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Mike Sam tendo ao lado as caixinhas com pinturas eróticas . Abaixo vemos figuras de estudantes com uma máquina de fliperama. |
A arte criada por Mike Sam é uma
crônica visual sobre os jogos de fliperamas que eram uma verdadeira coqueluche
da juventude nas gerações dos anos 70 a 90. As máquinas coloridas, bem
iluminadas e cada uma com seu som especial atraíam jovens e pessoas de várias
idades que curtiam apertar aqueles botões ou acionar as alavancas e quando as luzes
piscavam freneticamente sem parar anunciavam que alguém era o vencedor. As
luzes coloridas faziam parte deste cenário piscavam quando a bolinha seguia sua
trajetória enlouquecida pela força que o jogador desprendia procurando acertar
o seu alvo ou fazer mais pontos. Elas traziam ainda nos seus mostruários
desenhos também interessantes que contribuíam para criar aquele clima lúdico e
de alegria. Enormes salões chamadas de Arcades com dezenas de máquinas, especialmente nas cidades
onde os jogos de azar campeavam especialmente as estações hidrominerais como
Poços de Caldas, em Minas Gerais; Caldas de Cipó, na Bahia; Lindoia, em São
Paulo.
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Também ele utiliza imagens históricas nas suas crônicas pictóricas das máquinas de fliperamas. |
Também nas cidades médias e capitais dos estados existiam salões ou
mesmo as máquinas estavam presentes em pequenos bares e cabarés por este Brasil
afora. Até que em 1946 o então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu em todo o
Brasil os jogos de azar. Foi através de um decreto a proibição que também
ocasionou a decadência nas estâncias hidrominerais que recebiam turistas de
todo o mundo para curtir suas águas e jogar. Diz o Mike Sam em sua dissertação
acadêmica que essas máquinas surgiram em sua cidade natal de Poços de Caldas na década de 40 e
que esses jogos eletrônicos denominados de Arcades povoaram a sua adolescência
e juventude. Os salões com as máquinas coloridas e barulhentas eram locais de
liberdade, onde os estudantes e mesmo muitos adultos podiam se expressar com
todas as forças dos seus corpos cheios de energia e vibrar quando ganhavam. As
máquinas eletrônicas sobreviveram à investida de Dutra contra os jogos de azar
e ainda é possível encontrar alguma funcionando por aí. Tem um programa de
televisão onde antiquários até hoje ficam buscando objetos antigos inclusive máquinas
de fliperamas, muitas vezes sem funcionar, para comprar, recuperar e vender
para colecionadores.
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Eduardo L. Marras pintando. |
Já o Mike Sam fez uma reconstrução visual do espaço das máquinas com o
objetivo de reconstruir a memória afetiva através da prática artística. Quando aqui chegou em 2001 encontrou
fliperamas na Rua Carlos Gomes, na Avenida Sete de Setembro, na região de São Bento,
no Politeama, Lapa e Largo Dois de Julho. Portanto, reacendeu aquela vontade de
frequentar as Arcades, e seus desenhos e pinturas passaram a representar esses
ambientes . Incluiu personagens principalmente jovens estudantes vestidos
em calças jeans e camisas brancas e carregando nas costas suas imensas e às
vezes pesadas mochilas cheias de livros e grossos cadernos. Depois de produzir
pinturas e desenhos realizou exposições com este material entre os anos de 2007
a 2014.
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Pintura de Mike Sam de uma cena do codidiano de estudantes conversando . |
Portanto, ele nos transporta como
disse seu colega Edgard Oliva para este ambiente do cotidiano de jovens
estudantes em busca de se expressar com mais liberdade. “O Mike tem além de um
domínio absoluto sobre a técnica da pintura a óleo, um primoroso desenho
ricamente elaborado a partir da observação in loco do seu sujeito.
Utilizando-se desses domínios, o artista consegue transportar-nos para o plano
das suas memórias através de uma poiesis - palavra grega que
significa criação ou produção - rica em detalhes e que chega a beirar o
Art-Nouveau, denotado, principalmente, pelo conjunto de elementos com os quais
ele elabora sua pintura.”
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Casal de jovens namorados. Mike Sam além da pintura escreve umas legendas criadas com lembranças desses encontros . |
Foi em suas idas e vindas com o
professor Onias Vieira Camardelli, quando aluno da Escola de Belas
Artes que costumava levar seus alunos para a Praça Dois de julho, mais
conhecido como Campo Grande para fazer os croquis da praça com suas árvores
centenárias, o belo monumento dos heróis do Dois de julho. Mike e seus
colegas desenhavam os estudantes e outras pessoas que
frequentavam o local. Esses croquis serviram de base para o Mike Sam que os
introduziu em seus desenhos e pinturas dos fliperamas. As pinturas apresentam
cores mais suaves e os desenhos têm uma especificidade que lembram antigas
peças publicitárias que eram veiculadas em jornais das décadas de 40 a 60.
Lembro que trabalhei algum tempo numa pequena agência chamada Ética, que
funcionava no Edifício Themis, Praça da Sé, e seu proprietário me parece que se
chamava Edgard, fazia uns desenhos para anunciar cursos de Inglês, datilografia
e mesmo para lojas de varejo que tinham os desenhos com os traços que lembram os
de Mike Sam.
QUEM É
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O Mike Sam falando sobre sua obra . |
O Mike Sam Chagas nasceu em Poços
de Caldas, Minas Gerais, no dia quinze de agosto de 1977. Seus pais Luiz
Claudio Chagas e Maria De Lourdes Chagas e sua irmã Anne Kelly Chagas já faleceram.
Ele foi criado com um tio. Aos dezessete
anos inicia seus estudos no curso de Artes do Conservatório Municipal, em Poços de Caldas,MG. Realiza suas
primeiras exposições em fins dos anos 90 e em paralelo à pintura,
trabalha como desenhista e ilustrador de revistas e livros didáticos infantis.
Estudou o primário na Escola
Estadual do Lions Clube e o ginasial e Colegial no Colégio David Campista. Lá começou cedo a desenhar e a pintar a óleo paisagens e outras cenas rurais que eram muito apreciadas pelos moradores da cidade. Fazia também algumas ilustrações e assim ganhava algum dinheiro, mas disse que não gostava de fazer as paisagens rurais. Queria fazer algo mais criativo.Em 2001, aos vinte e três anos, muda-se para Salvador, onde reside atualmente. No ano de 2002, ingressa na Escola de Belas Artes da UFBa, no curso de Desenho e Plástica .Por sua condição econômica ser muito precária conseguiu uma vaga para morar na Residência Universitária a R-1 que ficava no Corredor da Vitória. Concluiu o curso em 2007 e lembra que passava a maior parte do seu tempo dentro da escola procurava fazer algo ligado à sua arte. Fez algumas exposições e passou a dar aulas de Desenho e Artes Plásticas.
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Algumas cenas eróticas que o artista coloca nas caixinhas. |
Quando resolveu fazer a pós
Graduação por incentivo de sua esposa e coincidentemente encerrou a fase de
pintar os estudantes e adolescentes . Criou algumas máquinas, uns
brinquedos. e passou a pintar esses objetos. O que mais teve aceitação foram as
caixinhas que fez onde você gira e escolhe qual a imagem quer deixar na parede.
Passou a trabalhar com tinta guache ao invés de óleo e sua ideia agora é
trabalhar com esses objetos que vão ser o tema do doutorado que pretende fazer. Inclui nesses objetos cenas
eróticas e também de Salvador. "Pretendo construir uma espécie de mini parque de
diversões com as imagens que vou desenhar e pintar. Esses objetos possibilitam
que as pessoas interajam escolhendo qual a pintura quer ver. ", adianta Mike Sam.
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Vemos o monumeto ao Dois de Julho e estudantes.Esta pintura é inspirada no croquis feito por Mike Sam nas aulas ministradas por Onias Camardelli . |
Mas, nem tudo foi tranquilo
porque quando ele pintou uns objetos e incluiu as cenas eróticas de
estudantes e foi expor no Centro Cultural ,em Feira de Santana-Banhia, um pastor
de uma igreja local denunciou à polícia e a exposição foi fechada dois dias antes
do prazo previsto. O pastor chegou a ameaçar que “ia jogar umas coisas para
espantar os diabos que estavam na exposição”. Diz Mike Sam que isto aconteceu
porque coincidiu que na época estava muito na mídia a questão de uma exposição
em Porto Alegre. Isto aconteceu em agosto de 2017 com a exposição patrocinada pelo
Santander onde tinham obras de sexo explícito envolvendo questões de gênero. Eram 270 obras
de 85 artistas e foram consideradas inadequadas e gerou muitas polêmicas na época. Este fato influenciou e terminou com o fechamento da exposição do Mike Sam.
Em 2016 - Galera, Projeto Arte-SESC, Galeria do Centro
de Atividades SESC/ Rua Chile, Salvador/BA; 2015, - Matinê, exposição individual itinerante,
Circuito Saladearte Galerias Cine Pasco e Cine UFBA, Salvador/ BA ; Arcaldas, uma Coreografia dos Fliperamas em Poços de
Caldas,MG ; Galeria Cañizares, Salvador/BA ;
Eu Vim da Bahia: Desenhos, Shopping Barra, Salvador/BA ; 2014- Coleção Matilde Matos, Palacete das Artes/
Museu Rodin-Bahia, Salvador/BA ; Arte
de Passagem, Casa de Castro Alves, Salvador/BA ;
2013 - Poéticas do Reencontro, Galeria Parede,
Salvador/BA ; 50 Anos de Arte na Bahia, Caixa Cultural de Salvador/BA ; Esquizópolis,
Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), Salvador/BA ; Circuito das Artes, Galeria Aliança Francesa,
Salvador/BA ; 2012 - Salões de Artes Visuais da Bahia, Menção
Honrosa, Centro de Cultura ACM, Jequiể-Ba ; 2011, Crônicas de Fliperama, , Caixa Cultural de
Salvador/BA ; Circuito das Artes, Galeria
Aliança Francesa, Salvador/BA ; Pintura Nova, Galeria ACBEU, Salvador/BA ;
2010 - Circuito das Artes, Galeria ACBEU, Salvador/BA ; 2009 - Grandes
Artistas em Pequenos Formatos, Museu Regional de Arte de F de Santana – BA ;
2008- Doce Arcade, Prêmio Cultura e Arte Banco Capital,
Galeria Prova do Artista, Salvador/BA ; VII Bienal do Recôncavo, Prêmio
de Aquisição, C. Cultural Dannemann, São Felix- Ba ; 2007 - Coleção Taito, Prêmio Portas Abertas
para Artes Visuais , Galeria do Conselho, Salvador/BA; 2006 - V Bienal do Recôncavo, C. Cultural Dannemann,
São Felix- Ba ; 2005- Megafônicas, Centro de Convivência da UFBA,
Salvador/BA 2004- Artografias, exposição individual, Biblioteca
Central da UFBA, Salvador/BA ; 2003
- Semana Cultural das Residências Universitárias da
UFBA , Salvador/BA ; 02 de Fevereiro, Espaço Cultural Malabares, Salvador/BA ;
2002 - Perfis, Galeria Moacir Moreno / Teatro XVI, Salvador/BA ; 2001 - Oficinas do MAM, Museu de Arte Moderna da
Bahia, Salvador/BA ; 2000 -
Manhãs de Outono, Foyer Câmara Municipal de Poços de Caldas/MG
; 1999 - IV Panorama de Artes Plásticas de Poços de Caldas,
Instituto Moreira Salles, Poços de Caldas/MG; 1995 -
Oficinas do Conservatório, Foyer Caixa
Econômica Federal, Poços de Caldas/MG.
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Esta pintura retrata um hipotético final nos jogos de fliperamas . |
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Pintura mostra estudantes e máquinas de fliperamas. |
Bom dia meu amigo Reynivaldo Brito! É uma grata surpresa acordar nesta manhã de 22 de fevereiro de 2025 e ler esta sua bela matéria de crítica de artes sobre o Professor de Pintura da EBA - UFBA Mestre Mike Sam Chagas, de quem guardo no peito uma grande consideração, um enorme carinho ao também grande artista, Pintor, como ele próprio se auto-define. No passado muitas vezes ao seu convite comemoravámos nossos aniversários juntos em sua casa outrora em Brotas ou Federação, pois nascemos no dia 15 de agosto, porém em anos diferentes. Também no passado moramos na mesma Residência Universitária da UFBA R1 UFBA - Corredor da Vitória ,onde nos conhecemos em 2003. Tenho grande consideração por ele e a senhora sua esposa, pessoas boas, a quem sou especialmente grato por me receberem em sua casa em diversos momentos: Alegres, em ocasiões de tristezas. Eu torço muito por eles. Desde a pandemia não temos nos falado, Mike e eu. Não sei por qual o motivo. Para mim ele será sempre um grande amigo dos tempos de Residência Universitária da UFBA, dos tempos de Belas Artes , dos tempos de leituras e exploração da Biblioteca Central e da Eba, do Restaurante Universitário, das visitas as grandes exposições de artes em Salvador, dos tempos de pintura. Não sei se ele tem a mesma consideração de antes por mim. Sempre respeitarei a pessoa dele e o grande trabalho artístico que ele desenvolve! Fico feliz pelo crítico de Artes Reynivaldo Brito ter acolhido minha humilde sugestão de escrever sobre este artista. Sempre me será motivo de contentamento o sucesso daquelas pessoas que me são queridas.
ResponderExcluirOi, Rey!
ResponderExcluirVocê conseguiu capturar toda a nostalgia dos fliperamas e a energia das décadas de 70 a 90. É incrível como a arte pode nos transportar no tempo e resgatar memórias tão especiais.
Mike , artista-professor. Foi meu orientando no Mestrado. Torci muito para ele passar no Concurso de Pintura da UFBA, pois tinha certeza que seria um excelente Professor de Pintura. E o é, atendendo ao ensino, pesquisa e extensão de forma brilhante. Bela matéria! Merecida, pois a sua obra é única e o seu traço singular e belo. Mike, pense em uma Mestra feliz!
ResponderExcluirMais uma excelente matéria jornalística sobre um grande artista. O Mike é exatamente o que o Ed Carlos disse mais acima. Parabéns, Professor Reynivaldo, por reportagens que revelam o grande número de artistas da Bahia, infelizmente desconhecidos da grande mídia.
ResponderExcluirOlá Ed Carlos, que alegria essa matéria que você sugeriu. Bom também é ter notícias suas, através de suas palavras deixadas aqui. Você e Mike tem uma história de amizade firme que não se apaga. Você é muito querido, tenha certeza disso. Grata a Reynivaldo pela crítica generosa. Grande abraço Ed Carlos!
ResponderExcluirBoa tarde Adriana! Estou bem graças a Deus. Em 2020 vim para Alagoinhas e devido a pandemia resolvi ficar. No momento estou iniciando o Doutorado em Letras pela UNEB. Continuo a produzir. Sinto muitas saudades de todos aí em Salvador. Mas criei resistência a esta cidade, tem 4 anos que fui até aí! Um grande abraço , lembranças a Mike!
ExcluirMargarida Barbosa
ResponderExcluirMinha filha amava
Edilson Santos
ResponderExcluirPalmas!
Leonardo Celuque
ResponderExcluirMuito bom, Renyvaldo! Não conhecia, mas conheço agora e gostei da recriação das cenas incorporando o imaginário eletrônico atual! Parabéns para vocês dois!
Responder
Maria Das Graças Santana
ResponderExcluirPalmas!
Luiz Claudio Campos
ResponderExcluirAcho o trabalho de Mike genial. Parabéns Reynivaldo Brito
Renilde Pedreira
ResponderExcluirPalmas|!|
Ivo Neto
ResponderExcluirPalmas!
José Henrique Silva Barreto
ResponderExcluirPalmas!