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O artista Anderson Santos pintando em seu ateliê de Milão, na Itália. Foto de Cecília Templenizza. |
O artista visual Anderson Santos é
desenhista, pintor e estudioso das mídias digitais. Foi membro do coletivo
internacional responsável pela publicação online da revista Boardilla onde
fazia a curadoria de arte e promovia exposições de artistas de vários países.
Atualmente é diretor artístico da Ripensarte, e também participa da Magazinno,
ambas publicações digitais. Está sempre procurando novas ferramentas nas mídias
digitais para integrar com a pintura tradicional feita a óleo sobre tela ou
outro suporte escolhido. Este encontro do contemporâneo com o tradicional lhe
proporciona uma produção diferenciada extrapolando o figurativo com a
utilização de camadas de recursos digitais, e quando decide que era aquilo que
procurava parte para pintar na tela. É exigente, organizado, e focado no que
vai realizar. Inicialmente produzia uma arte que lembrava a do pintor irlandês
Francis Bacon conhecido por suas imagens cruas, dilaceradas e perturbadoras. Porém,
hoje embora sua obra ainda esteja concentrada no corpo humano, o Anderson
Santos apresenta uma pintura que dialoga mais com o real introduzindo também na
composição elementos que são encontrados no nosso dia a dia nesta cidade
repleta de diversidades. Vejo sua pintura como uma exaltação à vida, uma
apresentação de imagens pulsantes de cores fortes, mas que também possuem
momentos de nuances de opacidade e sombras. É um exercício de criação de novas
imagens que aos mais perceptivos provoca reflexão e inquietação. Sabemos que
cada pessoa que olha uma obra de arte faz sua própria leitura dentro das
informações que acumulou durante sua existência e também depende da sua
sensibilidade. Ao apresentar essas imagens de corpos despidos eles não chocam e
também não levam o observador para o caminho do sexismo barato,
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"Um tratado tropical 3", óleo sobre tela , 2024. |
ao contrário,
os coloca numa posição de respeito e contemplação da beleza da arte feita por
Anderson Santos. Escreveu o artista na
apresentação de sua tese de mestrado que “considera o processo criativo como
uma atividade que não diz respeito somente à uma obra ou a um conjunto de
obras, mas que envolve a vida do artista, feita de caminhos, escolhas e
incertezas”. É neste caminhar que o artista vai construindo sua arte
incorporando experiências que vão se apresentando e se acumulando com o passar
do tempo. E com o seu olhar aguçado da realidade que vivenciou em sua cidade
natal e que atualmente vive na Europa ele vai edificando e sedimentando a sua arte.
A nossa conversa aconteceu no último
dia doze através de vídeo já que ele está em Milão com sua família
e divide seu tempo entre Salvador e esta cidade italiana. É casado com a
fotógrafa /antropóloga italiana Cecília Tamplenizza, e o casal tem dois filhos.
Tem uma forte ligação com Salvador, cidade onde nasceu em vinte e quatro de
fevereiro de 1973, sendo um artista negro sua arte não foge de suas raízes,
mas não fica presa ao identitarismo, porque ele tem uma visão e reflexão mais
abrangente procurando fazer uma arte contemporânea que aborde os mais variados conteúdos
temáticos. Numa entrevista que deu em 2021 a um jornal local afirmou que todo
seu imaginário “foi construído daqui a partir da luz do sol da Bahia, como ela
incide nos corpos, mas posso dar também como exemplo o grafismo das plantas que
coloquei no mural que pintei na fachada do edifício Guarabira, na Avenida
Estados Unidos, no Comércio, que me lembram aquelas que minha avó paterna me
benzia, ou as histórias que imagino ao pensar na Floresta Negra dos irmãos
Grimm”. Agora está escrevendo sua tese de doutorado que tem o título "Floresta Negra: A Remixibilidade no Encontro da Pintura a Óleo Com o Digital." E
cita Lev Manovich que escreveu em 2005 “que o processo transformativo por meio
do qual os meios e as informações que organizamos e compartilhamos podem ser
recombinados e construídos de modo a criar novas
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"Presenza 45", óleo sobre tela, de 2025. |
formas, conceitos, ideias,
mashups e serviços”. O russo Lev Manovich é crítico de cinema e professor universitário,
estabelecido nos Estados Unidos. É pesquisador na área de novas mídias, mídias
digitais, design e estudos do software. Nasceu em 1960 na Rússia e foi morar em Nova Iorque nos anos 1980, onde realizou seus estudos em cinema e
computação. Quanto a mashups é uma canção criada de combinações de duas canções
preexistentes. Portanto, o Anderson Santos ao colocar o título de sua
tese revela que utiliza o método autobiográfico como parte de sua escolha
metodológica para construí-la.
Já a sua tese de mestrado "A Vida Nua Remediações da Pintura e Afrofuturismo na Sociedade do Cansaço", ele investigou "o lugar da pintura em tempo saturado de imagens digitais, algoritmos e próteses tecnológicas da percepção tomando como núcleo a série A Vida Nua que expôs na Galeria Paulo Darzé, a qual foi desenvolvida durante a pandemia. Anderson Santos pintou sua família, pessoas do seu relacionamento, e a si próprio, e segundo escreveu "a pintura é abordada aqui não como resistência heróica, mas como insistência mínima, como gesto capaz de convocar presenças em meio à lógica da exaustão e da mercantilização das imagens. "
SUA CAMINHADA
O artista Anderson Santos nasceu no
bairro de Nazaré, em Salvador, é filho de José Pereira dos Santos e d. Eunice
Silva Santos. Depois sua família morou na Liberdade e em outros bairros da Cidade. O casal teve três filhos. Estudou no
Instituto Central Isaias Alves – ICEIA que na época era um complexo educacional
onde o aluno tinha oportunidade de praticar vários tipos de esportes, estudar
teatro e dança. Disse Anderson Santos que já encontrou o ICEIA com alguns problemas.
Sabemos que o ensino público na Bahia vem sofrendo há décadas com as más
gestões que não priorizam a educação, principalmente a básica. Ao concluir o
ginásio foi estudar na Escola Eletromecânica da Bahia onde seu pai tinha
estudado, e assim quis que ele seguisse uma carreira técnica. O pai é
desenhista técnico e já trabalhou em várias empresas importantes na área da
construção civil e industrial.
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"Um tratado tropical 3", desenho sobre papel Velata Avario 300g, de 2023. |
Lembrou Anderson Santos que quando o pai percebeu seu dom para o desenho lhe presenteou com uma prancheta para que
pudesse exercitar sua habilidade de desenhista. Escolheu cursar Mecânica por
causa do desenho técnico das engrenagens, e quando foi estagiar não se adaptou. Por não ter uma compleição física capaz de movimentar motores e
outros equipamentos pesados decidiu que seria melhor procurar outra profissão,
e foi assim que em 1993 resolveu fazer vestibular para a Escola de Belas Artes,
da Universidade Federal da Bahia. Quando foi comunicar ao seu pai José Pereira
que tinha sido aprovado ele pensou inicialmente que tinha feito o vestibular
para arquitetura. A maioria dos pais fica preocupado quando os filhos decidem
estudar arte porque entendem ser muito difícil viver de arte neste país. De
certa forma eles têm razão é mesmo difícil viver de arte, especialmente no início da
carreira, e sempre digo que é bom ter um plano B, que lhes garanta uma
sobrevivência digna.
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"Sobre a vida 11",óleo e lápis sobre tela, de 2024. |
Quando lhe perguntei o que a Escola de
Belas Artes – a EBA o tinha acrescentado como artista e de pronto citou a
contribuição das professoras Maria Adair, Célia Mallet e Nanci Novais, e do
professor de gravura Francisco Macedo acrescentando "que foram muito importantes na mina formação". Graduou-se , foi morar em Milão e conta
que durante a pandemia em 2021 passou a pintar sua família e a si próprio.
Desde 2015 quando iniciou sua produção pictórica profissional não mais parou e
vem se aprofundando pesquisando e estudando as novas mídias que não cessam de
inovar a cada dia. Declarou que “não tenho predileção por uma temática. Tenho
pintado pessoas que encontro perto de mim a exemplo dos membros da minha
família, amigos e amigas principalmente no período da pandemia”. Prefere pintar
nus, e citou uma frase do escritor português José Saramago que no seu livro A
Caverna onde o personagem Marçal diz : “Na vida tudo são fardas, o corpo só é civil
verdadeiramente quando está despido”.
Neste processo de pintar as pessoas do seu relacionamento notou que elas já
estavam cansadas de serem usadas como modelos, e ele partiu para usar a
Inteligência Artificial. Pega uma imagem de
referência, que pode ser uma fotografia que ele fez ou outra imagem
escolhida e vai colocando elementos digitais até formar a imagem que deseja para em seguida pintar a óleo na tela.
Após exercitar com o pintor Devarnier Hembadoom a arte da serigrafia Anderson Santos ficou durante seis meses fazendo um trabalho social com crianças do subúrbio de Periperi, em Salvador, na sede do bloco afro Araketu. Declarou que foi uma experiência única e muito prazerosa poder passar informações para essas crianças. Também foi para Barcelona a convite do seu amigo Daniel Freire em 2007 e permaneceu sete meses com o objetivo de se inscrever para fazer um curso sobre paisagens contemporâneas .Mas, teve que retornar à Salvador para regularizar a documentação e acabou ficando em Salvador. Ao retornar de Barcelona viu uma amiga deitada nua e da janela descortinava a Baía de Todos os Santos. Foi quando teve um estalo e disse “é isto que quero pintar!” |
Mural pintado na fachada do Edifício Guarabira , na Avenida Estados Unidos, no Comércio, 2021. |
Em 2021 "por causa da pandemia foi com a família morar em Milão de maneira fixa". Porém, participou de edições do projeto Mural que é desenvolvido pela Trevo Produções. O Anderson Santos tomou conhecimento do projeto através o Instagram em 2021, em plena pandemia. Resolveu participar da seleção que inclusive remunerava os selecionados para pintar os muros na segunda edição do Projeto. A primeira edição foi nos galpões das Docas da Bahia, e esta segunda edição pela primeira vez nas grandes paredes verticais dos prédios localizados no bairro do Comércio. Ele teve a assistência do artista visual Rodrigo Weill, que tem experiência na arte de rua. Não foi uma experiência nova para Anderson Santos embora ele já tinha pintado um mural em Milão, na Itália, em 2015, mas num espaço interno de um centro social atendendo a um convite do antropólogo Andrea Staid. Infelizmente o mural foi destruído pouco tempo depois com o fechamento do espaço. O terceiro mural pintado pelo artista foi o da Rua de Cima, no bairro do Barbalho, em Salvador, em homenagem ao 2 de Julho. O Cortejo da Independência passa por esta rua.
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Anderson Santos e seus filhos pintando o mural no bairro do Barbalho. |
No ano 2024 veio com a família, alugou um imóvel no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. Disse que sempre morou com a família no bairro do Santo Antônio, passando temporadas em Milão. Era uma casa vizinha onde mora o artista americano Mark Dayves do clube da Seri. Segundo Anderson Santos ele faz parte do coletivo GIA e tem seu ateliê Candeias, na Rua dos Carvões, no bairro de Santo Antônio. No seu ateliê funciona o Clube da Seri onde ensina serigrafia para crianças, jovens e adultos. Foi quando voltou a trabalhar com serigrafia , e fez uma série de obras inspiradas nas plantas que marcaram a sua infância. O Grupo GIA se apresenta como um grupo sem definição e “é formado por artistas visuais, designers, arte-educadores e músicos que têm em comum, além da amizade, uma admiração pelas linguagens artísticas contemporâneas e sua pluralidade, mais especificamente àquelas relacionadas à arte e ao espaço público.” Dizem ainda que se inspiram na arte conceitual. . Ao lhe perguntar como as pessoas reagem quando
se vêm retratadas em suas telas falou que algumas acham que estão parecendo
mais velhas, outras mais bonitas. E algumas não gostam do resultado.” Como
estamos na era do digital é preciso que as pessoas entendam que o artista Anderson Santos não faz uma self tratada
com filtros quando está pintando. Lembrei de uma das estórias contadas
por Ariano Suassuna que disse que o grande mestre francês Henri Matisse fez uma
exposição, e ao chegar notou que um senhor estava às gargalhadas olhando uma
obra que ele tinha pintado de uma mulher com a barriga azul. Aproximou-se do
risonho e perguntou por que o senhor está rindo tanto? Foi então que o homem
respondeu da mulher com a barriga azul. Aí Matisse retrucou: Isto não é uma
mulher senhor , é um quadro!”.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
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Capa do catálogo virtual da mostra A Vida Nua,2025 ,na Paulo Darzé. |
Em 2025 – A Vida Nua –
Galeria Paulo Darzé – Salvador, Bahia-Brasil. 2023 - Floresta
Negra – Galeria Theodoro Braga – Belém, Pará- Brasil. 2020 –
Floresta Negra – Galeria Paulo Darzé – Salvador, Bahia-Brasil. 2017
– Rastros – Galeria RV Cultura e Arte – Salvador, Bahia-Brasil.COLETIVAS
Em 2025 – Quem Viaja Arrisca – Museu de Arte
Moderna da Bahia – Salvador, Bahia- Brasil. 2024 – Raízes – Museu
da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) – Salvador, Bahia-Brasil; Projeto Mural 2
de Julho – Salvador, Bahia-Brasil. 2021 – SP-Arte 2021 – Galeria
Paulo Darzé – Evento online Projeto Mural – Salvador, Bahia-Brasil. 2020
– Festival Zona Mundi – Galeria Inter-fluxos – Exposição online. 2017
- Pertencentes – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador, Bahia-Brasil ; Só
Cabeças – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador, Bahia-Brasil. 2015
– ExpoArte Italiana – Varedo- Itália • 2014 – Esposizione
Triennale di Arti Visive a Roma – Roma-Itália; Salão Regional de Camaçari –
Camaçari, Bahia- Brasil; Circuito das Artes – Museu Rodin – Salvador, Bahia-Brasil;
Catálogo Boardilla – Luiz Fernando
Landeiro Arte Contemporânea – Salvador, Bahia-Brasil ; Circuito das Artes:
Triangulações – Museu Carlos Costa Pinto – Salvador, Bahia-Brasil; 2013/2014
– A Nova Mão Afro-Brasileira – Museu Afro Brasil – São Pau-brasil; Circuito das
Artes: Triangulações – MAMAM – Recife, Pernambuco-Brasil; Circuito das Artes:
Triangulações – Museu Nacional da República –Brasília-Brasil • 2012
– Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix, Bahia-Brasil; ARTIGO
RIO – Centro de Convenções SulAmérica – Rio de Janeiro- Brasil; Paraconsistentes – ICBA – Salvador, Bahia-Brasil
• 2011 – Arte Pará – Museu Histórico do Estado do Pará – Belém, Pará-Brasil
– 2º Grande Prêmio • 2010/2011 – Bienal do Recôncavo – Centro
Cultural Dannemann – São Félix, Bahia-Brasil.