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sábado, 4 de outubro de 2025

DANIEL SANTIAGO UM DOS PIONEIROS DA ARTE CONCEITUAL NO BRASIL

O artista Daniel Santiago criando uma nova 
capa de seu livro Tabela Poética dos
Números Irreversíveis usando acetona.

O artista multimídia, jornalista, desenhista, professor, publicitário, pintor, ator e performático pernambucano Daniel Lima Santiago é conhecido nos meios intelectuais onde atua desde os anos 70 criando uma arte onde combina ironia com rigor no conteúdo e a discussão dos problemas sociais, políticos e afetivos. Um dos pioneiros  do movimento de vanguarda arte conceitual no Brasil ele vem no decorrer dos anos realizando uma produção coerente com suas ideias usando como ferramentas a fotografia, vídeos, serigrafia, offset e a linguagem escrita. Também utiliza do próprio corpo em suas performances, e os livros-objetos que lança passaram a ser parte de sua produção, além das obras enviadas pelos correios chamada de arte-postal. É um artista de nome nacional e está presente na historiografia das artes visuais no Brasil por sua produção ter qualidade e importância na arte conceitual. Daniel Santiago vive o tempo inteiro navegando no mundo da arte. Enquanto conversávamos interrompeu para solicitar um pouco de acetona. Abriu o frasco e derramou o produto na capa de um de seus livros e começou a passar o dedo polegar em cima da ilustração da capa resultando numas manchas. Parecia que estava num ritual religioso onde a pessoa é acometida de um transe, de um estado de manifestação. De repente parou e exibindo o livro e disse: “estou lhe ofertando um livro com uma capa única!” Esta imprevisibilidade do artista pode transformar seu interlocutor num elemento de sua criação. É provocativo e costuma chamar as pessoas de grande artista, grande jornalista, grande motorista, grande dona de casa e assim por diante com uma ironia peculiar que às vezes fica até cansativo para os desavisados uma convivência demorada com sua mente brilhante. Quando passou a me chamar de grande jornalista, retruquei  : diga grande artista! Aí ele sorriu e passou a falar de outros projetos que tem e pretende realizar. Sua cabeça funciona como se fosse um rolo de filme que está sendo projetado e não pode parar. A produção de Daniel Lima Santiago é tão extensa que precisaria de muito mais espaço e talvez de um livro com muitas páginas para registrar todas elas.

Daniel Santiago representando Godot com 
a cineasta Katia Mesel procurando Samuel
Bekckett pela Rua do Catete, no Rio de 
Janeiro, 2023.
Nasceu em Garanhuns, estado de Pernambuco em 1939 e ainda menino aprendeu a desenhar com o tio Saul Santiago que fazia desenhos publicitários de cachaça Chica Boa e outros produtos populares e inicialmente exibia nos muros da cidade de Catende, em Pernambuco, e posteriormente para serem veiculados nos jornais da época. Daí em diante Daniel Santiago passou a desenhar e a pintar com frequência. Tem uma rica experiência de vida passando pelo serviço militar na Aeronáutica onde ingressou aos dezessete anos de idade na
 década de 60 chegando à patente de cabo, quando foi transferido para Salvador. Permaneceu aqui de 1962 a 1966 e aprendeu a fazer xilogravura, influenciado por Hansen Bahia e Emanoel Araújo. Fez um concurso para desenhista publicitário das Lojas Mesbla, e seu desenho estava tão bem feito que o gerente nem quis mais fazer a prova com os demais candidatos. Trabalhou durante um ano e meio elaborando anúncios para jornais e televisão. Rompeu com  um namoro porque a moça só queria casar , e resolveu arriscar a vida em São Paulo, destino de milhões de nordestinos. Levou consigo cópias de suas xilogravuras, desenhos, algumas roupas e pouco dinheiro. A viagem de ônibus durou quarenta horas, e foi muito sofrida porque não tinha dinheiro para se alimentar.

Daniel  Santiago procura no celular
fotos e vídeos das performances.
Em 1967 deixou São Paulo e foi para Curitiba onde lecionou Desenho na Escola Nacional de Desenho em Curitiba-PR. Em 1970 fez Curso de Especialização de Desenho, em 1971 -1972 de Pintura, em 1973 de Escultura e em 1974 de Teatro no Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto. Em 1977 concluiu a graduação em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, e em 1980 formou-se em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Foi professor de Desenho na Escola de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco e no SENAC-Recife; professor   de Planejamento Gráfico nos Cursos de Jornalismo e de Relações Públicas da Universidade Católica de Pernambuco, de Desenho e Educação Artística em colégios públicos e particulares. Foi ainda professor da Equipe de Treinamento de Professores da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco e de Desenho Artístico no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Ministrou o Curso de Pintura para professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. Participou de várias comissões julgadoras em salões de arte. É artista plástico com catálogos de participação em mais de cem exposições no Brasil e no exterior. Manteve uma parceria durante anos com o artista Paulo Bruscky, mas atualmente segue sua carreira individual.

Quando se aposentou da Prefeitura de Recife em 2010, aos setenta anos de idade, por sugestão de sua esposa foi arrumar suas gavetas, prateleiras e estantes quando encontrou um pequeno caderno com os registros do ano em que passou em São Paulo e sobreviveu à base de pão com banana e pizza com caldo de cana. O caderno contém um diário onde estão registradas as dificuldades que enfrentou. As peripécias são tão interessantes que os editores da Revista Piauí decidiram publicar na sua edição de fevereiro de 2010 com o título Parece Que Falta Oxigênio no Ar acompanhada de belas ilustrações de autoria de Daniel Santiago. O seu diário pode ser encontrado na internet. Vemos ao lado uma bela ilustração do seu diário feito em São Paulo e ai aparecem as bananas, o pão, a pizza e o caldo de cana na garrafa.

                                               SUA CAMINHADA

O meu encontro com o artista Daniel Lima Santiago foi na tarde do dia nove do corrente mês, e a cada pergunta que fazia ele sempre vinha com uma resposta entremeada de ironia. Este é o comportamento padrão ou “normal” do artista.  Nasceu em 28 de abril de 1939 na cidade de Garanhuns, estado de Pernambuco, filho de Salatiel Santiago e Maria Rodrigues Santiago. Ao lhe indagar o que seu pai fazia em Pernambuco respondeu: “Era guarda da peste, e trabalhava aplicando o ciano gás, que foi um produto usado na Segunda Guerra Mundial.” O Brasil teve uma epidemia de peste bubônica entre os anos de 1899 e 1907 quando muita gente morreu por falta de atendimento. Esta doença é causada por uma bactéria transmitida por picada de pulgas de ratos e outros roedores, e os sintomas são febres, calafrios e inchaço dos gânglios linfáticos. No Brasil ocorreram surtos de peste bubônica iniciada em Santos e espalhando-se pelo país, com maior impacto no Rio de Janeiro. Daí em diante a doença vem sendo combatida e o Salatiel

Santiago integrava a equipe de guardas que aplicava o ciano gás em Pernambuco. 
O artista Daniel Santiago passou parte de sua infância na cidade de Bom Conselho, que fica no agreste pernambucano, onde cursou o primário, e o segundo grau no Ginásio São Geraldo. O científico estudou em Salvador no Colégio Manoel Devoto e Colégio Estadual da Bahia, o Central, mas não conseguiu concluir. Foi quando decidiu ir para São Paulo em 1966 e passou as dificuldades que narrei acima e que foi publicado na secção Diário, da Revista Piauí. Ressaltou que trabalhou como datilógrafo na capital paulista e que “era um bom datilógrafo, batia muito rápido”. Acima quatro pinturas de sua autoria. Na primeira imagem a Praça Derby, em Recife, e as três  outras retratam  pontos da capital pernambucana feitas na década de setenta quando ele costumava sair com seu cavalete e suas tintas a óleo e seus pincéis pintando pontos que achava interessante.

                                      ARTE CONCEITUAL

Quando estudava na Escola de Belas Artes de Recife tomou conhecimento do movimento de arte conceitual que “surgiu nas décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos e Europa, como um movimento que prioriza a ideia ou conceito por trás da obra em detrimento da sua forma física ou estética visual. O termo foi usado oficialmente por Henry Flynt em 1961, no contexto do grupo Fluxus, que questionava o mercado e o formalismo da arte, influenciado por vanguardas como o Dadaísmo”. Já o termo happening surgiu também nos Estados Unidos e teve como seu expoente o artista

Frame do vídeo da entrevista de Daniel
Santiago e Paulo Bruscky a Gilberto Prado.
americano Allan Kaprow (1927-2006). No happening o artista mistura elementos de artes visuais, teatro e performance com a participação do público. Disse Daniel Santiago que depois de tomar conhecimento desses movimentos passou a chamar os colegas para fazer um happening e ninguém quis lhe acompanhar dizendo que era coisa de maluco. “Foi quando conheci um cara meio doido e perguntei. Você tem coragem de fazer isto comigo na praia? Ele topou. Era o Paulo Bruscky”.  Levaram os objetos que Daniel Santiago tinha produzido e também algumas pinturas e colocaram na praia da Boa Viagem. Com isto atraíram muita gente curiosa querendo saber o que era aquilo, e assim começou a caminhada dos dois artistas. Foi aí que em 1971 nasceu a Equipe Bruscky & Santiago que durou cerca de dez anos, e segundo Daniel Santiago “foi se apagando como a luz de uma estrela.” O Daniel é um criador nato, as ideias brotam na sua cabeça como a água brota de uma nascente ,e vai seguindo o seu caminho até  se transformar num rio caudaloso. 

Contou também que em 1971 a Equipe Bruscky & Santiago distribuiu uns convites impressos em papel verniz tendo a  frente na cor azul e amarelo no verso. Outros tinham a cor amarela e o verso azul. O convite chamava as pessoas a comparecer no dia tal, às tantas horas na Ponte de Ferro, em Recife, para a abertura da ARTESPOCORPONTE, é um acrônimo de Arte, Exposição, Cor, Corpo e Ponte. Compareceram cerca de duzentas pessoas levando seus convites coloridos e trocando mensagens da Ponte da Boa Vista para a Ponte de Ferro. Disse Daniel Santiago que o convite foi inspirado numa lona usada pelos aviadores americanos na Segunda Guerra Mundial. Esta lona era um equipamento de sobrevivência caso a aeronave fosse abatida. Para fazer cada convite a

Os participantes do hapenning na Ponte de  
Ferro, em Recife, Pernambuco.
Equipe Bruscky & Santiago usou duas folhas de papel verniz, uma folha amarela e outra azul, coladas pelo verso. O texto do convite, foi impresso no lado amarelo, em tipografia, redigido por Daniel Santiago. Metade dos convites tinha escrito Ponte da Boa Vista e a outra Ponte de Ferro. Eles ficaram no meio e instruíram como reagir quando davam determinados sinais. No final os convidados estariam exibindo apenas um lado do convite que poderia ser todo azul ou todo amarelo, e quando coincidisse todos da mesma cor   deveriam jogar os convites no rio Capiberibe. Este happening foi o primeiro realizado na cidade do Recife e chamou a atenção dos policiais federais que pensaram tratar-se de um movimento subversivo.

Enquanto nossa conversa prosseguia  notou que  os raios do sol estavam entrando pela janela e incidindo sobre uns objetos. Levantou-se e explicando que dava uma bela foto se estivesse em sua casa onde tem alguns pequenos espelhos. Ele usa espelhos para captar os raios do sol e os transporta para outro espelho, e faz uma fotografia com o celular ou

Uma bela Organela de Daniel Santiago.
com uma máquina fotográfica. Em seguida trabalha a foto saturando ao máximo a luz e assim a foto vira no jogo de luz e sombra algo indescritível, uma imagem abstrata que ele denominou de Organelas. Na Biologia as organelas citoplasmáticas são pequenas estruturas encontradas no citoplasma das células eucarióticas, cada uma com uma função especializada que é essencial para o funcionamento e sobrevivência da célula. Como vemos o Daniel Santiago mistura ciência e arte. Com os espelhos capta a luz e seus efeitos físicos, criando formas que se assemelham às organelas das células. Suas Organelas lembram águas-vivas pela transparência e  formas. Na realidade são objetos fotografados e trabalhados até perderem sua forma original

Tem quase dez livros-objetos. Os primeiros criados pela Equipe Bruscky & Santiago deu o nome de Outra Pedra de Roseta, e foram feitos à mão com recortes de jornais e revistas. Em seguida mandava para uma tipografia afim de costurar os dorsos, dando mais consistência, encadernava e encapava. Nenhum livro é igual ao outro porque o gráfico pegava e dava os cortes necessários aleatoriamente para ficar no tamanho e na forma de um livro. A Equipe colocou este nome porque imaginava se um desses livros fosse solto no espaço, e

Livros-objetos  do artista.
alguém de outra civilização o encontrasse iria tentar decifrar o que estava escrito ali, e teria muitas informações sobre a Terra, como aconteceu quando encontraram a Pedra de Roseta escrita em hieróglifos e foi decifrada por Jean - François Champollion em 1892. Atualmente três novos livros que estão sendo finalizados de autoria do artista Daniel Santiago. Um deles chamado O Céu é de Chocolate onde todos os objetos utilitários possíveis são feitos de chocolate. São trezentas páginas, porque ele acha “se tiver menos de trezentas páginas não é um livro.” O outro é um romance e chama-se Um Nome de Mulher. “O cara conhece uma dona e ele a chama de Doutora Maria das Dores de Machado.... A personagem pede que o marido a chame simplesmente de Maria das Dores, então o marido retruca dizendo que gostaria que o nome dela fosse ainda bem maior para ele não parar de chama-la. Então todas as trezentas páginas do livro têm inúmeros e extensos nomes de mulheres. 

O terceiro livro que está no prelo chama-se Captcha que é a sigla de Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart, ou seja, é um teste de segurança projetado para diferenciar humanos de robôs na internet. Ao apresentar um desafio relativamente fácil para humanos entender, mas difícil para computadores e robôs. O Captcha protege sites e serviços online contra o uso indevido e o acesso não

Quatro elementos do captcha que ele
criou para exemplificar.
autorizado. Exemplos incluem a identificação de texto distorcido, a seleção de imagens específicas ou a resolução de problemas matemáticos simples, sendo uma medida de autenticação e proteção de dados. Muitas vezes tentamos decifrar várias vezes até conseguir identificar as letras e os números do Captcha. Daniel Santiago criou vários sinais e preencheu todas as páginas do livro com sinais que a gente consegue decifrar, com alguma dificuldade, mas o computador não consegue, a não ser que seja criado um novo programa para decifrar.

 PERFORMANCES

A Palmeira-noiva  que integrou
a 3 ª Bienal da Bahia.
O artista Daniel Santiago tem inúmeras performances gravadas em vídeos que fez em Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres e em outros lugares.  Em 2015 em Recife fez uma performance chamada Desenhando Com as Duas mãos, usando os Dois Lados do Cérebro para a exposição sob a curadoria da artista Eugênia Harten. A mostra chamada 1º Intercâmbio Cultural Brasil / Itália, no Museu da Cidade de Recife foi inaugurada em dois de julho 2015. Ele se apresentou todo paramentado de branco com um jaleco comprido, touca e luvas como fosse fazer uma cirurgia, e desenhou o rosto de uma mulher na presença de várias pessoas. Em 2014 participou da 3ª Bienal da Bahia  no Palacete das Artes em Salvador com  artistas nordestinos que produziram muitos trabalhos e não foram mostrados e nem tiveram reconhecimento do público devido as restrições impostas pela ditadura militar.    Enrolou uma palmeira imperial no Largo do Papagaio com um vestido de noiva , colocou uma grinalda e chamou a performance de A Palmeira-noiva. Ele se inspirou na namorada que teve quando tinha vinte e um anos e namoravam no Largo do Papagaio.

Em 2014  contratou um vendedor de mingau e convidou várias pessoas para comparecer ao Beco do Mingau que fica no Largo Dois de Julho, em Salvador foi chamado assim por ser um ponto de venda de mingau, uma iguaria simples e tradicional. Sua história está ligada à luta pela Independência da Bahia em 1823, onde as mulheres desempenharam um papel crucial ao levar mingau e armas para os combatentes, disfarçadas e com estratégias para confundir o inimigo. Nesta performance até o artista performático Jaime Figura esteve presente. Na foto  vemos o escritor, poeta e professor pernambucano Jomard Muniz de Britto, Jayme Figura e Daniel Santiago no Beco do Mingau, que fica nas imediações do Largo Dois de Julho. Estão aguardando a distribuição do mingau.

Em 2012 Daniel Santiago vestiu um terno e gravata e entrou na água na praia da Boa Viagem, em Recife, Pernambuco, até desaparecer completamente na performance que

Um frame do vídeo de sua performance
entrando de terno e gravata no mar.
chamou de O Velho Ernest Hemingway. O escritor americano Hemingway ficou famoso com o romance O Velho e o Mar, o qual se transformou no filme de grande sucesso tendo como ator Spencer Tracy, e o nome do pescador do romance é Santiago,  marginalizado por seus colegas devido aos seus fracassos na pescaria. “Seu passeio solitário e silencioso rumo ao mar engendra reflexões sobre a finitude da existência”. Lembra a história de Bass Jan Ader (1942-1975), desaparecido durante a performance na qual cruzaria o Atlântico em um pequeno veleiro.

Em 2008 no seu diálogo com a Literatura apresentou o Cartaz-Poema de Augusto dos Anjos uma foto performance. No cartaz, Daniel Santiago transcreve o irônico poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos, e explorou sua semelhança física com fotografias do poeta. Em 1982 em O Brasil É o Meu Abismo a palavra foi o motor fundamental, utilizando 

uma frase de poema de Jomard Muniz de Britto, Aquarelas do Brasil. A performance original consistiu no próprio artista pendurado de cabeça para baixo, preso pelo tornozelo e segurando um cartaz com a frase-título. O rodopiar do corpo do artista exigia da audiência, para leitura da frase, a
movimentação pelo espaço da galeria.

Em 1979 na performance intitulada O Duelo ele e Paulo Bruscky fazem uma metáfora da máquina fotográfica como arma, instaurando o embate entre perspectivas. O vídeo mostra as máquinas fotográficas vão se aproximando até se chocarem. Explicou Daniel Santiago que esta performance está percorrendo várias capitais do Brasil integrando a exposição Memes: no Br@sil da Memeficação é uma exposição inédita e de grandes dimensões sobre um dos maiores fenômenos dos tempos atuais e o Brasil é um dos países que mais produz e consome memes no mundo. A exposição tem a curadoria de Clarissa Diniz e Ismael Monticelli.

Além dos vídeos e das performances, Daniel Santiago produziu e produz em múltiplas mídias, explorando também inserções em meios de comunicação. Nessa última possibilidade, as ações de Poesia Classificada, em grande parte em parceria da Equipe  Bruscky & Santiago , causam estranhamento pelo ruído da informação poética em formato carregado de pragmatismo: os cadernos de classificados dos jornais.

Em 1977 na performance Eu Como Poesia eles mostram a ambiguidade do título é adicionada a onomatopeia “nhoc, nhoc, nhoc, nhoc”, incitando imagens do universo dos quadrinhos no leitor/espectador. Em 1980 essa atenção e relação de jogo com a língua estão presentes em Alfabeto no Plural cartazes com exercícios linguísticos e suas camadas de significados.

Em 1976 a Equipe  Bruscky & Santiago fez uma performance De Que É Que Eu Tenho Medo? com um desenho produzido pela dupla após a proibição da II Exposição Internacional de Arte/Correio, que resultou na prisão dos artistas.  Educação da Mão e da Vista (1962-1967) reforça a permanência de um modus operandi que privilegia contatos, trocas e parcerias, já que é resultado de um curso realizado por correspondência para aprender a desenhar, no qual segue à risca instruções do professor.

Na performance Godot Esperando Samuel Beckett ele se inspirou na peça teatral  Esperando Godot do escritor e dramaturgo irlandês que foi montada em teatros do mundo inteiro . Simboliza a existência humana marcada pelo absurdo, a falta de propósito e uma espera sem fim por um significado ou salvação que nunca chega. A expressão tornou-se um símbolo da situação de incerteza e espera constante na vida, onde as pessoas se agarram a uma esperança sem garantias, repetindo ciclos de passividade e conversas vazias na tentativa de preencher o tempo e o vazio existencial. "

Apresentação de Discurso Político com Tom Zé.
Participou de um happening com Tom Zé e sua banda e mais quarenta atores, no Sesc Sorocaba, em São Paulo, que durou sete meses chamado Fresta. Foi um encontro marcante baseado num de seus livros-objeto chamado de Discurso Político. Pura criatividade e muita improvisação. Dirigiram o espetáculo Eros Valério e Hércules Soares. “A obra é uma afirmação de diversas pessoas dizendo que roubam. Eles não denunciam que há roubo aqui ou ali, ou que tal coisa é roubo, afirmam que pessoalmente, individualmente, roubam atualmente, roubaram no passado e roubarão no futuro. A partir dos roubos surgem as mortes e as ressureições. Cada extermínio se torna uma amostra cruel de formas diferentes de matar, e cada ressurreição, uma mensagem triste e desesperadora”, explica Thiago Consiglio.

Daniel Santiago e sua neta  nas ruas 
de São Paulo. Ele paramentado de 
Dom Pero Fernandes Sardinha e ela
como a filha do cacique Morubixaba.
Outra performance que ficou conhecida foi quando ele se vestiu do bispo Dom Pero Fernandes Sardinha e juntamente com a neta Izabelle Rezende vestida de índia andaram pelas ruas de São Paulo. O título do evento:  Dom Pero Fernandes Sardinha e a Filha Formosa do Morubixaba que devorou seu Coração.  O bispo morreu no naufrágio em 1556 na foz do rio Cururipe, onde hoje está a cidade do mesmo nome no estado de Alagoas. Todos os tripulantes foram capturados e devorados pelos índios Caetés, que praticavam a antropofagia.  Escreveu um sermão que segundo ele foi psicografado de Dom Pero Fernandes Sardinha antes de ser devorado pelos índios. Onde disse:

"A Arte é a mais controvertida das expressões humanas e a performance é a mais controvertida das expressões artísticas. A Arte imita a vida, a performance imita a arte. Quando a Arte é um exército regular com táticas convencionais de ataque e defesa, a performance é um bando desorganizado de franco-atiradores sempre em retirada. A Arte vive de atividades estabelecidas como a música, a poesia e o teatro, por exemplo, a performance vive das formas não catalogadas, dos conteúdos indeterminados. Nos desertos estéreis onde a pintura não floresce, ali a performance desponta com vigor. E no decorrer de grandes tempestades, quando a dança maravilhosa ou a escultura formidável são quebradas pela força do vento, a performance se dobra discretamente para surgir soberana depois do vendaval. Uma performance não é um espetáculo de dança, nem um show musical, nem uma peça teatral, uma performance é uma performance, mas pode também ser uma peça, um espetáculo, um show, um discurso e outras coisas mais, porque a performance fala todas as línguas, dos homens e dos anjos"


38 comentários:

  1. Edvaldo F. Esquivel
    A grandeza de Ser Artista de verdade também contagia os bons jornalistas, como você, Rey! Abraço fraterno.

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    1. Daniel Lima Santiago
      Edvaldo F. Esquivel, seu comentário enriquece meu currículo. E viva o Reynivaldo Brito .

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  2. Tereza Souza
    👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽🤩 Parabéns!

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  3. Respostas
    1. Daniel Lima Santiago
      Domingos Dantas Brito grande intelectual. Muito obrigado. E viva Reynivaldo Brito .

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  4. Lígia Aguiar
    O Grande Mestre Daniel Daniel Santiago é um dos artistas mais completos que conheço. Ele não precisa ser apresentado ou representado: sua obra fala por si. É um artista nato, um criador por excelência que vai além do convencional. Seus pensamentos trabalham para mostrar o contraditório e o impensável, extrapolando o senso comum com sua arte transgressora. Assim, ele ocupa e brilha livremente no espaço que conquistou dentro da História da Arte Contemporânea Brasileira.
    Parabéns, Reynivaldo, pelo belo texto e por trazer esse Mestre Pernambucano para o nosso conhecimento.

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  5. Daniel Lima Santiago
    Esse meu encontro com Reynivaldo Brito, foi programado pela grande Lígia Aguiar, Artista Plástica formada pela Escola de Belas Artes da UFBA.

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  6. Paolla Melo
    Muito bom Daniel ! Sempre maravilhoso !

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  7. Respostas
    1. Daniel Lima Santiago
      Graça Gama muito obrigado garota. O Jornalista Reynivaldo Brito é muito competente.

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  8. Autor
    Reynivaldo Brito
    Obrigado Lígia. Precisaria de um livro para embargar toda a produção de Daniel Santiago.

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    1. Verdade. A trajetória dele é vasta. E necessário a edição urgente de um livro.

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  9. Edilson Santos
    Belo trabalho tá de parabéns.

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  10. Benjamin Brito Gama Junior
    👏👏👏👏👏👏👏
    Palmas !

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  11. José Henrique Silva Barreto
    Parabéns Reynivaldo Brito pela matéria.
    Excelente saber sobre esse artista conceitual. É sempre bom socializar conhecimento.

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  12. Fernando Freitas Pinto
    Muito bem escrito o Artigo do Jornalista e Crítico de Arte Professor Reynivaldo Brito sobre a obra do Artista Daniel Santiago. Afetuosos Abraços!!

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  13. Reni Andrade
    Excelente trabalho 👏🏻👏🏻

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  14. Olívia Soares
    Parabéns pelo trabalho, Reynivaldo Brito, muito importante esse resgate.

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  15. Darcy Brito
    Excelente arte e performance do artista muito bem explicada nesse artigo.
    A performance Esperando Godot pode ser adaptado para nossa situação atual. Lembrei também da música Senhor da Floresta “A Filha Formosa do Morubixaba” do compositor Augusto Calheiros.

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  16. Silvana Teixeira
    👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 Adorei!!!

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  17. Jurandyr Ramos de Almeida
    Feliz de quem tem a arte e mais feliz ainda quem teve a sorte, e a oportunidade, de ter seu trabalho divulgado por um profissional desse nível. Matéria sensacional, parabéns amigo!

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  18. Antonio Marcos
    Artista multilinguagem artística, apresentado pelo poeta das letras, Reynivaldo Brito.

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  19. Sergio Anunciação
    Excelente!
    👏👏👏👏

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  20. Maria Das Graças Santana
    Parabéns excelente trabalho Reynivaldo ,sobre o artista Daniel Santiago

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  21. Dulce Cardoso
    Excelente matéria Reynivaldo! Adorei a noiva um grande artista.

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  22. Gil Mário Menezes
    Parabéns pela matéria Reynivaldo Brito, é muito bom apreciar uma arte conceitual, de um artista do nível de Daniel Santiago

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