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sábado, 22 de novembro de 2025

VICENTE SAMPAIO E SUA FOTOGRAFIA CRIATIVA


O fotógrafo Vicente Sampaio ao lado da
foto de uma terra preparada para o plantio.
D
epois de quase cinquenta anos por um acaso nos reencontramos, desta vez virtualmente através das redes sociais. Trata-se do experiente fotógrafo Vicente Sampaio que viveu aqui no bairro da Boca do Rio numa casa que fazia fronteira com a do também fotógrafo hoje famoso internacionalmente Mário Cravo Neto. Naquela época eles eram jovens, com 26 e 27 anos respectivamente, e andavam juntos por esta Cidade levando no pescoço suas máquinas Nikons,  Hasselblad e Leicas  caras com àquelas lentes enormes que chamavam a atenção. Relembrou Vicente Sampaio que ia até os Alagados sozinho fotografar com duas máquinas dependuradas no pescoço e ninguém mexia com ele. Eram outros tempos! Claro que existiam ladrões, mas o número era bem menor, e quando pegos recebiam o castigo merecido. O nosso primeiro contato foi em junho de 1976 quando a dupla foi até o jornal A Tarde falar comigo sobre uma exposição que iam fazer no Museu de Arte Moderna da Bahia, a convite do então diretor, o também fotógrafo, cineasta e arquiteto Silvio Robatto.

A criança admirando uma boneca .
O meu texto foi publicado nesta coluna no jornal A Tarde em 5 de julho de 1976 com o título “Mário Cravo Neto e Vicente Sampaio com 140 fotografias no Unhão”. A exposição foi um sucesso porque as fotos eram de alta qualidade e trazia a novidade porque Mário Cravo Neto expôs algumas que foram feitas nos Estados Unidos. Eles trabalhavam juntos, iam para a praia e outros lugares diversos e dividiam o laboratório até que o Vicente Sampaio também montou o seu.  Dois excelentes profissionais unidos pela arte da fotografia. Com o tempo cada um tomou o seu destino, e o Vicente foi morar em São Paulo. O Mário Cravo Neto partiu para a eternidade em 2009 aos sessenta e dois anos de idade. Hoje Vicente Sampaio vive em Santo Antônio dos Pinhais, perto de Campos de Jordão, em São Paulo, num sítio onde vem fotografando a paisagem, a fauna e comercializa suas obras através as redes sociais. Também dá cursos de fotografias online e vai tocando sua vida com a simplicidade que sempre foi uma das marcas de sua personalidade. Casou teve três filhos que hoje trilham caminhos profissionais de sucesso.

Mas, o nosso reencontro que aconteceu virtualmente e foi possível graças a essas coincidências da vida moderna. A filha de uma sobrinha de Calazans Neto, a Eloisa Lopes, que é pianista formada pela Escola de Música, da Universidade Federal da Bahia, e atualmente professora na Pontifícia Universidade Católica de Campinas,

 O descanso do Gato.  Foto maravilhosa!
em São Paulo. Ela   viu umas fotos de Vicente Sampaio nas redes sociais, e se interessou e passaram a conversar quando eles falaram da Bahia e suas experiências. Foi aí que surgiu o texto que tinha escrito em 1976 e então Vicente Sampaio me enviou uma mensagem através o Messenger. Respondi e estou aqui falando de sua arte fotográfica. Não conheço pessoalmente a pianista Eloisa Lopes, mas lembro com saudade do seu querido tio Calazans Neto, uma figura presente na arte baiana e uma das mais incríveis que conheci no mundo das artes.

                                                   TRAJETÓRIA

O fotógrafo Vicente Sampaio Neto nasceu em Pirassununga, estado de São Paulo em oito de janeiro de 1968, filho de Oswaldo Sampaio e Edith Guerra Sampaio. Antes  seus pais moravam em São João Del Rei ,em Minas Gerais , onde seu pai trabalhava com a cultura do café. Em seguida foram morar em Ribeirão Preto, também em São Paulo e Vicente Sampaio foi estudar no Grupo Escolar dr. Guimarães Júnior onde concluiu o primário. O ginásio e o colegial estudou no Colégio Estadual Otoniel Mota, o mesmo onde também estudara o presidente Washington Luís (1869-1957) que foi um advogado, historiador e político brasileiro, o 13º e último presidente da República Velha de 1926 a 1930, quando foi deposto num golpe. Antes ele foi baleado por sua amante, a marquesa italiana Elvira Vishi Maurich, em 23 de maio de 1928, no Copacabana Palace. O caso foi abafado pela versão oficial, que dizia que o presidente havia sofrido uma crise de apendicite. 

Vista parcial da Serra onde mora o fotógrafo.
Aos catorze anos Vicente Sampaio fez seu primeiro laboratório fotográfico dentro de um armário na casa de seus pais em Ribeirão preto e a fotografia continuava chamando. Pensou em estudar arquitetura, depois História, e finalmente foi para a Escola Superior de Propaganda e Marketing, a famosa ESPM, em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Foi quando em 1973 veio morar em Salvador e coincidiu que sua casa tinha um muro que fazia fronteira com a casa onde morava o Mário Cravo Neto, na Rua Heitor Dias, no bairro da Boca do Rio, que se formou de uma invasão e na época era tido como um bairro alternativo da turma da contracultura, hippies etc. Eles se conheceram e mantiveram uma amizade firme até o falecimento de Mariozinho em 2009, acometido de um câncer de pele. Cravo Neto nasceu na capital baiana em 1947, tendo começado na arte aos 18 anos. Desenvolveu trabalhos em escultura e fotografia, seguindo os passos do pai, o escultor Mario Cravo Júnior, inclusive o acompanhou quando o pai foi fazer uma residência em Berlim para estudar escultura. Participou de cinco bienais de São Paulo, entre 1971 e 1983, tendo realizado também diversas mostras de fotografia na Europa e nos Estados Unidos. Neto teve o prazer ainda de ter colaborado com as revistas "Popular Photography" e "Câmera 35".

Duas aves nos galhos de uma araucária.
Aqui Vicente e Mariozinho dividiram o estúdio de fotografia até Vicente montar o seu. Iam para a praia de Armação e da Boca do Rio e sempre o assunto principal das conversas era as fotografias. Após Maiorzinho sofrer um acidente grave, que o levou ao leito do Hospital Português, onde o visitei e fiz uma entrevista que era disponível aqui nesta coluna ele mudou o seu modo de trabalhar criando um fundo infinito porque o acidente limitou um pouco seus movimentos. Em 1975, sofreu um acidente automobilístico e interrompeu sua atividade profissional por um ano. Posteriormente, dedicou-se à fotografia de estúdio, criou instalações e desenvolveu trabalhos fotográficos com temática ligada ao candomblé e à religiosidade católica. E foi este fundo infinito que lhe fez ser conhecido internacionalmente além da qualidade de suas fotografias. A propósito Vicente Sampaio contou que numa das visitas que fez no Hospital Português o Mariozinho estava no leito do hospital pediu que seu amigo arranjasse uma escada para fazer uma fotografia do alto pegando o corpo dele inteiro com as penas engessadas em forma de um A. Vicente desconversou e conta isto rindo, que mesmo naquele estado de saúde o amigo só pensava em fotografia. O Vicente Sampaio escreveu um texto para o Instituto Moreira Salles, que tem o maior acervo fotográfico deste país, inclusive lá está o acervo de Mariozinho. Vejam três parágrafos do texto:

Mário Cravo Neto pela lente do seu amigo 
Vicente Sampaio, em 1973.
“Conheci Mario Cravo Neto  (1947-2009) em 1973, num evento organizado em São Paulo pela empresa de turismo da Bahia. Mariozinho tinha criado um mega audiovisual sobre a Boa Terra, uma projeção com oito projetores em sincronia, um espetáculo de sensibilidade à flor da pele. O tema era “Um dia na Bahia”, e obviamente se iniciava no amanhecer e ia até o crepúsculo. Uma sucessão frenética de imagens mágicas inspiradas, loucas, insanas, velozes, borradas, fora de foco e intercaladas por imagens estáticas superfocadas, possivelmente até feitas com uso do tripé, com uma trilha sonora de arrepiar. Miles Davis, quase o tempo todo. Terminava num céu azul intenso de crepúsculo com lua crescente e estrelas, que ia pouco a pouco se tornando amarelo, laranja, róseo e por fim violeta, ao som daquele fantástico vocal feminino do final de Dark Side of the Moon.  O álbum mítico do Pink Floyd tinha sido lançado poucos meses antes e Mariozinho, antenado na Bahia, já se apropriara dele. Assim foi meu primeiro encontro com a fera!

Outra foto de Mariozinho de autoria de Vicente
Sampaio, durante um evento.
Menos de seis meses depois desse encontro me mudaria definitivamente para Salvador.  Dessas coincidências da vida que não se explica, fiquei numa casa que era praticamente vizinha à de Mario, na Boca do Rio, um bairro bem popular da cidade que atraía também muita gente alternativa do Brasil e do mundo. A casa do Mariozinho atravessava toda a quadra e tinha, nos fundos, seu ateliê e seu estúdio, com um enorme portão que dava para a minha rua, quase em frente à minha casa; menos de 30 metros havia do portão dele ao meu. Minha casa ficava sobre a duna que dava para o antigo Aeroclube da Bahia e, galgando-a, se descortinava o mar da Praia da Armação. A rua que separava minha casa da dele era de areia, sem pavimentação, e em pouco tempo se formou um caminho nessa areia, uma trilha bem visível ligando portão a portão, escavada pelo constante ir e vir nas madrugadas adentro. Muita música, papos, discussões intermináveis sobre fotografia e tudo mais. Comecei a usar o laboratório dele por algum tempo até montar o meu, ele os chamava de “nossas naves”, e de fato tinha tudo a ver, porque o tempo/espaço dentro delas era outro e a navegação quase constante.

Vicente Sampaio e Mário Cravo Neto no 
corredor de  hotel na cidade de Carnaíba, BA.
Tinha acabado de completar 26 anos e ele faria 27 dali a alguns meses. Com essa idade a gente estava ainda aprendendo, ele tinha feito pouquíssimas exposições de fotografia, mas várias de artes plásticas - escultura, que na época era a sua atividade predominante. Nos tornamos uma espécie de irmãos em armas (as câmeras), e naquela parceria de darkroom a darkroom iniciamos uma competição, um desafio saudável para ver quem conseguiria extrair o máximo de qualidade de um papel fotográfico nacional da Kodak, o mais banal, um brilhante de peso simples, tão fino que quando secava se enrolava todo e ficava parecendo um canudo. Usávamos para secá-lo uma esmaltadeira enorme que Mario havia trazido de Nova York em 1968, uma carcaça de metal com resistências elétricas dentro, e uma lona de algodão sob forte pressão que abraçava a cópia voltada com a emulsão para baixo, colada com água numa placa belíssima de aço com um tratamento químico que a deixava como um espelho perfeito e flexível. Antes de pressionar a cópia se tirava o excesso de água com um rolo de borracha. Era uma traquitana que espantaria um jovem de hoje nascido na era digital.” Estas duas fotos feitas por Vicente Sampaio de Mário Cravo Neto, o Mariozinho como era chamado, integram o texto que ele escreveu para o Instituto Moreira Salles..."

                                                    ATUALMENTE

Esta foto ele fez no Pelourinho nos anos 70.
Uma pintura!
O fotógrafo Vicente Sampaio vive num sítio de uns quatro hectares que alugou em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo. É um município de montanhas, na região da Serra da Mantiqueira, e tem temperaturas baixas. A propósito enquanto conversávamos por voltas das 11;30 da manhã, da ida 18 pp, perguntei quanto estava a temperatura ambiente e ele respondeu “por volta de 19 graus”. Ele foi parar neste local depois de fazer uma pesquisa e constatar que era o município menos violento no estado de São Paulo. Como tinha feito um curso de montanhismo achou que seria aprazível morar por lá. Alugou o sítio que tem muitas fruteiras, uma lagoa para pescar e o próximo vizinho está a uns oitocentos metros de distância. Disse que por lá adquire a maioria os alimentos que precisa como leite, mel, queijos , legumes e verduras. Os alimentos industrializados ele compra na cidade de Santo Antônio do Pinhal. Mora sozinho e disse que não vive isolado porque está sempre fotografando e colocando nas redes sociais , inclusive comercializa suas fotos atuais e antigas através a internet.

O cair da tarde na Serra da Mantiqueira.
O fotógrafo disse que vende para várias partes do mundo a Fine Art onde ele envia as fotos em alta resolução e quem adquire manda imprimir utilizando o tecido Canvas que é muito resistente e permite uma impressão de alta qualidade ou outro suporte que desejar. Muitas de suas fotos recentes são paisagens da região, muito apropriadas para decoração de ambientes porque dá uma sensação de paz quando a observamos com mais atenção.  A "Fine Art é uma técnica de reprodução artística de alta qualidade que utiliza papéis e tecidos especiais e tintas pigmentadas em impressoras profissionais de alta resolução para garantir fidelidade de cores, detalhes e longevidadeEsse processo resulta em cópias que podem durar mais de 100 anos e é ideal para fotografias, arte digital e obras de arte que serão expostas ou vendidas. “Aqui na Bahia tem vários impressores deste tipo de arte e um dos mais conhecidos é o  Lukas Cravo, que vem a ser um dos filhos de Mário Cravo Neto, o Mariozinho, com a pintora Ângela Cunha. Eles utilizam um tecido especial que chamam de Canvas, significa tela ou lona em inglês, que é uma superfície durável, geralmente feita de algodão ou linho, utilizada para pintura artística, impressões de alta resolução e decoração. 


sábado, 15 de novembro de 2025

ESCULTOR JOSÉ IGNÁCIO MOSTRA O DESPERTAR DO FERRO

José Ignácio com  esculturas de
 pequeno porte na sua exposição
.

Foi num ambiente de contemplação e emoção que visitei a exposição Desperta, Ferro! do escultor José Ignácio que está aberta ao público no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, até o dia 21 de dezembro próximo. É um despertar da criação de  engrenagens grandiosas e estranhas  se agrupando e transformando em obras de arte que encantam, entusiasmam e nos fazem pensar sobre a capacidade criativa infinita do ser humano. São vinte e duas esculturas, algumas de tamanhos acima de dois metros que teimam em mexer com os sentimentos mais profundos, mais nobres. Parece que o título Desperta, Ferro! está lhe convocando para uma batalha de arte onde você tem a possibilidade de apreciar a beleza e a grandeza em cada obra. Diz Alana Silveira no texto que apresenta a exposição que este “era o grito catalão entoado ante as batalhas medievais que ocorriam na região do Mediterrâneo. Os combatentes riscavam as lâminas de suas espadas contra as pedras em seu chamado pela força do metal frente ao perigo”.

Ao lado de José Ignácio pude sentir que ele se emociona quando começa a falar diante de cada uma de suas obras. Tinha estado com o escultor em junho de 2024 quando estava começando a montar a sua Iemanjá, agora exposta com toda sua exuberância, feita de engrenagens, pedra e madeira. Vi seus esboços e sua busca por formas e encaixes de suas

 Iemanjá que levou mais de um ano
para ser concluída e que ele diz ter
vivido uma experiência espiritual
.
esculturas. Um verdadeiro quebra cabeças porque cada porca, cada  pedaço de ferro com suas formas variadas têm que se encaixar e combinar com a visão do artista. Daí vêm os cortes, as soldas e o descarte até que tudo funcione dentro de uma composição lógica, harmônica e que tenha beleza. Agora a vejo pronta, e de tanto trabalhar na sua criação disse que estava em seu ateliê  que fica na encosta da Gamboa de Baixo quando sentiu que uma luz muito forte iluminou a sua Iemanjá como se uma entidade estivesse ali falando com ele. José Ignácio fala de uma forma quase poética e cheio de emoção deste momento mágico que teria vivenciado. Acreditem ou não, cabe aos espiritualistas explicarem este fenômeno que afirma ter experimentado. 

O artista é uma pessoa de grande sensibilidade, arquiteto construtor e já morou em alguns países da América do Sul porque seu pai trabalhava numa multinacional e sempre estava mudando de país. Seus pais eram cubanos e segundo José Ignácio “por um acidente geográfico eu nasci no Chile.” Lembrou que muitos de seus patrícios se dizem descendentes de alemães e que normalmente não são bem humorados. Ele que chegou por aqui em 2018 sentiu-se mais confortável para viver e criar. Antes pintava, e foi na Bahia que começou a fazer suas esculturas que hoje são reconhecidas em várias partes deste país e até lá fora. É um apaixonado pela música e pela poesia dos grandes poetas cubanos, chilenos, espanhóis e outros latinos, e de quando em vez envia para seus amigos gravação de um poema ou de um pequeno texto literário. Também gosta de ler sobre a História Universal a exemplo dos feitos dos hispânicos na era medieval.

                                                           SEU MUNDO

Obra Princesa de Daomé.
Quando lhe perguntei quantas esculturas estão expostas ele passou a contar, e encontrou vinte e duas no salão.  Encontramos outra na entrada onde estão expostas as demais. Em seguida mostrou uma bala de canhão, encrustada numa escultura e noutra uma peça que parece com dois chifres de um animal, que era de uma máquina de padaria. Também vi pedaços de tubulações oriundos da indústria petroquímica, engrenagens e chapas de todos os formatos e espessuras. “Esta é a segunda linguagem do ferro, devem existir mais umas catorze”, disse imediatamente o José Ignácio ao olhar uma escultura feita com vários pedaços de grossos tubos semicirculares, que lembram pernas de um animal rastejante. Também disse ser importante colocar nomes nas esculturas, como por exemplo, o nome que deu a uma delas chamando de A Cabeça de João Evangelista. “Isto dá luz à obra, é um segundo motor”, adianta José Ignácio. 

Suas esculturas além das peças de ferro e aço que compra nos ferros velhos da Cidade ele recolheu algumas pedras na beira da praia próxima ao seu ateliê, e troncos de árvores, e todos estes elementos  incorpora nas suas obras. A gente quando olha suas  esculturas pensa no trabalho hercúleo  que o artista  teve para montar cada uma . Todas as peças estão   à mostra permitindo que observemos como foram montadas e tudo com proporcionalidade. Disse o escultor que muitas vezes durante a montagem de suas obras vai deixando algumas peças de lado, e que depois as reencontra e algumas passam a ser esculturas independentes. Agora está fazendo  esculturas menores que são mais fáceis de serem comercializadas no mercado de arte.

Obra Culhão de Boi, lembra um
animal que rasteja.
Suas esculturas lembram totens, divindades, cangaceiros, soldados medievais e bichos que rastejam. Esta sua produção escultórica permite várias interpretações em busca do entendimento das obras como se fosse um jogo lúdico libertário muito estimulante e gratificante. É impossível ficar inerte diante de uma escultura de José Ignácio sem a pessoa imaginar que não tenha alguma aparência com algo que já viu ou imaginou. Portanto, esta sua combinação de intuição pessoal e sua expertise de arquiteto construtor permite a ele criar estas esculturas maravilhosas, e nos brindar com estes momentos de encantamento prazeroso enquanto as observamos. Você está convidado a visitar a exposição de José Ignácio no MAB, e tenho certeza que sairá de lá com a sensação que viveu momentos de contemplação da força do metal e a leveza da criação. Vai vivenciar momentos mágicos entre as entidades, personagens e bichos que ele criou.


sábado, 8 de novembro de 2025

DAVID GLAT DIVIDIDO ENTRE A FOTOGRAFIA E OS BRINQUEDOS POPULARES

David em seu ambiente entre livros,
fotos, obras de arte e brinquedos
.
Durante décadas o fotógrafo carioca David Glat trilhou pelo caminho da fotografia publicitária, e a partir de 1991 passou também a trabalhar como designer gráfico, tendo realizado mais de cinquenta capas de LPs, CDs e DVDs e a partir de 2003 a se dedicar aos seus trabalhos autorais mais ligados à arte. Começou aos vinte anos de idade a colecionar brinquedos populares do Brasil e hoje tem uma vasta e importante coleção que soma mais de três mil brinquedos  produzidos por artesãos e artistas populares de várias partes do Brasil, principalmente das regiões Norte e Nordeste. Esta prevalência das duas regiões deve-se segundo diz o colecionador porque os brinquedos populares estão diretamente ligados à pobreza , condição econômica de seus usuários e criadores. O brinquedo popular surge inicialmente como uma necessidade de alguém criar um brinquedo para que as suas crianças possam brincar porque os  industrializados eram inacessíveis a esta gente que mora neste Brasil profundo. O primeiro brinquedo que comprou foi numa feira livre na cidade de Taubaté, em São Paulo. Era um carrossel feito de cerâmica, e o barro nem era cozido direito e com a força centrífuga, porque ele girava, e o tempo o carrossel  esfarelou, e não pode ser consertado. Hoje beirando aos oitenta anos de idade ele está catalogando e digitalizando todos os brinquedos, e seu sonho ainda não se realizou que é a criação de um Museu do Brinquedo Popular Brasileiro. Disse estar disposto a cooperar de todas as formas possíveis para que seu sonho se torne realidade e que seus brinquedos possam ser vistos por um maior número de crianças e adultos.  Já fez algumas tentativas, inclusive se dispondo a fazer uma doação desde que todas as peças sejam reunidas num só lugar. Portanto, está aí uma boa oportunidade dos órgãos culturais do Estado ou a Prefeitura Municipal  a assumir este papel importante de criar o Museu do Brinquedo Popular  porque o valor das peças criadas por importantes artesãos e artistas populares de vários recantos deste país são de inestimável valor cultural e artístico. Seria mais uma importante atração turística para nossa Cidade.

 David Glat  mostra Pérolas Imperfeitas. Distorce 
a imagem propositadamente com movimentos e 
velocidade do clic, criando nova imagem artística.

Ele chegou à Bahia em 1976 e lembra que era o tempo da foto perfeita que fazia através de máquinas analógicas com a técnica e  sensibilidade do fotógrafo. Os equipamentos foram ficando cada vez mais sofisticados até chegarem as máquinas digitais possibilitando  fazer fotos em velocidades cada vez maiores. Também surgiram os programas de melhoria das fotos como o Photoshop, e em seguida os celulares com câmeras que vem melhorando de qualidade a cada novo modelo. Hoje muita gente fotografa, mas continua a existir diferenças primordiais entre o profissional e os milhares de amadores que se arvoram a fotógrafos. Voltando ao David Glat ele lembrou que aqui chegando viu que nossa Cidade era uma festa. Quando chegou aqui , lembrou que tinha um restaurante  no lado direito da Rua Carlos Gomes,   que funcionava num sobrado no segundo andar e servia  uma carne de sol maravilhosa. Era o restaurante do Bio, que servia essas comidas pesadas como mocotó, sarapatel, dobradinha, maniçoba, xinxim de bofe ,dentre outras  e tinha uma carne de sol maravilhosa. Sendo um jovem de menor idade pode frequentar as boites XK, que ficava no Corredor da Vitória, o Anjo Azul, na Rua do Cabeça, e a Boite Cloc, na 
David Glat brincando com um Mamulengo da 
coleção  de 3.500 brinquedos populares.
Avenida Contorno, e também participaram de muitas festas populares. Ele veio com um primo e um amigo e ficaram por aqui uns quinze dias. Retornaram ao Rio de Janeiro, e finalmente em 1976 ele resolveu vir definitivamente. . Trabalhou muito em campanhas políticas fotografando os candidatos quer seja nas eleições majoritárias como também em outras campanhas e fez muitas fotos de indústrias, estabelecimentos comerciais, de objetos e pessoas. Já fez exposições de fotografias aqui e em outros estados e também de seus brinquedos populares, inclusive uma no Museu Afro Brasil, em São Paulo, a convite do então diretor da entidade Emanoel Araújo, qual permaneceu durante oito meses, tendo uma visitação expressiva.

                                            TRAJETÓRIA

Foto do Largo do Pelourinho feita analogicamente com  máquina rotativa de 360 º graus alterando a velocidade e fazendo movimentos controlados para
 distorcer  a imagem, resultando em pérolas fotográficas únicas.




David Glat nasceu em vinte e nove de maio de 1946 na cidade do Rio de Janeiro, filho de judeus poloneses que chegaram ao Brasil fugindo do horror da Segunda Guerra Mundial. Seu pai Lejzor Glat era comerciante de tecidos na Rua da Alfândega e sua mãe Faiga Glat, dona de casa. Disse que começou fotografando seus familiares com uma velha máquina que pertencia ao seu pai, e depois vieram os amigos, os vizinhos e terminou entrando para o mercado publicitário porque naquela época remunerava melhor os fotógrafos. “Hoje quem

Mãe Menininha com espelho, esta
foto ficou muita conhecida.
melhor remunera são as fotos de casamentos. Na minha época não eram tão valorizados. Tem umas figuras que hoje tem reconhecimento nacional”, disse David Glat. E continuou , já a fotografia publicitária você consegue fazer vários efeitos no Photoshop. Ninguém mais precisa daquela foto, por exemplo de uma garrafa de cerveja suada. Consegue tudo através de um programa no computador. Por isto que deixei a fotografia de lado, porque não mais compensa.” . Falou do  estúdio que tinha no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, antes de vir para a Bahia. Nunca trabalhou em jornais e revistas. E fez uma revelação interessante. “Cada fotógrafo sente a sua manha. Eu não tinha aquele speed de fotografar um fato,
como um acidente ou coisa que acontecesse repentinamente. Preferia ficar observando, já o fotógrafo de jornal instantaneamente ele aciona o seu equipamento. Depois eu me cobrava poderia ter feito uma foto única. Mas, nunca foi a minha praia. Minhas fotos não são instantâneas, são estudadas, a luz tem que estar dentro da técnica, é a busca da foto perfeita. Para ele "o foto-jornalista consegue estar em dois lugares ao mesmo tempo: na câmera, com sua mente (razão) e no fato com seu instinto e isso não é para qualquer um".

Fiquei no Rio de Janeiro dos vinte e um anos até os trinta trabalhando em fotografia." Sua infância foi no bairro do Estácio, morou também na Tijuca. Seus pais queriam que ele estudasse engenharia. Mas, ele resolveu fazer o curso Clássico ao invés do Científico que era para quem queria estudar engenharia ou medicina, e o clássico para quem escolhesse estudar depois as Ciências Humanas. “Já comecei contrariando meus pais. Estudava no Colégio            Israelita Brasileiro A Liessen Scholem Aleichem,

Exposição Deu a Louca nos Livros, na 22 ª
Bienal do Livro ,em São Paulo, 2012
.
 que era para judeus. Nunca fiz faculdade, mas sempre li muito, e meu interesse era pelas artes “, informou David Glat. Passei depois a fazer fotografias para indústrias metalúrgicas e moveleiras, e um dia me apareceu um cliente que era de uma distribuidora da Petrobras. Lá comecei a fazer trabalhos fotográficos para publicidade porque o pessoal da distribuidora gostou muito das minhas fotos e me recomendou a agência que atendia eles que queria que eu fizesse as fotos. Eram anúncios impressos e começou a atender outras agências, inclusive a fotografar candidatos durante o período eleitoral. Isto foi no início da década de setenta. Ai já fazia algumas viagens pelos interiores do Estados do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo, e Espírito Santo e quando viajava sempre procurar conhecer os artesões dos lugares e começou a adquirir brinquedos populares. O curioso é que o David Glat nunca brincou quando crianças com nenhum brinquedo popular. Todos que brincou eram industrializados. "Minha paixão começou pela arte popular, simples, rústicas. Mas, nas viagens conheci os brinquedos populares nas feiras livres e nos mercados do interior e fiquei encantado com o lado criativo e lúdico. Quando vim pra Bahia aí  enlouqueci porque o brinquedo popular é filho direto da pobreza. O menino precisa brincar não tem dinheiro para comprar um brinquedo industrializado e vai o pai e faz o carrinho de lata, bonecas de pano."

Quatro dos 3.500 brinquedos da coleção.
Na Bahia encontrei muitos brinquedos, mas atualmente a Bahia está mais ligada à África. E um estado muito grande e não tem muita ligação cultural com o interior. A cultura que se valoriza hoje aqui é a cultura da África e não a nordestina, do interior. Quem manda na cultura da Bahia é Salvador e o Recôncavo. O interior só é lembrado no São João. Só que o interior não é só isto, tem uma riqueza cultural imensa que é preciso valorizar. Eu viajei muito pelo interior da Bahia e de outros estados nordestinos e pude ver que Pernambuco e Paraíba valorizam muito os artistas populares, e também em Alagoas que aqui na Bahia. Com o passar do tempo minha coleção foi crescendo e foi tomando consciência da sua importância cultural e por isto preciso mostrar cada vez mais a um número maior de pessoas. Aí passei a dedicar meu tempo e meu dinheiro com isto. Ao mesmo tempo  viajava para fotografar principalmente nas campanhas políticas. Devo ter hoje uns três mil e quinhentos brinquedos dos principais artesãos e artistas populares do país, principalmente do Norte e Nordeste, lembrou que em Abaetetuba está localizada no estado do Pará a população do município é de 159.080 habitantes, e tem um polo de brinquedos muito importante."

Exposição dos brinquedos populares de David
Glat no Museu Afro Brasil, em São Paulo.
Lembrou David Glat que fez várias capas de cds e dvds um maior número para a Timbalada juntamente com Ray Vianna e que algumas foram até premiadas aqui e também nacionalmente.  Fez também para Chiclete com Banana, Pimenta Nativa, Netinho dentre outros. Outros artistas passaram a lhe procurar. Até que no ano 2000 acabou o boom do Axé Music e deixou de fazer as capas. Hoje ninguém quer mais cds porque tem tudo nas plataformas. Estão valorizando os LPS, mas a maioria das pessoas está aderindo aos spotify da vida.

Em 2003 ele fez uma exposição de suas fotografias no Teatro Castro Alves , intitulada Soteurbanoramas onde focou no patrimônio histórico e arquitetônico da cidade do Salvador. Entre 2009 e 20010 expôs Pérolas Imperfeitas que percorreu  seis capitais brasileiras,  e a propósito escreveu David Glat “captado por um determinado olhar muito particular é o ponto de partida deste trabalho. Desconstruindo a imagem convencional e institucionalizada deste patrimônio, a proposta foi praticar um exercício barroco por meio de uma linguagem visual contemporânea. Imagens com movimento, opulência das formas, vitalidade, tensão, efeitos ilusionistas, monumentalidade, assimetria, emocional, sensualidade, predomínio da curva, da contracurva e do retorcido, estas são algumas das características mais marcantes do estilo barroco, e também as marcas visuais deste trabalho”. Entre 2009 e 20010 expôs Pérolas Imperfeitas que percorreu  seis capitais brasileiras.


Sanfoneiro cego esmolando na 
escadaria da igreja do Passo.
Em 2012 / 2013 expôs cerca de mil brinquedos no Museu de Arte da Bahia na mostra Brinquedos que Moram nos Sonhos – O Brinquedo Popular Brasileiro, quando Sylvia Athayde era diretora do MAB. Coube ao artista Joãozito fazer toda a cenografia e a curadoria foi do próprio David Glat. Na ocasião ele escreveu para o catálogo que “sou um fotógrafo apaixonado por arte popular, especialmente pelo segmento brinquedos. Desde os meus 20 anos no exercício da profissão, eu viajava bastante pelo interior, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, e aproveitava para pesquisar conhecer os artistas populares das cidadezinhas.... Quando, no início de 2010, Emanoel Araújo esteve em minha casa e conheceu a coleção, ficou encantado e decretou: vou expor a tua coleção no Museu Afro Brasil. Argumentei que a coleção era muito particular, incompleta e exclusivamente constituída por objetos de meu interesse pessoal – só tinha brinquedos de menino. De fato, não tinha casinhas, nem mobília, nem bonecas e nem outros diversos itens que fazem parte do universo infantil feminino. Então ele concluiu: Complete a tua coleção!” Viajei muito e adquiri muitas peças e assim em 2011 foi inaugurada a mostra Brincar com Arte que ficou durante oito meses com grande número de visitantes.

                                                              EXPOSICÕES 

Capa da mostra itinerante onde vemos 
o icônico Forte de São Marcelo
.
INDIVIDUAIS - Em 2003 - Soterurbanoramas, no foyer do Teatro Castro Alves. no Circuito de Arte do V Mercado Cultural. 2007 Foto - instalação "Torta Xadrez Il', na Galeria do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, dentro do agosto da Fotografia. 2009 "Pérolas Imperfeitas" no Museu de Arte Moderna da Bahia.

COLETIVAS - Em 1978 a 1984 - "Salão Fotobahia". no foyer do Teatro Castro Alves e no Museu de Arte da Bahia .1986 - "Fotógrafos em 20 Anos" no Núcleo de Arte do Desenbanco. 1994 - "1° Salão de Arte do MAM 1995 e 1996 - "Mostras da Fotografia Contemporânea Baiana" no MAM. 1999 - "450 Motivos Para Amar Salvador" no Instituto Geográfico Bahia. 2006 - "A História da Fotografia na Bahia" no MAM; "13° Salão de Arte do MAM". 2007 - "TCA 40 Anos" no fover do Teatro Castro Alves . 2009 - “Circuito das Artes" no Palacete das Artes Rodin Bahia; “Sensível Contemporâneo". na Escola de Belas Artes da UFBA, na Semana França-Brasil e   "2.234" no Casarão de Santo Antônio Além do Carmo. 

 

sábado, 1 de novembro de 2025

MARCELO SILVA E SUA ARTE ACADÊMICA

Marcelo Silva pintando uma vila espanhola 
no ateliê , bairro da Pituba ,Salvador, 2025. 

O artista visual Marcelo Silva é arquiteto, administrador de empresas,pela Universidade Católica de Salvador -UCSAL,  mestre em Artes pela Escola de Belas Artes e doutor em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, professor de perspectiva, de desenho técnico e geométrico, de Croquis Aplicado à Paisagem Urbana, da Universidade Federal da Bahia, e já ensinou outras disciplinas na FAUFBA. Recentemente se dedicou à curadoria da exposição Arquitetos / Artistas reunindo arquitetos e convidados realizada dentro das instalações da FAUFBA. Enquanto ministra diariamente suas aulas executa paralelamente alguns projetos de arquitetura, desenha e pinta seus quadros com maestria. A perspectiva, a espacialidade, as proporções e as escolhas das cores e dos materiais são feitas com o rigor dos ensinamentos que recebeu diretamente de seu pai o renomado pintor acadêmico Newton Silva, que retratou durante décadas as nossas igrejas barrocas e o casario colonial desta Cidade. Sua arte tem forte influência da arquitetura e ele gosta de pintar o casario e as igrejas coloniais e mesmo as paisagens que hoje se descortinam em sua frente. Porém, tem uma visão muito precisa da perspectiva e da proporcionalidade dos elementos que compõem a sua pintura. Atualmente vem utilizando outros materiais em suas obras como as tintas acrílica e guache, lápis, pincéis atômicos e canetas especiais coloridos misturando técnicas em camadas em seus experimentos.

Obra  Dique do Tororó onde vemos ainda parte 
das arquibancadas da Fonte Nova.
Seu pai foi professor titular da Faculdade de Arquitetura por mais de trinta anos e lhe ensinou e exigiu que pintasse com a visão e os ditames da pintura acadêmica. Ele foi também aluno do professor Juarez Paraíso, um dos artistas contemporâneos reconhecidos da Bahia, na Escola de Belas Artes da UFBA, e que lhe chamou  atenção sobre a necessidade de se afastar do academicismo e da influência de seu pai. Porém, o artista visual Marcelo Silva não conseguiu e continua trilhando o caminho da pintura acadêmica o que não lhe impede de usar novos materiais e trabalhar com técnicas diferentes dando uns toques sutis de modernidade. Confessa que sua maior influência foi seu pai Newton Silva e pelo fato de ser um artista acadêmico passou a fazer algumas cobranças quando Marcelo Silva mostrou interesse pela arte. Enquanto pintava o pai colocava nas alturas as músicas clássicas que mais gostava e tinha preferência pelas peças de Bach, Mozart e Beethoven, e também por algumas óperas. Marcelo Silva disse que gostava de ouvir os clássicos, se acostumou e até hoje gosta da música clássica, mas continua não apreciando as óperas. Fez até agora poucas exposições porque a vida de professor toma muito o seu tempo e ainda tem que atender clientes com pequenos projetos de arquitetura e fazer plantas e laudos de medições imobiliárias.

                                      TRAJETÓRIA

Pintura do artista Marcelo Silva da  Catedral.
Seu nome de batismo é Marcelo Raimundo Pinheiro da Silva, nasceu em trinta e um de dezembro de 1961 na maternidade do Hospital Português. Seu pai Newton Raimundo da Silva e sua mãe d. Clésia Pinheiro da Silva. Todos os irmãos de seu pai e seus filhos têm o primeiro nome, e em seguida o de Raimundo “que foi uma promessa que seus avós paternos fizeram para São Raimundo de Nonato durante problemas de saúde que enfrentaram”, disse Marcelo Silva. “A Igreja e Convento de São Raimundo é uma construção do século XVIII que teve sua pedra fundamental lançada pelo Conde dos Arcos, D. Marcos de Noronha, em 1755. O altar mor da igreja é em estilo barroco, de grande mérito artístico sacro. Esse padroeiro da Igreja viveu na Espanha, no século XIII, e é o protetor das parturientes e parteiras. Possui dois altares laterais em estilo barroco, um deles dedicado à São Raimundo Nonato, padroeiro da igreja. Localiza-se na Rua São Raimundo, região central da capital baiana, entre a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na Avenida Sete de Setembro, e Capela das Relíquias da Beata Lindalva, na rua do Salete. Em 1968 parte da igreja fui demolida para a construção do viaduto da Politeama”. Fonte Wikipedia.

Portada,  óleo sobre tela de rara beleza.
Já o artista Marcelo Silva passou parte de sua infância na Travessa Padre Miguelinho e depois sua família mudou para a Rua Gonçalves Dias, ambas no bairro de Nazaré. Estudou o primário na Escola Santa Rita, que funcionava nas imediações do Campo da Pólvora, a qual não mais existe. Lembra que seus pais naquela época não permitiam que ele e seus irmãos brincassem na rua e que sua infância foi dividida entre a escola, os estudos e a casa onde residiam. Ao prestar o Admissão foi estudar no Colégio Salesiano de Salvador, no Largo de Nazaré, onde permaneceu de 1975 a 1980. Lá estudou o ginasial e fez o Curso Técnico de Desenho Arquitetônico. Na época o Colégio Liceu Salesiano mantinha cursos profissionalizantes de marceneiros, tipógrafos, músicos, eletricistas, desenho arquitetônico dentre outros, e eram chamados de Aprendizes.

Fez vestibular em 1982 para o curso de Administração de Empresas, na Universidade Católica de Salvador, e em 1984 para Arquitetura e Urbanismo, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal da Bahia. Graduou-se em ambos os cursos e em 1993 fez concurso para professor Substituto, e em 1995 para professor Efetivo, ambos na FAUFBA. Fez o mestrado de Artes Plásticas quando defendeu a tese Portadas de Salvador, na Escola de Belas Artes, da UFBA concluindo em 1988. Em 2009 iniciou o doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, concluindo em 2014, enquanto ministrava suas aulas de Perspectiva. Hoje ensina Perspectiva e mais Desenho Técnico e Geométrico, e Croquis aplicado à Paisagem, três disciplinas que disse acrescentou no seu currículo de professor. Faltam dois anos para ser professor Titular e hoje já está na categoria professor Associado IV. Seu pai ensinou por mais de trinta e um anos na mesma faculdade, e ele foi aluno do pai na disciplina Croquis Aplicado à Paisagem Urbana.

                                                             SUA ARTE

Ilustrações  que fez para o livro Bondes 
da Bahia. Técnica aquarela.
Faz questão de dizer que sua maior influência foi seu pai Newton Silva “pelo fato de ser um pintor clássico me passou tudo que aprendeu nos seus estudos e da experiência que vivenciou. Tinha um apreço especial não só pela pintura, mas também pela música. Sempre me passava as informações com muita tranquilidade e sem qualquer pressão. Lembrou que tinha uma coleção de fascículos de Os Pintores, da editora Abril. Ele gostava de apreciar as obras dos impressionistas, mas não gostava dos modernistas.  
“Quando mudamos para Rua Gonçalves Dias, número 12, no fim de linha do bairro de Nazaré, ele montou o seu ateliê na sala da frente que ficava vizinha ao meu quarto. Eu já acordava vendo suas obras ou muitas vezes via ele pintando. Isto penetrou em mim naturalmente e passei a gostar da arte acadêmica que ele fazia. Certo dia me chamou colocou um banquinho para eu sentar, e disse mais ou menos assim: Venha ver que vou lhe passar algumas coisas sobre a pintura”, relembrou emocionado Marcelo Silva. Dias depois comprou um caderno de desenho e lápis de cor e lhe disse “faça o que quiser e depois me mostre”. Ainda era criança e assim desenhou barcos, casas até começou a copiar as figuras dos gibis. Vendo crescer seu interesse pela pintura lhe chamou um dia para acompanhar uma obra que ele ia iniciar. Seu pai costumava pintar nos finais de semana e feriados, e durante a semana dava suas aulas e era engenheiro civil do Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia- DERBA.

Obra que Marcelo acompanhou o
 pai pintar e  agora lhe pertence.
A obra de seu pai que Marcelo Silva acompanhou em todas as fases foi pintada a óleo sobre uma placa de Eucatex e mostra três crianças mendigas sendo que duas estão sentadas e uma em pé em frente  a vitrine de uma loja chic onde estavam expostas algumas bonecas . O trabalho foi vendido logo depois de pronto. Conta Marcelo Silva que reclamou de seu pai por ter vendido a obra e ele respondeu: "Marcelo uma obra de um artista é como um filho que a gente tem e se vai. Quem sabe um dia  pode voltar para você." Pareceu uma profecia. Passaram-se os anos e Marcelo Silva estava visitando a Galeria da Barra, de seu amigo Cilinho, enquanto olhava as obras expostas lá estava o quadro das crianças mendigas que seu pai havia pintado!  Com certa dificuldade conseguiu comprar de volta. Inicialmente, Cilinho não queria vende-la dizendo que gostava muito da obra e queria ficar para seu acervo pessoal. Porém, quando Marcelo Silva contou a história que envolvia àquela obra seu amigo Cilinho decidiu então cede-la, e hoje guarda com muito carinho esta lembrança de momentos que viveu na sua juventude junto ao pai.

Quando se formou em arquitetura pintou vinte telas a óleo e mostrou para que seu pai Newton Silva desse uma olhada e verificasse se havia algo que precisava de algum retoque ou conserto. Disse Marcelo Silva que o pai olhou detidamente as obras e depois virou-se em sua direção e falou: "Agora sim, você está preparado para expor. Vou marcar para a gente ia à Panorama Galeria de Arte, que fica na Rua Nelson Gallo, no bairro do Rio Vermelho, e vamos falar com d. Yolanda e Anna Georgina para arranjarmos uma pauta para você expor.” Isto aconteceu no ano de 1990, e assim Marcelo Silva fez a sua primeira exposição individual.

                             ALGUMAS EXPOSIÇÕES

Esta obra será exposta da Exposição 
Visão Contemporânea
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Em 1990 – Panorama Galeria de Arte, Salvador-BA. 1992 – Exposição Shopping Iguatemi, Salvador-BA. 1993 – Exposição Shopping Barra, Salvador - BA. 1998 – Exposição Portadas de Salvador – Museu de Arte Sacra, Salvador-BA. 2001 – Exposição no Shopping Barra, Salvador-BA; Exposição Newton Silva Impressionista Baiano, Salvador-BA; Exposição Galeria Waldo Robatto, Salvador-BA. 2002 – Exposição Galeria Waldo Robatto, Salvador – BA; Exposição na Galeria Cinelly, Salvador-BA. 2003 -Exposição Galeria Waldo Robatto, Salvador-BA. 2009 – Exposição Arquitetos e Artistas – 50 Anos da FAUFBA – Salvador-BA. 2013 – Exposição na sede do Tribunal de Justiça – Salvador-BA. 2019 -Exposição Arquitetos e Artistas, na sede da FAUFBA, Salvador-BA; Exposição Aquarelas de Bondes e Trechos de Salvador – Salvador-BA; Exposição na Escola Politécnica da UFBA, Salvador-BA. 2025 -Exposição Arquitetos e Artistas – sede da FAUFBA; Exposição Paisagens da Espanha, Clube Espanhol, Salvador-BA e Exposição Visão Contemporânea, Galeria Ernesto Bitencourt, Salvador-BA.