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quinta-feira, 2 de maio de 2013

VAMOS LEMBRAR COM JULY UM POUCO DE ARTE BAIANA


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA 11 DE DEZEMBRO DE 1989




Para comemorar o final do ano que se aproxima July vai reunir seus amigos e convidados na 
NR Galeria de Arte, no Shopping Center Iguatemi a partir das 18 horas de hoje, quando fará apresentação de uma exposição reunindo obras dos principais artistas baianos e de outros estados. A galeria promete iniciar o próximo ano com grandes eventos, inclusive com exposições individuais de artistas do primeiro time, July não é apenas uma colunista social respeitada, mas também uma pessoa ligada ás artes da Bahia, inclusive, junto com ela, uma geração inteira começou a dar os primeiros passos para conquistar o mercado de arte. Está sempre disposta a incentivar novos artistas.
Muitos que venceram devem parte do sucesso ás indicações e muitas vezes ás apreciações críticas que ela sempre fez. Portanto, não é uma pessoa que vem de fora para tratar com artistas. E, pelo contrário, uma apreciadora de arte e que tem muitos amigos de renome no setor.
Veja algumas opiniões que ela emite sobre mercado, artistas, enfim, sobre a arte baiana em particular:

July relembra aspectos interessantes da arte baiana

P-Como você está vendo o mercado de arte baiano?

R- O mercado de arte baiano está em crise como qualquer setor neste País.
Apenas, na minha opinião, a arte tem vantagem em relação a qualquer bem de consumo. Por exemplo, você pode comprar uma boa roupa, um excelente som ou um quadro assinado por artista famoso ou que promete. Algum tempo depois, a roupa ou o som se acabam, mas o quadro permanece e tende a ser valorizado.
O mercado de arte é um excelente investimento se a pessoa tiver a sensibilidade da escolha e o marchand a prática para orientá-lo.

P- Fale um pouco sobre o início deste mercado. Do tempo em que existiam pouquíssimas galerias e as vendas eram praticamente feitas por indicações de amigos dos artistas.
R- Lembro que existia uma galeria muito boa chamada Oxumaré e que ficava no Passeio Público. Desapareceu. Depois teve também a de Renaut, funcionando na Rua Carlos Gomes e depois na Barra. Transferiu-se para São Paulo. Também a Panorama que servia e serve ainda como escola além de exposições.
Mas os quadros eram vendidos mesmo através de indicações de amigos dos artistas. Colaborei demais nesse sentido.
Geralmente pessoas que vinham de fora, sabendo que eu era amiga dos artistas que tinha acesso aos seus ateliers, pediam sempre que os levasse a um deles.
Com um telefonema apenas estava o caso resolvido. Marcava a hora e o interessado ia ao encontro do artista. Alguns compravam e outros iam apenas pelo prazer de conhecer de perto o artista, que apreciava, como por exemplo. Mário Cravo, José de Dome que sempre oferecia um cafezinho com canela. Fernando Coelho que, na época, morava no Horto Florestal, Luiz Jasmin recém-chegado do Rio. Calasans Neto amigo velho, Sante Scaldaferri e Carlos Bastos amigos de infância. Carybé que recebia sempre em sua casa para uma copa de vinho, Floriano Teixeira desde que chegou a Bahia, vindo com Alice do Maranhão, Mirabeau Sampaio que me contava casos das lindas meninas de seu tempo, Emanuel Araújo um dos nossos grandes artistas e um velho amigo também, José Maria de Souza, Henrique Oswald, Raimundo Oliveira; Adilson dos Santos, Gilson Rodrigues que estava começando, Jenner Augusto porque mantenho sempre uma grande amizade com toda a sua família etc. Divulguei muito as obras de todos eles através de minha coluna também, pois sempre tive um amor muito grande as artes.

P-Como foi sua experiência de marchand com uma galeria funcionando num shopping Center?
R- A minha galeria poderia ter funcionado logo que o shopping foi inaugurado, uma vez que o meu saudoso amigo Newton Rique, na ocasião convidou-me para abrir uma galeria, onde hoje funciona o posto da Telebahia. Naquela época, não deu. Mas mesmo sem ter galeria e sem se marchand, fiz duas exposições. A de Concessa Colaço, no Unhão, a pedido da Sra. Regina Simões de Mello Leitão.
Foi um verdadeiro sucesso. Levei a sociedade toda para lá. Fiz outra, do artista Murilo, que estava iniciando a sua carreira. Foi no Bahiano de Tênis. Outro sucesso, também de público, e daí em diante a sua arte e o seu talento vêm crescendo sempre.
Ter uma galeria no shopping e por demais gratificante. Lá entram pessoas que não compram nada, mas vão curiosas em conhecer de perto a obra de determinado artista para apreciar o belo. Muitas delas jamais entraram numa galeria isto me deixa muito feliz. É uma visitação constante de gente jovem, gente simples, estudante de Arte. Essa gente pode não ter dinheiro, mas tem sensibilidade de apreciar a obra de arte e isto e por demais importante.

P-E os novos talentos que ora começam a despontar? Quais os que você acredita que que vão fazer uma grande carreira artística?
R- Muita gente está explodindo por ai como o caso de Gil Mário, Jamison Pedra não é um iniciante, e um talento nato. Mas dizer os que vão ter sucesso é difícil. Naturalmente, poderia cometer injustiça, já que temos muitos valores novos.

P- E a geração de Carlos Bastos, Carybé, Jenner, Calá, Floriano etc. fale um pouco do início, das dificuldades, do entrosamento dessa geração com Jorge Amado. A força que ele deu e continua dando a todo esse pessoal
R- uns tiveram dificuldades financeiras no início e outros não, porém, todos precisaram de ajuda e muitos receberam ajuda daqueles que podiam dar uma força de uma maneira ou de outra. Sei que Jorge ajudou muita gente. Conheço Jorge Amado e com muito orgulho faz parte do meu grupo de amigos sinceros. O que noto e que ele, se pudesse, ajudava todo mundo. Ele e dessas pessoas que ajudam por prazer.

P- Fale sobre o desenvolvimento industrial da Bahia e os novos ricos que compram arte.
R-Tem gente que se engana pensando que todos os ricos compram obras de arte. os que compram quadros são os apreciadores de arte. Eles não consomem, adquirem uma obra de classe média e até mesmo pobre que admira a arte e faz uma força incrível para ter aquela obra que tanto gosta. Ao marchand, na expressão da palavra, lhe da felicidade quando sente que uma pessoa não quer um quadro para lhe ar status e sim por pura admiração a arte.

P- Você mudou o nome da sua galeria ou abriu outra?
R-Não vou abrir uma nova galeria porque jamais fechei a minha no 3º Piso do Iguatemi. Por motivos alheios à minha vontade, tive que trocar de nome. Não vendo o nome, que sempre foi meu, por criação e por ter registrado em cartório.
Hoje a galeria chama-se NR Galeria de Arte, em homenagem a um homem a quem queria muito bem. Newton Rique, o fundador do Iguatemi. Quando, em novembro de 1987, pensei em abrir uma galeria em parceria com a saudosa  Ana Lúcia Magalhães conversamos com Regina Rique que seria o nome NR, já que ele tanto desejava uma galeria no shopping. Mas por circunstâncias adversas, a ideia não chegou a ser concretizada. Agora, já que tive que ceder o nome que eu mesma criei, pensei exatamente naquele em que Aninha e eu iríamos colocá-lo.

ESCARCÉU REÚNE NOVE ARTEIROS

Escarcéu. Esta a denominação escolhida para a exposição que nove artistas que se intitularam arteiros oito baianos e uma angolana, promovem de 13 a 23 do corrente, na Galeria da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (ACBEU). A mostra reúne nomes já conhecidos por participação em diversos salões e que, em Escaréu apresentam temáticas e técnicas variadas e até insólitas, através de um mundo desconhecido de formas w cores inusitadas.
Os nove arteiros considerado pós-modernos são: Clarissa Caribé trabalhos com látex sobre papel, esculturas e telas com temáticas abstrata e pós-moderna. Burity, autodidata, desenvolve trabalhos com a técnica do aerógrafo, Dílson Medlej programação visual publicidade e ilustrações. Edgard Oliva pintura e fotografia, Gabriel Lopes Pontes desenhista, pintor, quadrinista e cenógrafo, Kau Mascarenhas temas urbanos e figura humana num processo intuitivo e gestual, Márcia Abreu programação visual,, cenários e publicidade, Miguel Bitencourt aerógrafo sobre tela e estamparia e Regina Costa angolana de Lubango acrílico sobre suportes e gravuras.
Para o crítico Eduardo Evangelista que faz a apresentação dos arteiros a proposta deles transcende rótulos Poe ser maior, mais pretensiosa e arriscada. Concordo plenamente que é um direito deles como de outros artistas, fazerem agitação, gritaria , para serem vistos e marcar o encerramento de suas atividades na década que vai se encerrar. Revelando já conhecer com bastante humildade a produção de quase todos os artistas do grupo. Evangelista diz estar acompanhando suas trajetórias através das exposições que realizam, mas ressalva ser por demais temeroso e antiético, comentar se este ou aquele artista melhorou ou não, no seu processo de criação. Constatada por autodidatas e acadêmicos, a exposição Escaréu será inaugurada a partir das 21 horas, com coquetel oferecido pelos arteiros.

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