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sábado, 16 de julho de 2022

MORRE TATTI MORENO O ESCULTOR DOS ORIXÁS

Esta foi sua escultura móvel que causou surpresa
com a Fonte Nova completamente lotada.
Conheci o Tatti Moreno na Rua da Flórida nos anos 60 quando fui designado para fazer uma reportagem sobre um jovem escultor que tinha transformado o seu Fusca numa escultura móvel. Na realidade o Fusca virou um grande besouro  dourado e ele vestido em seu terno cor de rosa. Foi uma sensação na época, e para coroar o feito ele deu uma volta olímpica na Fonte Nova antes de começar o BA x VI.  A disputa entre os dois times estava acirrada com o estádio completamente lotado de torcedores. Daí em diante sempre tive contatos esporádicos com Tatti acompanhando suas primeiras exposições até o seu reconhecimento com um artista de sucesso. As obras públicas contribuíram em muito para que passasse a ser conhecido por todos. O conjunto de Orixás do Dique do Tororó é hoje um dos cartões postais da nossa Cidade. Os orixás foram colocados ali em em 2 de abril de 1998 graças a iniciativa do senador Antônio Carlos Magalhães, que era um incentivador das artes na Bahia. Dizem que ele levou nada menos que dezesseis anos para que seu projeto se concretizasse, e isto ocorreu quando da reforma da área do Dique do Tororó no governo de Paulo Souto. Embelezando e protegendo o local estão representados na lâmina d'água Oxalá, Xangô, Oxum, Iansã, Ogum, Iemanjá, Nanã e Logun-Edé. Na terra as esculturas de Oxóssi, Exu, Oxumarê e Ossanha.

Além de outras obras espalhadas em locais públicos, principalmente as estátuas de Jorge Amado e Zélia, no Rio Vermelho, a escultura de Mãe Stella na avenida que leva o seu nome, datada de 2019, dentre outras. Sua morte no último dia 13 deixou uma lacuna no cenário das artes na Bahia, mas descansou, já que vinha sofrendo de uma doença incurável que lhe ceifou a sua vida. Fica a lembrança do seu jeito brincalhão, do seu afeto, pois adorava abraçar as pessoas que ele gostava, e também de tomar um drink para festejar bons momentos da vida. 

Ele estudou com Mário Cravo, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e fez sua primeira exposição em 1970. No início da carreira algumas esculturas de santos, mas foi nos Orixás que passou a ser conhecido. Tenho duas dessas esculturas um Oxóssi garboso e vitorioso e uma Iemanjá que ele me presentou durante as vezes que sentamos para conversar com tranquilidade. 

Seu nome de batismo era Octávio de Castro Moreno Filho, tinha 77 anos de idade, e foi sepultado no ontem, dia 14, no Cemitério da Saudade com grande acompanhamento de amigos e admiradores de sua obra. Estava casado com Gisele Fraga e do seu primeiro casamento com Mimi Fonseca, já falecida, teve três filhos André, Gustavo e Paula Moreno. Ele também tem obras espalhadas por algumas cidades brasileiras uma no Lago Paranoá, em Brasília; nos Jardins da Estação Tucuruvi, no Metrô de São Paulo, e um Cristo Redentor de tamanho quase igual à do Rio de Janeiro que se encontra em Lima, no Peru.

Reproduzo aqui algumas das matérias que escrevi sobre Tatti Moreno, que começou grafando  seu nome artístico com apenas um t e depois passou a usar dois ts. Infelizmente, não pude ir ao seu sepultamento, mas daqui deixo minha homenagem.


OS TATTI MORENO E SEUS ORIXÁS, SANTOS E BICHOS

ARTES PLÁSTICAS - 6 DE MARÇO DE 1976 - JORNAL A TARDE - SALVADOR - BAHIA - BRASIL


JORNAL A TARDE SALVADOR TERÇA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 1983.

OS ORIXÁS DE TATTI MORENO FORAM DANÇAR EM BRASÍLIA


O escultor Tatti Moreno não poderia escolher uma época melhor para levar seus orixás para a capital federal.Quando os boatos agourentos ganham os imensos espaços do Planalto Central chegam ao Sul e ao Nordeste do país, somente a força dos Orixás pode afastar ou anular os apóstolos da desgraça.
Recentemente entrevistando um velho carranqueiro do São Francisco, ele disse que ao fazer uma carranca, que é a representação do demônio, tem o cuidado para não ser surpreendido pelo diabo. Uma crença que herdou de seus ancestrais, como também acontece com a maioria das pessoas que cultua os deuses africanos. Assim, uma simples escultura em bronze de um Orixá, ganha força de misticismo porque atrás de sua imagem, existe toda uma herança cultural religiosa e uma gama de seguidores convictos e fervorosos.
A postura dos Orixás, que foram agrupados para a fotografia da capa do catálogo, nos lembra um flagrante de um terreiro de candomblé, quando os Orixás baixam para a felicidade dos pobres mortais desta terra. É um encontro celestial entre vivos e mortos, homens e deuses que encarnam seus espíritos fazendo as pessoas cair, roda e se bater contra o solo. Uma manifestação de fé.
Portanto, mesmo que o artista esteja imune a própria relação objeto-religião, pessoas que olham suas esculturas representando os Orixás, não estão centenas e centenas de outras pessoas  que olham suas esculturas representando os Orixás.
E, utilizando latão, ele vai armando o seu mundo místico unindo os pedaços deste metal de cor dourada com pontos de solda elétrica. Um trabalho tão significativo, como dos verdadeiros artesãos que o antecederam nesta tarefa de cultuar os deuses da África negra. Seu trabalho é como a prece de um crédulo.
Com as palavras de suas orações vai alinhando pensamentos, pedidos e agradecimentos. Só que Tatti dá um sentido mais concreto, quando retorce, corta, fura e bate a folha do latão e vai juntando os pedaços, até a encarnação de seu Orixá.
São esses Orixás de latão, cobre e ferro que deixaram Salvador e voaram para Brasília, local próprio para exercer a proteção sobre este país, que mais parece um porta-aviões à deriva. Aproveitando os grandes espaços de Brasília que são tão escassos em nossa Bahia, eles vão dançar e cantar para afastar os perigos que nos rondam. A exposição será aberta no dia 21 e permanecerá até 30 de junho no Saint Paul Park Hotel.


Em 1º de dezembro de 1986 escrevi em minha Coluna Artes Visuais no Jornal A Tarde.

              IMAGENS DE  ESCULTOR TATI MORENO


O escultor Tati Moreno retocando uma peça
Depois das esculturas geométricas em grandes dimensões o escultor Tati Moreno retorna com trabalhos mais detalhados, mais singelos que são suas imagens de folhas de latão, cortadas e soldadas, apresentando doces movimentos. Isto demonstra a sua versatilidade em trabalhar com esculturas mais densas, como as de antes e agora, em trabalhos  onde o artista deixa escapar o seu lado mais detalhista, mais rico em simbologia.
Tati é um santeiro moderno. Trabalha com instrumentos movidos por energia elétrica, serras que cortam o metal, deixando no ar os sons estridentes como a anunciar a chegada de seu elenco imaginário. São martelos possantes, tesouras que rompem a folha do latão para possibilitar que brotem os detalhes de suas imagens.

 Em 14 de novembro de 1998 em minha Coluna Artes Visuais do jornal A Tarde 


OS CRISTOS DE TATI MORENO ESTÃO NA  GALERIA ÉPOCA

Depois de passar uma boa temporada venerando os orixás do candomblé, o escultor Tati Moreno resolveu voltar sua atenção para a figura do Cristo e introduzir mais um elemento como matéria-prima de sua arte, a madeira. Com esta sua nova visão plástica surgiram obras de grande significado e, também, carregadas de uma carga de religiosidade principalmente quando pensamos no mistério da cruz que o Cristianismo, durante séculos, vem pregando em suas catacumbas, igrejas e, mais recentemente, em sedes de entidades associativas dos bairros periféricos das grandes cidades.
Aí surge a dualidade entre o bem e o mal. Tema sempre tratado no decorre dos séculos e que podemos observar dos museus europeus e americanos, onde existem guardados e preservados tesouros pictóricos retratando o Cristo e cenas de sua passagem por esta terra.
São os 12 grandes cristos e 11 menores onde Tati Moreno surpreende a todos àqueles que vem acompanhando o seu trabalho. Vejo a introdução da madeira como um elemento muito positivo em sua obra e, também, o respeito a própria tradição do Cristianismo onde aprendemos que Jesus carregou uma pesada cruz em seus ombros percorrendo as ruas íngremes de Jerusalém para depois ser crucificado. Esta sua preocupação, intuitiva ou não, serva para mostrar que o mistério da cruz é um dado importante na própria formação do artista. Também nos apresenta cristos com um toque de modernidade, fugindo dos padrões estabelecidos. Tati ousou, ao voltar os seus olhos para uma temática eminentemente religiosa, forte, mística.








terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ESCULTURA E EXPOSIÇÃO LEMBRAM CENTENÁRIO DE JORGE AMADO

ESCULTURA E EXPOSIÇÃO LEMBRAM CENTENÁRIO DE JORGE AMADO

Duas homenagens  pelo centenário do escritor Jorge Amado, ocorrido no último dia 19 de dezembro, foram concretizadas pelos artistas Tatti  Moreno , com uma escultura que está numa praça do bairro do Rio Vermelho e, a exposição de Maria Adair e Eliana Kertész , no Palacete das Artes, na Graça. Homenagens mais do que merecidas, porque Jorge faz parte da Bahia , aqui criou, viveu e levou o nome da nossa terra e da nossa gente para os quatro cantos do mundo.
Tatti foi um dos artistas chegados ao escritor e ele concebeu uma escultura em tamanho natural feita de bronze e pátina esverdeada, sentado em um banco no Largo de Santana, ao lado de seu grande amor Zélia, e de Fadul , o seu cachorro de estimação da raça pug. Ele foi o último animal criado pelo casal, e morreu em abril deste ano.
Os corpos foram esculpidos por parte e depois soldados. Já o banco onde Jorge e Zélia Amado estão sentados permite que os baianos e turistas sentem para tirar fotos ou admirar a escultura.
Na escultura Jorge aparece com uma  camisa  com flores, como ele sempre gostava de se vestir. Tatti juntamente com Paloma, filha do escritor, escolheram a foto para servir de modelo. Só que ele estava de chapéu e o artista resolveu tirar o chapéu para eternizar a cabeleira farta de Jorge. Tatti conseguiu fazer em baixo relevo as flores da sua camisa colorida.
O artista ficou lisonjeado por ter sido escolhido para fazer a escultura . Revelou que tem " um carinho  guardado pelo casal, não só pelo amor e generosidade deles,mas também por serem pessoas fantásticas,que levaram o nome do Brasil para o mundo".
A escultura custou R$400 mil e foi patrocinada pela Bahiatursa,Caixa Econômica e Bahiagás e a ideia foi de Ricardo Barreto, que era na época  presidente da Associação dos Moradores do Rio Vermelho - Amarv.
Três dias depois um vândalo riscou a escultura . São atos condenáveis, mas que acontecem por falta de respeito e educação.Este pobre diabo que fez isto é digno de pena.




domingo, 27 de novembro de 2016

OBRA DE TATTI MORENO REGISTRADA EM LIVRO

Ao folhear o livro A Arte de Tatti Moreno me transportei aos anos de 1960, quando tive o primeiro contato com ele ao ser designado pela Chefia de Reportagem do jornal A Tarde para fazer uma entrevista com um jovem artista que morava no bairro da Graça e teria feito uma escultura num carro. A pauta não dava maiores detalhes sobre o feito do artista, e tão pouco do seu autor.
Quando lá cheguei, encontrei um jovem  nu da cintura para cima , cabelos encaracolados, envolvido na garagem de sua casa com suas ferramentas de trabalho e ansioso em mostrar sua última criação. Foi aí que me surge um Fusca  transformado em escultura com cara de monstro e dentes afiados, nariz projetado e olhos grandes.
Tatti foi logo falando de sua expectativa de no domingo seguinte dar uma volta triunfal na Fonte Nova, na partida entre o Bahia e Vitória, garantia de casa cheia . Lembro que a volta foi rápida e que muitos torcedores nem perceberam do que se tratava, já que o foco era a partida entre  os maiores rivais do futebol baiano.E assim, aconteceu a apoteose do seu trabalho escultórico, que  atraía a curiosidade das pessoas quando saia pelas ruas de Salvador .
O artista teve algumas dificuldades para conseguir um documento da polícia de trânsito, que relutava em dar autorização para que aquele estranho carro circulasse pelas ruas da cidade.
Os comentários variavam. Uns diziam tratar-se de  extravagância de um playboy, outros apenas que era uma coisa estranha que andava. Evidente, que naquela época não se tinha à disposição o volume de informações que temos hoje , inclusive sobre uma obra de arte, e estava no auge as extravagâncias de alguns milionários como o Baby Pignatary, Jorginho Guinle, inclusive de alguns endinheirados baianos.
No meu acervo estão dois orixás
esculpidos por Tatti. Tenho preferência
por este Oxóssi de 60 cm.



Na parte traseira  de seu carro-escultura ele instalou uma fonte luminosa que jorrava água em até 2 metros de altura; na lataria fez algumas  máscaras, parte do capô se movia mostrando os  dentes dourados, e no lugar dos faróis os olhos se movimentavam. Tinha a cor preto e  dourado .
Era na verdade uma obra de arte, onde o artista fazia seu protesto contra a massificação do consumo através do automóvel. Imagine que a insipiente indústria automobilística estava apenas começando no Brasil e já assustava o Tatti, devido ao apego que as pessoas demonstravam, já naquela época, ao automóvel. Esta escultura depois foi participar de uma exposição do Rio de Janeiro e nunca mais soube do seu paradeiro.

Nos anos seguintes, passei a me interessar mais por arte e acompanhei a trajetória de Tatti, que a cada ano ganhava prestígio, e suas esculturas passaram a ser adquiridas por colecionadores daqui e de fora do Brasil. Hoje, um escultor consagrado, o Tatti continua com seu jeitão descontraído , sempre disposto a realizar novos trabalhos, fiel à sua temática calcada na arte afro-brasileira.Já esculpiu insetos, máscaras e totens. Porém, o seu forte são os Orixás.
A propósito para sua cidade criou àquelas belas e grandes esculturas representando os Orixás que estão no Dique do Tororó, local dedicado ao culto de Oxum, a Rainha das Águas Doces . Suas esculturas são referência, e mesmo uma atração turística a mais para os que nos visitam ,e até mesmo para os baianos que passam pelo local. Todos querem fazer uma foto, que fica bonita de qualquer ângulo que você focar.
As  esculturas de Tatti Moreno ressaltaram
mais ainda a beleza natural do Dique do Tororó.
São doze Orixás , sendo que oito ficam no espelho d'água -Oxalá, Oxum, Xangô,Yemanjá,Yansã,Ogum,
Logun- Edé e Nanã, e outras quatro , na terra que são Exu, Oxumaré, Ogun-Edé e Ossanha. São esculturas com sete metros de altura , em estrutura de ferro, revestida de fibra de vidro, polietileno, para evitar ferrugem. Estão dispostas em círculo, numa formação das cerimônias do candomblé.
Ele já tem muitas esculturas em áreas públicas e privadas em várias cidades e capitais brasileiras. Recentemente, fez aquela escultura de Jorge e Zélia Amado que está no bairro do Rio Vermelho.




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