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O artista Daniel Santiago criando uma nova capa de seu livro Tabela Poética dos Números Irreversíveis usando acetona. |
O artista
multimídia, jornalista, desenhista, professor, publicitário, pintor, ator e performático
pernambucano Daniel Lima Santiago é conhecido nos meios intelectuais onde atua
desde os anos 70 criando uma arte onde combina ironia com rigor no conteúdo e a
discussão dos problemas sociais, políticos e afetivos. Um dos pioneiros do movimento
de vanguarda arte conceitual no Brasil ele vem no decorrer dos anos realizando
uma produção coerente com suas ideias usando como ferramentas a fotografia,
vídeos, serigrafia, offset e a linguagem escrita. Também utiliza do
próprio corpo em suas performances, e os livros-objetos que lança passaram a
ser parte de sua produção, além das obras enviadas pelos correios chamada de
arte-postal. É um artista de nome nacional e está presente na historiografia
das artes visuais no Brasil por sua produção ter qualidade e importância na arte
conceitual. Daniel Santiago vive o tempo inteiro navegando no mundo da arte.
Enquanto conversávamos interrompeu para solicitar um pouco de acetona. Abriu o
frasco e derramou o produto na capa de um de seus livros e começou a
passar o dedo polegar em cima da ilustração da capa resultando numas manchas.
Parecia que estava num ritual religioso onde a pessoa é acometida de um transe,
de um estado de manifestação. De repente parou e exibindo o livro e disse:
“estou lhe ofertando um livro com uma capa única!” Esta imprevisibilidade do
artista pode transformar seu interlocutor num elemento de sua criação. É
provocativo e costuma chamar as pessoas de grande artista, grande jornalista,
grande motorista, grande dona de casa e assim por diante com uma ironia
peculiar que às vezes fica até cansativo para os desavisados uma convivência demorada com sua mente
brilhante. Quando passou a me chamar de grande jornalista, retruquei : diga grande artista! Aí ele sorriu e passou a falar de outros projetos que tem e
pretende realizar. Sua cabeça funciona como se fosse um rolo de filme que está sendo projetado e não pode parar. A produção de Daniel Lima Santiago é tão extensa que precisaria de muito mais espaço e talvez de um livro com muitas páginas para registrar todas elas.
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Daniel Santiago representando Godot com a cineasta Katia Mesel procurando Samuel Bekckett pela Rua do Catete, no Rio de Janeiro, 2023. |
Nasceu em Garanhuns, estado de Pernambuco em 1939 e
ainda menino aprendeu a desenhar com o tio Saul Santiago que fazia desenhos
publicitários de cachaça Chica Boa e outros produtos populares e inicialmente
exibia nos muros da cidade de Catende, em Pernambuco, e posteriormente para
serem veiculados nos jornais da época. Daí em diante Daniel Santiago passou a
desenhar e a pintar com frequência. Tem uma rica experiência de vida passando
pelo serviço militar na Aeronáutica onde ingressou aos dezessete anos de idade na década de 60 chegando à patente de cabo, quando foi transferido para Salvador.
Permaneceu aqui de 1962 a 1966 e aprendeu a fazer xilogravura,
influenciado por Hansen Bahia e Emanoel Araújo. Fez um concurso para
desenhista publicitário das Lojas Mesbla, e seu desenho estava tão bem feito
que o gerente nem quis mais fazer a prova com os demais candidatos. Trabalhou
durante um ano e meio elaborando anúncios para jornais e televisão. Rompeu com um namoro porque a moça só queria casar , e resolveu arriscar a vida em São
Paulo, destino de milhões de nordestinos. Levou consigo cópias de suas
xilogravuras, desenhos, algumas roupas e pouco dinheiro. A viagem de ônibus
durou quarenta horas, e foi muito sofrida porque não tinha dinheiro para se
alimentar.
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Daniel Santiago procura no celular fotos e vídeos das performances. |
Em 1967 deixou São Paulo e foi para Curitiba onde
lecionou Desenho na Escola Nacional de Desenho em Curitiba-PR. Em 1970 fez
Curso de Especialização de Desenho, em 1971 -1972 de Pintura, em 1973 de
Escultura e em 1974 de Teatro no Festival de Inverno da Universidade Federal de
Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto. Em 1977 concluiu a graduação em Artes
Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, e
em 1980 formou-se em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Foi professor
de Desenho na Escola de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco e no
SENAC-Recife; professor de Planejamento Gráfico nos Cursos de
Jornalismo e de Relações Públicas da Universidade Católica de Pernambuco, de
Desenho e Educação Artística em colégios públicos e particulares. Foi ainda
professor da Equipe de Treinamento de Professores da Secretaria de Educação do
Estado de Pernambuco e de Desenho Artístico no Museu de Arte Moderna Aloísio
Magalhães. Ministrou o Curso de Pintura para professores da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. Participou de várias comissões
julgadoras em salões de arte. É artista plástico com catálogos de participação
em mais de cem exposições no Brasil e no exterior. Manteve uma parceria durante
anos com o artista Paulo Bruscky, mas atualmente segue sua carreira individual.

Quando se aposentou da Prefeitura de Recife em 2010,
aos setenta anos de idade, por sugestão de sua esposa foi arrumar suas gavetas,
prateleiras e estantes quando encontrou um pequeno caderno com os registros do
ano em que passou em São Paulo e sobreviveu à base de pão com banana e pizza com caldo de cana. O caderno
contém um diário onde estão registradas as dificuldades que enfrentou. As
peripécias são tão interessantes que os editores da Revista Piauí decidiram
publicar na sua edição de fevereiro de 2010 com o título Parece Que Falta
Oxigênio no Ar acompanhada de belas ilustrações de autoria de Daniel Santiago.
O seu diário pode ser encontrado na internet. Vemos ao lado uma bela ilustração do seu diário feito em São Paulo e ai aparecem as bananas, o pão, a pizza e o caldo de cana na garrafa.
SUA CAMINHADA
O meu encontro com o artista
Daniel Lima Santiago foi na tarde do dia nove do corrente mês, e a cada
pergunta que fazia ele sempre vinha com uma resposta entremeada de ironia. Este
é o comportamento padrão ou “normal” do artista. Nasceu em 28 de abril de
1939 na cidade de Garanhuns, estado de Pernambuco, filho de Salatiel Santiago e
Maria Rodrigues Santiago. Ao lhe indagar o que seu pai fazia em Pernambuco
respondeu: “Era guarda da peste, e trabalhava aplicando o ciano gás, que foi um
produto usado na Segunda Guerra Mundial.” O Brasil teve uma epidemia de
peste bubônica entre os anos de 1899 e 1907 quando muita gente
morreu por falta de atendimento. Esta doença é causada por uma bactéria
transmitida por picada de pulgas de ratos e outros roedores, e os sintomas são
febres, calafrios e inchaço dos gânglios linfáticos. No Brasil ocorreram surtos
de peste bubônica iniciada em Santos e espalhando-se pelo país, com maior
impacto no Rio de Janeiro. Daí em diante a doença vem sendo combatida e o
Salatiel

Santiago integrava a equipe de guardas que aplicava o ciano gás em Pernambuco.
O artista Daniel Santiago passou parte de sua
infância na cidade de Bom Conselho, que fica no agreste pernambucano, onde
cursou o primário, e o segundo grau no Ginásio São Geraldo. O científico estudou em
Salvador no Colégio Manoel Devoto e Colégio Estadual da Bahia, o Central, mas
não conseguiu concluir. Foi quando decidiu ir para São Paulo em 1966 e passou
as dificuldades que narrei acima e que foi publicado na secção Diário, da
Revista Piauí. Ressaltou que trabalhou como datilógrafo na capital paulista e
que “era um bom datilógrafo, batia muito rápido”. Acima quatro pinturas de sua autoria. Na primeira imagem a Praça Derby, em Recife, e as três outras retratam pontos da capital pernambucana feitas na década de setenta quando ele costumava sair com seu cavalete e suas tintas a óleo e seus pincéis pintando pontos que achava interessante.
ARTE CONCEITUAL
Quando estudava na Escola de Belas Artes de Recife
tomou conhecimento do movimento de arte conceitual que “surgiu nas décadas de
1960 e 1970, nos Estados Unidos e Europa, como um movimento que prioriza a
ideia ou conceito por trás da obra em detrimento da sua forma física ou
estética visual. O termo foi usado oficialmente por Henry Flynt em
1961, no contexto do grupo Fluxus, que questionava o mercado e o formalismo da
arte, influenciado por vanguardas como o Dadaísmo”. Já
o termo happening surgiu também nos Estados Unidos e teve como seu
expoente o artista
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Frame do vídeo da entrevista de Daniel Santiago e Paulo Bruscky a Gilberto Prado. |
americano Allan Kaprow (1927-2006). No happening o
artista mistura elementos de artes visuais, teatro e performance com a
participação do público. Disse Daniel Santiago que depois de tomar conhecimento
desses movimentos passou a chamar os colegas para fazer um happening e
ninguém quis lhe acompanhar dizendo que era coisa de maluco. “Foi quando
conheci um cara meio doido e perguntei. Você tem coragem de fazer isto comigo na
praia? Ele topou. Era o Paulo Bruscky”. Levaram os objetos que
Daniel Santiago tinha produzido e também algumas pinturas e colocaram na praia
da Boa Viagem. Com isto atraíram muita gente curiosa querendo saber o que era
aquilo, e assim começou a caminhada dos dois artistas. Foi aí que em 1971 nasceu
a Equipe Bruscky & Santiago que durou cerca de dez anos, e segundo Daniel
Santiago “foi se apagando como a luz de uma estrela.” O Daniel é um criador nato, as ideias brotam na sua cabeça como a água brota de uma nascente ,e vai seguindo o seu caminho até se transformar num rio caudaloso.
Contou também que em 1971 a Equipe Bruscky &
Santiago distribuiu uns convites impressos em papel verniz tendo a frente na cor
azul e amarelo no verso. Outros tinham a cor amarela e o verso azul. O convite
chamava as pessoas a comparecer no dia tal, às tantas horas na Ponte de Ferro,
em Recife, para a abertura da ARTESPOCORPONTE, é um acrônimo de Arte, Exposição,
Cor, Corpo e Ponte. Compareceram cerca de duzentas pessoas levando seus
convites coloridos e trocando mensagens da Ponte da Boa Vista para a Ponte de
Ferro. Disse Daniel Santiago que o convite foi inspirado numa lona usada
pelos aviadores americanos na Segunda Guerra Mundial. Esta lona era um
equipamento de sobrevivência caso a aeronave fosse abatida. Para fazer cada
convite a
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Os participantes do hapenning na Ponte de Ferro, em Recife, Pernambuco. |
Equipe Bruscky & Santiago usou duas folhas de papel verniz, uma
folha amarela e outra azul, coladas pelo verso. O texto do convite, foi
impresso no lado amarelo, em tipografia, redigido por Daniel Santiago. Metade
dos convites tinha escrito Ponte da Boa Vista e a outra Ponte de Ferro. Eles
ficaram no meio e instruíram como reagir quando davam determinados sinais. No
final os convidados estariam exibindo apenas um lado do convite que poderia ser
todo azul ou todo amarelo, e quando coincidisse todos da mesma
cor deveriam jogar os convites no rio Capiberibe. Este happening
foi o primeiro realizado na cidade do Recife e chamou a atenção dos
policiais federais que pensaram tratar-se de um movimento subversivo.
Enquanto nossa conversa prosseguia notou que os raios do sol estavam entrando pela janela e incidindo sobre uns objetos.
Levantou-se e explicando que dava uma bela foto se estivesse em sua casa onde
tem alguns pequenos espelhos. Ele usa espelhos para captar os raios do sol e os
transporta para outro espelho, e faz uma fotografia com o celular ou
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Uma bela Organela de Daniel Santiago. |
com uma
máquina fotográfica. Em seguida trabalha a foto saturando ao máximo a luz e
assim a foto vira no jogo de luz e sombra algo indescritível, uma imagem
abstrata que ele denominou de Organelas. Na Biologia as organelas citoplasmáticas
são pequenas estruturas encontradas no citoplasma das células eucarióticas,
cada uma com uma função especializada que é essencial para o funcionamento e
sobrevivência da célula. Como vemos o Daniel Santiago mistura ciência e arte. Com
os espelhos capta a luz e seus efeitos físicos, criando formas que se
assemelham às organelas das células. Suas Organelas lembram águas-vivas pela transparência e formas. Na realidade são objetos fotografados e trabalhados até perderem sua forma original
Tem quase dez livros-objetos. Os primeiros criados pela Equipe Bruscky & Santiago deu o nome de Outra Pedra de Roseta, e foram
feitos à mão com recortes de jornais e revistas. Em seguida mandava para uma
tipografia afim de costurar os dorsos, dando mais consistência, encadernava e
encapava. Nenhum livro é igual ao outro porque o gráfico pegava e dava os
cortes necessários aleatoriamente para ficar no tamanho e na forma de um livro. A Equipe colocou
este nome porque imaginava se um desses livros fosse solto no espaço, e
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Livros-objetos do artista. |
alguém
de outra civilização o encontrasse iria tentar decifrar o que estava escrito
ali, e teria muitas informações sobre a Terra, como aconteceu quando
encontraram a Pedra de Roseta escrita em hieróglifos e foi decifrada por Jean -
François Champollion em 1892. Atualmente três novos livros que estão sendo
finalizados de autoria do artista Daniel Santiago. Um deles chamado O Céu é de
Chocolate onde todos os objetos utilitários possíveis são feitos de chocolate.
São trezentas páginas, porque ele acha “se tiver menos de trezentas páginas não
é um livro.” O outro é um romance e chama-se Um Nome de Mulher. “O cara conhece
uma dona e ele a chama de Doutora Maria das Dores de Machado.... A personagem
pede que o marido a chame simplesmente de Maria das Dores, então o marido
retruca dizendo que gostaria que o nome dela fosse ainda bem maior para ele não parar
de chama-la. Então todas as trezentas páginas do livro têm inúmeros e extensos
nomes de mulheres.
O terceiro livro que está no prelo chama-se Captcha
que é a sigla de Completely Automated Public Turing test to tell Computers and
Humans Apart, ou seja, é um teste de segurança projetado para diferenciar
humanos de robôs na internet. Ao apresentar um desafio relativamente fácil
para humanos entender, mas difícil para computadores e robôs. O Captcha protege sites e serviços online contra o uso indevido e o acesso não
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Quatro elementos do captcha que ele criou para exemplificar. |
autorizado. Exemplos incluem a identificação de texto distorcido, a
seleção de imagens específicas ou a resolução de problemas matemáticos simples,
sendo uma medida de autenticação e proteção de dados. Muitas vezes
tentamos decifrar várias vezes até conseguir identificar as letras e os números
do Captcha. Daniel Santiago criou vários sinais e preencheu todas as páginas do
livro com sinais que a gente consegue decifrar, com alguma dificuldade, mas o
computador não consegue, a não ser que seja criado um novo programa para
decifrar.
PERFORMANCES
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A Palmeira-noiva que integrou a 3 ª Bienal da Bahia. |
O artista Daniel Santiago tem inúmeras performances gravadas em vídeos
que fez em Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres e em outros lugares. Em 2015 em Recife fez uma performance chamada
Desenhando Com as Duas mãos, usando os Dois Lados do Cérebro para a exposição
sob a curadoria da artista Eugênia Harten. A mostra chamada 1º Intercâmbio
Cultural Brasil / Itália, no Museu da Cidade de Recife foi inaugurada em dois
de julho 2015. Ele se apresentou todo paramentado de branco com um jaleco comprido,
touca e luvas como fosse fazer uma cirurgia, e desenhou o rosto de uma mulher na
presença de várias pessoas. Em 2014 participou da 3ª Bienal da Bahia no Palacete das
Artes em Salvador com artistas nordestinos que produziram muitos
trabalhos e não foram mostrados e nem tiveram reconhecimento do público devido
as restrições impostas pela ditadura militar. Enrolou uma palmeira imperial no Largo do Papagaio com um vestido de noiva , colocou
uma grinalda e chamou a performance de A Palmeira-noiva. Ele se inspirou na
namorada que teve quando tinha vinte e um anos e namoravam no Largo do Papagaio.

Em 2014 contratou
um vendedor de mingau e convidou várias pessoas para comparecer ao Beco do
Mingau que fica no Largo Dois de Julho, em Salvador foi chamado assim por ser um
ponto de venda de mingau, uma iguaria simples e tradicional. Sua história
está ligada à luta pela Independência da Bahia em 1823, onde as mulheres
desempenharam um papel crucial ao levar mingau e armas para os combatentes,
disfarçadas e com estratégias para confundir o inimigo. Nesta
performance até o artista performático Jaime Figura esteve presente. Na foto vemos o escritor, poeta e professor pernambucano Jomard Muniz de Britto, Jayme Figura e Daniel Santiago no Beco do Mingau, que fica nas imediações do Largo Dois de Julho. Estão aguardando a distribuição do mingau.
Em 2012 Daniel Santiago vestiu
um terno e gravata e entrou na água na praia da Boa Viagem, em Recife,
Pernambuco, até desaparecer completamente na performance que
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Um frame do vídeo de sua performance entrando de terno e gravata no mar. |
chamou de O Velho
Ernest Hemingway. O escritor americano Hemingway ficou famoso com o romance O
Velho e o Mar, o qual se transformou no filme de grande sucesso tendo como ator
Spencer Tracy, e o nome do pescador do romance é Santiago, marginalizado por seus colegas devido aos seus fracassos na pescaria. “Seu
passeio solitário e silencioso rumo ao mar engendra reflexões sobre a finitude
da existência”. Lembra a história de Bass Jan Ader (1942-1975), desaparecido durante a performance na qual cruzaria o Atlântico em um pequeno veleiro.
Em 2008 no
seu diálogo com a Literatura apresentou o Cartaz-Poema de Augusto dos Anjos uma
foto performance. No cartaz, Daniel Santiago transcreve o irônico poema Versos
Íntimos, de Augusto dos Anjos, e explorou sua semelhança física com fotografias
do poeta. Em 1982 em
O Brasil É o Meu Abismo a palavra foi o motor fundamental, utilizando
uma frase
de poema de Jomard Muniz de Britto, Aquarelas do Brasil. A performance original
consistiu no próprio artista pendurado de cabeça para baixo, preso pelo
tornozelo e segurando um cartaz com a frase-título. O rodopiar do corpo do
artista exigia da audiência, para leitura da frase, a
movimentação pelo espaço
da galeria.
Em 1979 na
performance intitulada O Duelo ele e Paulo Bruscky fazem uma metáfora da
máquina fotográfica como arma, instaurando o embate entre perspectivas. O vídeo
mostra as máquinas fotográficas vão se aproximando até se chocarem. Explicou
Daniel Santiago que esta performance está percorrendo várias capitais do Brasil
integrando a exposição Memes: no Br@sil da Memeficação é uma exposição
inédita e de grandes dimensões sobre um dos maiores fenômenos dos tempos atuais
e o Brasil é um dos países que mais produz e consome memes no mundo. A
exposição tem a curadoria de Clarissa Diniz e Ismael Monticelli.
Além dos
vídeos e das performances, Daniel Santiago produziu e produz em múltiplas
mídias, explorando também inserções em meios de comunicação. Nessa última
possibilidade, as ações de Poesia Classificada, em grande parte em parceria da Equipe Bruscky & Santiago , causam estranhamento pelo ruído da informação poética em formato
carregado de pragmatismo: os cadernos de classificados dos jornais.
Em 1977 na
performance Eu Como Poesia eles mostram a ambiguidade do título é adicionada a
onomatopeia “nhoc, nhoc, nhoc, nhoc”, incitando imagens do universo dos
quadrinhos no leitor/espectador. Em 1980 essa atenção e relação de jogo com a
língua estão presentes em Alfabeto no Plural cartazes com exercícios
linguísticos e suas camadas de significados.
Em 1976 a Equipe Bruscky & Santiago fez uma performance De Que É Que Eu Tenho Medo? com um
desenho produzido pela dupla após a proibição da II Exposição Internacional de
Arte/Correio, que resultou na prisão dos artistas. Educação da Mão e
da Vista (1962-1967) reforça a permanência de um modus operandi que privilegia contatos, trocas e
parcerias, já que é resultado de um curso realizado por correspondência para
aprender a desenhar, no qual segue à risca instruções do professor.
Na performance Godot Esperando Samuel Beckett ele se inspirou na peça teatral Esperando Godot do escritor e dramaturgo irlandês que foi montada em teatros do mundo inteiro . Simboliza a existência humana marcada pelo absurdo, a falta de propósito e uma espera sem fim por um significado ou salvação que nunca chega. A expressão tornou-se um símbolo da situação de incerteza e espera constante na vida, onde as pessoas se agarram a uma esperança sem garantias, repetindo ciclos de passividade e conversas vazias na tentativa de preencher o tempo e o vazio existencial. "
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Apresentação de Discurso Político com Tom Zé. |
Participou
de um happening com Tom Zé e sua banda e mais quarenta atores, no Sesc Sorocaba,
em São Paulo, que durou sete meses chamado Fresta. Foi um encontro marcante
baseado num de seus livros-objeto chamado de Discurso Político. Pura
criatividade e muita improvisação. Dirigiram o espetáculo Eros Valério e
Hércules Soares. “A obra é uma afirmação de diversas pessoas dizendo que
roubam. Eles não denunciam que há roubo aqui ou ali, ou que tal coisa é roubo,
afirmam que pessoalmente, individualmente, roubam atualmente, roubaram no
passado e roubarão no futuro. A partir dos roubos surgem as mortes e as ressureições.
Cada extermínio se torna uma amostra cruel de formas diferentes de matar, e
cada ressurreição, uma mensagem triste e desesperadora”, explica Thiago
Consiglio.
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Daniel Santiago e sua neta nas ruas de São Paulo. Ele paramentado de Dom Pero Fernandes Sardinha e ela como a filha do cacique Morubixaba. |
Outra
performance que ficou conhecida foi quando ele se vestiu do bispo Dom Pero
Fernandes Sardinha e juntamente com a neta Izabelle Rezende vestida de índia
andaram pelas ruas de São Paulo. O título do evento: Dom Pero Fernandes Sardinha e a Filha Formosa
do Morubixaba que devorou seu Coração. O
bispo morreu no naufrágio em 1556 na foz do rio Cururipe, onde hoje está a
cidade do mesmo nome no estado de Alagoas. Todos os tripulantes foram
capturados e devorados pelos índios Caetés, que praticavam a antropofagia. Escreveu um sermão que segundo ele foi psicografado de Dom Pero Fernandes
Sardinha antes de ser devorado pelos índios. Onde disse:
"A Arte é a mais controvertida das expressões humanas e
a performance é a mais controvertida das expressões artísticas. A Arte imita a
vida, a performance imita a arte. Quando a Arte é um exército regular com
táticas convencionais de ataque e defesa, a performance é um bando
desorganizado de franco-atiradores sempre em retirada. A Arte vive de
atividades estabelecidas como a música, a poesia e o teatro, por exemplo, a
performance vive das formas não catalogadas, dos conteúdos indeterminados. Nos
desertos estéreis onde a pintura não floresce, ali a performance desponta com
vigor. E no decorrer de grandes tempestades, quando a dança maravilhosa ou a escultura
formidável são quebradas pela força do vento, a performance se dobra
discretamente para surgir soberana depois do vendaval. Uma performance não é um
espetáculo de dança, nem um show musical, nem uma peça teatral, uma performance
é uma performance, mas pode também ser uma peça, um espetáculo, um show, um
discurso e outras coisas mais, porque a performance fala todas as línguas, dos
homens e dos anjos"