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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

FLORIANO TEIXEIRA E A VIDA EM MINIATURA

 


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 20 DE SETEMBRO DE 1975

 

 

Floriano Teixeira, artista plástico dos mais conceituados nasceu no Maranhão, morou muitos anos no Ceará e, atualmente está radicado em Salvador. Bahia. Homem de fácil diálogo, com tendência a cigano. Ama a terra onde trabalha mais de repente poderá trocá-la por outra. Desde 1941 que participa de mostras coletivas, tendo sido um dos fundadores do Núcleo Eliseu Visconti, em 1949. Fixou-se em Fortaleza, no Ceará onde fundou o Grupo dos Independentes, em 1952. Em 1962 figurou na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna da Universidade do Ceará, bem como na mostra de oito artistas no Ceará no Museu de Arte Moderna da Bahia, no ano seguinte. Premiado com o primeiro lugar, juntamente com Betty King, na I Bienal Nacional de Artes Plásticas que foi realizada em 1966, em Salvador. Até agora só realizou duas exposições individuais: uma na Galeria Convivium, em 1965, em Salvador, e outra na Bonino em 1967.

 

Grande ilustrador já tendo trabalhado na ilustração dos livros Dona Flor e seus
Dois Maridos e A Morte de Quincas Berro D’água (edição de luxo), de autoria de Jorge Amado e agora está ilustrando todas as obras de Graciliano Ramos que está sendo relançada mais uma vez pela editora Record.

Floriano de Araújo Teixeira, nasceu no ano de 1923, na Cidade de Caiapó, no Maranhão, e desde cedo utilizando o folclore de sua terra e outros motivos religiosos começou a dedicar-se à pintura. Utilizou também tipos populares e objetos de arte popular (naturezas mortas.) Sentiu a influência da corrente abstracionista e depois da figurativista.


                                                    O ENCONTRO

Depois desta necessária apresentação vou transcrever o encontro que tive com Floriano Teixeira, no jardim de sua casa no bairro do Rio Vermelho, recanto dos intelectuais baianos. Com seu jeito matreiro iniciou a conversa contando uma estória."Quando me arrumaram para fazer a primeira comunhão descobri que não lembrava de um só pecado cometido. Daí pedi ao padre que me confessava que fizesse as perguntas e comecei a lembrar-me de alguns pecados cometidos. Eram tantos que formavam um rosário". Assim Floriano queria que eu perguntasse o que desejava saber. Perguntei e fiquei sabendo que ele está com 52 anos de idade e que desde os 14 anos leva a pintura a sério, como uma profissão. Jamais pensou em vir morar em Salvador, mas um dia foi convidado para a inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia e aí encontrou o Obá e escritor Jorge Amado, que naquela época acabava de chegar do Rio de Janeiro para residir aqui. Conheceu através de Jorge outros pintores e fez rapidamente um círculo de amizade. O convite foi imediato. "Floriano você tem que vir morar na Bahia."

 A princípio a ideia de vir para a Bahia com uma penca de filhos, deixando no Ceará um emprego público certo era realmente uma decisão muito grande. Mas, o Obá não desistiu e começou a escrever pedindo que Floriano viesse. Jorge Amado arranjou umas trinta assinaturas de personalidades baianas e enviou um telegrama ao Reitor da Universidade do Ceará pedindo o desligamento de Floriano. Aí não teve mais jeito. Eis que chega o Floriano sozinho. Passa alguns dias na residência do Obá e começa a procurar casa para trazer a família. Veio, e veio como profissional para concorrer com os demais artistas que disputavam um mercado em nascimento.

Começou a trabalhar respirando os ares da velha Bahia. O primeiro ano foi um pouco difícil, mas no segundo em diante o trem começou a correr nos trilhos. O círculo de amizade foi aumentando e as pessoas já procuravam o artista Floriano para adquirir uma obra de arte de boa qualidade. Hoje, é um artista amadurecido, respeitado e acima de tudo integrado à paisagem e a vida baiana.

                                             MERCADO DE ARTE

Diz Floriano Teixeira que antes do grupo de Mário Cravo, Genaro de Carvalho eCarlos Bastos não existia um movimento de arte na Bahia. Depois veio o Jenner Augusto, de Sergipe e, o Carybé, da Argentina. Aí a Bahia se projetou no cenário artístico nacional. O mercado de arte começou a se desenvolver.

Quando cheguei este mercado estava dando os seus primeiros passos e até algumas galerias já surgiam. Hoje posso afirmar que o mercado existe só que é um mercado para fora. Trabalhamos e, a maioria das obras que criamos são vendidas para colecionadores de outros estados ou mesmo do estrangeiro."

Sobre a inflação de artista na Bahia Floriano tem uma posição firmada: "O homem que investe numa obra de arte ele sabe o que está fazendo. Sei que existem muitos artistas e que estão vendendo. Alguns destes artistas não tem amadurecimento ou mesmo não estão realizando um trabalho sério, mas conseguem vender e isto prejudica a qualidade."

 E continua: "Toda dona de casa ou jovem que não consegue passar no vestibular inventa que é artista e começa a usar o pincel. Usam de forma indevida. Mas não sou contra ninguém, só que recomendo a essas pessoas que estudem e levem a sério. Uma exposição só deve ser realizada quando a gente tem realmente alguma coisa para mostrar. De nada adianta exposição por exposição. Quando a gente tira um quadro do cavalete e coloca numa exposição ou mesmo numa galeria para ser comercializado fica exposto ao julgamento público. Este quadro pode ser apreciado ou não. É muito chato a pessoa criar uma coisa e os outros depreciarem, porque muitas vezes não tem valor. Eu, até o momento tenho tido sorte e meus trabalhos estão tendo boa aceitação."

                                             MELHOROU

Floriano Teixeira reconhece que deve muito à Bahia porque aqui pode dedicar-se inteiramente a seu trabalho de pintor. Aqui pesquisou e amadureceu a sua pintura: "Até antes de vir para a Bahia não vivia exclusivamente da pintura. Aqui mudei meu sistema de vida. Passei a viver de pintura. Como tinha passado por várias fases e escolas, a minha pintura reflete um pouco de cada uma delas. Este caminho que venho percorrendo no decorrer de minha vida profissional possibilitou o amadurecimento e o encontro de minha individualidade e personalidade artística. Aqui tive e tenho tempo de pesquisar. Melhorei a minha pintura tanto tecnicamente como na concepção. Hoje, faço uma pintura que tem sido aceita, até pelos mais intransigentes."

 SUA PINTURA

Seus óleos de grandes espaços e planos com pinceladas largas identificam o seu trabalho. Nesses planos surgem figuras diminutas, homens, mulheres e crianças. Talvez consciente ou inconscientemente Floriano na sua simplicidade queira mostrar quanto pequeno é o homem diante do Universo. Um graveto, uma miniatura que pode ser esmagado a qualquer hora.Além disto Floriano é um bom desenhista e exímio ilustrador o que de certa forma lhe facilitou o uso da cor, que veio acontecer com mais intensidade depois de sua vinda para a Bahia.Seu trabalho é tão individual que mesmo sem a sua assinatura é perfeitamente identificado a sua autoria.

 

 

                                            Exposições Individuais

Em 1949 - Fortaleza CE - Individual, na Sociedade Pró-Arte; 1964 - Salvador BA -Individual, no MAM/BA; 1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Convivium; 1966 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia ;1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino ;1969 - Fortaleza CE - Individual, no Museu de Arte da UFCE ; 1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Bonfiglioli ;1975 - São Paulo SP - Individual, em A Galeria ; 1976 - Salvador BA - Individual, na Tempo Galeria de Arte ; 1979 - Salvador BA - Individual, na Kátia Galeria de Arte ;1982 - Estoril (Portugal) - Individual, na Galeria de Arte do Cassino Estoril; 1983 - Fortaleza CE - Individual, na BIC; 1984 - Salvador BA - Individual, na Galeria Época; 1985 - Salvador BA - O Desenho e os Desenhos de Floriano Teixeira, no Núcleo de Arte do Desenbanco .

                                                            Exposições Coletivas

Em 1941 - São Luís MA - 1º Salão de Dezembro - 1º prêmio;1942 - São Luís MA - 2º Salão de Dezembro;1948 - Fortaleza CE - 4º Salão de Abril ; 1949 - São Luís MA - 1º Salão Interestadual; 1950 - Fortaleza CE - 6º Salão de Abril; 1952 - Fortaleza CE - 1º Salão dos Independentes ; Fortaleza CE - 8º Salão de Abril - 1º prêmio; 1953 - Fortaleza CE - 2º Salão dos Independentes; 1953 - Fortaleza CE - 9º Salão de Abril - 1º prêmio ;1954 - Fortaleza CE - 3º Salão dos Independentes ; 1956 - Fortaleza CE - 12º Salão de Abril ;1957 - Fortaleza CE - 13º Salão de Abril - 1º prêmio ;1962 - Fortaleza CE - Exposição inaugural do Museu de Arte da UFCE ; 1963 - Salvador BA - Seis Artistas Cearenses, no MAM/BA ; 1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas - grande prêmio; 1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP;  1970 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Marte 21 ; 1973 - Brasília DF - Coletiva, na Galeria Múltipla ; 1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP ; 1975 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Galeria Ágora;1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP;1980 - Estoril (Portugal) - Coletiva, na Galeria de Arte do Cassino Estoril; São Paulo SP - Coletiva de inauguração da Galeria Grossman ; 1982 - Salvador BA - A Arte Brasileira da Coleção Odorico Tavares, no Museu Carlos Costa Pinto; Salvador BA - Artistas Baianos, na Galeria de Arte Alberto Bonfiglioli ; Salvador BA - O Espaço da Cultura, na Galeria de Arte Alberto Bonfiglioli ; Aracaju SE - Artistas Baianos, na J. Inácio Galeria de Arten; 1985 - Fortaleza CE – Aldemir Martins , Floriano Teixeira, Pietrina Checcacci Sérgio Lima e Sérvulo Esmeraldo, na Galeria Ignez Fiuza ;1986 - Brasília DF - Baianos em Brasília, na Casa da Manchete; 1987 - Salvador BA - Doze Artistas Brasileiros, na Anarte Galeria; Salvador BA - Pinturas Recentes, no Escritório de Arte da Bahia ;1988 - Salvador BA - Os Ilustradores de Jorge Amado, na Fundação Casa de Jorge Amado ;1990 - Fortaleza CE - Artistas da Casa: Floriano Teixeira, Aldemir Martins, Roberto Galvão, Sérgio Lima, José Guedes e José Mesquita, na Galeria Ignez Fiuza; 1991 - Fortaleza CE - Scap: 50 anos, no Imperial Othon Palace Hotel ;1992 - Salvador BA – Aldemir Martins e Floriano Teixeira: Desenhos, na Atrivm Galeria de Arte ;1997 - Salvador BA - Um Brinde ao Café, no Espaço Cafelier; 1999 - Curitiba PR - Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba. Solar do Barão; Rio de Janeiro RJ - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro; Salvador BA - 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra; Salvador BA - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no MAM/BA; São Paulo SP - Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Artes Unicid.

 

 

 

 

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