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sábado, 28 de junho de 2025

A PINTURA LIVRE E POÉTICA DE JORGE GALEANO

O artista Jorge Galeano pintando em seu
ateliê na cidade de Feira de Santana.

 O pintor argentino Jorge Abel Galeano chegou em Feira de Santana no ano de 1986 com trinta e três anos de idade depois de andar por várias cidades do continente latino -americano. Se adaptou tanto que terminou por escolher a Princesa do Sertão como sua moradia e lá passou a desenvolver com  intensidade a sua arte e a participar dos eventos culturais da cidade. Passados todos estes anos podemos dizer que ele incorporou vários elementos culturais da região e que está plenamente integrado com os costumes, valores e a cultura local.  Foi aqui em Feira de Santana que pintei meu primeiro quadro”, diz com ênfase o Jorge Galeano. Sua primeira exposição foi realizada em 1980 na Galeria O Cavalete, em Salvador, juntamente com Ligia Aguiar. Todos os trabalhos eram desenhos e foram convidados pela sempre saudosa Jacy Brito, que lançou muitos artistas no mercado de arte baiano. Atualmente sua arte tem um lirismo que encanta pelas cores e elementos das composições que cria inspirado na natureza que lhes cerca. Tem uma pintura solta, com cores vibrantes e cada obra  apresenta algo para o deleite daqueles que gostam de arte onde as composições sugerem sonhos e contos oníricos. Pinta como tivesse aquarelando e poetizando com camadas superpostas onde os elementos vão povoando o seu universo pictórico.

Foto 1 - Encontros e Despedidas.
 Foto 2 - s/ título. Foto 3- Paisagem
na Chapada . Foto 4- São Jorge 
Seu nome completo é Jorge Abel Galeano, nasceu em 14 de setembro de 1953, na cidade de Concórdia, Argentina. Filho do veterinário e fazendeiro Jorge Alberto Galeano e d. Maria Esther Sanguinetti. Seu avô paterno foi prefeito da cidade e a família tinha  um status social e político  importante em Concórdia. Com um ano de idade seus pais romperam o casamento e ele com sua mãe foram morar com seus avós maternos na cidade de Villaguay, província de Entre Rios, “que era uma espécie de aldeia com menos de trinta mil habitantes. Anos depois ele retornou para a cidade onde viveu sua infância e notou que a mesma não se desenvolveu como esperava , e hoje tem cerca de quarenta mil habitantes. A maioria dos habitantes é de descendência italiana e belga, que vieram na época da guerra e se estabeleceram por lá. Da infância lembra que tinha muitas festas como as da Primavera, Natal e das datas históricas. Antes da Guerra do Paraguai contou Galeano “essas terras pertenciam ao Uruguai”. Estudou o primário na Escola Bartolomeu Mitre, nome do presidente da Argentina que governou de 1862 a 1868.

Esta obra foi exposta no Centro Cultural
da CEF, em Salvador, e lembra de longe 
as criadas por  Siron Franco.
Sua mãe casou novamente e eles foram morar na cidade de Tandil, que fica a trezentos e trinta Km de Mar Del Plata, que é um importante centro turístico da Argentina. Seu padrasto administrava um cinema e fora transferido para lá.  Quando Jorge Galeano já estava com dezoito anos decidiu ir morar em Buenos Aires, que fica a 350 Km de Tandil. Disse que foi um choque grande e que enfrentou muitas dificuldades de adaptação e de sobrevivência. Como fazia artesanato desde que morava no interior chegou a comprar uma moto com o dinheiro das vendas, e foi trabalhar de ajudante de pintor de paredes. Mas, o mestre de obras e um engenheiro notaram que ele não dava para aquele serviço. Foi então que o contrataram como uma espécie de motorista, e com sua moto transportava os chefes para outras obras e locais diversos na capital portenha. Disse que conhece muito bem a cidade de Buenos Aires devido principalmente a esta época em que levava os chefes e outras pessoas da empresa em sua moto.

                                         BELAS ARTES

Foto 1 - Morro . Foto 2- Bumba Meu Boi.
Foto 3-Acrobatas com Pássaros. Foto 4.
Cavaleiros Noturnos
Terminou o terceiro ano colegial e foi fazer vestibular para o Escola Nacional de Belas Artes, hoje chamada de Universidade Nacional de Belas Artes – UNA. Aí o choque foi bem maior, lembra Jorge Galeano, porque os colegas andavam com roupas rasgadas, bolsas imensas e falavam em nomes que ele nunca tinha visto ou ouvido falar. Conversavam sobre os filmes do francês Jean-Luc Godard, dos italianos Federico Fellini e   Píer Paolo Pasolini, dos livros do escritor argentino Jorge Luís Borges e do francês Jean Pual Sartre   e outros papos deste nível. Ele estava completamente fora deste ambiente, onde inclusive a maconha corria solta. Tinha uma falsa ideia na sua cabeça que seus colegas eram ainda mais pobres do que ele devido às roupas surradas e descontraídas que vestiam. Certo dia foi convidado para uma festa e quando chegou achou que estava no endereço errado porque a casa era uma mansão localizada num bairro nobre de Buenos Aires. Ao entrar se deparou com muito luxo e até mordomo tinha para servir aos convidados. Disse que foi a primeira vez que ouviu músicas da banda Pink Floyd e que até hoje lembra da festa e da animação da rapaziada.  “Inesquecível. Foram tempos felizes, nunca namorei tantas meninas ricas e bonitas como naquela época. Eu que morava num quartinho no centro de Buenos Aires, filho de uma família de classe média , mesmo assim curti muito,” relembra Jorge Galeano.

Obra Jogando a Rede, acrílica sobre tela.
Como já tinha expertise de trabalhar com a mãos no artesanato que fazia para sobreviver foi fácil se adaptar ao curso de Belas Artes. Disse que fazia inicialmente umas bolsas de couro, que eram muito usadas pelos jovens, naquela época. Depois passou a vender pulseiras de madeira. Mandava um marceneiro fazer as peças em madeira num torno, armava e pintava, e foi assim que conseguiu comprar a moto. Quando começou a cursar Belas Artes teve oportunidade de trabalhar com seus professores em serviços de escultura, muralista, restauro, pintura de afrescos, dentre outros. Tudo ia evoluindo, mas em 1978 a ditadura militar na Argentina recrudesceu e ele resolveu viajar com um grupo de músicos. Eles tocavam músicas latinas e seu instrumento era o charango, que é de origem andina. Segundo a Wikipedia “é um pequeno instrumento de cordas, de origem sul-americana, mais propriamente andina, que pertence à família do alaúde e que tem aproximadamente 66 cm de comprimento. Tradicionalmente era feito com a carapaça das costas de um tatu, se bem que, hodiernamente, já costuma ser feito de madeira, dispondo, ainda, de um braço de madeira, traçado por 5 cordas duplas." Aqui chegando foram tocar no Bar Vagão, ficava na Rua Almirante Barroso, no bairro do Rio Vermelho. Este bar era muito frequentado nos anos 70/80 pela turma universitária e cult. Ali eram apresentados shows variados com músicas latinas, de forró e até de jazz. Hoje o Vagão está abandonado e totalmente enferrujado.

                                                   FEIRA DE SANTANA

Obra Canários da Terra, personagens do
seu jardim.

O artista Jorge Galeano tomou conhecimento que a recém criada TV Subaé, em Feira de Santana, estava precisando de alguém de arte para fazer cenários e outros serviços relacionados. Foi assim que foi para Feira de Santana e permaneceu durante três anos na Tv Subaé. Disse que foi um grande aprendizado. Resolveu viver de sua arte e passou a pintar. Não cansa de repetir que “Foi aqui onde pintei meu primeiro quadro”, relembra o consagrado pintor Jorge Galeano. Atualmente vive numa casa no bairro de Pampalona, em Feira de Santana. Lembrou que logo que comprou o terreno iniciou a construção de sua casa e passou a replantar espécies do sertão como aroeira, cajueiro, além de mangueira, jaqueira e fez um jardim. Depois o local virou um condomínio fechado. Ele costuma chamar o local de sua ilha particular porque vive cercado de pássaros, saguis, sariguês e outros animais que frequentam e vivem na sua propriedade. Sua arte tem uma mistura deste mundo do sertão e também de elementos da cultura de seu país.

                                               COMO MUDOU

Jorge Galeano e seu ambiente de
trabalho,inclusive tintas e pincéis
.
Durante nossa conversa lembramos que ele pintava com alguma influência dos artistas o goiano Siron Franco e do gaúcho Iberê Camargo. Era uma pintura figurativa, mas faltava sua identidade pictórica. Em sua casa sempre chamava um rapaz chamado Jair Santos para podar as árvores e ajeitar o seu jardim. Certo dia no ano de 2007 o Jair virou-se para ele e disse: “Seu Galeano, por que o senhor não pinta o seu jardim?”. Aquela frase foi suficiente para provocar uma mudança substancial na sua arte. Disse Galeano que ficou pensando no que disse o jardineiro Jair e daquele dia passou a pintar o jardim como estivesse aquarelando com várias camadas e introduzindo nas suas obras elementos dos seu jardim ou seja as plantas, os pássaros, as pessoas que aparecem por lá. Foi como um estalo e assim encontrou sua identidade pictórica graças a um simples jardineiro. "Teve um dia, conta rindo, que peguei a paleta toda suja de tintas e encostei na tela, e dali fui pintando uma casinha, um pássaro, a vegetação. Me senti bem mais livre “.

Detalhes do jardim com vegetação
que circunda sua casa.

Em 1996 o amigo eprofessor de Letras Rubens Pereira, da Universidade Local, o convidou para dar aulas de arte, e ele passou a utilizar um pequeno porão que vivia fechado transformando num ateliê, onde pinta até hoje trabalhos de formatos menores. Quando precisa pintar uma obra em formato maior faz em sua casa no bairro de Pampalona onde também tem um ateliê. Quanto às aulas passou muitos anos ministrando através de contratos que eram renovados de seis em seis meses. Atualmente não ministra mais aulas, e vive totalmente voltado para sua arte, e é muito conhecido e procurado por colecionadores. “Sou cidadão Feirense e muita gente me conhece. Outro dia caí da moto e chegaram várias pessoas, inclusive uns meninos de rua me chamando de “ seu Gaiano”, preocupados comigo, mas, felizmente, nada de grave aconteceu.

Obra Manguezais . Vemos a alegria da 
natureza expressa em cores vibrantes.
Chegou a trabalhar numa agência de propaganda local, e não gostou da experiência. Foi então que bolou uma forma criativa de comercializar suas obras. Ele juntava dez pessoas interessadas em comprar as obras, fazia uma relação,as pessoas assinavam se comprometendo  e em seguida organizava uma pequena mostra. Eles escolhiam seus quadros, e lhes pagavam através de dez cheques pré-datados. Fez isto inúmeras vezes, e assim conseguia sobreviver com dignidade. Disse que nunca nenhum desses cheques estava sem fundos. Também, trocou muitas obras por serviços. Quando sua filha o estudava trocava as mensalidades da escola por obras, e o mesmo fez até uma vez com um restaurante onde passou a almoçar durante um ano. Chegou um momento que nem aguentava passar em frente ao restaurante porque enjoou da comida, por se repetir muito. Com um engenheiro trocou a construção da piscina de sua casa por obras pintadas por ele. Vive em sua casa cercado de árvores e animais silvestres que aparecem no seu jardim e de seu cachorro, que é uma mistura da raça doberman com vira-lata chamado Jack.
Em 11 de março de 2020 a Organização |Mundial de Saúde declarou a Covid-19 pandemia . Foi uma tragédia em todo o mundo e a exemplo de outros profissionais alguns entraram em depressão, outros pararam de trabalhar. Porém, Jorge Galeano encontrou uma forma de continuar produzindo. Anunciou através as redes sociais que continuava trabalhando e passou a fazer retratos em quarela. As pessoas enviavam as fotos através as redes sociais ele fazia o retrato e quando estava pronto viam buscar. Cobrava preços mais acessíveis para atrair a clientela. Já no final da pandemia recebeu uma encomenda para pintar cem pequenos caqueiros para uma agência de publicidade que queria presentear seus clientes. Portanto, não enfrentou dificuldades maiores naquele período de manipulação que o mundo viveu patrocinado pela globalização. 

O Jorge Galeano é o do meio,aí
ao lado de dois colegas da banda.
Outro fato interessante na trajetória de Jorge Galeano é quando algum turista estrangeiro o procurava queria comprar uma obra que tivesse  o mar presente. Aquela cobrança o incentivou a adquirir um pequeno terreno na localidade de Pedras Altas, que fica defronte a ilha dos Frades, e pertence ao município de Saubara. Lá construiu uma pequena casa e tem lhe despertado para pintar as coisas do mar, inclusive fica perto de um pedaço de Mata Atlântica. Disse que o local é maravilhoso, e que levou dois anos para construir a casa. “É pequena, mas aconchegante. Do terraço tenho uma visão inesquecível.” Hoje a casa ele doou para sua única filha a Aloma, a qual já lhe deu três netos. Porém, disse que sempre está por lá “porque é um local de inspiração com a presença do mar e da Mata Atlântica”.

                       PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

Folder da primeira exposição
de Jorge Galeano .
Em 1980 - Galeria 0 Cavalete - Salvador – Bahia; 1985 - Salão de Artistas Latinoamericanos - Caracas -Venezuela; 1990 - Museu Regional - Feira de Santana – Bahia; 1991 - Salão Nacional Mokiti Okada - São Paulo – SP; 1995 Individual na Galeria Prova do Artista - Salvador Bahia;  Galeria da Telemig - Belo Horizonte – MG; 1996 Individual Hotel Sofitel - Prova do Artista - Salvador -Bahia; 1997 - Galeria Valeria Vidigal - Vitória da Conquista – Bahia; Individual na Galeria do ACBEU - Salvador – Bahia 1998 - Bienal do Recôncavo - São Felix Bahia; 1999 - 100 Artistas da Bahia - Salvador – Bahia; Individual Galeria Casa 26 - Porto Alegre – RS; 2004 - Hotel Sofitel - Prova do Artista - Costa do Sauipe - Bahia; 2005 Individual Conjunto Cultural da Caixa - Salvador Bahia; 2008 – Individual Museo Provincial de Bellas Artes, Santa fé, Argentina; 2010- Individual Corredor Cultural Del Bicentenário Argentino, Paraná/Argentina; Individual Fundación de Estúdios Brasileros, Buenos Aires/Argentina; Individual no Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana, Bahia,Brasil; 2014 – Individual no Salon Del Pueblo, Cuenca,Eguador; 2016 – Individual no Museu Regional de Arte de Feira de Santana, Bahia, Brasil.





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