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sábado, 5 de agosto de 2023

DOIS ARTISTAS QUE TRABALHAM EM SINTONIA

Os artistas José Henrique  e Luiz Cláudio no seu
Estúdio 391, no bairro da Pituba, Salvador.
 Estive visitando o Stúdio 391 que fica localizado na Avenida Manoel Dias da Silva, no bairro da Pituba, em Salvador, onde os artistas Luiz Claudio Campos e José Henrique Barreto têm seu ateliê. É um prédio de dois pavimentos que foi todo reformado e o espaço está sendo transformado num centro cultural para realização de eventos e será construído um café bistrô. Tudo funcionará com agendamento, inclusive como eles trabalham com antiguidades e objetos de reuso a dupla de artistas têm uma relação profissional com muitos arquitetos e decoradores que ali encontram uma infinidade de objetos e obras de arte como telas, imagens, cerâmicas, porcelanas, prataria, móveis etc.  Eles informaram que têm o imóvel há mais de trinta anos, era uma casa antiga e que foi reformada e transformada em dois grandes salões   adaptados para funcionar como um estúdio e centro cultural.  O trabalho de arte desenvolvido pela dupla de artistas já é conhecido no mercado de arte baiano e no meio artístico e cultural porque eles já fizeram várias exposições, participaram de coletivas e de algumas edições da   Bienal do Recôncavo e sempre estão presentes em movimentos ligados à cultura. Trabalham juntos desde 2000, embora cada um desenvolva um estilo de pintura diferenciada. O Luiz Claudio tem uma pintura mais descontraída, contemporânea, e o José Henrique uma pintura realista, mais ligada à fotografia. Eles unem as suas habilidades diferenciadas e constroem uma arte conceitual de grande impacto visual e criativo.

Super-Sagrado : técnica mista, plotagem
sobre madeira e luz.
Diria que o trabalho que desenvolvem com muita competência e sintonia é fruto de um amadurecimento profissional e pessoal, além da cumplicidade porque às vezes no meio artístico encontramos muita manifestação do ego. Para trabalhar juntos é preciso deixar o ego de lado e dar as mãos, esquecer os caprichos, vaidades e outras posturas que costumam estar presentes entre aqueles que trabalham criando. E a dupla embora tenha formação profissional diferenciada eles se entendem e tocam a vida em harmonia. O Luiz Claudio Campos é graduado em Licenciatura de Desenho e Plástica, pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Já o José Henrique Barreto é Graduado em Medicina, pela Escola de Medicina Saúde Pública da Bahia e Mestre em Artes Visuais, pela EBA. Um é professor de arte e o outro é médico oncologista pediátrico. O que os une é a sensibilidade e o amor pela arte que escolheram para expressar seus sentimentos mais nobres. na conversa que tivemos o José Henrique disse que "trabalhamos juntos explorando a brasilidade, as relíquias e objetos variados de reuso". Eles têm realmente visões aguçadas em buscar e selecionar objetos quer seja num leilão, num brechó, numa loja de antiguidades ou até mesmo numa praia, na rua e em outros locais onde possam encontrá-los.

                                                                   AS BONECAS           

José Henrique Barreto com pinturas de sua autoria . Seu
  pai quando criança e de uma  boneca de sua coleção.
A dupla possui uma coleção de bonecas antigas feitas de massa, que é um trabalho quase artesanal as quais são utilizadas como modelos para José Henrique Barreto fotografar e trabalhar em suas pinturas realistas, e como elementos em suas instalações e outras manifestações artísticas conceituais. Eles contam que a primeira boneca da coleção foi comprada através da internet. Confesso que fui olhar na internet e constatei que realmente existe um comércio forte de bonecas de todos os tipos e devem existir muitos colecionadores por este Brasil afora. Tem bonecas que custam mais de 1 mil reais. As bonecas antigas de massa que a dupla costuma adquirir e ganhar são da década de 40. Mas, eles costumam até encontrar na praia bonecas danificadas, não tão antigas, mas que trazem marcas do tempo e do abandono que depois foram relegadas, e em outros locais, recolhem e trazem para o Stúdio 391.

Luiz Cláudio Campos ao lado de uma pintura onde mostra 
sua arte voltada para a contemporaneidade.
Antes da popularização do telefone celular as meninas ganhavam e brincavam mais com as bonecas . Surgiam muitos modelos a cada Natal. Atualmente existem bonecas que  são tão parecidas com o ser humano que nós adultos somos instados a apertar os bracinhos ou mesmo suas bochechas.  As bonecas são representações de um ser humano e segundo os estudiosos contribuem por meio do ato de brincar para o desenvolvimento emocional das crianças em relação a elas próprias e aos coleguinhas. Para a pediatra Luiza Menezes, também autora do livro “Livres brincar” e produtora de conteúdo no perfil “Infâncias fora da caixa”, brincar de boneca se relaciona com o que a criança vê ou não na sociedade. “A boneca pode ser um instrumento para gerar mais autoconfiança, porque a criança se reconhece ali. Ou, ainda, para praticar empatia ao brincar com uma boneca diferente de si”. Também existem crianças e até adultos que têm medo de bonecas que representam crianças e constitui até uma doença chamada de pedofobia que segundo o dicionário "é o medo de bonecas injustificado, irracional e persistente. É uma fobia específica pertencente à categoria de automatonofobia - medo específico causado por figuras semelhantes a humanos. Conheço duas pessoas que têm medo de palhaços, que também é uma doença e chama-se coulrofobia e que geralmente acontece com crianças de 2 a 7 anos de idade.  A dupla fez uma exposição com as bonecas e pinturas de José Henrique na Galeria Objetos do Olhar, que fica na Rua Augusta, em São Paulo, e que foi muito bem visitada e avaliada.

                                                             OS ARTISTAS

"O Santo e a Devoção", caixas 
com imagens de santos e fotos
3 x 4 dos seus devotos.
O Luís Cláudio Ferreira Campos é natural de Ilhéus, Bahia onde nasceu em 1960 e é graduado em Licenciatura em Desenho e Plástica pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em 1990, e em 1999 fez a Pós-graduação em Arte Contemporânea no Centro Nacional de Estudos de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e o mestrado em Artes Visuais pelo PPGAV/EBA/UFBA no ano de 2009, logo após adotou o nome artístico de Luiz Cláudio Campos. Já fez inúmeras curadorias de exposições de artistas e tem textos publicados. Tem obras nos acervos de alguns museus como o Museu de Arte Moderna da Bahia, no Museu Regional de Vitória da Conquista, Bahia; no Museu do Presépio, na Sagrada Família, em Salvador, no Museu de Arte Contemporânea de Senhor do Bonfim, Bahia, e em outros centros culturais. Já o José Henrique Silva Barreto, é natural de Salvador, graduou-se em 1983 na Escola de Medicina e Saúde Pública da Bahia e se especializou em Oncologia no ano de 1986 pela Sociedade de Oncologia da Bahia Ltda e pelo Hospital Martagão Gesteira, em Salvador. Também é Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto da Coletiva da Universidade Federal da Bahia. E em seguida fez o doutorado pelo PPGMS/UFBA, em 2010.  

                                                  REFERÊNCIAS

"Escapulários", de José Henrique Barreto.Ténica mista com
metal (enxadas),corda,luz e sombra, de2008.
Escrevendo sobre a exposição que a dupla de artistas  , em 2008 a crítica de arte Matilde Matos, já falecida, disse; "Nessa exposição A Voz do Povo é a Voz de Deus que o Centro Cultural dos Correios apresenta, Luiz Claúdio Campos e José Henrique Barreto unificam a pureza da fé às crendices do nosso povo , de modo irretórquível e surpreendente.Recorrendo à fotografia e montagens fotográficas , alguma intura, frases escritas e objetos de cera, lançam mão do ready-made de caixas , tampas de tonéis, enxadas, lâmpadas, santinhos diminutos, não gratuitamente, mas trabalhando com ou sobre eles, sabendo tirar efeitos inusitados da transparência das peles de carneiro, suporte da pintura que sob a luz ganha sombras admitáveis,na sala dos ex-votos. com igual desenvoltura, jogam com o vaziona pintura da cruz sem o Cristo, e o do Santo Antônio no seu nicho, e dos santos que se destacam na instalação das trezes caixas recobertas de fotos dos seus fiéis, escolhidos pela devoção."

O também crítico e artista plástico César Romero disse que "Cada artista tem seu modo particular. Dividir com o outro a experiência criativa é uma tarefa que exige cumplicidade, renúncia, observação aguda do que aproxima ou afasta, relação do abdicar e somar, tomando o produto  final obrado Self e não no Ego.  Os egóicos não partilham. Partilhar é conectar-se com o centro interno do outro, unificando emoção e razão em comunhão com o cosmo. ..... E em outros parágrafos da sua escrita diz o Cesar Romero "A confrontação entre ideias ,linguagens em efeitos de luz e sombras, resultam em instalações como O Santo ea de Promessas, Super Sagrado e as individuais Caixas de Luz ( LCC) e Escapulários (JHB). O ser humano, em sua escaladas na vida, adentra o espiritual, a transcendência e a inspiração com o divino. O Sagrado é revelação, o milagre está em cada um de nós, com as mais diferentes crenças e destinos".

                                                  EXPOSIÇÕES 

"Sala dos Milagres", de Luiz Cláudio Camtos. Técnica
mista com madeira, couro, luz e sombra, de 2008.
Participaram de vários  salões e antes do ano 2000 cada um deles realizou algumas exposições individualmente. Vejamos : 2005- “Ainda Pulsa...” - III Salão Nacional de Artes Plásticas de Curvelo, Minas Gerais (dezembro/ 2004); “O Santo e a Devoção” - 12o Salão da Bahia, Salvador, BA ; 2006 - O Dom da Vida – Salão da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Valença, BA ; 2006 -  Martírio - autos de Fé - Salão da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Valença, BA ;  2006 ; “Rogai por nós” - Salão da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Alagoinhas, BA ; 2006 - Corações - Salão da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Alagoinhas, BA ;2006 - Vox Populi, Vox Dei - VIII Bienal do Recôncavo, São Félix, BA ;2006 - Pagadores de Promessas – 13o Salão da Bahia, Salvador, BA ; 2008 -  Super-Sagrado – IX Bienal do Recôncavo, São Félix, BA ;2008 - Água Santa – IX Bienal do Recôncavo, São Félix, BA ;2010  - Larôye – X Bienal do Recôncavo, São Félix, BA ;2012 -  Coração de Vidro – XI Bienal do Recôncavo, São Félix, BA .PRÊMIOS: Em 2006  nos Salões Regionais de Artes Plásticas da Bahia / Fundação Cultural – Alagoinhas, Bahia (Prêmio Fundação cultural do Estado da Bahia). Também em 2006 na VIII Bienal do Recôncavo / Centro Cultural Dannemann – São Félix, Bahia -Prêmio Aquisição; em 2007 foi selecionado através de edital público para expor na Caixa Cultural em Salvador. Em 2008 foi Menção Especial na IX Bienal do Recôncavo / Centro Cultural Dannemann – São Félix, Bahia; em 2008 - selecionado para expor no Centro Cultural dos Correios, em Salvador e finalmente em 2015 no Museu Universitário da Arte da Universidade Federal de Uberlândia,ambos através de editais públicos.

"Cédulas", fotografia modificada com imagens de santos.
Eles mostram a relação do profano e do religioso com
o dinheiro como forma de pagamento ou agradecimento.


Suas principais exposições foram: 1. O Avesso da Pele. Museu de Arte da Bahia
– MAB, Salvador, BA, 2017; 2. Doce de Santo – Exposição processual e itinerante de um coletivo de artistas. Museu de Arte Moderna -MAM, Salvador, BA (2017); 3. Corações sem tórax ou abrigos efêmeros. Galeria B. Arte, Salvador, BA (2015); 4. Doce de Santo – Exposição processual e itinerante de um coletivo de artistas. MUnA – Universidade Federal de Uberlândia, MG (2015); 5. Coleção Matilde Matos. Palacete das Artes. Salvador, Bahia (2014); 6. 50 Anos de Arte Na Bahia. Uma homenagem à Matilde Matos - Caixa Cultural Salvador, Salvador, Bahia (2013); 7. Salvador-Paris - Galeria da Aliança Francesa, Salvador, Bahia (2013); 8. Sacres-Cöeurs – Galeria da Aliança Francesa, Salvador, Bahia (2012); 9. Mostra Internacional de Gravura Imprima, 2012 – Sobral, CE (2012); 10. Circuito das Artes / Museu Rodin - Salvador, Bahia (2012); 11. Entre Amigos – Foyer da Biblioteca Pública do Estado da Bahia,
Salvador, BA (2012); 12. X Bienal do Recôncavo / Centro Cultural Dannemann – São Félix, BA. Larôye (2010); 13. Doce de Santo – Galeria ACBEU. Salvador, Bahia (2010); 14. Rememoráveis – Museu de Arte Sacra da UFBA. Salvador, Bahia (2009); 15. IX Bienal do Recôncavo / Centro Cultural Dannemann – São Félix, BA. Super-Sagrado (2008); Água Santa (2008); 16. A Voz do Povo é a Voz de Deus – Centro Cultural Correios, Salvador, BA (2008); 17. Long Trip for Beautiful Global Village – The Korea-International Association for Pure Formative Arts. Galeria Cañizares, Salvador, BA (2008); 18. Afetos Roubados no Tempo - Fundação Espaço Cultural da Paraíba, João Pessoa, PB (2008); 19. Corredor das Artes – Instituto Goethe, Salvador, BA (2007); 20. Matéria Presente – Galeria Cañizares, Salvador, BA (2007) 21. Relíquias do Cotidiano – Caixa Cultural Salvador, Salvador, BA (2007); 22. VIII Bienal do Recôncavo, São Félix, BA. Vox Populi Vox Dei (2006); 23. Ruínas Frateli Vita – Processos Criativos. Fratelli Vita, Salvador, BA (2006); 24. 13o Salão da Bahia. Salvador, BA. Pagadores de Promessas (2006); 25. Salão Regional da FUNCEB. Alagoinhas, BA - “Rogai por nós” (2006), Corações (2006) -; 26. Salão Regional da FUNCEB. Valença, BA - O Dom da Vida (2006); Martírio – Autos de Fé (2006) ; 27. Mirabile Visu – Galeria ACBEU. Salvador, BA. (2006); 28. Afetos Roubados no Tempo – Galeria ICBA. Salvador, BA (2005); Maceió, AL (2006); Recife, PE (2006); São Paulo, SP (2006);29. 12º Salão da Bahia. Salvador, BA. O Santo e a Devoção (2005); 30. Art for Today – Galeria ACBEU. Salvador, BA (2005); 31. Corpus Solus – Galeria EBEC Pituba. Salvador, BA (2005); 32. O Mimetismo na Arte – Galeria EBEC Pituba. Salvador, BA (2005); 33. III Salão Nacional de Artes Plásticas de Curvelo. MG. Ainda Pulsa (2004); 34. Arte em Revezamento – III Etapa. Galeria EBEC, Salvador, BA (2004); 35. Mutualismo em uma produção de esculturas – Instalação Biblioteca Central do Estado da Bahia, Salvador, BA (1999); 36. Arte e Natureza – Ecodramas 98 - Galeria Cañizares – EBA - UFBA, Salvador, BA (1998); 37. Em Busca da Forma
Instalação de garrafas com imagens de santos e pinga.
Foi apresentada numa das versões da Bienal do 
Recôncavo, e causou polêmica.
 - Galeria Solar Ferrão do IPAC, Salvador, BA (1997); 38. Papel - Uma obra de Arte - Galeria ACBEU, Salvador, BA (1993); 39. Objetos de Papel Marché e Papel Artesanal - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Museu Regional de Vitória da Conquista, Vitória da (1992);  BA BA(1992); 40. Fórum Bahia na ECO 92 - Rio ECO 92, Rio de Janeiro, RJ (1992); 41. Índio Através da Arte - Galeria Cañizares – EBA/UFBA, Salvador, BA (1992); 42. Xilogravura em Papel Artesanal - Galeria do Banco do Brasil – Barra Avenida, Salvador, BA (1992).

 

 

Um comentário:

  1. Que maestria do nosso critico R. Brito, falar ao mesmo .mesmo de dois
    artistas, inusitados que se e unem de forma espetacular cada um com sua impressão digital.

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