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sábado, 17 de novembro de 2018

HOMENAGEM A LYGIA SAMPAIO NA ABI

Walter Pinheiro entregando a condecoração à Lygia
Sampaio ao lado do irmão e irmãs da artista.
Uma justa homenagem foi prestada no último dia 14, à artista Lygia Sampaio pela Diretoria da Associação Baiana de Imprensa - ABI , outorgando-lhe a Medalha Ranulpho Oliveira. O ato aconteceu no auditório da entidade que fica no 8º andar do prédio da ABI,  na Praça da Sé , em presença de toda diretoria , convidados e familiares da homenageada. A proposição foi de Ernesto Marques, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido por ela na catalogação e organização de parte do Museu da Imprensa , que tem servido de consultas e pesquisas para estudantes e estudiosos da comunicação.
Fui convidado para fazer uma saudação à Lygia Sampaio  pelo colega Luis Guilherme Tavares o que me deixou muito contente, tendo em vista que ela é a última dos modernistas em atividade em nossa Bahia, e uma das artistas mais talentosas desta geração.
Confesso que não sou de falar em solenidades, por mais simples que seja. Nunca tive problemas para dar minhas aulas, profissão que me dediquei por quase 20 anos . Mas, falar em solenidade fico um pouco desconfortável. Passei quase algumas décadas  escrevendo para jornais e revistas. No entanto,  resolvi aceitar o desafio e escrevi este pequeno texto que li na minha saudação.
Ao entregar-lhe a Medalha Ranulpho Oliveira o presidente da ABI, Walter Pinheiro, destacou o trabalho dela pela entidade, e que aquele ato era o reconhecimento e o agradecimento dos jornalistas baianos. Coube ainda ao jornalista e pesquisador Nelson Cadena tecer algumas palavras sobre a Lygia, quando ela estava catalogando documentos na ABI. Ele  comparecia quase diariamente para pesquisar, quando Lygia chamava sua atenção para ter o maior cuidado com o manuseio dos documentos.
Reynivaldo Brito , Lygia Sampaio,Walter  Pinheiro
 ( falando) , Ernesto Marques e Nelson Cadena.
Eis a minha saudação:
Ilmº sr. Presidente da Associação Baiana de Imprensa Amigo Walter Pinheiro, prezado colega Luis Guilherme Tavares
Minhas senhoras meus senhores.

"Estamos hoje aqui reunidos para homenagear uma das artistas mais talentosas destas últimas décadas em nossa Bahia. Trata-se de Lygia Sampaio, exímia desenhista, pintora, gravadora e ilustradora, que receberá a medalha Ranulpho Oliveira por proposição do colega Ernesto Marques, e acatada por unanimidade pela diretoria desta Casa. Digo que é uma homenagem merecida pelo que representa Lygia, responsável que foi pela organização e preservação de parte da  memória da imprensa baiana. Ela trabalhou nesta casa de 10 de janeiro de 1974 a 30 de setembro de 2016 realizando este inestimável trabalho que será útil para as futuras gerações que desejem pesquisar sobre a nossa imprensa. 
Informa Nelson Varon Cadena, este colombiano-baiano, que sempre está pesquisando sobre a cultura e as coisas da Bahia que coube ao então presidente  Afonso Maciel Neto a iniciativa de convidá-la para organizar o acervo doado por Maria Koch de Carvalho, filha do Lulu Parola, fundador do Jornal de Notícias. Foram catalogados documentos, artigos e edições de jornais,  inclusive, posteriormente , outros materiais doados pelas famílias de Simões Filho, Ranulpho Oliveira, Jorge Calmon e pelo historiador José Calazans.
Lembra ainda Cadena que " uma das preciosidades do museu é a coleção quase completa da Revista Única dirigida por Amado Coutinho de 1929 a 1967, além de muitas outros documentos e publicações de destaque da imprensa baiana.
Lygia é uma pessoa reservada, doce , e até mesmo recolhida demais.Sua obra pictórica merecia ser mais vista, e  estar num patamar ainda mais de destaque pela qualidade de suas pinturas, e especialmente de seus desenhos a bico de pena. Tive  oportunidade de ver recentemente muitos desses desenhos guardados em sua casa , os quais  precisam ser mostrados numa grande exposição retrospectiva para que as pessoas que gostam de arte possam apreciá-los.
Nascida em 1928 no bairro do Barbalho, frequentou a Escola Técnica Federal onde foi aluna de desenho técnico e arquitetônico  do professor Presciliano Silva, e depois vai reencontrá-lo na antiga Escola de Belas Artes, que funcionava no casarão na rua 28 de setembro, em pleno Centro Histórico. 
Lá  teve contato com outros mestres da arte baiana como  Alberto Valença,  Raimundo Aguiar, Emídio Magalhães,  João José Rescala, Jair de Figueredo Brandão,Mendonça Filho dentre outros. Ela ressalva que na Escola Técnica era só desenho técnico e arquitetônico como plantas de casas etc.Nada de desenho a mão livre,  e que na Belas Artes fazia desenhos de  nu artístico com modelo, e também paisagens, igrejas e casarões do Centro Histórico. 
Confessa ter até hoje arrependimento de não ter ouvido o seu mestre que lhe aconselhou a aprender técnicas de pintura ."Se tivesse aprendido as técnicas da pintura, inclusive como lidar com os pincéis, usar as tintas adequadamente, tudo dentro da técnica,teria me facilitado mais ainda na hora de pintar os meus quadros."  
Antes,estudou com o pintor Santa Rosa.Mas, em 1948 já estava no Curso Livre da Escola de Belas Artes,  e em 1949 passa a frequentar o ateliê que Mário Cravo Junior tinha na Ladeira da Barra, onde hoje está edificado um hotel.  Ela lembra de passagens com o grande escultor baiano, e de sua sinceridade em elogiar ou criticar os seus desenhos, feitos naquela época de aprendizado. Participou juntamente com Mário Cravo,  Jenner Augusto e Rubem Valentim do Grupo Renovador das Artes Plásticas Baianas.
Foi trabalhar na Prefeitura  e nesta época elaborou um painel para o então Departamento de Turismo, da Prefeitura de Salvador, que funcionava no Belvedere da Sé. Em 1982 vai colaborar com o Núcleo de Artes do Desenbanco ao lado de Sylvia Athayde. No ano seguinte, volta a pintar. 
Quando jovem fez muitas exposições e participou até do Salão Baiano de Artes Plásticas, onde em 1950 foi agraciada com uma Medalha ao Mérito. Mas, no decorrer de sua carreira sempre teve alguns períodos que ela ficou afastada da arte.
Ela sempre aproveita, todas às vezes que alguém vai lhe entrevistar para agradecer ao diplomata e escritor Renato Almeida que insistiu para que ela fosse fazer o Curso Livre na Escola de Belas Artes,  e a apresentou ao mestre Presciliano Silva. 
Sua última exposição foi uma retrospectiva no Museu de Arte Sacra em outubro de 2014. Ela estava com 86 anos de idade, e lá estive juntamente com o artista e galerista Leonel Mattos quando pude ver reunidas importantes obras criadas por Lygia  durante sua trajetória artística. Lembro que sentadinha  ia recebendo pacientemente quase todos os presentes que queriam lhe dar um abraço e pedir um autógrafo . Foi um sucesso de crítica e de  público.
Com seus 90 anos de idade, e ainda com a mão firme produzindo seus desenhos, Lygia Sampaio é a última dos artistas modernistas baianos ainda em atividade. 
O jornalista que vai entrevistá-la é um privilegiado. Sim, porquê neste mundo apressado e violento quando chega diante de Lygia Sampaio vivencia alguns momentos da leveza e  da graciosidade desta mulher com seus cabelinhos brancos  emanando  ternura e sabedoria. 
Quero aqui agradecer ao presidente da ABI, Walter Pinheiro, e especialmente a Luis Guilherme por ter me chamado para pronunciar estas breves palavras sobre Lygia Sampaio, a qual merece todas as homenagens. 
Muito Obrigado "

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