JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 5 DE MAIO DE 1986
Expressões de protesto nas figuras disformes de Octaviano |
Mas, ninguém desta cidade desconhece o seu sobrenome (Moniz
Barreto), que ele afirma ser muito pesado para carregar, principalmente “quando
a gente quer vencer sem a ajuda dos pais”. E o exemplo de Octaviano deve ser
visto com bons olhos. Ele poderia continuar com um ou vários títulos do Iate Clube e fazer uma ou quantas
exposições desejasse sob o patrocínio da família. Mas, preferiu seguir sozinho
o seu próprio destino. Resolveu enfrentar as indiferenças e descrenças.
Estava trabalhando quando ele entrou acompanhado de uma
jovem com ar de estrangeira. Traziam dois quadros debaixo dos braços. Notei que
o rapaz estava um pouco nervoso e ficou surpreso quando o contínuo apontou
indicando-me. Comecei a falar do seu projeto de vida, de sua estada em Londres,
onde acompanhou os movimentos vanguardistas e esteve em outros países europeus,
aproveitando para visitar muitos museus. Revelou que uma das razões que levou a
despertar para a pintura foi uma exposição que teve oportunidade de visitar de
Sante Scaldaferri, que considera um dos mais importantes artistas brasileiros.
Contou-me sobre a sua obstinação pela liberdade. “Esta minha
exposição é um grito de liberdade.É um protesto contra a falta de liberdade, onde as pessoas
seguem à risca tudo que está ali determinado até a hora da morte”.
A sua pintura gestual, solta e liberta, é exatamente um
libelo pela liberdade, e as minhas ideias surgem do nada. Intitulei de
Fabulário Geral do Delirium Cotidiano. Isto tudo é compreensível porque
Octaviano tem apenas 22 anos de idade e está como que despertando contra o
estabelecido. Este seu vigor combativo é um somatório de elementos positivos
que estão refletidos nas suas figuras disformes e nos riscos que nos passam uma
emoção de inconformismo. São gestos de liberdade refletidos em suas cores
fortes.
Para os padrões leigos de beleza sua pintura pode parecer
feia.
Octaviano e a Crônica de Um Amor Louco |
O que importa é que Octaviano está aí apresentando suas
inquietações e dispostos a continuar pintando. Acho a sua postura muito digna e
acima de tudo uma demonstração de que as pessoas necessitam andar com suas
próprias cabeças. Certamente Octaviano vai encontrar outras dificuldades
maiores ou menores; espero que vença sozinho. Sei que em alguns momentos vai e
deve solicitar ajuda de seus pais e amigos. Sim, porque esta sua busca de
liberdade não significa um radicalismo ao ponto de se considerar um deserdado
do carinho da sua família ou mesmo da sua condição econômica privilegiada. O
que fica é o gesto de liberdade, o que fica é o desabrochar do seu talento, que
deve ser incentivado por todos para que Octaviano possa brindar os baianos com
outras exposições. Para que isto se torne realidade, só posso dizer a ele que
continue pintando e pintando.
Sua exposição será aberta no próximo dia 20, ás 21 horas, e
permanecerá até o final do mês no Hotel Meridien, no Rio Vermelho.
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