Ao chegar no espaço do Restaurante Saúde Brasil, na Rua Humberto de Campos, no bairro da Graça, onde estava a exposição de Gianfranco D'Andrea chamou a minha atenção a cor preta, sempre presente em todos os quadros expostos. Não é um preto que encontramos constantemente na maioria das telas e outras manifestações visuais.Não, é um preto denso, onde seu olhar é deslocado e, em seguida passa a focar outros elementos da obra.
O preto dá uma dramaticidade inquietante. Em determinado momento, notamos que tem algo bem racional, que nos transporta à pintura de Francis Bacon, especialmente uma das obras, que apresenta um homem sentado numa cadeira pisando numa mancha rósea.
Natural de Roma o pintor Gianfranco observou que sua cidade veste-se de negro para aguentar o tráfego pesado do dia a dia em suas ruas e avenidas. É o preto do asfalto betuminoso que impede a penetração das águas das chuvas no solo e a deixa escorrer pelos esgotos, que vão poluir rios e mares. Enquanto os carros passam celeremente por cima do negro asfalto trazendo conforto a seus condutores e passageiros.
Diante da sua reflexão o artista decidiu aplicar o betume negro em suas telas dando-lhe um uso mais nobre para a contemplação daqueles que tem a sensibilidade de ver e refletir.
Num dos quadros expostos senti a presença da bela e romântica Veneza. Com seu ambiente triste ao entardecer, muito bem lembrada por Charles Aznavour na canção " Come'e'Triste Venezia".
Numa viagem que fiz à Europa desembarquei em Veneza exatamente ao entardecer. Senti a tristeza cantada pelo cancioneiro armênio-francês e agora lembrada neste quadro acima.
Muitos dos quadros presentes na exposição tem uma áurea de saudade, de uma tristeza da terra que ficou para trás, além da tranquilidade que perpassa o nosso espírito.
Suas pinceladas definem os volumes sem detalhar. Suas telas fascinam também, por transportar-nos à quietude , embora estejamos numa metrópole barulhenta.
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