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A performance da artista portuguesa na 3ª Bienal da Bahia |
Após 46 anos a Bienal da Bahia iniciou sua 3ª edição (dia 29 maio de 2014 ) marcada pela performance da artista portuguesa Luisa Mota, que em forma de um cortejo ou procissão, como querem alguns , levou 70 pessoas, divididas em dois grupos, a desfilarem do Solar do Unhão até o Passeio Público. Algumas completamente nuas e outras vestidas com um papel laminado. Evidente que as pessoas desfilando sem roupas chamaram a atenção e provocaram até protestos dispersos de espectadores pegos de surpresa.
Para uma integrante do grupo que desfilou nua sua presença ali foi uma forma de protesto, porque em sua opinião o artista não pode ficar preso a dogmas. Outro disse que esta performance serve para abrir a mente das pessoas. Entendo, que servindo de protesto ou mesmo para abrir a mente das pessoas foi a performance que carimbou esta Bienal e, assim ficará registrada para sempre.
Aprecio quando a arte sai dos espaços limitados de uma galeria e ganha as ruas e os parques para que um número maior de pessoas veja e se expresse diante do que está sendo apresentado, quer seja através uma performance ou mesmo em presença de uma escultura ou outro objeto de arte.
Acho importante que após mais de quatro décadas a Bienal da Bahia seja retomada e todos os envolvidos merecem aplausos, porque sei que o esforço foi grande para reunir todo este pessoal e colocar em prática este evento. Porém, defendo que a nossa Cidade tem carências extraordinárias e a primeira delas é a falta de um imóvel apropriado e moderno para abrigar grandes mostras de arte .Com estes R$7 milhões gastos com a Bienal poderia ter sido construído um prédio que ficaria ai por muitos e muitos anos servindo a bienais, mostras grandiosas, performances e todo tipo de manifestação artística, a exemplo do que acontece no Ibirapuera, em São Paulo e, em outras cidades.Agora mesmo a cidade de Campina Grande, na Paraíba, está edificando um prédio para um museu regional. O nosso Museu de Arte Moderna precisa de um espaço mais adequado. O prédio centenário e majestoso do Solar do Unhão é inadequado, apesar dos esforços de climatização.
Reconheço e tenho convicção que esta Bienal vem resgatar a posição da Bahia no cenário da arte nacional e mexe com a consciência e comportamento das pessoas. Ainda devemos registrar que não deixou de fora artistas que há anos vêm contribuindo com a arte baiana entre eles Juarez Paraíso e Sante Scaldaferri. É claro que não são os únicos, mas temos que entender que a limitação física e financeira são algumas determinantes quando vai se realizar um evento.Outro aspecto considerável é que retoma as duas bienais anteriores, servindo para informar aos jovens artistas ou não e, deixar registradas como essas manifestações anteriores foram mostradas em nossa Cidade.
Mas, como dizia Drummond : "No meio do caminho tinha uma pedra".Um dos convidados, o artista português Antonio Manuel recusou participar e protestou considerando que "Reencenar essa exposição é uma loucura. Estão fazendo isso sem considerar o que aconteceu naquele ano de 1968.Temo muito pela coisa".
Ele participou da 2ª Bienal da Bahia com um painel de 4 metros chamado "Repressão Outra Vez," onde enfocava a violência nas ruas entre policiais e estudantes. Seu painel desapareceu e dizem que teria sido queimado pela repressão.
Devido a este fato Antonio Manuel , que é um premiadíssimo cineasta, e atualmente mora no Rio de Janeiro, disse que a 3ª Bienal da Bahia " não respeita esse clima", referindo-se a violência da ditadura. E, acrescentou: "Eles assumem com esse nome o passivo da memória da ditadura, da violência. Estou indignado com essa história, com essa tentativa de criar algo político sem dar a mínima satisfação aos artistas. Espero que não copiem nem encenem o meu trabalho".
Os curadores têm tentado convencer com explicações, às vezes não convincentes, recolocar a memória e um deles chega a afirmar que " não é um remake " e, sim que, " queriam reencenar uma luta."
Ora, remake significa reefilmagem, reepresentação, reedição, reencenação, etc..Portanto, Antonio Manuel tem razão no seu protesto. Acrescento também que não sabemos como reagiriam a este remake de R$7 milhões os artistas participantes da 2ª Bienal , já falecidos.
Vamos aguardar a segunda etapa!
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