JORNAL A TARDE SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2002
Uma exposição para ser ouvida.
Esta é a síntese da mostra Ressonâncias do Brasil (Ressonâncias de Brasil), que
acontece, até 20 de setembro, na Fundação Santillana del Mar, Espanha. Fazendo
um percurso pela essência brasileira através de imagens, ritmos e harmonias
locais, a mostra visa contar a vida dos brasileiros através da expressão
artística de maior visibilidade do país - a música.
Segundo Marcello Dantas, artista
plástico e curador da exposição organizada pelo Instituto Arte Viva, a intenção
de Ressonâncias... e dar acesso ao público, de forma interativa, aos fatos mais
marcantes da História do País, por intermédio da música, sintetizada em seis
planos de expressão - a Fé, a Celebração, a Liberdade, a Fome, o Ócio e o
Sonho.
“Desde os tempos coloniais, o
caráter musical foi o ponto de encontro entre escravos e negros, colonizadores
brancos e caboclos”, diz Marcello. “Com esta exposição, esperamos oferecer uma
visão geral do País, heterogêneo e que deve ser percebido em todos os
sentidos”, explica o curador.
Assim, entre um ambiente e outro
da Torre Don Borja, um castelo medieval do século XV que abriga a fundação
Santillana - mítico e que dá o toque de
cumplicidade do projeto com o público espanhol -, desenrolam-se os
elementos de uma cultura viva, seguindo uma rota que permite o contato com a
originalidade étnica, responsável pelo desenvolvimento de manifestações ricas e
em constante transformação.
Foto de Guilherme Rodrigues ( Divulgação) . Caminhada entre velas no espaço da Fé.
Logo no foyer, os visitantes encontrarão uma instalação musical criada por
Marco Antônio Guimarães, fundador do grupo Uakti. Nesse ambiente, o artista -
com um trabalho especialmente criado para esta exposição - resgata sua própria
pesquisa de instrumentos originais.
Em seguida, o público passa ao
primeiro espaço, a Fé, onde faz uma caminhada entre velas, símbolo religioso no
País. Na sala estão expostas obras de arte, como um São Sebastião Índio,
trabalhos do Mestre Didi e de Frans Krajcberg, além de Catavento, de Bruno Giorgi,
uma urna maracá e ex-votos.
O segundo ambiente é a sala do
Sonho. Inspirada no otimismo brasileiro, o local une a utopia de futuro com o
sentido real da palavra saudade. Este tom é criado graças a composições de Tom
Jobim e Noel Rosa, de fundo sonoro, e projeções de imagens do fotógrafo Michel
Gautherot sobre uma superfície de vidro. Também suscita estas sensações a
presença de O Impossível, escultura criada por Maria Martins.
Celebração ocupa o terceiro
espaço.Esta faceta notória da cultura nacional é vista pelo prisma do
fotógrafo, cineasta e artista plástico Arthur Omar. Ele revela a enorme
celebração que acontece no município de Paritins, na Amazônia. A seguir, é a
vez do Ócio, traduzido como a capacidade de venerar o nada. Para concretizar
essa teoria, imagens de preguiça, passividade e contemplação, captadas por
Pierre Verger e que só podem ser desfrutadas se o visitante se acomodar nas redes espalhadas pelo recinto.
Na seqüência, a Fome, que, na
concepção do curador, é o motivo de mudanças, fonte de revoltas sociais e
urgência por justiça. Para mostrar o tema, fotos com expressões da miséria e
felicidade em meio ao som de Luiz Gonzaga, até a estética da Fome, de Glauber
Rocha. E, por fim, a Liberdade, com músicas de Chico Buarque, Geraldo Vandré e Tom
Zé, as obras Tudo, do artista plástico Antonio Manuel, e Você Faz Parte II, de
Nelson Leiner (texto de Ceci Alves).
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