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sábado, 25 de janeiro de 2025

JUDITE PIMENTEL QUANDO A ARTE SUPERA TRAGÉDIAS

Judite pintando em
Porto do Mato, interior
de Sergipe.
A artista Judite Pimentel é muito prestigiada e premiada  nos meios artísticos e intelectuais, porém não é muito conhecida do grande público. Ela já expôs na sede da ONU, em Nova Iorque,  bienais  e tem obras em importantes coleções particulares. Sua produção é inspirada nos grandes mestres da pintura do período dos séculos V a XV  a exemplo  de Hieronymus Bosch, dentre outros. Na conversa que tivemos ao telefone revelou a sua preferência em pintar rostos. Ao observar suas obras sentimos uma sensação de tristeza, sofrimento, loucura, crueldade e noutras certa ternura, suavidade. Sua vida é marcada por dificuldades e certamente o que vivenciou e ainda vivencia se reflete nesta sua forma de se expressar através da arte. Em 2020 ela    expôs no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, em Salvador, intitulada “L’Amour Fou!” - traduzindo Amor Louco - considera que foi a mais importante que fez até agora. Foram trinta e seis pinturas, dez peças de instalação e um vídeo. Ela selecionou em três séries: Mania de Explicação, inspirada no livro de Adriana Falcão; Velha Infância, com representação de bonecas antigas de 
Judite estampa no rosto
um pouco de alegria.
louça; Retratos. Estudou até o último ano na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia e de lá para cá vem na medida do possível se dedicando à pintura. Atualmente está enfrentando problemas de saúde e por isto não vem pintando  como gostaria. Desde que esccolheu o povoado sergipano de Porto do Mato, município de Estância, com o objetivo de descansar e viver uma vida mais simples e por ter um  custo de vida mais baixo. Desde que chegou conseguiu pintar poucas  telas. Disse que está com sua visão comprometida necessitando ser submetida a uma operação de catarata, porém antes precisa controlar a diabetes. Falou ainda que inicialmente queria ser arquiteta e chegou a fazer o vestibular, mas não conseguiu ser aprovada. Não pensava em ser pintora, porque tinha conhecimento das dificuldades desta profissão e do sofrimento que passaram os grandes mestres da pintura para ter uma sobrevivência digna. Mas, a pintura chegou e se instalou e deste dia em diante nunca conseguiu recuar. Mesmo com todas os obstáculos que já enfrentou e ainda enfrenta a guerreira Judite Pimentel está disposta a continuar a sua trajetória.

                             QUEM É

Judite trabalhando numa obra em 2017.
Seu nome de batismo é Judite Nascimento Pimentel, nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia vinte e dois de outubro de 1964.Filha de José Augusto Pimentel e Valterlina Melo Nascimento. Aprendeu as primeiras letras na Escola Municipal Edelvira de Oliveira, em Feira de Santana.Quando completou nove anos de idade seu pai veio a falecer e a família teve que se transferir para a cidade de Itanhém. Ali permaneceram durante três anos na casa dos seus avós maternos. Retornaram para Feira de Santana, e em seguida para Brasília, onde já adulta foi trabalhar como caixa numa rede de supermercados. Voltaram para Feira de Santana e depois foram morar em Itamaraju, no sul da Bahia, e lá também trabalhou. Continuou estudando e trabalhando e ao concluir o curso colegial fez vestibular em 1979 para Arquitetura, sendo aprovada na segunda opção a Escola de Belas Artes, da UFBA. Estava no último ano quando conheceu um professor de Filosofia, Luiz Izidoro que é uma pessoa envolvente, culto, estudioso e avesso à academia, contou Judite Pimentel. Ele a convenceu e outros jovens a largar as faculdades e se transferirem para o Rio de Janeiro e lá criaram um grupo de estudos que funcionava no Parque Lage. Neste curso de Filosofia conheceu 
Seis obras de Judite reunidas onde
vemos rostos que gosta de pintar.
Carlos Eduardo de Albuquerque Maranhão, conhecido por Sarda, que era um músico famoso. Depois de alguns meses de namoro resolveram morar em São Paulo. Deste relacionamento nasceu sua única filha a Júlia de uma gestação prematura de seis meses, pesando 870 gramas. O Sarda continuava com sua vida desregrada envolvido em drogas e depois do nascimento de Júlia o casamento durou apenas oito meses. Judite e a filha Júlia se mudaram para o Rio de Janeiro para a casa de Nara, a avó da menina e depois alugaram um apartamento no bairro de Humaitá. Foi nesta época que apareceram os primeiros sinais de depressão na Júlia. Após algumas tentativas e pedidos de perdão de Sarda para salvar o relacionamento tudo foi em vão. Terminou se viciando em crack e foi viver na cacrolândia, em São Paulo. Os ex-colegas do Colégio Santo Inácio conseguiram resgatá-lo da cracolândia e o internaram numa clínica de recuperação, mas ele não resistiu vindo a falecer em 2017, aos 46 anos de idade.  Hoje a Júlia está com 24 anos de idade, tem dificuldade de locomoção e sofre de problemas psiquiátricos. Este drama é contado em detalhes numa bela reportagem publicada em 2017 no jornal O Globo, pelo jornalista Caio Barreto Briso sobre a Júlia.

Mais nove obras da Judite
Pimentel que lembram pintores
na era medieval .
A artista Judite Pimentel, portanto, depois da morte do Sarda retornou
para Feira de Santana e em vez de reclamar passou a fazer quentinhas para vender. Agora está neste povoado de Porto do Mato, em Sergipe, onde abriu uma lojinha chamada de Barcarola e expõe algumas obras, de sua autoria , objetos do artesanato local e fornece café da manhã , almoço e jantar  aos turistas que por lá aparecem . Na conversa que tivemos declarou que  já está ficando cansada pela ausência de pessoas com quem possa manter uma conversa sobre outros assuntos que não aqueles rotineiros sobre os afazeres domésticos. Disse que desde criança era uma pessoa muito produtiva e até peça infantil tentava montar. “Fui companheira de minha mãe, depois que meu pai faleceu”. Lembrou que certo dia ao passar por uma loja viu um pequeno piano exposto. Chorei querendo o tal piano, mas minha mãe não tinha dinheiro pra comprar.  No Natal ela me presenteou com um pianinho de brinquedo. Estava na 5ª série primária e na escola tinha aulas de Música e rapidamente aprendi a ler partituras. No ano seguinte ganhei uma lousa e passei a fazer alguns desenhos. Em seguida minha mãe me deu um caderno de Desenho continuei desenhando rostos e castelinhos. Fiz o vestibular para Belas Artes e vim morar na Residência Feminina da UFBA, no bairro do Canela. Paralelamente estudava Inglês e depois através de uma amiga me matriculei na Aliança Francesa e aprendi um pouco do Francês. Falou que foi muito importante a sua ida para o Rio de Janeiro porque potencializou seus conhecimentos com a participação em grupos de estudos da História da Arte, Pintura e Música no Parque Lage.

Gosta de pintar rostos dos personagens
em grandes telas circulares.
 Mas, com o nascimento da Júlia em 2001 o seu foco mudou porque ela nasceu prematura e com problemas de saúde e precisando de lá para cá de sua presença durante 24 horas. Está pensando em mudar para Salvador ou  São Paulo e iniciar uma série de obras em formato de círculo. Adiantou que não é fácil encontrar telas circulares em Salvador e por isto está mais inclinada a ir morar na capital paulista. 
  Ela envolve seus rostos com chapéus, rendas, arminhos e outros adereços antigos e as cores que usa remetem às pinturas dos primeiros grandes mestres com tons suaves. Quando em 2020 expôs no Museu de Arte da Bahia declarou que a pintura nunca foi uma escolha pessoal “Ela se deu. Se algum pintor me causou dúvidas, eu diria que foram os grandes pintores, por saber que seria um caminho difícil demais, mas nunca consegui recuar. A alma humana sempre me intrigou”.

Judite em sua Barcarola .
A artista Judite Pimentel fala Inglês e Francês e tem uma formação intelectual sólida. Desde que chegou a Porto do Mato, no interior de Sergipe, vem sentindo a falta de pessoas com formação semelhante para que possa falar de Filosofia, de Pintura, Literatura e outros assuntos que lhes dão satisfação e alimentam o seu espírito. A sua lojinha  chama-se  Barcarola, inspirada no   poema do poeta chileno Pablo Neruda A Barcarola. Vejam o poema aqui traduzido porque vale a pena ler: 
 A Barcarola - “(O vento frio corre compacto como um peixe /e golpeia os talos da aveia. / Ao rés do solo vive /um movimento múltiplo e delgado. / O dia está nu. / O fulgor de novembro como uma estalactite lisa e azul decide a pompa do estio. / É verão. / E as lanças do vento interminável/ perfuram o favo do espaço amarelo:/olvido ao ver correr a música na aveia/a abóbada implacável do meio-dia. / Escuta, /mulher do sol, meu pensamento. Toca/com teus pés o tremor fugitivo do solo./ Entre a relva cresce meu rosto contra o verde,/
Pablo Neruda, poeta chileno.
através de meus olhos cruzam as espadanas/e bebo com a alma velocidade e vento.)/Mas eu, o cidadão de um tempo gasto e roído, de ruas direitas,/que vi converter-se em incêndio, em detritos, em pedras queimadas, em fogo e em pó,/e depois voltar da guerra o soldado com mortes em cima e embaixo,/e outra vez levantar a cidade infeliz colando cimento às ruínas/e janela e janela e janela e janela e janela/e outra porta outra porta outra porta outra porta outra porta/até o duro infinito moderno com seu inferno de fogo quadrado,/pois a pátria da geometria substitui a pátria do homem./ Viajante perdido, o regresso implacável, a vitória de pernas cortadas,/a derrota guardada em um cesto como uma maçã diabólica:/este século em que me pariram também, entre tantos que já não alcançaram,/que caíram, Desnos, Frederico, Miguel, companheiros/sem trégua ao meu lado no sol e na morte,/estes anos que às vezes ao cravar a bandeira e cantar com orgulho aos povos me apontaram com sanha os mesmos que eu defendi com meu canto/e quiseram atirar-me à fossa mordendo minha vida com as mesmas ferozes mandíbulas do tigre inimigo./(Os inseguros temem a integridade, golpeiam/ então minhas costas com pequenos martelos,/ 
querem assegurar o lugar que lhes toca,/porque medo e soberba sempre estiveram juntos/e suas acusações são suas únicas medalhas.)/ (Temem que a violência desintegre seus ossos/e para defender-se vestem-se de violência.)/ (Veja o testemunho mudo de depois de amanhã,/recolha os pedaços da torre calada/e quanto me tocou da crueldade inútil./
Obra de 2021 em acrílica sobre tela .
Compreenderá? Talvez. /Os tambores estarão rotos, e a buzina estridente será pó no pó./A felicidade te acompanhe,/companheiro, a felicidade, patrimônio futuro que herdarás de nosso sangue encarniçado.)/Em minha barcarola se encontram voando os pregos do ódio/ com o arroz negro que os invejosos me dão em seu prato/e devo estudar a linguagem do corvo, tocar a plumagem,/ olhar nos olhos dos insaciáveis e dos insaciados e no mesmo páramo das imundícies terrestres/arrojar as censuras de agora e as adulações de então./ Cantando entre escórias o canto reluz na taça de minha alma/e tinge com luz de amaranto o crepúsculo aziago,/eu só sustento a taça de sangue e a espada que canta na arena/e provo o sal em meus lábios, a chuva em minha língua e o fogo recebo em meus olhos,/cantando sem pressa nem pausa, coroado pelas nevascas./Porque em cima e em torno de mim se sacode como uma bandeira/longitudinal, o capítulo puro de minha geografia,/e do Taltal platinado pela camanchaca13 salobre até Ruca Diuca coberto por trepadeiras e salgueiros-chorões,/eu vou estendendo entre montes e torres calcáreas minha vertiginosa linhagem,/ sem dúvida acossado pela trêmula fragrância do trevo,/ talvez inerente produto do bosque na chuva no inverno/pelas estradas molhadas onde passou uma serpente vestida de verde, de todas as maneiras, sem ser conduzido pelas aventuras do rio com seu batalhão transparente/percorro as terras contando os pássaros, as pedras, a água,/e me retribui o Outono com tanto dinheiro amarelo /que choro de puro cantor derramando meu canto no vento."

                                                       EXPOSIÇÕES

Podemos observar que sempre
busca inspiração nas obras dos
grandes mestres da pintura.
Em  1993 – Exposição na Galeria do Aluno – Escola de Belas Artes da UFBA; 1995- Exposição Camomila, na Associação Brasil-Estados Unidos- ACBEU, Salvador Bahia;   3ª Bienal do Recôncavo em São Félix-Ba, ganhou o Prêmio de Requisição; 2001 – Exposição na Galeria da Universidade Estácio, no Rio de Janeiro; 2003/5 – Exposições na Casa dos Pescadores, em Búzios, Estado do Rio de Janeiro; 2008/9 – Exposição em Brasília na Galeria Patrícia Yunes Escritório de Arte; 2011 - Exposição na Galeria da ONU, em New York, Estados Unidos; Bienal de Cerveira, Portugal; 2011/ 2012 – Duas exposições nas Galerias Gaivota, Vila do Gaya, cidade do Porto, Portugal ; 2014 – Exposição na Galeria Mali Villas-Boas, em São Paulo; 2015/16 –; 2017 – Exposição Olhares para Matilde  - 90 Anos de Vida;  2019/2020 – Exposição L’Amour Fou ! , Museu de Arte da Bahia- MAB, Salvador-Bahia; 2023 – Exposição Coletiva Fabulações Visuais , na ACBEU, onde ela apresentou a obra Paragordas, numa tela circular de 2000.
NR -Pode haver alguma imprecisão de  data nas exposições que realizou porque a artista não tem um curriculo organizado .Tive muita dificuldade ao pesquisar para apresentar estas que publico. O número de coletivas é bem maior.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

FLORIANO TEIXEIRA E A VIDA EM MINIATURA

 


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 20 DE SETEMBRO DE 1975

 

 

Floriano Teixeira, artista plástico dos mais conceituados nasceu no Maranhão, morou muitos anos no Ceará e, atualmente está radicado em Salvador. Bahia. Homem de fácil diálogo, com tendência a cigano. Ama a terra onde trabalha mais de repente poderá trocá-la por outra. Desde 1941 que participa de mostras coletivas, tendo sido um dos fundadores do Núcleo Eliseu Visconti, em 1949. Fixou-se em Fortaleza, no Ceará onde fundou o Grupo dos Independentes, em 1952. Em 1962 figurou na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna da Universidade do Ceará, bem como na mostra de oito artistas no Ceará no Museu de Arte Moderna da Bahia, no ano seguinte. Premiado com o primeiro lugar, juntamente com Betty King, na I Bienal Nacional de Artes Plásticas que foi realizada em 1966, em Salvador. Até agora só realizou duas exposições individuais: uma na Galeria Convivium, em 1965, em Salvador, e outra na Bonino em 1967.

 

Grande ilustrador já tendo trabalhado na ilustração dos livros Dona Flor e seus
Dois Maridos e A Morte de Quincas Berro D’água (edição de luxo), de autoria de Jorge Amado e agora está ilustrando todas as obras de Graciliano Ramos que está sendo relançada mais uma vez pela editora Record.

Floriano de Araújo Teixeira, nasceu no ano de 1923, na Cidade de Caiapó, no Maranhão, e desde cedo utilizando o folclore de sua terra e outros motivos religiosos começou a dedicar-se à pintura. Utilizou também tipos populares e objetos de arte popular (naturezas mortas.) Sentiu a influência da corrente abstracionista e depois da figurativista.


                                                    O ENCONTRO

Depois desta necessária apresentação vou transcrever o encontro que tive com Floriano Teixeira, no jardim de sua casa no bairro do Rio Vermelho, recanto dos intelectuais baianos. Com seu jeito matreiro iniciou a conversa contando uma estória."Quando me arrumaram para fazer a primeira comunhão descobri que não lembrava de um só pecado cometido. Daí pedi ao padre que me confessava que fizesse as perguntas e comecei a lembrar-me de alguns pecados cometidos. Eram tantos que formavam um rosário". Assim Floriano queria que eu perguntasse o que desejava saber. Perguntei e fiquei sabendo que ele está com 52 anos de idade e que desde os 14 anos leva a pintura a sério, como uma profissão. Jamais pensou em vir morar em Salvador, mas um dia foi convidado para a inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia e aí encontrou o Obá e escritor Jorge Amado, que naquela época acabava de chegar do Rio de Janeiro para residir aqui. Conheceu através de Jorge outros pintores e fez rapidamente um círculo de amizade. O convite foi imediato. "Floriano você tem que vir morar na Bahia."

 A princípio a ideia de vir para a Bahia com uma penca de filhos, deixando no Ceará um emprego público certo era realmente uma decisão muito grande. Mas, o Obá não desistiu e começou a escrever pedindo que Floriano viesse. Jorge Amado arranjou umas trinta assinaturas de personalidades baianas e enviou um telegrama ao Reitor da Universidade do Ceará pedindo o desligamento de Floriano. Aí não teve mais jeito. Eis que chega o Floriano sozinho. Passa alguns dias na residência do Obá e começa a procurar casa para trazer a família. Veio, e veio como profissional para concorrer com os demais artistas que disputavam um mercado em nascimento.

Começou a trabalhar respirando os ares da velha Bahia. O primeiro ano foi um pouco difícil, mas no segundo em diante o trem começou a correr nos trilhos. O círculo de amizade foi aumentando e as pessoas já procuravam o artista Floriano para adquirir uma obra de arte de boa qualidade. Hoje, é um artista amadurecido, respeitado e acima de tudo integrado à paisagem e a vida baiana.

                                             MERCADO DE ARTE

Diz Floriano Teixeira que antes do grupo de Mário Cravo, Genaro de Carvalho eCarlos Bastos não existia um movimento de arte na Bahia. Depois veio o Jenner Augusto, de Sergipe e, o Carybé, da Argentina. Aí a Bahia se projetou no cenário artístico nacional. O mercado de arte começou a se desenvolver.

Quando cheguei este mercado estava dando os seus primeiros passos e até algumas galerias já surgiam. Hoje posso afirmar que o mercado existe só que é um mercado para fora. Trabalhamos e, a maioria das obras que criamos são vendidas para colecionadores de outros estados ou mesmo do estrangeiro."

Sobre a inflação de artista na Bahia Floriano tem uma posição firmada: "O homem que investe numa obra de arte ele sabe o que está fazendo. Sei que existem muitos artistas e que estão vendendo. Alguns destes artistas não tem amadurecimento ou mesmo não estão realizando um trabalho sério, mas conseguem vender e isto prejudica a qualidade."

 E continua: "Toda dona de casa ou jovem que não consegue passar no vestibular inventa que é artista e começa a usar o pincel. Usam de forma indevida. Mas não sou contra ninguém, só que recomendo a essas pessoas que estudem e levem a sério. Uma exposição só deve ser realizada quando a gente tem realmente alguma coisa para mostrar. De nada adianta exposição por exposição. Quando a gente tira um quadro do cavalete e coloca numa exposição ou mesmo numa galeria para ser comercializado fica exposto ao julgamento público. Este quadro pode ser apreciado ou não. É muito chato a pessoa criar uma coisa e os outros depreciarem, porque muitas vezes não tem valor. Eu, até o momento tenho tido sorte e meus trabalhos estão tendo boa aceitação."

                                             MELHOROU

Floriano Teixeira reconhece que deve muito à Bahia porque aqui pode dedicar-se inteiramente a seu trabalho de pintor. Aqui pesquisou e amadureceu a sua pintura: "Até antes de vir para a Bahia não vivia exclusivamente da pintura. Aqui mudei meu sistema de vida. Passei a viver de pintura. Como tinha passado por várias fases e escolas, a minha pintura reflete um pouco de cada uma delas. Este caminho que venho percorrendo no decorrer de minha vida profissional possibilitou o amadurecimento e o encontro de minha individualidade e personalidade artística. Aqui tive e tenho tempo de pesquisar. Melhorei a minha pintura tanto tecnicamente como na concepção. Hoje, faço uma pintura que tem sido aceita, até pelos mais intransigentes."

 SUA PINTURA

Seus óleos de grandes espaços e planos com pinceladas largas identificam o seu trabalho. Nesses planos surgem figuras diminutas, homens, mulheres e crianças. Talvez consciente ou inconscientemente Floriano na sua simplicidade queira mostrar quanto pequeno é o homem diante do Universo. Um graveto, uma miniatura que pode ser esmagado a qualquer hora.Além disto Floriano é um bom desenhista e exímio ilustrador o que de certa forma lhe facilitou o uso da cor, que veio acontecer com mais intensidade depois de sua vinda para a Bahia.Seu trabalho é tão individual que mesmo sem a sua assinatura é perfeitamente identificado a sua autoria.

 

 

                                            Exposições Individuais

Em 1949 - Fortaleza CE - Individual, na Sociedade Pró-Arte; 1964 - Salvador BA -Individual, no MAM/BA; 1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Convivium; 1966 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia ;1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino ;1969 - Fortaleza CE - Individual, no Museu de Arte da UFCE ; 1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Bonfiglioli ;1975 - São Paulo SP - Individual, em A Galeria ; 1976 - Salvador BA - Individual, na Tempo Galeria de Arte ; 1979 - Salvador BA - Individual, na Kátia Galeria de Arte ;1982 - Estoril (Portugal) - Individual, na Galeria de Arte do Cassino Estoril; 1983 - Fortaleza CE - Individual, na BIC; 1984 - Salvador BA - Individual, na Galeria Época; 1985 - Salvador BA - O Desenho e os Desenhos de Floriano Teixeira, no Núcleo de Arte do Desenbanco .

                                                            Exposições Coletivas

Em 1941 - São Luís MA - 1º Salão de Dezembro - 1º prêmio;1942 - São Luís MA - 2º Salão de Dezembro;1948 - Fortaleza CE - 4º Salão de Abril ; 1949 - São Luís MA - 1º Salão Interestadual; 1950 - Fortaleza CE - 6º Salão de Abril; 1952 - Fortaleza CE - 1º Salão dos Independentes ; Fortaleza CE - 8º Salão de Abril - 1º prêmio; 1953 - Fortaleza CE - 2º Salão dos Independentes; 1953 - Fortaleza CE - 9º Salão de Abril - 1º prêmio ;1954 - Fortaleza CE - 3º Salão dos Independentes ; 1956 - Fortaleza CE - 12º Salão de Abril ;1957 - Fortaleza CE - 13º Salão de Abril - 1º prêmio ;1962 - Fortaleza CE - Exposição inaugural do Museu de Arte da UFCE ; 1963 - Salvador BA - Seis Artistas Cearenses, no MAM/BA ; 1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas - grande prêmio; 1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP;  1970 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Marte 21 ; 1973 - Brasília DF - Coletiva, na Galeria Múltipla ; 1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP ; 1975 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Ágora;1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP;1980 - Estoril (Portugal) - Coletiva, na Galeria de Arte do Cassino Estoril; São Paulo SP - Coletiva de inauguração da Galeria Grossman ; 1982 - Salvador BA - A Arte Brasileira da Coleção Odorico Tavares, no Museu Carlos Costa Pinto; Salvador BA - Artistas Baianos, na Galeria de Arte Alberto Bonfiglioli ; Salvador BA - O Espaço da Cultura, na Galeria de Arte Alberto Bonfiglioli ; Aracaju SE - Artistas Baianos, na J. Inácio Galeria de Arten; 1985 - Fortaleza CE – Aldemir Martins , Floriano Teixeira, Pietrina Checcacci Sérgio Lima e Sérvulo Esmeraldo, na Galeria Ignez Fiuza ;1986 - Brasília DF - Baianos em Brasília, na Casa da Manchete; 1987 - Salvador BA - Doze Artistas Brasileiros, na Anarte Galeria; Salvador BA - Pinturas Recentes, no Escritório de Arte da Bahia ;1988 - Salvador BA - Os Ilustradores de Jorge Amado, na Fundação Casa de Jorge Amado ;1990 - Fortaleza CE - Artistas da Casa: Floriano Teixeira, Aldemir Martins, Roberto Galvão, Sérgio Lima, José Guedes e José Mesquita, na Galeria Ignez Fiuza; 1991 - Fortaleza CE - Scap: 50 anos, no Imperial Othon Palace Hotel ;1992 - Salvador BA – Aldemir Martins e Floriano Teixeira: Desenhos, na Atrivm Galeria de Arte ;1997 - Salvador BA - Um Brinde ao Café, no Espaço Cafelier; 1999 - Curitiba PR - Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba. Solar do Barão; Rio de Janeiro RJ - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro; Salvador BA - 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra; Salvador BA - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no MAM/BA; São Paulo SP - Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Artes Unicid.

 

 

 

 

sábado, 18 de janeiro de 2025

HIROSUKE KITAMURA FOTOGRAFA O REVERSO DA BAHIA

O China ao lado de Marinalva , dona do
Manila Bar,na Ladeira da Conceição.

O artista  que vou falar hoje é o japonês radicado na Bahia há cerca de trinta anos Hirosuke Kitamura, conhecido por Oske nos mundos da fotografia e dos bregas baianos por China . Ele  foi premiado em 2021 pela Fundação Cultural da Bahia com o ensaio fotográfico Atração Gravitacional, na 8ª Edição do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger. Reside no bairro da Ribeira, num conjunto residencial de classe média baixa em Salvador, e tem se dedicado a fotografar principalmente o reverso da Bahia, com uma linguagem pessoal em que as pessoas, paisagens e objetos surgem quase como elementos abstratos. Sabemos que o reverso é o lado oposto das coisas . A exemplo o feio que é o oposto do belo, e o Oske tem esta predileção em fotografar as coisas esquecidas que  a maioria das pessoas  despreza e procura se afastar. Também, ao invés de procurar fotografar durante o dia  buscando uma hora em que a luz esteja boa para dar os seus clics , como fazem normalmente os fotógrafos, ele fotografa durante a noite. Se considera  um estrangeiro na Bahia usando a fotografia para se expressar. Mesmo com tantos anos aqui ainda tem um sotaque forte de sua terra de origem onde se formou na cidade de Kyoto, em Estudos Estrangeiros. Falou que encontrou muitos paradoxos e contradições na Bahia como a miséria x pureza,  prazer x dor,   alegria x tristeza,  confiança x traição, silêncio x barulho, felicidade  x sofrimento e vida x morte nas pessoas e nos ambientes que vem fotografando. A série de doze fotografias que intitulou de Hidra foi feita na primeira década de 2000 e exposta na 1500 Gallery, em Nova York, em 2012. Depois expôs sob a curadoria do fotógrafo espanhol radicado no Rio de Janeiro,  Miguel Rio Branco, na Fauna Galeria, em São Paulo. Essas fotos são de mulheres e dos ambientes das casas de prostituição das ladeiras da Montanha e Conceição que já estavam em plena decadência. O próprio Miguel Rio Branco fez antes uma série de fotografias na zona do Maciel, no Pelourinho, em Salvador, e a  área já estava em decadência com muitos imóveis em ruínas ocupados por uma população de prostitutas, malandros e desocupados.

Mulher andando com um copo de cerveja.

Nas décadas de 60 as casas de prostituição  proliferavam no Centro Histórico de Salvador, especialmente na zona do Pelourinho, ladeiras da Montanha, Conceição, Preguiça, Gameleira e Pau da Bandeira, e na Rua 28 de Setembro, e adjacências. Hoje alguns desses locais estão dominados pelos traficantes, inclusive parte da Ladeira do Sodré e adjacência. Como um câncer o tráfico de drogas vai deteriorando o espaço urbano das cidades brasileiras com a leniência dos poderes públicos. Conheci de perto esses locais em Salvador durante a minha juventude e isto me motivou a procurar o Hirosuke Kitamura para conversar sobre como conseguiu fotografar esses ambientes, porque normalmente as pessoas eram avessas a registrar em fotografias ou filmes suas atividades consideradas ilegais pela sociedade. Perguntei-lhe ao telefone se tinha fotos recentes das ladeiras que frequentou e fotografou, e a resposta foi negativa. Hoje realmente é quase impossível transitar por lá portando uma máquina fotográfica ou mesmo um celular.

                                SUA LINGUAGEM

O China falando sobre o objeto de seu
trabalho artístico usando a fotografia
como ferramenta para se expressar.
O fotógrafo Hirosuke Kitamura  
passou parte de sua infância na Tailândia e sempre mudando de cidade porque seu pai era vendedor de motos da Honda. Disse que chegou à Bahia através de um intercâmbio cultural entre o Brasil e o Japão. Veio juntamente com mais trinta e quatro japoneses e cada um ficou numa cidade diferente. O objetivo deste intercâmbio era manter contatos com pessoas que ganhassem um salário mínimo para ver de perto como sobreviviam e absorver um pouco da cultura brasileira. Depois de um ano retornou ao Japão. Mas, esta vinda à Bahia foi suficiente para que retornasse, e depois de outras viagens para países diferentes resolveu permanecer por aqui. Casou com uma baiana, depois se divorciou e hoje está num segundo relacionamento. Aqui conheceu como todo jovem as casas de prostituição e se encantou por aquele ambiente de sombras e luzes vermelhas onde corpos fora dos padrões de beleza se exibiam aos olhos dos possíveis clientes. O que interessa a Oske como fotografia não é aquela foto perfeita onde as pessoas, objetos e paisagens aparecem com nitidez. Lembra que nessas casas tinham caixas de som onde os clientes colocavam dois cruzeiros para ouvir quatro músicas bregas de Waldick Soriano, Nelson Gonçalves, Reginaldo Rossi e de muitos outros. É esta  relação das pessoas e esses ambientes que são objetos do seu trabalho fotográfico e onde ele se sente à vontade.

Políptico com nove  fotos da série
Atração Gravitacional.
O que na realidade ele busca  são as contradições e as metáforas que podem ser construídas das imagens captadas por suas lentes. Por isto, quem não entende este jogo e essas nuances sociológicas e filosóficas vai achar suas fotos borradas, manchadas, sem nitidez ou até mal feitas. Sabemos que a metáfora é uma figura de linguagem que consiste em comparar coisas estabelecendo relações de sentido entre elas. Por exemplo, ao fotografar as mulheres de corpos sofridos, gastos pelo tempo e  uso o China capta ao fundo as paredes sujas, manchadas e rachadas. O piso dos ambientes com buracos, rachaduras os móveis velhos e também outros objetos que usavam como espelhos quebrados ou craquelados e produtos de beleza de baixa qualidade. Ele procura fazer esta relação entre o aspecto decadente dessas pessoas e com o ambiente onde vivem.

                                                        QUEM É

Vemos  díptico de fotos que serelacionam.
O fotógrafo Hirosuke Kitamura nasceu em 14 de novembro de 1967 na cidade de Osaka, no Japão. É filho de Michiro Kitamura e Massayo Kitamura,  ainda estão vivos e residem em Nara, que fica próxima à Kioto. Sempre procurando fazer relações entre as coisas o Oske ou China  disse que a cidade de Nara foi a primeira capital do Japão.  Lá tem templos e artes do século VIII e  morou o imperador de seus país. E continuou é “como Salvador que já foi a capital do Brasil." Com três meses de nascido a família se transferiu para a Tailândia onde seu pai foi exercer o cargo de representante da Honda fabricante de motocicletas. Lá permaneceram sete anos. Em seguida voltaram para a cidade de Chiba, que fica há cerca de quarenta quilômetros de Tóquio.  Se mudaram para Miyagi, que é uma bela cidade costeira no Japão. Depois retornaram para Nara quando ele já tinha 13 anos de idade e aí estudou o resto do curso colegial.   Fez a universidade em Kioto sendo diplomado em Estudos Estrangeiros, em 1989. Kioto dista de Nara cerca de uma hora a uma hora e meia de trem. Enquanto estava no colégio tinha de  ser trompetista de jazz e na universidade de ser  boxeador. . Quando estava prestes a se tornar profissional do boxe levou uma pancada no rosto e passou alguns dias no hospital onde lhe fizeram um implante no nariz. Desistiu de ser boxeador. 
Enquanto estava na universidade teve aulas de Literatura Portuguesa, mas confessa que não se interessou muito pela Literatura e nem por escritores . O que lhe atraía era a sonoridade das línguas especialmente o Português e Espanhol. Lembrou que ouviu pelo rádio a cantora Clara Nunes cantando e aquilo lhe encantou. A partir da daí ficou motivado a estudar mais o Português. Quando se inscreveu no programa de intercâmbio cultural queria escolher um local afastado de São Paulo “porque não queria ter contatos com japoneses.” Isto foi no ano de 1990 e escolheu Salvador. Aqui permaneceu  durante um ano. Recebia um salário mínimo e tinha que viver com este dinheiro para sentir as dificuldades e vivenciar como os que ganhavam este salário conseguiam sobreviver com dignidade.
Treinando boxe numa academia em 
Los Angeles, nos Estados Unidos.
 Ao término do intercâmbio retornou ao Japão. 
No Japão trabalhou na Pioneer Corporation que é uma empresa japonesa multinacional de produtos eletrônicos e de entretenimento digital, na esperança que fosse enviado para o Brasil, já que a empresa tinha escritórios em várias cidades da América Latina, inclusive em São Paulo. Porém, isto não aconteceu, e ele fez um teste para a empresa estatal Japan International Corporation Agency – JICA que é ligada ao Ministério do Exterior de seu país e ajuda os países em desenvolvimento através da implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento - ODA, apoiando o “crescimento e a estabilidade socioeconômica dos países em desenvolvimento com o objetivo de contribuir para a construção da paz e o desenvolvimento da sociedade internacional”.

Ensinando japonês na Univerdade
Estadual da Bahia- UNEB.
 Veio trabalhar com as colônias japonesas em 1994 ensinando sua língua e a cultura de sua pátria. Ficou  por três anos. Esta entidade  funciona no bairro de Brotas, em Salvador. Às vezes ia para as colônias em Mata de São João, Juazeiro e outras cidades. Também trabalha como guia turístico, ensinou japonês durante dez anos na Universidade Estadual da Bahia- UNEB. Pensou em se matricular no SENAC nos cursos de cabelereiro ou fotografia. Mas, ao conversar com sua mãe ela lhe disse que não tinha esta aptidão de lidar com coisas que exigissem muitos detalhes. Optou pela fotografia, mas não chegou a se inscrever no SENAC. Foi quando conheceu o fotógrafo e cineasta Antônio Olavo que era do IPAC e dava um curso de fotografias no bairro dos Barris. O Hirosuke Kitamura se inscreveu e ficou durante uns cinco a seis meses. Confessa por causa da dificuldade com o idioma não obteve bons resultados no curso.

Em 1995 chegou a Salvador  o fotógrafo japonês Yoshio Yuda que veio fotografar o Carnaval . Ficou como assistente dele e neste contato seu patrício lhe ensinou coisas práticas de fotografia, como escolha das lentes para cada fotografia, e “isto foi muito importante para mim. A partir daí passei a fotografar e ter preferência em em focar  coisas misteriosas. Uso baixa velocidade, muitas vezes para dar aquele aspecto de borrão ou que está desfocada procurando captar momentos diferenciados”, disse o China.  Para ele “na medida em que faz uma imagem não muito nítida dá margem às pessoas a pensar e imaginar como será aquela pessoa ou objeto que fotografou. Assim tem mais liberdade de sentir. “

                                           SUA ESTRATÉGIA

China com Rose uma de suas amigas no
  brega de Valmir,  Ladeira da Montanha.
O Hirosuke Kitamura afirmou que normalmente ia para as casas de encontros com duas máquinas fotográficas  três a quatro vezes por semana. Uma máquina usava para fotografar as pessoas que frequentavam aqueles ambientes fazendo fotos normais e até posadas para guardarem como recordação. A outra máquina era a que usava para fazer as fotos quase abstratas e que lhe interessavam como artista. Ao chegar numa daquelas casas de encontros procurava fazer contatos com a dona ou dono do local e depois de vários contatos terminava fazendo uma boa relação e assim conseguia permissão para fotografar. Algumas mulheres e frequentadores ficavam desconfiados e não deixavam. Mas, quando retornava outro dia trazendo as fotos posadas que tirou e as presenteava àquelas que não deixavam já falavam: “Eu também quero!” E assim o China ia conquistando mais e mais espaço. Foram quinze anos neste vaivém. Lembra que uma delas d. Carmem, dona de uma casa de encontros " não gostava de fotos em jornal e sempre se recusou a ser fotografada. Mesmo argumentando que as suas fotos não eram para jornais e sim para exposições a d. Carmem terminou  permitindo ser fotografada. Também o China ficava lá bebendo e se relacionando com as mulheres. Sua intenção era além de fotografar as pessoas no salão queria também fotografar nos quartos.   Ele fotografou nas ladeiras da Montanha e Conceição por se sentir mais seguro  e ficou sendo uma figura conhecida no metier.   Passou a gostar desses lugares e tem uma predileção por esses lugares esquecidos, decadentes. Lembra que nos últimos anos presenciou as mulheres dormindo no salão à espera de clientes que não mais apareciam. Ficou lá fotografando até o seu fechamento.

                                PROCESSO CRIATIVO

Foto noturna da Ladeira da Conceição,
em 2000.
O China estava focado em fazer fotografias artísticas. Foi quando conheceu Mário Cravo Neto e esteve várias vezes na casa de Mário Cravo Neto,  no bairro de Castelo Branco, em Salvador, mostrando suas fotos e discutindo aspectos técnicos. Disse “O Mariozinho gostava das fotos que eu fazia e chegou a ser curador de uma exposição que fiz aqui na Caixa Cultural”. Também quem o incentivou muito foi o fotografo espanhol radicado no Rio de Janeiro, Miguel Rio Branco.  Para ele as fotos que faz são o reverso da Bahia.

Atualmente está selecionando imagens para dar recortes e formar polípticos, juntando três ou mais fotos que se relacionam do ponto de vista da temática resultando numa linguagem metafórica. É este campo da fotografia que lhe trabalha. Disse que ao se inscrever em 2021 no concurso da Fundação Cultural Fundação Cultural da Bahia com o ensaio fotográfico Atração Gravitacional, na 8ª Edição do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger o tema foi a Atração Gravitacional. Ele selecionou várias imagens de pessoas caídas, como os moradores de rua, portanto traziam nos seus corpos o sofrimento. Daí a relação desses corpos caídos, sofridos com a lei da gravidade de Newton.

Esta foto  mostra uma mulher e a
 parede desgastada e riscada.
Num artigo recente publicado em A Tarde a professora de Fotografia da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia,  Cristina Damasceno  disse que o interesse por essas fotografias consideradas artísticas  com abordagens de temas fora dos padrões surgiu graças a John Szarkowski . Nos anos 1960, quando ele era diretor do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e criou uma galeria exclusiva de fotografia, e incentivou os fotógrafos a mostrarem seus trabalhos.Diz ela que entre os principais integrantes da chamada Escola de Boston estão Grail Tracker, Jack Pierson, Mark Morrisoe, David Armstrong, Philip Lorca Dicordia e Nan Goldin. Estes profissionais desenvolvem seus trabalhos independentes e com estilos prórpios. No Brasil temos o fotógrafo Miguel Rio Branco e o Hirosure Kitamara, dentre outros.

EXPOSIÇÕES E PRÊMIOS

INDIVIDUAIS2017 – Exposição Breu, na Doc Galeria / Biographica , em São Paulo ;2014 – Exposição Samsara, na Galeria 1500 Babilônia, Rio de Janeiro; 2012 – Exposição Hidra, na Galeria Fauna, São Paulo; Hidra na 1500 Gallery, de New York, EUA; 2008 – Exposição Morte Cerebral de Uma Cidade e Suas Lembranças , na Galeria Solar do Ferrão, Salvador, Bahia; 2004 – Exposição Material In Vita – Conjunto Caixa Cultural, Salvador, Bahia ; 2002 – Exposição Salvador Cidade Que Se Mantem Orando - no Salão da Nikon ,em Tokyo, Japão . COLETIVAS -  2023 – Exposição Nenhum Lugar Agora - No Where Now- Edifício Vera, São Paulo ; Exposição no Palacete da Artes - Ganhou Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, Salvador , Bahia ; 2021 – Exposição Terra Em Transe ,Museu Afro Brasil,

Mulher numa cama da série Hidra .

São Paulo; 2018 – Exposição Terra Em Transe , no Solar Foto Festival, Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Fortaleza Ceará; 2017 – Participação da mostra no Palacete das Artes do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger – Selecionado ; Foi  vencedor  do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, na Casa de Onze Janelas, Belém, Pará; 2016 – Participação da mostra Cabeças, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; Exposição Oculto no Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana, no Forte de Santa Maria, Salvador-Ba; Exposição Humanas Interlocuções , na Fundação Vera Chaves Barcellos, Porto Alegre, RGS; 2014 – Salão Regional de Camaçari -Bahia ; 2013 -Exposição Experiências e Extremos, na Galeria Leme, em São Paulo; 2012 – Bienal do Recôncavo  ,São Feliz-Ba- Prêmio de Aquisição ; Exposição Albatrozes No Ar – Galeria ACBEU, Salvador-Bahia; 2011- Salão Regional de Alagoinhas – Bahia; 2010 -Exposição Art San Diego, Califórnia ,EUA ; Salão Regional de Jequié, Bahia ; 2008 -Bienal do Recôncavo de São Felix, Bahia; Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFotoPoa – Porto Alegre, RGS; 2007 -Exposição Photo Espanha , Museu de Arte Contemporânea , Madrid, Espanha; Exposição MiraMe – Uma Ventana a La Fotografia Brasileña, Fototeca, Havana, Cuba; Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, FestFotoPoa, Porto Alegre,
Marinalva  dorme à espera de cliente do seu
bar, que  não apareceu.
RGS; 2006 – A Fotografia na Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; 2004 – Salão de Arte do Pará, Belém, Pará; 2003 – Exposição Destaque, Alunos das Oficinas do MAM-Ba; 2002 -Salão de Arte do Pará, Belém, Pa; Coleção Pirelli , no Museu de Arte de São Paulo, MASP, São Paulo; 2001 – 3ª Mostra – Programa Anual de Fotografia, no Centro Cultural de São Paulo, São Paulo ; Exposição na Galeria ACBEU, Salvador-Ba; 2000 -3ª Bienal de Internacional de Fotografia em Curitiba, PR; 1998 – Concurso Nacional de Fotografia de Futebol da FUJIFILM, São Paulo; 1997 -Primeiro Lugar no Concurso Bahia de Todos os Ângulos, promovido pela TV Bahia e jornal Correio da Bahia, no Shopping Barra, Salvador-Ba ; 1996 – Exposição O Olhar Oriental Sobre a Bahia, Fundação Oriental Kikuchi, Pelourinho, Salvador-Ba.