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O artista Glei Melo
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Num pequeno espaço de tempo dois artistas partiram para outra dimensão. Falei recentemente do Terciliano, e agora foi a vez do carioca, radicado há muitos anos aqui, o Glei Melo que se destacou por suas xilos abstratas e também por ser um dos pioneiros a usar as ferramentas da aerografia. O conheci ainda jovem no Instituto Brasil-Alemanha, ICBA, que fica no Corredor da Vitória, que nos anos 60 teve uma grande importância por ser uma porta aberta à cultura baiana. Frequentei muito o ICBA, e quando o saudoso Hansen Bahia deu um dos cursos de xilogravura cheguei a me inscrever, e lá o Glei Melo apareceu. Depois desta época o vi esporadicamente. Mantive a coluna por vários anos e não lembro do Glei Melo ter aparecido para divulgar alguma exposição que fez ou evento que ia participar. Soube que tinha um temperamento meio arredio e sempre estava falando de perseguição política. Talvez porque seu pai Geraldo Cabral de Melo ,que era jornalista e colunista no Jornal da Bahia,pertencia ao Partido Comunista Brasileiro - PCB , ter sido preso . O Glei chegou também a ser detido durante o regime militar, e estes fatos devem ter contribuído para seu comportamento através dos anos. |
Esta gravura abstrata atesta a qualidade
de sua produção. |
Até a grafia do seu nome aparece com i e y . Na realidade o seu nome é Glei Cabral de Melo, e faleceu na última sexta-feira, dia 16, no Hospital Português aos 76 anos de idade, vítima de um câncer. Era natural do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1944 e deixou três filhos Iana, Ramon, Hermes, e um neto o Uriel. De 1960 a 1963 foi aluno de Guinnard ,na Escola Parque , em Belo Horizonte.Em 1963 veio para Salvador onde fez curso de gravura com Henrique Oswald. Frequentou os ateliers de Pancetti e Jenner Augusto. Ele faz parte da segunda geração de Artistas Modernos da Bahia , juntamente com Sante Scaldaferri, Riolan Coutinho, Edízio Coelho, Calasans Neto,Jamison Pedra, Juarez Paraíso, Edvaldo Estivalet, Renato da Silveira, Leonardo Alencar,Yeda Maria, Edison da Luz, dentre outros.Suas gravuras abstratas são destaque na sua produção artística.
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Obra feita com aerógrafo
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Num texto escrito pelo mestre Juarez Paraíso ele diz que "a sua contribuição foi diversificada e sempre pioneira ,tendo participado do primeiro happening realizado em Salvador, durante a I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia , em 1966. Foi também, senão o primeiro, a grafitar , quando em 1967 realizou um deslumbrante Grafite em temática orgânico-floral-vaginal e no estilo barroco psicodélico, cobrindo toda uma fachada de uma das casas do Beco Maria da Paz.Também, as primeiras pinturas aerográficas e luminosas de Salvador são de sua autoria."
Em 1970 ingressa na Escola de Belas Artes , mas a abandonou no penúltimo semestre onde cursava Licenciatura em Desenho e ]Plásttica. Foi curador de uma exposição chamada Paralelo 78 que reuniu os artistas Francisco Liberato, Almandrade,Humberto elame e Juarez Paraíso, e também fundou o Centro de Pesquisa e Documentação da Arte Moderna e Pós-Moderna, inclusive realizou o I Congresso Nacional de Cores, no Centro de Convenções da Bahia .
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Uma gravura heteroforme. |
Sua primeira individual foi em 1964 onde mostrou xilogravuras e monotipias. Foi morar nos Estados Unidos devido a problemas políticos e lá experimentou vários empregos para sobreviver, até trabalhar
na Filadelfia na P.A.D - Promotion Advertisement Design, sendo programador visual. Chegou a ter cidadania americana por ser casado com a americana Laurie Bickoff , mas foi para o México com receio de ser convocado para servir no Vietnã. Depois retornou ao Brasil em 1977.Aqui participou do Curso de Gravura que reuniu importantes artistas se diferenciando dos demais porque ,segundo Juarez Paraíso "suas realizações eram menos instintivas, gestuais, dependendo mais da elaboração racional, pensada, pesquisada mais em função dos efeitos da estrutura formal na conjuntura do dualismo figura-fundo, o que bem se destaca nas Heteroformes."
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Glei Melo, Juarez Paraíso, Genaro de Carvalho,Vivaldo Costa Lima, Geraldo Rocha, Emanoel, Sante e Liberato. |
Participou também dos famosos álbuns de gravuras da Galeria Bazarte, de José Marques Castro que teve uma Sala Especial na Primeira Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em 1966. Expôs na Galeria Convivium, Galeria Canizares , na Feira de Arte da Piedade, e em outras exposições de gravuras.Portanto, suas gravuras abstratas estiveram presentes na década de 60 em vários eventos . Criou as logos do Iderb e da Ebec ,ilustrações para algumas publicações, capas de livros, inclusive para o jornal de contra cultura o Verbo, de Alvinho Guimarães. |
A casa grafitada
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Não se destacou mais devido a seu temperamento introspectivo. Era adverso ao que considerava fazer concessões para ter um maior reconhecimento público através a mídia , e assim partiu quase silenciosamente deixando ai o seu legado de obras para serem apreciadas sempre. Estava tentando encontrar dados sobre ele e devido a dificuldade tinha quase desistido quando soube deste texto do mestre Juarez Paraíso enviado pela artista Isa Oliveira ,e seu filho Ramon entrou em contato comigo fornecendo algum material e imagens de obras do Glei Melo.
Ao lado uma foto tirada do jornal A Tarde,de 1969, da casa no Beco Maria Paz, que foi grafitada pelo artista, e depois proibida por prepostos da Prefeitura por considerar uma " pintura hippie horrível". O Glei esteve na redação do jornal acompanhado do colega Rafael Ducat para denunciar a pressão de três agentes da Prefeitura exigindo que apagassem o grafite.
Sou formado em Artes Plásticas e a mensagem engajada com posicionamento político deixada por Glei hoje em dia é coisa rara, mais a resistência existe e seu legado jamais será esquecido por nós que lutamos contra os opressores Bruno estamos c vc Glei vc viverá spre em nossos pensamentos...
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