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domingo, 5 de setembro de 2021

JURACI DÓREA NA 34ª BIENAL DE SÃO PAULO

As duas Cartas para Ângela 

Juraci e os estandartes
 O feirense Juraci Dórea está participando   da   34ª Bienal de São Paulo. Nasceu em Feira   de   Santana e lá reside até hoje. Em 1961 veio   para Salvador e nesta época foi um momento   em que a arte baiana se renovava principalmente depois da realização de duas bienais em Salvador, quando artistas de vários estados vieram para expor seus trabalhos mostrando diversas tendências da arte. Em 1973 começa a se dedicar com mais regularidade às artes visuais e esta retomada foi com o tema dos Vaqueiros quando criou inúmeras  obras. Paralelamente, começa a pesquisar o couro, que está intimamente ligado à vida dos vaqueiros.  Os trabalhos estão sendo mostrados em dois locais em pavimentos diferentes. As Cartas para Ângela que têm 1,60 cm x 2,20m estão expostas no terceiro piso. Nestas cartas ele procura estabelecer um diálogo da História da Arte com o sertão e a memória. As duas cartas lembram escritas antigas onde  registravam fatos que aconteceram em épocas passadas. Já as obras de couro  seus  estandartes  estão expostos  no segundo piso. Também, tem 20 fotografias, diários e outros materiais produzidos por Juraci Dórea. Representam  portanto, uma síntese dos 40 anos de seu trabalho inspirado na gente e coisas do sertão. 
Veja como sua arte atraía pessoas da roça.
Esta escultura é do projeto Terra.

Prestou muita atenção na resiliência, na solidariedade  e na capacidade dos sertanejos em enfrentar as adversidades de um clima hostil. Veio a série Terra e passou a pensar em mostrar no ambiente próprio onde as coisas que via estavam acontecendo, e foi se  apropriando das coisas rústicas do sertão. As pessoas  tinham uma atitude respeitosa em relação aos trabalhos , mesmo não conseguindo entender completamente o propósito daquilo. Os trabalhos da série Terra eram feitos em as esculturas em couro e as pinturas em carvão sobre placa, e também com um pouco de tinta industrial terminando com estas figuras emblemáticas tão presentes nas capas de livrinhos de cordel. 

O artista  fez a série de obras que denominou Estandartes do Jacuipe, em 1974 ,onde vários deles foram expostos  a céu aberto na região banhanda pelo Rio Jacuípe. Muitos  foram reutilizados por pessoas das roças para consertar a indumentária dos vaqueiros, as selas, as bainhas de facão, a botas ,sapatos, as luvas,perneiras  etc. O artista quando expôs seus estandartes sabia da efemeridade em relação ao tempo, mas não  da possível reutilização pelas pessoas que moram no entorno onde eles foram instalados. Confessa que ficava sensibilizado com as conversas das pessoas que se acercavam de seus estandartes falando de suas impressões. Os estandartes do ponto de vista formal  tentam recriar os símbolos, e as ferramentas dos vaqueiros. Os trabalhos eram vistos de uma forma visceral. Ele considera que " o melhor lugar para  expor é no sertão. O sertão é um grande museu".

Juraci Dórea e sua colega a
artista Carmela Gross.

"Esta minha ida para expor no sertão foi porque a gente mandava os trabalhos para participar de salões e bienais fora, e isto custava caro. Muitas das obras nem eram devolvidas, mesmo depois de recusadas por uma comissão qualquer. Isto foi na década de 80, foi também uma atitude política minha reagindo pela dominação da região Sudeste que na realidade escreve a História da Arte em nosso país". Salientou que "isto não é ressentimento, apenas uma constatação ".
Ele destacou que ficou muito satisfeito com o cuidado da curadoria da Bienal paulista com as obras . O curador geral é Jacopo Crivelli Visconti, e os demais curadores adjuntos e convidados são: Paulo Miyada,Carla Zaccagnini,Francesco Stocchi, Ruth Estévez, Ana Roman e Divina Prado.