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sábado, 11 de outubro de 2025

FERNANDO FREITAS PINTO E SUA ARTE INSPIRADA NA CERÂMICA E CESTARIA CACHOEIRANAS

Fernando Freitas Pinto trabalhando
em seu ateliê de Villas do Atlântico.
A arte está presente na vida de Fernando Freitas da Silva Pinto desde a sua infância quando morava numa fazenda de criação de gado e cultivo de frutíferas pertencente a sua avó paterna . Já  seu avô Antônio Manoel da Silva Pinto, que ele não chegou a conhecer, era proprietário do Engenho da Cabonha, no município de Cachoeira hospedou Dom Pedro II na casa onde hoje funciona o Museu Hansen Bahia. Foi um grande benemérito especialmente  da Santa Casa de Misericórdia por isto ele recebeu o título de Comendador  do Imperador. O movimento do carro-de-boi e dos animais nos pastos e no curral chamavam sua atenção não só como instrumentos para suas brincadeiras infantis, mas as formas e as cores atraíam sua curiosidade e passou a desenhar em pedaços de papéis que encontrava pela frente. As cidades do interior sempre têm um dia especial para a realização de sua feira livre, e a de Cachoeira é realizada até hoje aos sábados. Lá ficam expostas para serem vendidas as frutas, objetos de cerâmicas, cestas feitas de fibras variadas, produzidas na região e muitos outros utensílios domésticos. Também as manifestações culturais como as apresentações das filarmônicas Minerva Cachoeirana e a Lyra Ciciliana com seus fardamentos e os dobrados que ecoam até hoje. Tem ainda a festa e a procissão de Nossa Senhora da Boa Morte, uma tradição centenária que ainda atrai turistas de várias partes do mundo para apreciar suas vestimentas, os balangandãs e outros adereços, e o seu cortejo pelas ruas com seus prédios coloniais.  Também relembra da movimentação dos navios que faziam a linha das cidades do Recôncavo Baiano até Salvador e que tinham o comandante Dedé como responsável por fazer a chamada meia travessa que era o trecho do encontro do rio Paraguaçu com as águas do mar. 
Uma bela composição com cores vibrantes.
Quando tinha uns oito anos de idade teve uma professora de nome Valdelice Vieira que pediu que seu pai comprasse óleo de linhaça, pincéis, tintas e telas da marca Hering, e” foi ela quem me ensinou a pintar dentro das técnicas. O primeiro quadro que pintei foi um cachorrinho da raça Basset”, lembrou rindo. Anos depois criou um cachorro desta mesma raça e deu o nome Pipo, que permaneceu durante anos ao meu lado enquanto pintava, até morrer recentemente. Sentiu muito a sua morte, como se fosse de um parente querido. Falando mais de sua infância relembrou que seu pai costumava levar a foto de um amigo ou amiga e pedia para que ele fizesse o retrato, e sempre lhe perguntava: "Você é capaz de pintar?" Aquilo mexia com seu ego, e então ele caprichava para que o retrato saísse o mais real possível em relação a foto que o pai trouxe. Com o retrato pronto seu pai dava uma recompensa como se fosse uma mesada. Fernando Pinto não tem nenhum quadro desta época.

O artista Fernando Freitas Pinto terminando
uma obra da série corpos femininos. 
Todo este universo mágico ficou registrado em sua mente criativa e assim passou a retratar em sua arte. Trabalhou muitos anos no grupo empresarial Manoel Joaquim de Carvalho, uma empresa comercial que atua nos setores de exportação de cacau, imobiliária e industrial, mas a arte estava ali presente, e sempre que tinha uma folga pegava os pincéis e pintava. Certo dia, já maduro decidiu fazer o vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, e foi aprovado e matriculou-se em duas disciplinas em horários que podia frequentar. Assim foi levando o seu curso até ser graduado em bacharel em Artes Plásticas, depois fez o Mestrado em Artes Visuais. Destacou que tirou dez em quase todas as disciplinas do curso, e que só numa delas obteve a nota nove. Era uma disciplina que tinha uma conotação programática política, e “devo ter expressado uma opinião diferente da do professor”. Daí ingressou no magistério como professor adjunto IV, lotado no Departamento de Expressão Gráfica e Tridimensional, tendo lecionado no período em que ficou na Escola de Belas Artes um total de oito disciplinas nos cursos de Artes Plásticas, Decoração, Arquitetura, 
Projeto de um majestoso tríptico para mural.
Licenciatura em Artes, Museologia, Desenho Industrial e Psicologia. Foi vice-diretor da Escola de Belas Artes e chefe do Departamento onde era lotado, além de ser membro de dois Colegiados e da Congregação da EBA. Fez sua primeira exposição individual em 1984 na Galeria Le Dome, em Salvador, quando expôs pinturas a óleo sobre tela retratando detalhes do imobiliário colonial e paisagens marinhas. Nas últimas décadas vem pesquisando e realizando pinturas inspiradas nas manifestações culturais como a cerâmica, os berimbaus e a cestaria do Recôncavo baiano com suas tramas, que lhes permite infinitas possibilidades pictóricas. Os berimbaus lhe acompanham desde o dia em que o seu pai lhe levou para conhecer o antigo Mercado Modelo, que foi consumido por um grande incêndio. Lá viu os berimbaus dependurados nas lojinhas de artesanato e já com quarenta anos foi reencontrá-los no Pelourinho. Revelou ter ficado fascinado pelas cores e passou a pintar berimbaus em telas buscando captar suas formas e cores.

                                       CAMINHADA

Aqui vemos sua evolução  desconstruindo
as formas   dos objetos.
O artista Fernando da Silva Freitas Pinto nasceu em nove de dezembro de 1944 em Salvador, no bairro do Rio Vermelho, e três anos depois sua família foi morar na fazenda no município de Cachoeira onde permaneceu até os sete anos de idade. É filho de Arthur Freitas Pinto e d. Maurília da Silva Freitas Pinto, que lhe ensinou as primeiras letras no período em que residiam na fazenda. Quando retornaram à Salvador foi estudar na Escola Santo Antônio, no bairro de Brotas, e já entrou no terceiro ano primário devido aos ensinamentos que sua mãe lhe ministrou. Deu banca a umas crianças dos treze aos catorzes anos. Antes sua irmã é que dava banca a ela e passou para ele esta incumbência.  Quando tinha quinze anos foi convidado pela diretoria da escola Jesus Maria José, localizada na Rua Machado de Assis, no bairro de Brotas, para dar aulas de Matemática, Português, História, Geografia e Ciências. Nos meses de junho e dezembro uma professora diplomada vinha verificar se os alunos de Fernando Freitas Pinto estavam preparados, fazia um teste e resultando sempre era a aprovação da grande maioria. Permaneceu ensinando nesta escolinha até os dezessete anos de idade. Acordava cinco horas da manhã para estudar e se preparar para dar as aulas. À tarde ia para o ginásio no Colégio Goes Calmon, também localizado em Brotas onde estudava, e científico cursou no Colégio da Bahia – Central, na Avenida Joana Angélica.

Potes feitos em bico de pena. Podemos ver o
jogo do claro e escuro  na composição.
Com a morte de seu pai em 1964 já estava com dezoito anos e teve que trabalhar, foi quando entrou para o grupo Manoel Joaquim de Carvalho, na Rua Miguel Calmon, no bairro do Comércio, em Salvador, permanecendo durante vinte seis anos. Lá ocupou vários cargos nos segmentos agrícola, industrial, importação e exportação, empreendimentos imobiliários e até atuou na Bolsa de Valores. O MJC era um grupo forte fundado em 1877 que importava bacalhau e arame farpado e exportava cacau. Os navios chegavam fechados com esses produtos vindos do exterior especialmente para o grupo. Tinha ainda uma fábrica de pregos, no bairro de Roma, a mineradora de mármore Santa Lúcia, loja de tecidos, incorporadora da área da construção civil e a fábrica Mocambo, que funcionava na região cacaueira fabricando luvas cirúrgicas. Lembrei que quando o ex-presidente Ernesto Geisel foi indicado em 1974 ele percorreu o país antes de assumir, e fui destacado pelo jornal A Tarde para acompanhar a sua visita à Bahia. Geisel foi o quarto presidente da ditadura militar governando de 1974 a 1979, e iniciou o processo de redemocratização do país, conhecido como "abertura lenta, gradual e segura". Ele revogou o AI-5, promoveu a Lei da Anistia e buscou equilibrar a economia em meio à crise do petróleo, impulsionando investimentos estatais e o II Plano Nacional de Desenvolvimento.

Fernando ao lado de duas obras inspiradas
nos trançados da cestaria de Cachoeira.
Após se formar Robério Marcelo Ribeiro   que era chefe do Departamento Desenho e Escultura lhe convidou para fazer o concurso para professor substituto. Passou em primeiro lugar e foi ensinar algumas disciplinas. Quando o professor Riolan Coutinho se aposentou da cadeira de Desenho de Modelo Vivo, onde era catedrático, foi substitui-lo. Fez outros concursos até o de professor efetivo na Escola de Belas Artes, e se aposentou como professor Adjunto. Deve ter ensinado a cerca de dois mil alunos durante sua trajetória como professorO artista Fernando Freitas Pinto já realizou mais de uma centena de exposições entre individuais e coletivas e participou de salões, bienais aqui, em outros estados e no exterior. Foi artista em Destaque por duas vezes na Escola de Belas Artes, da UFBA, ganhou o prêmio Copene de Cultura e Arte em 1996, além de outras premiações recebendo troféus, medalhas e menções honrosas. Sua última individual foi uma retrospectiva chamada Configurações Forma e Conteúdo realizada no Conjunto Cultural da Caixa, em Salvador, no ano de 2001, coincidindo com as comemorações dos 140 anos de fundação da Caixa Econômica Federal.

                                               SUA ARTE

Duas obras com composições de potes,
e as cabaças de berimbaus, que funcionam
como elementos de ressonância do som
.
O artista Fernando Freitas Pinto é organizado e relembra com facilidade fatos de sua infância e juventude relacionados com a arte. Consta num memorial que publicou em 2012 detalhes de sua trajetória, e aqui ele relembrou muitos fatos durante a conversa que tivemos recentemente. Disse que já aos oito anos de idade desenhava animais e os navios que faziam a travessia da cidade de Cacheira até Salvador. Esses navios pertenciam a Companhia de Navegação Bahiana e citou os nomes dos navios Cachoeira, Itaparica, o Paraguaçu, Maragogipe, Mascote, João da Botas, e eram navios movidos a vapor, e operavam em todo o Recôncavo baiano transportando passageiros e cargas. Tanto os navios quanto os saveiros foram de grande importância para o comércio e a integração da região, até serem substituídos pelos barcos do sistema ferry-boat e também por caminhões através das rodovias que foram sendo construídas.

Disse o Fernando Freitas Pinto que ainda criança costumava ir com sua mãe aos sábados para a cidade de Cachoeira para a feira livre onde ela fazia suas compras

Cestaria à venda na feira livre de Cachoeira.
para a manutenção da família. Lá conheceu os objetos de cerâmica, a cestaria com vários tipos de trançados, via os capoeiristas tocando berimbau em frente as lojinhas de artesanato local e tudo isto ficou no seu subconsciente. Também sua mãe costumava aproveitar para visitar a igreja da Ordem Terceira do Carmo, onde está uma imagem de grande beleza e expressividade do Senhor do Morto. Com seu pai de quando em vez frequentava a Igreja Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador, onde também existe uma imagem do Senhor Morto. Ele disse que “existe uma lenda de que a imagem do Senhor  Morto que está em Cachoeira, que é bem mais bonita, era para ser entronizada na igreja da Nossa Senhora Ajuda, em Salvador, mas houve uma atrapalhação, e terminou indo para Cachoeira.”  Certo dia estava acompanhando a procissão do Senhor Morto, em Cachoeira, ao lado de sua mãe quando a personagem Verônica subiu num pedestal e cantou uma música lírica enquanto desenrolava um pano onde estavam umas manchas com a silhueta de Cristo, representando o Santo Sudário. Viu aquilo e ficou extasiado, e decidiu desenhar um Cristo num pano, subiu numa cadeira e cantava imitava a Verônica da procissão. Relembrou ainda que seus pais eram católicos eles costumavam assistir missas e visitar as igrejas 
A tradicional procissão da Irmandade da Boa
Morte, em Cachoeira.
do Senhor do Bonfim, de São Francisco, de Nossa Senhora da Conceição da Praia, Nossa Senhora da Ajuda e a Catedral Basílica, todas em Salvador e que ele ficava interessado nos desenhos dos azulejos portugueses, nas pinturas das naves dos templos e outras pinturas e imagens espalhadas nos seus interiores. Na igreja de Senhor do Bonfim gostava de apreciar as esculturas populares dos ex-votos, ligados ao imaginário religioso do nosso povo.

Já criança pintava e desenhava a bico de pena, lápis e pincéis as paisagens rurais que vivenciava, os animais, os barcos e os navios da Companhia de Navegação Baiana que singravam o rio Paraguaçu, as pessoas que lhes chamavam atenção e fazia também pequenas esculturas.  Desde jovem tinha uma preocupação no equilíbrio do claro e escuro, e já profissional pintou corpos femininos com muito realismo e sensualidade. Nas últimas décadas está desenvolvendo suas pesquisas com pinturas inspiradas no imaginário popular e religioso do Recôncavo baiano retratando os objetos de cerâmica, as cestas, os berimbaus, as manifestações e o seu povo. Disse que “faz uma arte que tem um entendimento romântico na criação da beleza, na simplicidade, carregando um significado simbólico, e uma consciência artística de referência popular”.

Outra obra feita em bico de pena.
Adiantou que ao trabalhar a superfície bidimensional da tela explora a ilusão espacial, com o objetivo de obter uma intensa expressividade e ilusão de profundidade e de volume. Busca apresentar duas características minimalistas que é a utilização do objeto da cerâmica como objeto único e a monocromia. A cor alaranjada do barro queimado surge em nuances e às vezes reforçadas por suas próprias variações. Também pintou telas geometrizando os objetos de cerâmica com cores fortes e transparências. Já quando pinta inspirado nos trançados se aproxima do que escreveu o crítico Jacob Klintowitz “... na arte do trançado nós encontramos as relações geométricas da arte contemporânea e relações gráficas e cromáticas de alta qualidade. A imaginação declinante e livre que nossa arte contemporânea, não é superior à narração delirante da arte popular”.

O artista Fernando Freitas Pinto afirmou que muitas vezes passa dias e dias pensando até começar a desenhar na tela branca uma nova obra e que usa os pincéis e as espátulas escolhendo as cores e as formas paralelas e diagonais que vão surgindo a cada gesto . O incrível é que ele encontra infindáveis possibilidades de criar novas obras sem que se repitam. Olhando vemos que existe uma unidade, uma harmonia, mas não a repetição. Ao pintar os berimbaus, instrumento forte da cultura popular baiana, ele cria imagens expressivas de cores fortes que vão se encontrando, se cruzando até formar belas composições. Esta releitura deste instrumento também lhe proporciona muitas possibilidades de criação. Finalmente declarou entender “que o artista deve buscar a beleza. Embora dizem os entendidos que o feio também é arte. Prefiro buscar a beleza”.

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES: COLETIVAS

Em 2024 – Exposição dos Professores da EBA. 2023 – Exposição 200 Anos da Independência da Bahia, na Galeria Cañizares.1996 Natureza e Arte - Chácara Suíça – Odebrecht -Catabas, Salvador Bahia- Brasil; Café Cafelier - Pelourinho, Salvador, Bahia-Brasil;  ICBA - Goethe Institut- Artesanato Poético, Salvador-Bahia, Brasil; FIAAP Festival Ibero Americano de Arte Popular, Centro de Convenções Salvador, Bahia-Brasil. 1995 - ADA Galeria de Arte - Exposição de Pinturas Salvador, Bahia -Brasil; Shopping Salvador ,  Pandoras - ambientações com arquitetas, Salvador, Bahia-Brasil; SEBRAE, Feira de Santana-Bahia; Shopping

Fernando no centro ao lado dos professores 
Juarez Paraíso e Nanci Novais na sua mostra 

individual Artista em Destaque, na EBA.
Salvador , Pandoras - Ambientação do hall principal do Shopping, decoradora Sizina Simões, Salvador, Bahia-Brasil;  EROTICUS- Museu da Cidade , Pelourinho, Salvador, Bahia-Brasil; Faculdade de Economia, Comemoração 90 anos UFBA - Salvador, Bahia-Brasil; Palácio da Reitoria - Convênio Bélgica- Brasil , Artistas Brasileiros Salvador, Bahia-Brasil ; NR Galeria de Arte - Lançamento Livro   do Jornalista Sérgio Matos - Salvador, Bahia-Brasil;  Vermelho Intenso, Shopping Itaigara, Salvador, Bahia-Brasil; nas faculdades de Administração, Letras e  no PAF - Pavilhão de Aulas da Federação  Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia-Brasil;  Feira Baiana de Negócios - Centro de Convenções da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia-Brasil; UFBA ,Traduz Bahia - Galeria Cañizares - Universidade Federal da Bahia Pró-reitoria de Extensão, Salvador, Bahia- Brasil. 1994 - Galeria Cañizares - Criação Execução de Pinturas - Mestrado em Artes - Escola de Belas Artes UFBA, no Instituto de Geociências, de Química e   Física , na faculdade de Engenharia  Salvador, Bahia- Brasil; Galeria Cañizares - Escola de Belas Artes - UFBA Concurso Mestrado em Artes, Salvador, Bahia- Brasil;   Palácio da Reitoria - Hall- Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia- Brasil; Instalação Escola de Belas Artes "Futebol, uma Interpretação Plástica" - Salvador, Bahia-Brasil; Contrastes"- Galeria Cañizares, UFBA Salvador, Bahia-Brasil;  Bar Eventos Batangas, Inauguração - Salvador, Bahia-Brasil;  II Feira de Arquitetura e Decoração, Centro de Convenções da Bahia - Mestrado em Artes Salvador, Bahia-Brasil; Centro de Recursos Humanos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA - Mestrado em Artes- Salvador, Bahia-Brasil; Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia- Mestrado em Artes Salvador, Bahia-Brasil. 1993 - Coletiva Inauguração NR Galeria de Arte - Filial Pelourinho, Salvador, Bahia- Brasil; Coletiva Salão VIP - Aeroporto Dois de Julho - 1 Conferência Ibero-Americana, Salvador, Bahia- Brasil; Coletiva Centro de Convenções - NR Galeria de Arte - Conferência Ibero-Americana, Salvador, Bahia-Brasil ; Coletiva Inauguração do Café Cameron, Salvador, Bahia-Brasil; Coletiva Inauguração Andréa Vellame Decorações, Salvador-Bahia-Brasil. 1992 - Coletiva Inaugural Antonius Grill, Galeria Prova do Artista, Salvador, Bahia-Brasil; Coletiva I Bahia, Brasil. 1991 - Summer Open Bahia - Hotel Merídien, Bahia -NR Galeria de Arte, Salvador; Feira de Arquitetura e Decoração, Centro de Convenções da Salvador-Bahia, Brasil; Coletiva de Inauguração Bahia, Salvador, Bahia-Brasil; Exposição l Leilão de Arte da Escola de Belas Artes, Galeria Ganizares, Salvador, Bahia-Brasil; Exposição Coletiva - NR Galeria de Arte, Salvador, Bahia- Brasil; Coletiva de Natal - Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil; Exposição da Primavera - NR ; Galeria Panorama Salvador, Bahia-Brasil, 191 Belas Artes - Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia-Brasil. 1990 - 26° Feira de Arte - Escola de Belas Artes,  Exposição Didática

, Galeria Cañizares, Salvador. Bahia-Brasil; Exposição Coletiva - Caixa Econômica Federal, Shopping Barra, Salvador, Bahia-Brasil;  Mulheres Bonitas e Sensuais - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil; Arte Mulher - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia- Brasil. 1989 -Exposição Coletiva - Caixa Econômica Federal - Shopping Barra, Salvador, Bahia,-Brasil;  Exposição Coletiva - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia- Brasil ; Uma Visão para Arte- Shopping Iguatemi, Salvador, Bahia-Brasil;  Fisrt Art Holand -World Trade Center, Amsterdam, Holanda;  O Artista Vê a Mulher - Caixa Econômica Federal ; Exposição Coletiva - Caixa Econômica Federal ; Galeria Shopping Barra, Salvador, Bahia- Brasil; Mulheres Bonitas e Sensuais"- Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil; Arte Mulher" - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia -Brasil.  1987-  Coletiva de Natal - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia, Brasil; Grupo Empresarial MJC - Salvador, Bahia-Brasil ; Expo Verão Bahia- Bahia Othon Palace, Salvador, Bahia-Brasil ;Novos Tempos" - Le Dôme Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil. 1986 - VI Expo Verão Bahia – Tropical Hotel da Bahia, Salvador, Bahia-Brasil ; Expressão d'Arte - Shopping Piedade, Salvador, Bahia-Brasil. 1985 - Exposição Coletiva - Bahia Othon Palace, Salvador, Bahia-Brasil ; A Bahia por Treze Baianos, São Paulo, SP-Brasil. 1984 - Retrospectiva 20 Anos de Pintura - Le Dôme Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil. 1970 - Semana Nacional da Biblioteca - SESC, Salvador, Bahia-Brasil.

INDIVIDUAIS

Em   1996 - O Artista em Destaque" Escola de Belas Artes - UFBA, Salvador, Bahia-Brasil. 1995 – Café Cafelier - Pelourinho, Salvador, Bahia-Brasil.1993 -ADA Galeria de Arte inauguração Semana de Arte, Salvador, Bahia-Brasil; Espaço Cultural Banco do Brasil Inauguração (matriz), Salvador, Bahia-Brasil. 1991- NR Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil. 1990 - Bon Vivant Bar Galeria de Eventos, Salvador, Bahia -Brasil. 1989 -Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil.

PARTICIPAÇÃO EM BIENAL

E1994 - Bienal Internacional Afro Americana de Cultura - artista convidado, Galeria Cañizares - Escola de Belas Artes da UFBA e Pelourinho, Salvador, Bahia- Brasil. 1993 - Il Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann, São Felix, Bahia-Brasil.

PARTICIPAÇÃO EM SALÕES

Participou do Projeto
Caminho da Fé idealizado
e coordenado por
Juarez Paraíso
.
Em  1990 - Il Salão de Artes Visuais Universidade Federal da Bahia - Teatro Castro Alves, Salvador, Bahia-Brasil. 1989 – Salão Gaivota de Arte e Pesquisa, Universidade Federal da Bahia, PAF, Salvador, Bahia-Brasil ; l Salão Baiano de Artes Plásticas - Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Bahia-Brasil; Salão

Artes e Artistas- Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia, Brasil;  Il Salão Nacional de Artes Plásticas - Galeria Império das Artes, UNAP, São Paulo, SP- Brasil;  IV Salão Internacional das Nações, São Paulo, SP-Brasil. 1988 - Salão Universitário de Artes Visuais Sociedade Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ-Brasil ; XI Salão Nacional de Artes Universidade Federal da Bahia - Teatro Castro Alves, Salvador, Bahia-Brasil ; Salão de Arte Plásticas Santos Dumont, São Paulo, SP-Brasil ; Salão 100 Anos de Libertação - O Negro na Era Atual - Panorama Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil;  1º Salão Internacional das Salvador, Bahia-Brasil; Salão Memória Urbana e Folclórica da Cidade de Salvador Panorama Nações, São Paulo, SP- Brasil ;  VI Salão Nacional Genaro de Carvalho - Bahia Othon Palace,  Salvador, Bahia-Brasil. 1987 - Salão de Artes Plásticas Festa do Cacau Galeria de Arte, Salvador, Bahia-Brasil; VI Salão Nacional de Artes Plásticas Presciliano Silva Museu Salvador, Bahia-Brasil. 1986 - Salão Nacional de Artes Plásticas Salgado Filho, São Paulo, Palace, do Cacau, Ilhéus, Bahia-Brasil; V Salão Nacional Genaro de Carvalho - Bahia Othon ; SP- Brasil ;V Salão Nacional de Artes Plásticas Presciliano Silva Bahia Othon Palace, Salvador, Bahia-Brasil. 1985 - I Salão Leonístico de Artes Plásticas de Santos, Santos, SP-Brasil;  IV Salão Nacional de Artes Plásticas Presciliano Silva - Bahia Othon Palace, Salvador, Bahia-Brasil; I Salão Nacional Genaro de Carvalho - Bahia Othon Palace, Salvador, Bahia- Brasil.

sábado, 4 de outubro de 2025

DANIEL SANTIAGO UM DOS PIONEIROS DA ARTE CONCEITUAL NO BRASIL

O artista Daniel Santiago criando uma nova 
capa de seu livro Tabela Poética dos
Números Irreversíveis usando acetona.

O artista multimídia, jornalista, desenhista, professor, publicitário, pintor, ator e performático pernambucano Daniel Lima Santiago é conhecido nos meios intelectuais onde atua desde os anos 70 criando uma arte onde combina ironia com rigor no conteúdo e a discussão dos problemas sociais, políticos e afetivos. Um dos pioneiros  do movimento de vanguarda arte conceitual no Brasil ele vem no decorrer dos anos realizando uma produção coerente com suas ideias usando como ferramentas a fotografia, vídeos, serigrafia, offset e a linguagem escrita. Também utiliza do próprio corpo em suas performances, e os livros-objetos que lança passaram a ser parte de sua produção, além das obras enviadas pelos correios chamada de arte-postal. É um artista de nome nacional e está presente na historiografia das artes visuais no Brasil por sua produção ter qualidade e importância na arte conceitual. Daniel Santiago vive o tempo inteiro navegando no mundo da arte. Enquanto conversávamos interrompeu para solicitar um pouco de acetona. Abriu o frasco e derramou o produto na capa de um de seus livros e começou a passar o dedo polegar em cima da ilustração da capa resultando numas manchas. Parecia que estava num ritual religioso onde a pessoa é acometida de um transe, de um estado de manifestação. De repente parou e exibindo o livro e disse: “estou lhe ofertando um livro com uma capa única!” Esta imprevisibilidade do artista pode transformar seu interlocutor num elemento de sua criação. É provocativo e costuma chamar as pessoas de grande artista, grande jornalista, grande motorista, grande dona de casa e assim por diante com uma ironia peculiar que às vezes fica até cansativo para os desavisados uma convivência demorada com sua mente brilhante. Quando passou a me chamar de grande jornalista, retruquei  : diga grande artista! Aí ele sorriu e passou a falar de outros projetos que tem e pretende realizar. Sua cabeça funciona como se fosse um rolo de filme que está sendo projetado e não pode parar. A produção de Daniel Lima Santiago é tão extensa que precisaria de muito mais espaço e talvez de um livro com muitas páginas para registrar todas elas.

Daniel Santiago representando Godot com 
a cineasta Katia Mesel procurando Samuel
Bekckett pela Rua do Catete, no Rio de 
Janeiro, 2023.
Nasceu em Garanhuns, estado de Pernambuco em 1939 e ainda menino aprendeu a desenhar com o tio Saul Santiago que fazia desenhos publicitários de cachaça Chica Boa e outros produtos populares e inicialmente exibia nos muros da cidade de Catende, em Pernambuco, e posteriormente para serem veiculados nos jornais da época. Daí em diante Daniel Santiago passou a desenhar e a pintar com frequência. Tem uma rica experiência de vida passando pelo serviço militar na Aeronáutica onde ingressou aos dezessete anos de idade na
 década de 60 chegando à patente de cabo, quando foi transferido para Salvador. Permaneceu aqui de 1962 a 1966 e aprendeu a fazer xilogravura, influenciado por Hansen Bahia e Emanoel Araújo. Fez um concurso para desenhista publicitário das Lojas Mesbla, e seu desenho estava tão bem feito que o gerente nem quis mais fazer a prova com os demais candidatos. Trabalhou durante um ano e meio elaborando anúncios para jornais e televisão. Rompeu com  um namoro porque a moça só queria casar , e resolveu arriscar a vida em São Paulo, destino de milhões de nordestinos. Levou consigo cópias de suas xilogravuras, desenhos, algumas roupas e pouco dinheiro. A viagem de ônibus durou quarenta horas, e foi muito sofrida porque não tinha dinheiro para se alimentar.

Daniel  Santiago procura no celular
fotos e vídeos das performances.
Em 1967 deixou São Paulo e foi para Curitiba onde lecionou Desenho na Escola Nacional de Desenho em Curitiba-PR. Em 1970 fez Curso de Especialização de Desenho, em 1971 -1972 de Pintura, em 1973 de Escultura e em 1974 de Teatro no Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto. Em 1977 concluiu a graduação em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, e em 1980 formou-se em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Foi professor de Desenho na Escola de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco e no SENAC-Recife; professor   de Planejamento Gráfico nos Cursos de Jornalismo e de Relações Públicas da Universidade Católica de Pernambuco, de Desenho e Educação Artística em colégios públicos e particulares. Foi ainda professor da Equipe de Treinamento de Professores da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco e de Desenho Artístico no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Ministrou o Curso de Pintura para professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. Participou de várias comissões julgadoras em salões de arte. É artista plástico com catálogos de participação em mais de cem exposições no Brasil e no exterior. Manteve uma parceria durante anos com o artista Paulo Bruscky, mas atualmente segue sua carreira individual.

Quando se aposentou da Prefeitura de Recife em 2010, aos setenta anos de idade, por sugestão de sua esposa foi arrumar suas gavetas, prateleiras e estantes quando encontrou um pequeno caderno com os registros do ano em que passou em São Paulo e sobreviveu à base de pão com banana e pizza com caldo de cana. O caderno contém um diário onde estão registradas as dificuldades que enfrentou. As peripécias são tão interessantes que os editores da Revista Piauí decidiram publicar na sua edição de fevereiro de 2010 com o título Parece Que Falta Oxigênio no Ar acompanhada de belas ilustrações de autoria de Daniel Santiago. O seu diário pode ser encontrado na internet. Vemos ao lado uma bela ilustração do seu diário feito em São Paulo e ai aparecem as bananas, o pão, a pizza e o caldo de cana na garrafa.

                                               SUA CAMINHADA

O meu encontro com o artista Daniel Lima Santiago foi na tarde do dia nove do corrente mês, e a cada pergunta que fazia ele sempre vinha com uma resposta entremeada de ironia. Este é o comportamento padrão ou “normal” do artista.  Nasceu em 28 de abril de 1939 na cidade de Garanhuns, estado de Pernambuco, filho de Salatiel Santiago e Maria Rodrigues Santiago. Ao lhe indagar o que seu pai fazia em Pernambuco respondeu: “Era guarda da peste, e trabalhava aplicando o ciano gás, que foi um produto usado na Segunda Guerra Mundial.” O Brasil teve uma epidemia de peste bubônica entre os anos de 1899 e 1907 quando muita gente morreu por falta de atendimento. Esta doença é causada por uma bactéria transmitida por picada de pulgas de ratos e outros roedores, e os sintomas são febres, calafrios e inchaço dos gânglios linfáticos. No Brasil ocorreram surtos de peste bubônica iniciada em Santos e espalhando-se pelo país, com maior impacto no Rio de Janeiro. Daí em diante a doença vem sendo combatida e o Salatiel

Santiago integrava a equipe de guardas que aplicava o ciano gás em Pernambuco. 
O artista Daniel Santiago passou parte de sua infância na cidade de Bom Conselho, que fica no agreste pernambucano, onde cursou o primário, e o segundo grau no Ginásio São Geraldo. O científico estudou em Salvador no Colégio Manoel Devoto e Colégio Estadual da Bahia, o Central, mas não conseguiu concluir. Foi quando decidiu ir para São Paulo em 1966 e passou as dificuldades que narrei acima e que foi publicado na secção Diário, da Revista Piauí. Ressaltou que trabalhou como datilógrafo na capital paulista e que “era um bom datilógrafo, batia muito rápido”. Acima quatro pinturas de sua autoria. Na primeira imagem a Praça Derby, em Recife, e as três  outras retratam  pontos da capital pernambucana feitas na década de setenta quando ele costumava sair com seu cavalete e suas tintas a óleo e seus pincéis pintando pontos que achava interessante.

                                      ARTE CONCEITUAL

Quando estudava na Escola de Belas Artes de Recife tomou conhecimento do movimento de arte conceitual que “surgiu nas décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos e Europa, como um movimento que prioriza a ideia ou conceito por trás da obra em detrimento da sua forma física ou estética visual. O termo foi usado oficialmente por Henry Flynt em 1961, no contexto do grupo Fluxus, que questionava o mercado e o formalismo da arte, influenciado por vanguardas como o Dadaísmo”. Já o termo happening surgiu também nos Estados Unidos e teve como seu expoente o artista

Frame do vídeo da entrevista de Daniel
Santiago e Paulo Bruscky a Gilberto Prado.
americano Allan Kaprow (1927-2006). No happening o artista mistura elementos de artes visuais, teatro e performance com a participação do público. Disse Daniel Santiago que depois de tomar conhecimento desses movimentos passou a chamar os colegas para fazer um happening e ninguém quis lhe acompanhar dizendo que era coisa de maluco. “Foi quando conheci um cara meio doido e perguntei. Você tem coragem de fazer isto comigo na praia? Ele topou. Era o Paulo Bruscky”.  Levaram os objetos que Daniel Santiago tinha produzido e também algumas pinturas e colocaram na praia da Boa Viagem. Com isto atraíram muita gente curiosa querendo saber o que era aquilo, e assim começou a caminhada dos dois artistas. Foi aí que em 1971 nasceu a Equipe Bruscky & Santiago que durou cerca de dez anos, e segundo Daniel Santiago “foi se apagando como a luz de uma estrela.” O Daniel é um criador nato, as ideias brotam na sua cabeça como a água brota de uma nascente ,e vai seguindo o seu caminho até  se transformar num rio caudaloso. 

Contou também que em 1971 a Equipe Bruscky & Santiago distribuiu uns convites impressos em papel verniz tendo a  frente na cor azul e amarelo no verso. Outros tinham a cor amarela e o verso azul. O convite chamava as pessoas a comparecer no dia tal, às tantas horas na Ponte de Ferro, em Recife, para a abertura da ARTESPOCORPONTE, é um acrônimo de Arte, Exposição, Cor, Corpo e Ponte. Compareceram cerca de duzentas pessoas levando seus convites coloridos e trocando mensagens da Ponte da Boa Vista para a Ponte de Ferro. Disse Daniel Santiago que o convite foi inspirado numa lona usada pelos aviadores americanos na Segunda Guerra Mundial. Esta lona era um equipamento de sobrevivência caso a aeronave fosse abatida. Para fazer cada convite a

Os participantes do hapenning na Ponte de  
Ferro, em Recife, Pernambuco.
Equipe Bruscky & Santiago usou duas folhas de papel verniz, uma folha amarela e outra azul, coladas pelo verso. O texto do convite, foi impresso no lado amarelo, em tipografia, redigido por Daniel Santiago. Metade dos convites tinha escrito Ponte da Boa Vista e a outra Ponte de Ferro. Eles ficaram no meio e instruíram como reagir quando davam determinados sinais. No final os convidados estariam exibindo apenas um lado do convite que poderia ser todo azul ou todo amarelo, e quando coincidisse todos da mesma cor   deveriam jogar os convites no rio Capiberibe. Este happening foi o primeiro realizado na cidade do Recife e chamou a atenção dos policiais federais que pensaram tratar-se de um movimento subversivo.

Enquanto nossa conversa prosseguia  notou que  os raios do sol estavam entrando pela janela e incidindo sobre uns objetos. Levantou-se e explicando que dava uma bela foto se estivesse em sua casa onde tem alguns pequenos espelhos. Ele usa espelhos para captar os raios do sol e os transporta para outro espelho, e faz uma fotografia com o celular ou

Uma bela Organela de Daniel Santiago.
com uma máquina fotográfica. Em seguida trabalha a foto saturando ao máximo a luz e assim a foto vira no jogo de luz e sombra algo indescritível, uma imagem abstrata que ele denominou de Organelas. Na Biologia as organelas citoplasmáticas são pequenas estruturas encontradas no citoplasma das células eucarióticas, cada uma com uma função especializada que é essencial para o funcionamento e sobrevivência da célula. Como vemos o Daniel Santiago mistura ciência e arte. Com os espelhos capta a luz e seus efeitos físicos, criando formas que se assemelham às organelas das células. Suas Organelas lembram águas-vivas pela transparência e  formas. Na realidade são objetos fotografados e trabalhados até perderem sua forma original

Tem quase dez livros-objetos. Os primeiros criados pela Equipe Bruscky & Santiago deu o nome de Outra Pedra de Roseta, e foram feitos à mão com recortes de jornais e revistas. Em seguida mandava para uma tipografia afim de costurar os dorsos, dando mais consistência, encadernava e encapava. Nenhum livro é igual ao outro porque o gráfico pegava e dava os cortes necessários aleatoriamente para ficar no tamanho e na forma de um livro. A Equipe colocou este nome porque imaginava se um desses livros fosse solto no espaço, e

Livros-objetos  do artista.
alguém de outra civilização o encontrasse iria tentar decifrar o que estava escrito ali, e teria muitas informações sobre a Terra, como aconteceu quando encontraram a Pedra de Roseta escrita em hieróglifos e foi decifrada por Jean - François Champollion em 1892. Atualmente três novos livros que estão sendo finalizados de autoria do artista Daniel Santiago. Um deles chamado O Céu é de Chocolate onde todos os objetos utilitários possíveis são feitos de chocolate. São trezentas páginas, porque ele acha “se tiver menos de trezentas páginas não é um livro.” O outro é um romance e chama-se Um Nome de Mulher. “O cara conhece uma dona e ele a chama de Doutora Maria das Dores de Machado.... A personagem pede que o marido a chame simplesmente de Maria das Dores, então o marido retruca dizendo que gostaria que o nome dela fosse ainda bem maior para ele não parar de chama-la. Então todas as trezentas páginas do livro têm inúmeros e extensos nomes de mulheres. 

O terceiro livro que está no prelo chama-se Captcha que é a sigla de Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart, ou seja, é um teste de segurança projetado para diferenciar humanos de robôs na internet. Ao apresentar um desafio relativamente fácil para humanos entender, mas difícil para computadores e robôs. O Captcha protege sites e serviços online contra o uso indevido e o acesso não

Quatro elementos do captcha que ele
criou para exemplificar.
autorizado. Exemplos incluem a identificação de texto distorcido, a seleção de imagens específicas ou a resolução de problemas matemáticos simples, sendo uma medida de autenticação e proteção de dados. Muitas vezes tentamos decifrar várias vezes até conseguir identificar as letras e os números do Captcha. Daniel Santiago criou vários sinais e preencheu todas as páginas do livro com sinais que a gente consegue decifrar, com alguma dificuldade, mas o computador não consegue, a não ser que seja criado um novo programa para decifrar.

 PERFORMANCES

A Palmeira-noiva  que integrou
a 3 ª Bienal da Bahia.
O artista Daniel Santiago tem inúmeras performances gravadas em vídeos que fez em Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres e em outros lugares.  Em 2015 em Recife fez uma performance chamada Desenhando Com as Duas mãos, usando os Dois Lados do Cérebro para a exposição sob a curadoria da artista Eugênia Harten. A mostra chamada 1º Intercâmbio Cultural Brasil / Itália, no Museu da Cidade de Recife foi inaugurada em dois de julho 2015. Ele se apresentou todo paramentado de branco com um jaleco comprido, touca e luvas como fosse fazer uma cirurgia, e desenhou o rosto de uma mulher na presença de várias pessoas. Em 2014 participou da 3ª Bienal da Bahia  no Palacete das Artes em Salvador com  artistas nordestinos que produziram muitos trabalhos e não foram mostrados e nem tiveram reconhecimento do público devido as restrições impostas pela ditadura militar.    Enrolou uma palmeira imperial no Largo do Papagaio com um vestido de noiva , colocou uma grinalda e chamou a performance de A Palmeira-noiva. Ele se inspirou na namorada que teve quando tinha vinte e um anos e namoravam no Largo do Papagaio.

Em 2014  contratou um vendedor de mingau e convidou várias pessoas para comparecer ao Beco do Mingau que fica no Largo Dois de Julho, em Salvador foi chamado assim por ser um ponto de venda de mingau, uma iguaria simples e tradicional. Sua história está ligada à luta pela Independência da Bahia em 1823, onde as mulheres desempenharam um papel crucial ao levar mingau e armas para os combatentes, disfarçadas e com estratégias para confundir o inimigo. Nesta performance até o artista performático Jaime Figura esteve presente. Na foto  vemos o escritor, poeta e professor pernambucano Jomard Muniz de Britto, Jayme Figura e Daniel Santiago no Beco do Mingau, que fica nas imediações do Largo Dois de Julho. Estão aguardando a distribuição do mingau.

Em 2012 Daniel Santiago vestiu um terno e gravata e entrou na água na praia da Boa Viagem, em Recife, Pernambuco, até desaparecer completamente na performance que

Um frame do vídeo de sua performance
entrando de terno e gravata no mar.
chamou de O Velho Ernest Hemingway. O escritor americano Hemingway ficou famoso com o romance O Velho e o Mar, o qual se transformou no filme de grande sucesso tendo como ator Spencer Tracy, e o nome do pescador do romance é Santiago,  marginalizado por seus colegas devido aos seus fracassos na pescaria. “Seu passeio solitário e silencioso rumo ao mar engendra reflexões sobre a finitude da existência”. Lembra a história de Bass Jan Ader (1942-1975), desaparecido durante a performance na qual cruzaria o Atlântico em um pequeno veleiro.

Em 2008 no seu diálogo com a Literatura apresentou o Cartaz-Poema de Augusto dos Anjos uma foto performance. No cartaz, Daniel Santiago transcreve o irônico poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos, e explorou sua semelhança física com fotografias do poeta. Em 1982 em O Brasil É o Meu Abismo a palavra foi o motor fundamental, utilizando 

uma frase de poema de Jomard Muniz de Britto, Aquarelas do Brasil. A performance original consistiu no próprio artista pendurado de cabeça para baixo, preso pelo tornozelo e segurando um cartaz com a frase-título. O rodopiar do corpo do artista exigia da audiência, para leitura da frase, a
movimentação pelo espaço da galeria.

Em 1979 na performance intitulada O Duelo ele e Paulo Bruscky fazem uma metáfora da máquina fotográfica como arma, instaurando o embate entre perspectivas. O vídeo mostra as máquinas fotográficas vão se aproximando até se chocarem. Explicou Daniel Santiago que esta performance está percorrendo várias capitais do Brasil integrando a exposição Memes: no Br@sil da Memeficação é uma exposição inédita e de grandes dimensões sobre um dos maiores fenômenos dos tempos atuais e o Brasil é um dos países que mais produz e consome memes no mundo. A exposição tem a curadoria de Clarissa Diniz e Ismael Monticelli.

Além dos vídeos e das performances, Daniel Santiago produziu e produz em múltiplas mídias, explorando também inserções em meios de comunicação. Nessa última possibilidade, as ações de Poesia Classificada, em grande parte em parceria da Equipe  Bruscky & Santiago , causam estranhamento pelo ruído da informação poética em formato carregado de pragmatismo: os cadernos de classificados dos jornais.

Em 1977 na performance Eu Como Poesia eles mostram a ambiguidade do título é adicionada a onomatopeia “nhoc, nhoc, nhoc, nhoc”, incitando imagens do universo dos quadrinhos no leitor/espectador. Em 1980 essa atenção e relação de jogo com a língua estão presentes em Alfabeto no Plural cartazes com exercícios linguísticos e suas camadas de significados.

Em 1976 a Equipe  Bruscky & Santiago fez uma performance De Que É Que Eu Tenho Medo? com um desenho produzido pela dupla após a proibição da II Exposição Internacional de Arte/Correio, que resultou na prisão dos artistas.  Educação da Mão e da Vista (1962-1967) reforça a permanência de um modus operandi que privilegia contatos, trocas e parcerias, já que é resultado de um curso realizado por correspondência para aprender a desenhar, no qual segue à risca instruções do professor.

Na performance Godot Esperando Samuel Beckett ele se inspirou na peça teatral  Esperando Godot do escritor e dramaturgo irlandês que foi montada em teatros do mundo inteiro . Simboliza a existência humana marcada pelo absurdo, a falta de propósito e uma espera sem fim por um significado ou salvação que nunca chega. A expressão tornou-se um símbolo da situação de incerteza e espera constante na vida, onde as pessoas se agarram a uma esperança sem garantias, repetindo ciclos de passividade e conversas vazias na tentativa de preencher o tempo e o vazio existencial. "

Apresentação de Discurso Político com Tom Zé.
Participou de um happening com Tom Zé e sua banda e mais quarenta atores, no Sesc Sorocaba, em São Paulo, que durou sete meses chamado Fresta. Foi um encontro marcante baseado num de seus livros-objeto chamado de Discurso Político. Pura criatividade e muita improvisação. Dirigiram o espetáculo Eros Valério e Hércules Soares. “A obra é uma afirmação de diversas pessoas dizendo que roubam. Eles não denunciam que há roubo aqui ou ali, ou que tal coisa é roubo, afirmam que pessoalmente, individualmente, roubam atualmente, roubaram no passado e roubarão no futuro. A partir dos roubos surgem as mortes e as ressureições. Cada extermínio se torna uma amostra cruel de formas diferentes de matar, e cada ressurreição, uma mensagem triste e desesperadora”, explica Thiago Consiglio.

Daniel Santiago e sua neta  nas ruas 
de São Paulo. Ele paramentado de 
Dom Pero Fernandes Sardinha e ela
como a filha do cacique Morubixaba.
Outra performance que ficou conhecida foi quando ele se vestiu do bispo Dom Pero Fernandes Sardinha e juntamente com a neta Izabelle Rezende vestida de índia andaram pelas ruas de São Paulo. O título do evento:  Dom Pero Fernandes Sardinha e a Filha Formosa do Morubixaba que devorou seu Coração.  O bispo morreu no naufrágio em 1556 na foz do rio Cururipe, onde hoje está a cidade do mesmo nome no estado de Alagoas. Todos os tripulantes foram capturados e devorados pelos índios Caetés, que praticavam a antropofagia.  Escreveu um sermão que segundo ele foi psicografado de Dom Pero Fernandes Sardinha antes de ser devorado pelos índios. Onde disse:

"A Arte é a mais controvertida das expressões humanas e a performance é a mais controvertida das expressões artísticas. A Arte imita a vida, a performance imita a arte. Quando a Arte é um exército regular com táticas convencionais de ataque e defesa, a performance é um bando desorganizado de franco-atiradores sempre em retirada. A Arte vive de atividades estabelecidas como a música, a poesia e o teatro, por exemplo, a performance vive das formas não catalogadas, dos conteúdos indeterminados. Nos desertos estéreis onde a pintura não floresce, ali a performance desponta com vigor. E no decorrer de grandes tempestades, quando a dança maravilhosa ou a escultura formidável são quebradas pela força do vento, a performance se dobra discretamente para surgir soberana depois do vendaval. Uma performance não é um espetáculo de dança, nem um show musical, nem uma peça teatral, uma performance é uma performance, mas pode também ser uma peça, um espetáculo, um show, um discurso e outras coisas mais, porque a performance fala todas as línguas, dos homens e dos anjos"