JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 20 DE SETEMBRO DE 1975
Floriano Teixeira, artista
plástico dos mais conceituados nasceu no Maranhão, morou muitos anos no Ceará
e, atualmente está radicado em Salvador. Bahia. Homem de fácil
diálogo, com tendência a cigano. Ama a terra onde trabalha mais de repente
poderá trocá-la por outra. Desde 1941 que participa de mostras coletivas, tendo
sido um dos fundadores do Núcleo Eliseu Visconti, em 1949. Fixou-se em
Fortaleza, no Ceará onde fundou o Grupo dos Independentes, em 1952. Em 1962
figurou na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna da Universidade do
Ceará, bem como na mostra de oito artistas no Ceará no Museu de Arte Moderna da
Bahia, no ano seguinte. Premiado com o primeiro lugar, juntamente com Betty
King, na I Bienal Nacional de Artes Plásticas que foi
realizada em 1966, em Salvador. Até agora só realizou duas exposições
individuais: uma na Galeria Convivium, em 1965, em Salvador, e outra na Bonino
em 1967.
Grande ilustrador já tendo trabalhado na ilustração dos livros Dona Flor e seus Dois Maridos e A Morte de Quincas Berro D’água (edição de luxo), de autoria de Jorge Amado e agora está ilustrando todas as obras de Graciliano Ramos que está sendo relançada mais uma vez pela editora Record.
Floriano de Araújo Teixeira, nasceu no ano de 1923,
na Cidade de Caiapó, no Maranhão, e desde cedo utilizando o folclore de sua
terra e outros motivos religiosos começou a dedicar-se à pintura. Utilizou
também tipos populares e objetos de arte popular (naturezas mortas.) Sentiu a
influência da corrente abstracionista e depois da figurativista.
O ENCONTRO

Depois desta necessária apresentação vou
transcrever o encontro que tive com Floriano Teixeira, no jardim de sua casa no
bairro do Rio Vermelho, recanto dos intelectuais baianos. Com seu jeito
matreiro iniciou a conversa contando uma estória."Quando me arrumaram para fazer a primeira
comunhão descobri que não lembrava de um só pecado cometido. Daí pedi ao padre
que me confessava que fizesse as perguntas e comecei a lembrar-me de alguns
pecados cometidos. Eram tantos que formavam um rosário". Assim Floriano
queria que eu perguntasse o que desejava saber. Perguntei e fiquei sabendo que
ele está com 52 anos de idade e que desde os 14 anos leva a pintura a
sério, como uma profissão. Jamais pensou em vir morar em Salvador, mas um dia
foi convidado para a inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia e aí
encontrou o Obá e escritor Jorge Amado, que naquela época acabava de chegar do
Rio de Janeiro para residir aqui. Conheceu através de Jorge outros pintores e
fez rapidamente um círculo de amizade. O convite foi imediato. "Floriano
você tem que vir morar na Bahia."
A princípio a ideia de vir para a Bahia com uma penca de filhos, deixando
no Ceará um emprego público certo era realmente uma decisão muito grande. Mas,
o Obá não desistiu e começou a escrever pedindo que Floriano viesse. Jorge
Amado arranjou umas trinta assinaturas de personalidades baianas e enviou um
telegrama ao Reitor da Universidade do Ceará pedindo o desligamento de
Floriano. Aí não teve mais jeito. Eis que chega o Floriano sozinho. Passa
alguns dias na residência do Obá e começa a procurar casa para trazer a
família. Veio, e veio como profissional para concorrer com os demais artistas
que disputavam um mercado em nascimento.
Começou a trabalhar respirando os ares da velha
Bahia. O primeiro ano foi um pouco difícil, mas no segundo em diante o trem
começou a correr nos trilhos. O círculo de amizade foi aumentando e as pessoas
já procuravam o artista Floriano para adquirir uma obra de arte de boa
qualidade. Hoje, é um artista amadurecido, respeitado e acima de tudo integrado
à paisagem e a vida baiana.
MERCADO DE ARTE
Diz Floriano Teixeira que antes do grupo de Mário
Cravo, Genaro de Carvalho eCarlos Bastos não existia um movimento de arte na
Bahia. Depois veio o Jenner Augusto, de Sergipe e, o Carybé, da Argentina. Aí a
Bahia se projetou no cenário artístico nacional. O mercado de arte começou a se
desenvolver.
Quando cheguei este mercado estava dando os
seus primeiros passos e até algumas galerias já surgiam. Hoje posso afirmar que
o mercado existe só que é um mercado para fora. Trabalhamos e, a maioria das
obras que criamos são vendidas para colecionadores de outros estados ou mesmo
do estrangeiro."Sobre a inflação de artista na Bahia Floriano tem
uma posição firmada: "O homem que investe numa obra de arte ele sabe o que
está fazendo. Sei que existem muitos artistas e que estão vendendo. Alguns
destes artistas não tem amadurecimento ou mesmo não estão realizando um
trabalho sério, mas conseguem vender e isto prejudica a qualidade."
E continua: "Toda dona de casa ou jovem
que não consegue passar no vestibular inventa que é artista e começa a usar o
pincel. Usam de forma indevida. Mas não sou contra ninguém, só que recomendo a
essas pessoas que estudem e levem a sério. Uma exposição só deve ser realizada
quando a gente tem realmente alguma coisa para mostrar. De nada adianta
exposição por exposição. Quando a gente tira um quadro do cavalete e coloca
numa exposição ou mesmo numa galeria para ser comercializado fica exposto ao
julgamento público. Este quadro pode ser apreciado ou não. É muito chato a
pessoa criar uma coisa e os outros depreciarem, porque muitas vezes não tem
valor. Eu, até o momento tenho tido sorte e meus trabalhos estão tendo boa
aceitação."
MELHOROU
Floriano Teixeira reconhece que deve muito à Bahia
porque aqui pode dedicar-se inteiramente a seu trabalho de pintor. Aqui
pesquisou e amadureceu a sua pintura: "Até antes de vir para a Bahia não
vivia exclusivamente da pintura. Aqui mudei meu sistema de vida. Passei a viver
de pintura. Como tinha passado por várias fases e escolas, a minha pintura
reflete um pouco de cada uma delas. Este caminho que venho percorrendo no
decorrer de minha vida profissional possibilitou o amadurecimento e o encontro
de minha individualidade e personalidade artística. Aqui tive e tenho tempo de
pesquisar. Melhorei a minha pintura tanto tecnicamente como na concepção. Hoje,
faço uma pintura que tem sido aceita, até pelos mais intransigentes."
SUA PINTURA
Seus óleos de grandes espaços e planos com
pinceladas largas identificam o seu trabalho. Nesses planos surgem figuras
diminutas, homens, mulheres e crianças. Talvez consciente ou inconscientemente
Floriano na sua simplicidade queira mostrar quanto pequeno é o homem diante do
Universo. Um graveto, uma miniatura que pode ser esmagado a qualquer hora.Além disto Floriano é um bom desenhista e exímio
ilustrador o que de certa forma lhe facilitou o uso da cor, que veio acontecer
com mais intensidade depois de sua vinda para a Bahia.Seu trabalho é tão individual que mesmo sem a sua
assinatura é perfeitamente identificado a sua autoria.
Exposições IndividuaisEm 1949 - Fortaleza CE -
Individual, na Sociedade Pró-Arte; 1964 - Salvador BA
-Individual, no MAM/BA; 1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Convivium; 1966
- São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia ;1967 - Rio de
Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino ;1969 - Fortaleza CE -
Individual, no Museu de Arte da UFCE ; 1971 - São Paulo SP -
Individual, na Galeria Bonfiglioli ;1975 - São Paulo SP -
Individual, em A Galeria ; 1976 - Salvador BA - Individual, na
Tempo Galeria de Arte ; 1979 - Salvador BA - Individual, na Kátia
Galeria de Arte ;1982 - Estoril (Portugal) - Individual, na
Galeria de Arte do Cassino Estoril; 1983 - Fortaleza CE - Individual, na
BIC; 1984 - Salvador BA - Individual, na Galeria Época; 1985
- Salvador BA - O Desenho e os Desenhos de Floriano Teixeira, no Núcleo de Arte
do Desenbanco .
Exposições Coletivas

Em 1941 - São
Luís MA - 1º Salão de Dezembro - 1º prêmio;1942 - São Luís MA - 2º Salão de
Dezembro;1948 - Fortaleza CE - 4º Salão de Abril ; 1949 - São
Luís MA - 1º Salão Interestadual; 1950 - Fortaleza CE - 6º Salão
de Abril; 1952 - Fortaleza CE - 1º Salão dos Independentes ;
Fortaleza CE - 8º Salão de Abril - 1º prêmio; 1953 - Fortaleza CE - 2º
Salão dos Independentes; 1953 - Fortaleza CE - 9º Salão de Abril
- 1º prêmio ;1954 - Fortaleza CE - 3º Salão dos Independentes ;
1956 - Fortaleza CE - 12º Salão de Abril ;1957 - Fortaleza CE - 13º
Salão de Abril - 1º prêmio ;1962 - Fortaleza CE - Exposição
inaugural do Museu de Arte da UFCE ; 1963 - Salvador BA - Seis
Artistas Cearenses, no MAM/BA ; 1966 - Salvador BA - 1ª Bienal
Nacional de Artes Plásticas - grande prêmio; 1969 - São Paulo SP
- 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP; 1970 -
Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Marte 21 ; 1973 -
Brasília DF - Coletiva, na Galeria Múltipla ; 1974 - São Paulo SP
- 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP ; 1975 - Rio de
Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Ágora;1976 - São Paulo
SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP;1980 -
Estoril (Portugal) - Coletiva, na Galeria de Arte do Cassino Estoril; São Paulo
SP - Coletiva de inauguração da Galeria Grossman ; 1982 -
Salvador BA - A Arte Brasileira da Coleção Odorico Tavares, no Museu Carlos
Costa Pinto; Salvador BA - Artistas Baianos, na Galeria de Arte Alberto
Bonfiglioli ; Salvador BA - O Espaço da Cultura, na Galeria de Arte Alberto
Bonfiglioli ; Aracaju SE - Artistas Baianos, na J. Inácio Galeria de Arten;
1985 - Fortaleza CE – Aldemir Martins , Floriano Teixeira, Pietrina Checcacci Sérgio Lima e Sérvulo Esmeraldo, na Galeria Ignez Fiuza ;1986
- Brasília DF - Baianos em Brasília, na Casa da Manchete; 1987 -
Salvador BA - Doze Artistas Brasileiros, na Anarte Galeria; Salvador BA -
Pinturas Recentes, no Escritório de Arte da Bahia ;1988 -
Salvador BA - Os Ilustradores de Jorge Amado, na Fundação Casa de Jorge Amado ;1990
- Fortaleza CE - Artistas da Casa: Floriano Teixeira, Aldemir Martins, Roberto Galvão, Sérgio
Lima, José Guedes e José Mesquita, na Galeria Ignez Fiuza; 1991 -
Fortaleza CE - Scap: 50 anos, no Imperial Othon Palace Hotel ;1992
- Salvador BA – Aldemir
Martins e Floriano Teixeira: Desenhos, na Atrivm Galeria de Arte ;1997
- Salvador BA - Um Brinde ao Café, no Espaço Cafelier; 1999 -
Curitiba PR - Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba.
Solar do Barão; Rio de Janeiro RJ - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu
Histórico da Cidade do Rio de Janeiro; Salvador BA - 100 Artistas Plásticos da
Bahia, no Museu de Arte Sacra; Salvador BA - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no
MAM/BA; São Paulo SP - Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Artes
Unicid.