Márcia na solenidade de entronização do busto de Nelson Mandela feito por ela em agosto de 1991. |
A artista Márcia Magno tem uma capacidade de transitar em alguns dos principais segmentos das artes plásticas. Ela é gravadora, pintora e escultora. Atualmente é uma das mais requisitadas artistas na Bahia para fazer esculturas, bustos e baixos relevos de personalidades. Suas obras escultóricas estão se multiplicando a cada dia. Esta sua versatilidade vai nos mostrando a extensão do seu talento nato e sua capacidade de expressão que nos toca de perto. Lembro do colorido e das tramas de suas pipas, quando fez a sua exposição na Capela do Solar do Unhão. Recordo de suas pinturas geométricas centradas nos cubos, e mais recentemente nos apresenta esculturas que estão sendo colocadas em espaços públicos e privados cumprindo vários papéis: o da homenagem às personalidades e também a oportunidade das pessoas apreciarem com mais liberdade. Oportunidade não só de ver a obra de arte, mas também de tocar e até de fazer uma foto de recordação junto a uma dessas esculturas instaladas nesses espaços. Márcia é baiana de Salvador e foi batizada como Márcia de Azevedo Magno Baptista, filha de Edith Mendes de Aguiar Azevedo e Renato Olímpio Goes de Azevedo.
Esta é a série das primeiras gravuras da artista . |
As gravuras de Márcia nos revelam uma forte ligação com o afetivo, o suave e com sua personalidade artística marcante e identitária. São formas geométricas habilmente construídas com uma transparência de cores refletidas num concretismo de objetos e formas destinados a um espaço natural. A combinação dos círculos e dos triângulos superpostos resultam em formas quase naturais sugerindo uma beleza de emoção e sentimento do externo feminino, em contraste com a ordem, a elaboração das faixas de linhas retas perfeitas e literalmente belas.
A transparência das gravuras de Márcia têm um valor relevante, pela plasticidade implícita e pelo dimensionamento do espaço. A polivalência espacial e os acordes cromáticos tornam-se mais harmônicos pelas concordâncias de luminosidade e cromatismo. São persistentes e sugestivas impressões superpostas, a procura consciente e sensível de novos efeitos visuais.
Suas pipas ganham os céus de Salvador, as galerias e as casas das pessoas que as adquirem. Lembramos que as pipas são brincadeiras de garotos pobres que habitam os bairros populares da maioria das cidades brasileiras. Elas dançam nos espaços sob o comando de verdadeiros malabaristas. São meninos vivos, alegres e brincalhões que fazem os seus pegas onde as únicas vítimas são alguns metros de linha e as arraias que se desprendem das mãos dos vencidos. Uma batalha portanto, onde vence o mais hábil e aquele que tem uma linha melhor temperada. Foi exatamente dentro deste universo tão comum e belo, que a artista Márcia Magno foi encontrar o suporte que considerou adequado para realizar sua obra.
Boa observadora encontrou ainda nas pipas os desenhos feitos sem muita pretensão por àqueles garotos humildes.
Série onde a artista usou o computador como ferramenta. |
Procurou melhorar a geometria com o que aprendera na Escola de Belas Artes da Bahia e o chamamento do social que viveu na Faculdade Nacional de Filosofia, e na Escola Nacional de Belas Artes, ambas no Rio de Janeiro, foram suficientes para lhes dar o conteúdo necessário e conceber uma obra interessante e acima de tudo vibrante. Suas gravuras ganharam força de expressividade e logo depois foi uma das poucas selecionadas para participar do Salão Carioca de Belas Artes , onde expôs na Galeria Macunaíma, da Funarte, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1980. Foi aluna e conviveu com importantes próceres da arte e da intelectualidade carioca como Mário Barata, Eduardo Portela, Moema Toscano, Geraldo Edson de Andrade. Antes de vir para Salvador ainda morou uma temporada nos Estados Unidos e lá frequentou ateliers de artistas, sempre procurando aprender e desenvolver o seu talento.
Ela fez alguns murais importantes em Salvador sendo que três deles estão em locais frequentados por estudantes e professores. O que realizou como trabalho do seu Mestrado chamado Alquimia está na Faculdade de Química; um segundo na Faculdade de Educação e o terceiro no Pavilhão de Aulas da UFBA. Foi professora das disciplinas de Arte Mural, Xilogravura, Modelagem e Desenho, e diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia de 1988 a 1992. Neste período implantou e coordenou dos cursos de Desenho Industrial ( Design Gráfico) e o Curso Superior de Decoração (Design de Interiores), além de implantar o Mestrado de Artes. Coordenou a Galeria Cañizares onde realizou importantes exposições. Foi nesta época que promoveu como curadora as exposições Mulheres em Movimento I e II, mostrando a atuação das mulheres da Escola de Belas Artes desde a sua fundação. Promoveu ainda a primeira exposição sobre Arte Digital na Bahia chamada de Arte em Computação - Belas Artes Computer Grafics, em 1992.
A estátua de Zumbi no Terreiro de Jesus. |
Atualmente, tem se dedicado a realizar esculturas, bustos e baixo relevos de personalidades baianas. Muitos dessas obras estão nas ruas da Cidade como os busto de Dorival Caymmi, no final de linha de Itapoã; de Mãe Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum, que está na Lagoa do Abaeté; de um dos fundadores do Ilê Ayê, o Apolônio, mais conhecido por Popó , que fica na sede da entidade no bairro do Curuzu; O busto de Nelson Mandela, Presidente da África do Sul; de Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá , além de baixos relevos do professor Thales de Azevedo, do construtor Norberto Odebrecht e do jornalista Jorge Calmon. Fez ainda as estátuas de Zumbi dos Palmares, que está no Terreiro de Jesus; a do escritor João Ubaldo Ribeiro, na praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba , e a do professor Humberto Castro Lima, na reitoria da Fundação Baiana de Medicina, em Brotas.
Agora está ultimando o busto do geógrafo baiano Milton Santos, que foi homenageado recentemente com o nome da antiga Avenida Ademar de Barros, no bairro de Ondina, que passou a ser chamada de
Avenida Milton Santos. Este busto que está realizando será entronizado na avenida que recebeu o seu nome. Certamente, muitas outras virão a ocupar outros espaços sob o buril desta artista que nos encanta com suas formas, suas cores e muita criatividade. A cada escultura concluída vem aprimorando a sua técnica.
Márcia e a filha Paula Magno com a estátua de João Ubaldo Ribeiro. |
Avenida Milton Santos. Este busto que está realizando será entronizado na avenida que recebeu o seu nome. Certamente, muitas outras virão a ocupar outros espaços sob o buril desta artista que nos encanta com suas formas, suas cores e muita criatividade. A cada escultura concluída vem aprimorando a sua técnica.
Márcia Magno iniciou sua carreira artística no Rio de Janeiro onde frequentou a Escola Normal de Belas Artes e o Curso de Artes Decorativas. Ela me relatou que já estava ambientada com o movimento de artes do Rio de Janeiro e que tinha muitos contatos com artistas, críticos de artes e galeristas. Ao chegar a Salvador passou um tempinho até se adaptar e atualmente está completamente integrada . Ela ingressou na Escola de Belas Artes onde se graduou e depois foi professora assistente e titular . No ano de 1988 foi nomeada Diretora. Foi durante sua gestão que foram criados os cursos de Desenho Industrial e o Curso Superior de Decoração, e o Mestrado em Artes. Ensinou alguns anos nas oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia , que sempre foi um espaço importante para o aprendizado para muitos jovens e artistas iniciantes que frequentam as oficinas em busca de aprimoramento. Também já foi membro de vários júris de artes plásticas e realizou muitas exposições individuais e coletivas aqui e em outros estados, tendo sido ainda premiada em alguns salões de arte . Nesta foto ao lado a artista Márcia com a filha Paula Magno que também é escultora e vem trabalhando com ela na concepção de algumas esculturas.
ResponderExcluirDilson Brito
Bahia e sua Liberdade Cultural.
ResponderExcluirLiane Katsuki
Genial!!!
ResponderExcluirAnna Georgina Rocha Cardoso
Maravilha!
Maria das Graças Santana
ResponderExcluirMaravilha!
ResponderExcluirIvo Neto
Parabéns amigo mostrando o magnífico trabalho da arte tridimensional da minha professora Marcia.
ResponderExcluirGuel Silveira
Aplausos!
ResponderExcluirMárcia Magno
Reynivaldo, você tem uma facilidade e sinceridade no escrever que que nos impressiona! Somos seus fãs! Muitíssimo obrigada pelas palavras generosas e sábias! Aliás, isso não é de hoje !!!!!.
Um abração com nossa admiração!
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ResponderExcluirJuarez Paraíso
Já coloquei no Word e no aguardo do livro.
Gostei muito do texto, claro, objetivo, e de quem realmente foi e continua sendo testemunha sensível da realidade artística baiana da sua arte moderna e pós moderna.Enfim de quem sabe escrever e fazer uma ótima crítica. Não só a Márcia agradece. Também agradeço a sua excelente contribuição para o livro de Márcia.
Terezinha Tavares
ResponderExcluirViva a arte!
Parabéns.