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sábado, 2 de abril de 2022

A OBRA VIBRANTE E ECLÉTICA DE MÁRCIA MAGNO

Márcia na solenidade de entronização
do busto de Nelson Mandela feito por ela
em agosto de 1991.
A artista Márcia Magno tem uma capacidade de transitar em alguns dos principais segmentos das artes plásticas. Ela é gravadora, pintora e escultora. Atualmente é uma das mais requisitadas artistas na Bahia para fazer esculturas, bustos e baixos relevos de personalidades. Suas obras escultóricas estão se multiplicando a cada dia. Esta sua versatilidade vai nos mostrando a extensão do seu talento nato e sua capacidade de expressão que nos toca de perto. Lembro do colorido e das tramas de suas pipas, quando fez a sua exposição na Capela do Solar do Unhão. Recordo de suas pinturas geométricas centradas nos cubos, e mais recentemente nos apresenta esculturas que estão sendo colocadas em espaços públicos e privados  cumprindo vários papéis: o da homenagem às personalidades e também a oportunidade das pessoas apreciarem com mais liberdade. Oportunidade não só de ver  a obra de arte,  mas também de tocar  e até de fazer uma foto de recordação junto a uma dessas esculturas instaladas nesses espaços. Márcia é baiana de Salvador e foi batizada como Márcia de Azevedo Magno Baptista, filha de Edith Mendes de Aguiar Azevedo e Renato Olímpio Goes de Azevedo.

Esta é a série das primeiras gravuras
 da artista
.
As gravuras de Márcia nos revelam uma forte ligação com o afetivo, o suave e com sua personalidade artística marcante e identitária.  São formas geométricas habilmente construídas com uma transparência de cores refletidas num concretismo de objetos e formas destinados a um espaço natural. A combinação dos círculos e dos triângulos superpostos  resultam em formas quase naturais sugerindo uma beleza de emoção e sentimento do externo feminino, em contraste com a ordem, a elaboração das faixas de linhas retas  perfeitas e literalmente belas. 

A transparência das gravuras de Márcia têm um valor relevante, pela plasticidade implícita e pelo dimensionamento do espaço. A polivalência espacial e os acordes cromáticos tornam-se mais harmônicos pelas concordâncias de luminosidade e cromatismo. São persistentes e sugestivas impressões superpostas, a procura consciente e sensível de novos efeitos visuais.
Suas pipas ganham os céus de Salvador, as galerias e as casas das pessoas que as adquirem. Lembramos que as pipas são brincadeiras de garotos pobres que habitam os bairros populares da maioria das cidades brasileiras. Elas dançam nos espaços sob o comando de verdadeiros malabaristas. São meninos vivos, alegres e brincalhões que fazem os seus pegas onde as únicas vítimas são alguns metros de linha  e as arraias que se desprendem das mãos dos vencidos. Uma batalha portanto, onde vence  o mais hábil e aquele que tem uma linha melhor temperada. Foi exatamente dentro deste universo tão comum e belo, que a artista Márcia Magno foi encontrar o suporte que considerou adequado para realizar sua obra. 
Série onde a artista usou o computador
como ferramenta. 
Boa observadora encontrou ainda nas pipas os desenhos feitos sem 
muita pretensão por àqueles garotos humildes.
Procurou melhorar a geometria com o que aprendera na Escola de Belas Artes da Bahia e o chamamento do social que viveu na Faculdade Nacional de Filosofia, e na Escola Nacional de Belas Artes, ambas no Rio de Janeiro, foram suficientes para lhes dar o  conteúdo necessário e conceber uma obra interessante e acima de tudo vibrante. Suas gravuras ganharam força de expressividade  e logo depois foi uma das poucas selecionadas para participar do Salão Carioca  de Belas Artes , onde expôs  na Galeria Macunaíma, da Funarte, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1980. Foi aluna e conviveu com importantes próceres da arte  e da intelectualidade carioca como Mário Barata, Eduardo Portela, Moema Toscano, Geraldo Edson de Andrade. Antes de vir para Salvador ainda morou uma temporada nos Estados Unidos e lá frequentou ateliers de artistas, sempre procurando aprender e desenvolver o seu talento.
Este belo mural está na instalado na Faculdade
 de Educação da UFBA.
Ela fez alguns murais importantes em Salvador sendo que três deles estão em locais frequentados por estudantes e professores. O que realizou como trabalho do seu Mestrado chamado Alquimia está na Faculdade de Química; um segundo na Faculdade de Educação e o terceiro no Pavilhão de Aulas da UFBA. Foi professora das disciplinas de Arte Mural, Xilogravura, Modelagem e Desenho, e diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia de 1988 a 1992. Neste período implantou e coordenou dos cursos de Desenho Industrial ( Design Gráfico) e o Curso Superior de Decoração (Design de Interiores), além de implantar o Mestrado de Artes. Coordenou a Galeria Cañizares onde realizou importantes exposições. Foi nesta época que promoveu como curadora as exposições Mulheres em Movimento I e II, mostrando a atuação das mulheres da Escola de Belas Artes  desde a sua fundação.  Promoveu ainda a primeira exposição sobre Arte Digital na Bahia chamada de Arte em Computação - Belas Artes Computer Grafics, em 1992.
A estátua de Zumbi no
 Terreiro de Jesus.
Atualmente, tem se dedicado a realizar esculturas, bustos e baixo relevos de personalidades baianas. Muitos dessas obras  estão nas ruas da Cidade como  os busto  de Dorival Caymmi, no final de linha de Itapoã; de Mãe Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum, que está na Lagoa do Abaeté; de um dos fundadores do Ilê Ayê, o Apolônio, mais conhecido por Popó , que fica na sede da entidade no bairro do Curuzu;  O busto  de Nelson Mandela, Presidente da África do Sul; de Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá , além de baixos relevos do professor Thales de Azevedo, do construtor Norberto Odebrecht e  do jornalista Jorge Calmon. Fez ainda as estátuas de Zumbi dos Palmares, que está no Terreiro de Jesus; a do escritor  João Ubaldo Ribeiro, na praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba , e a do professor Humberto Castro Lima, na reitoria da Fundação Baiana de Medicina, em Brotas. 
Agora está ultimando o busto   do geógrafo baiano Milton Santos, que foi homenageado recentemente com o nome da antiga Avenida Ademar de Barros, no bairro de Ondina, que passou a ser chamada de
Márcia e a filha Paula Magno com
a estátua de João Ubaldo Ribeiro.

Avenida Milton Santos. Este busto que está realizando será entronizado na avenida que recebeu o seu nome.  Certamente, muitas outras virão a ocupar outros espaços sob o buril desta artista  que nos encanta com suas formas, suas cores e muita criatividade. A cada escultura concluída vem aprimorando a sua técnica. 
Márcia Magno iniciou sua carreira artística no Rio de Janeiro onde frequentou a Escola Normal de Belas Artes e o Curso de Artes Decorativas. Ela me relatou que já estava ambientada com o movimento de artes do Rio de Janeiro e que tinha muitos contatos com artistas, críticos de artes e galeristas. Ao chegar a Salvador passou um tempinho até se adaptar e atualmente está completamente integrada . Ela ingressou na  Escola de Belas Artes onde se graduou e depois foi professora assistente e titular . No ano de  1988 foi nomeada Diretora. Foi durante sua gestão que foram criados os cursos de Desenho Industrial e o Curso Superior de Decoração, e o Mestrado em Artes.  Ensinou alguns anos nas oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia , que sempre foi um espaço importante para o aprendizado para muitos jovens e artistas iniciantes que frequentam as oficinas em busca de aprimoramento. Também já foi membro de vários júris de artes plásticas e  realizou muitas exposições individuais e coletivas aqui e em outros estados, tendo sido ainda premiada em alguns salões de arte . Nesta foto ao lado a artista Márcia com a filha Paula Magno que também é escultora e vem trabalhando com ela na  concepção de algumas esculturas. 


10 comentários:




  1. Dilson Brito
    Bahia e sua Liberdade Cultural.

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  2. Ivo Neto
    Parabéns amigo mostrando o magnífico trabalho da arte tridimensional da minha professora Marcia.

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  3. Márcia Magno
    Reynivaldo, você tem uma facilidade e sinceridade no escrever que que nos impressiona! Somos seus fãs! Muitíssimo obrigada pelas palavras generosas e sábias! Aliás, isso não é de hoje !!!!!.
    Um abração com nossa admiração!

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  4. Juarez Paraíso
    Já coloquei no Word e no aguardo do livro.
    Gostei muito do texto, claro, objetivo, e de quem realmente foi e continua sendo testemunha sensível da realidade artística baiana da sua arte moderna e pós moderna.Enfim de quem sabe escrever e fazer uma ótima crítica. Não só a Márcia agradece. Também agradeço a sua excelente contribuição para o livro de Márcia.

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