uma galeria de
arte, deveriam ser exigidos requisitos rígidos como se faz com qualquer meio de
comunicação (rádio, emissora de televisão) porque arte é um dos principais
meios de comunicação”. Para ele "A Bahia possui um mercado pequeno,
mas existe. O que não há é galeria de arte. Alguns pintores de talento estão
jogados e esta gente precisa ser aproveitada. Eu, agora, estou voltado para os
meus tapete-se os meus entalhes, de maneira que não posso mais promover
exposições. Já tenho um mercado no país e, agora estou abrindo novos no exterior.
Nesta minha viagem recente, vendi alguns trabalhos em Londres. Aliás, todos que
levei", frisou o tapeceiro Renot.
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