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sábado, 28 de outubro de 2023

EXPLOSÃO DE CORES E FORMAS DE MARIA NAZARÉ

Maria Nazaré Santos e obra Perfil, de 2016.

Estou diante de uma artista que emana  explosão de vida, cores e formas . É meu primeiro contato presencial com esta mulher que gosta   também de empreender , batalhadora e criativa que sabe o que quer e procurou direcionar suas energias para as  atividades profissionais, e agora decidiu que a arte é prioridade. É uma colorista e figurativa que enche os ambientes de alegria. Sua trajetória daria para fazer um desses filmes num misto de drama e comédia, e ela soube tirar de letra os percalços e dificuldades que encontrou pela frente. Não foi fácil, é verdade, mas é grande sua capacidade de superação, e a arte que está presente em sua vida desde criança, contribuindo decisivamente para isto. “Sempre senti em mim uma artista. Nunca fui uma desenhista do real. Sempre desenhei e pintei como vejo e sinto as coisas que estão diante de mim ou em meus pensamentos”, disse Maria Nazaré. Ela pinta em óleo ou acrílica sobre tela, pastel e transita tanto no figurativo quanto no abstrato. Mas, os traços e as cores sempre são fortes, quase cruas o que nos proporciona uma visão alegre das figuras e objetos que aparecem em suas composições personalíssimas. Sua arte vem das profundezas dos seus sentimentos e se apresenta para nos alegrar observando as figuras que se multiplicam em formas e posições as mais diversas.

O Mundo Encantado,  2018,  uma obra rica em 
 formas e  colorido vibrante, de Maria Nazaré.
Talvez tenha sido mesmo a arte um dos pilares, senão o principal, para sua vitória. Seu nome é Maria Nazaré Souza Santos, e ela assina suas obras como Maria Nazaré Santos. Eu costumo chamar as pessoas pelo primeiro nome e quando pronunciei o nome de Maria no diálogo que iniciava com ela foi logo avisando que não se identifica com este nome, e que o chamasse de Nazaré ou de preferência Maria Nazaré . Portanto, a partir de então passemos a chamá-la de Nazaré. Aí fiquei curioso em saber o significado da palavra Nazaré, e fui pesquisar   na Wikipédia e encontrei que no Novo Testamento está escrito que “era a terra natal de José e Maria, e o local da Anunciação, quando Maria foi informada pelo anjo Gabriel que teria Jesus como seu filho”. Também ai Jesus morou até seus 30 anos depois que voltou do Egito. Portanto, aí reaparece por duas vezes o nome Maria, mas a nossa personagem é a baiana Nazaré. Fiquemos com a Maria  Nazaré.

Obras:  Convivendo com Harmonia e Vivendo no 
Planeta Terra, ano de 

No ano 2016 participou de uma exposição comemorativa dos 49º Aniversário do Museu Regional de Feira de Santana, na cidade de Feira de Santana, na Bahia, com o nome de “Sou Baiana Sim Senhor...e Mulher     quando pode              mostrar   aos feirenses cem obras todas elas  inspiradas na cultura baiana e na mulher. Depois levou estas obras para os Estados Unidos e incorporou mais vinte, e assim com um total de cento e vinte telas em acrílica sobre tela realizou uma mostra itinerante em algumas cidades americanas, onde ela também tem residência e dupla cidadania brasileira-americana. Tem obras em exposição permanente numa rede de lojas de materiais artísticos na Califórnia, onde elas são comercializadas diretamente por Nazaré. Apenas usa o espaço para exibi-las aos possíveis clientes.

                                                          QUEM É

Maria Nazaré Santos, em 2008.
A Maria Nazaré Souza Santos nasceu numa fazenda no município de São Sebastião do Passé, na Bahia, em dezoito de setembro de 1948. Depois vieram para Salvador morar no subúrbio de Plataforma. É filha de José Modesto de Souza e Maria Adolfa Santos, e tiveram cinco filhos. Seu pai era eletricista e lembra de sua infância seu pai sendo muito solicitado e conhecido pelos moradores locais para realizar seus serviços de eletricista. Qualquer defeito elétrico chamavam o competente seu Zé Modesto. Estudou na Escola Municipal São Braz, em Plataforma,  e posteriormente foi cursar o ginásio no Colégio João Florêncio Gomes, na Ribeira, em Salvador. Disse que era sempre procurada pelas colegas para fazer desenhos e ilustrações outras nos deveres escolares, e dá uma risada relembrando que os colegas em troca lhe presenteavam com balas, cocadas de coco e outras guloseimas adquiridas numa feirinha que ficava nas proximidades do colégio. Vejam aí que a arte já estava presente na vida da Nazaré. Depois fez teste para a Escola Técnica Federal, no bairro do Barbalho, e foi estudar Química e viu que não era a sua área de interesse e passou para o curso de Edificações quando teve contato com o desenho técnico. Disse que o professor era exigente e costumava colocar jarros, caixa de fósforos, retângulos, cubos e outros objetos para que os alunos aprendessem a desenhar observando a perspectiva. Segundo ela isto tem lhe ajudado muito no dia a dia do seu fazer artístico.

Maria Nazaré  Santos falando de sua trajetória.
Casou-se aos dezenove anos enquanto estudava Engenharia na Universidade Federal da Bahia, quando engravidou e teve seu único filho. Infelizmente ficou viúva aos vinte e dois anos e passou a tocar a vida sozinha. Trabalhou como estagiária especialmente nos túneis e nas obras de drenagem do campo da antiga Fonte Nova que foi demolida no governo do petista Jacques Wagner para a construção da atual Arena Fonte Nova. A empresa era a Angaldi e pertencia a Walter Reuter, que foi diretor do Colégio Estadual da Bahia. Sempre trabalhou na construção civil por quase quarenta anos. Formou-se em Economia na Faculdade  Católica de Ciências Econômicas, chamada de Frederico que funcionava no bairro de Nazaré, em Salvador. Tornou-se depois em 1979 professora de Microeconomia, ensinando por três anos; empresária da construção civil , trabalhou com paisagismo e decoração. Foi funcionária de empresas públicas e privadas atuando em obras no Polo Petroquímico de Camaçari, Tibras- Titânio do Brasil através a Cobrasil. Finalmente, em 1986 decidiu desligar-se e criar sua própria empresa a Construtora Maria Nazaré Construções Incorporações Ltda. Construiu mansões nos bairros nobres de Salvador como Caminho das Árvores e Itaigara, em Lauro de Freitas/BA como Vilas do Atlântico, Encontro Das Águas, Buraquinho, Arembepe e Intervilas.

                                                           A ARTISTA

A artista Maria Nazaré Santos desenhando em seu
ateliê na  Pituba, em Salvador

Finalmente a partir de 2002 resolveu dedicar-se à sua arte e a partir dai começou a desenhar e a pintar adquirindo a sua marca inconfundível com composições próprias cheias de cores e elementos que traduzem o seu temperamento criativo e expressivo. Ao falar de sua arte se transforma e  lembra um riacho com suas águas límpidas e ligeiras que querem logo alcançar o vale para regar as flores que embelezam a pradaria. Tem ainda uma qualidade que admiro nas pessoas que é a gratidão. De quando em vez vinha com os nomes de Celso Cunha e Leonel Mattos que foram incentivadores no início de sua carreira de artista plástica quando decidiu se dedicar exclusivamente a este ofício. A propósito escreveu o arquiteto, escultor, artista visual e ex-professor da Escola de Belas Artes,
Carnaval, de Maria Nazaré Santos, de 2012.
da UFBA, Celso Cunha Neto:
“Surpreendente, impactante,desconcertante, viva e alegre. Fosse este um artigo, seriam estas as palavras-chave para descrever a obra pictórica de Maria Nazaré Santos. Artista independente, traço ágil e preciso, misto de desenho/pintura. Composição livre e surpreendentemente criativa, colorista corajosa e emocionante, uma obra que revela a sensibilidade e busca de liberdade desta vibrante artista”.

Participou do Catálogo Arte Atual Brasileira edições 2010 e 2015 e dos Anuários de Artes Atual dos anos 2010,2011,2012 e 2016 idealizados pelo artista Marcos Buarque. A partir de 2009 fixou residência nos Estados Unidos e diante de um novo país com cultura diferente decidiu estudar inglês para melhor se comunicar com as pessoas com quem se relacionava. Suas obras já foram comercializadas no Rio de Janeiro, São Paulo, e em Portugal, Grécia, China, Japão, México, Filipinas, França, Rússia e Estados Unidos. Já participou de muitas exposições coletivas e realizou duas individuais importantes sendo uma no Museu Regional de Feira de Santana e outra no Museu Eugênio Teixeira Leal, em Salvador e além de  em outros estados e até fora do país. Sua primeira exposição foi em 2007 numa coletiva da Galeria Panorama, no Rio Vermelho chamada Exposição Coletiva de Natal. Vejamos: 

Pintando ao vivo em San Francisco, reuniu
   dezenas de pessoas, 2018. 
EXPOSIÇÕES COLETIVAS : 2021- "A Arte no Reino Animal", exibida no Central Plaza Shopping em Parceria com a ABRASCI ; 2021- "É Tempo de Primavera" A estação das flores e das cores, exibida no Butantã Shopping ;2021: "Encontro das Artes" Homenagem ao dia Nacional das Artes, exibida na APAMAGIS - Associação Paulista de Magistrados -"Diversidade da Arte", exibida no Central Plaza Shopping - "Arte em foco", exibida no Central Plaza Shopping - "Elas" Mulher, a força central inspiradora, exibida no Central Plaza Shopping ;"Diversidade da Arte" exibida no Butantã Shopping em parceria com a ABRASCI - Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura ; 2020- "Expressões da Fé" exibida no Central Plaza Shopping ,São Paulo; "Arte em Foco" exibida no Hall de Exposições da Câmara Municipal de São Paulo - Palácio Anchieta ;"Uma Palavra Feminina ... ARTE" em Homenagem a todas as Mulheres exibida no Central Plaza Shopping ; 2020 - Exposição Especial Permanente na Blick Art Matarials, 1930 Van Ness Ave. 94109, San Francisco, Califórnia, U.S.A;2020 - Exposição Coletiva: "Pulsar da Arte", exibida na Associação Paulista de Magistrados pela APAMAGIS; "Café com Arte", exibida no e pelo Octávio Café em Parceria com a ABRASCI ; 2020 - Exposição coletiva Permanente, Ateliê & Galeria 29, Santo Antônio Além do Carmo, Salvador; 2020- Exposição Coletiva: "Arte é poesia com cor" exibida no Central Plaza Shopping em São Paulo; 2019: "Arte, Devoção e Inspiração" exibida no Central Plaza Shopping ; "Formas e Cores da Arte", exibida no Hotel Mercure   parceria com a ABRASCI ; Arte no Café, exibida no Octávio Café ; "Expressões", exibida no Radisson Red ; "Emoção em Cores", exibida por inciativa do Cel. Telhada no Espaço Villas Boas da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ; Ares da Montanha, exibida no Satélite Esporte Clube Campos do Jordão, São Paulo ; "Expressões da Arte", exibida no Hotel Mercuri; "Dinâmica de Arte", exibida na Galeria do Central Plaza Shopping ;: Arte no Café, exibida no Octávio Café ; 2019 - Exposição Especial Permanente na Blick Art Materials,  San Francisco, Califórnia, U.S.A.; 
 Anjos do Bem , de Maria Nazaré Santos.
2019 - Exposição Especial Permanente, Blick Art Materials, 979 Market ST. 94103, San Francisco, Califórnia, U.S.A. ; 2019- Participação como Artista do mês no periódico Brazilbest edição de 20 anos de número 227 ano Janeiro/2019 distribuídos em vários Estados Americanos; 2019 - Exposição coletiva Permanente, Ateliê & Galeria 29,Salvador; 2018 - Exposição Coletiva, RAW San 
Francisco, 1015 Folsom, San Francisco 2018 - Exposição Especial Permanente, Blick Art Materials, San Francisco, Califórnia, U.S.A; Circuito de Arte e Moda 2018, Salvador Shopping; 2018 - Exposição coletiva Permanente, Ateliê & Galeria 29;  Representação Feminina exibida no acervo do Museu Regional de Arte /CUCA/UEFS, Rua Feira de Santana, Bahia; 2017 - Exposição Coletiva Itinerante 90 olhares para Matilde Galeria Fast-Frame Molduraria Ladeira da Barra, Salvador; Exposição Tributo Gustav Klimt The Viena Workshop Gallery, Laudongasse 9, 1080 Viena, Áustria ; "Brasilian Exhibition in Miami" na ART & Design Gallery Miami U.S.A. 8650 Biscayne Blvd 2 Florida, U.S.A2017;  Exposição Itinerante 90 Olhares para Matilde, realizada no Ateliê Leonel Mattos ; 2017- Primeiro grande Leilão de arte contemporânea ARCO BH 2017 promovido pela Gala Leilões em Belo Horizonte; 2017 - Exposição Coletiva ARCO BH 2017, Arte Contemporânea, Belo Horizonte no Galpão Paraiso  Belo Horizonte; Exposição Circuito Moda Arte Salvador Shopping Intervenção nas Vitrines. Fez mais umas vinte outras exposições coletivas que podem ser conferidas no site que a Maria Nazaré tem .

 

 



 

 

 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

TROCARAM SEIS POR MEIA DÚZIA - Museu Rodin pelo Mac

O MAC, ex-Museu Rodin, com sua nova 
 pintura
.

Estive visitando o Museu de Arte Contemporânea – MAC que veio substituir o Museu Rodin numa troca que na realidade até agora nada acrescentou.  Foram gastos R$ 2 milhões com a pintura, corte de uma mangueira centenária, colocação de algumas placas de gramas, a construção de uma pista de skate de madeirite, e outras coisinhas mais, e um muro grafitado. Se a intenção é a tal de diversidade faltou um palco para apresentação de shows de pagodeiros e funkeiros com suas músicas desrespeitosas com as mulheres e repletas de palavrões. É a “cultura” da bunda que a Bahia é muito pródiga. O resultado disto é que perdemos mais um museu. A Prefeitura se encarregou que acabar com o Museu da Cidade, no Pelourinho, e o Governo do Estado com o Museu Rodin, no bairro da Graça.  A Bahia merece um Museu de Arte Contemporânea num prédio apropriado, com linhas arquitetônicas arrojadas e com espaços dentro e fora que possam receber obras contemporâneas para serem apreciadas num ambiente adequado e com prazer. Mas, estamos num momento crítico onde o país passa por um processo de desconstrução, e a Bahia é um dos carros chefes deste processo. Assim inventaram um museu de arte contemporânea num velho e histórico prédio centenário, inapropriado por falta de espaços adequados para comportar até mesmo estas obras contemporâneas datadas da segunda metade do século passado.

Instalação O Casamento, 
Marepe, premiada no III
Salão do MAM-Ba ,1996.
As obras estão amontoadas no velho e histórico prédio do Palacete Catharino, no bairro da Graça, em Salvador, em salas apertadas e com seu piso apresentando muitos arranhões. No início da administração do Museu Rodin as pessoas usavam protetores nos pés para proteger o histórico piso. Agora não. Também o prédio não suporta um grande fluxo de pessoas e vi por lá caibros sendo improvisados para sustentar parte das escadarias. Como os espaços eram antes usados como quartos e outras utilidades domésticas pelos construtores do imóvel histórico datado de 1912 é claro que o casarão é inadequado para expor obras que precisam de espaço e distância para serem mais bem visualizadas e apreciadas. A obra do Marepe não está fotografada em sua inteireza devido o pouco espaço onde foi colocada. Sabemos que a arte contemporânea dá importância ao conceito, as atitudes e as ideias que levaram o artista a concepção daquela obra. Muitas vezes o resultado pode ser o almejado pelo artista e nem sempre agrada a críticos e mesmo a apreciadores sem um conhecimento tão embasado em conceitos e experiências. Títulos de doutores, mestres não me impressionam. Artistas que não têm esses títulos muitas vezes produzem obras bem mais instigantes e de qualidade superior.A exposição em si nada acrescenta. Pegaram algumas obras do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, premiadas em salões da segunda metade do século passado, e improvisaram este museu. Os salões foram suspensos nos últimos três governos. 

                                           EXPOSIÇÃO NO PAVILHÃO

Uma das esculturas
expostas no MAC
.
O correto teria sido expor também outras obras que ainda estão no acervo do MAM-Ba utilizando o pavilhão de arquitetura moderna que existe no local. Ao contrário, montaram uma exposição de fotos já conhecidas e de temática batida, e algumas esculturas que foram expostas numa feira de arte em São Paulo. Soube que o custo da montagem chegou a um milhão para a realização desta mostra. Confesso que ainda não pude apurar, portanto cito aí como conjectura no meio artístico. Se alguém provar posso acrescentar aqui o documento oficial. Também não tem sentido esta exposição permanecer seis meses neste pavilhão. Deveriam estar ali as obras contemporâneas do acervo e não essas fotos e esculturas que lembram muito as esculturas feitas pelo mestre Didi com cipós, contas e outros materiais ligados ao candomblé. As esculturas em aço estão bem resolvidas tecnicamente, mas não trazem nada de novo.

Quanto às fotografias sou mais apreciador da foto instantânea, daquela que na essência registra um momento fugaz. Não apenas a foto jornalística, mas também a foto artística com sua plasticidade, ambiência, sombra, as cores, o claro e o escuro, e foco no objeto principal e nos detalhes. O registro de um momento que não volta mais. Fotos produzidas não me agradam muito porque trazem algo de superficialidade, e podem ser repetidas digitalmente milhares de vezes, essas não me emocionam. Podem ser bonitas, mas lembram as selfs de mulheres com os filtros que os celulares oferecem. Este é o meu olhar, evidentemente existem outros olhares e opiniões. Acho isto salutar.

                                                        MUSEU RODIN

Escultura de Rodin que foi removida  
e não sabemos onde foi parar.
O Museu Rodin foi resultado de uma iniciativa do artista Emanoel Araújo,
recentemente falecido, que em parceria com o diretor do Museu Rodin Paris, Jacques Vilain, visavam mostrar as obras do grande escultor francês e coube aos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci o restauro do palacete e o projeto de construção do pavilhão anexo. Foi inaugurado em 2006 e agora fechado numa troca muito discutível e porque não dizer imprópria.

Foram adquiridas quatro obras de Rodin em bronze por R$3,30 milhões: “O Homem que Anda Sobre a Coluna”, “Jean de Fiènnes Nu”, “A Mártir” e “Torso de Sombra”, que ficavam expostas no jardim do Palácio Catharino e agora não sabemos onde foram parar. Também, o Museu recebeu 62 obras em regime de comodato e o prazo inicial era até julho de 2009. Este prazo teria sido prorrogado, e com a mudança as obras foram devolvidas.

 

 


sábado, 21 de outubro de 2023

CAETANO DIAS O ARTISTA PENSADOR

Caetano vive inventando e refletindo.
Acabo de entrar no ateliê de um pensador e talvez o mais reflexivo artista artista baiano. Começo a observar pelos cantos vários objetos: cabeças brancas e negras numa mesinha e no chão, obras com rostos em estilo expressionista, uma televisão moderna que serve de monitor para um potente computador Macintosh, uma escultura feita de um pedaço do tronco de pau brasil, um grande pano vermelho dependurado numa parede, depois fiquei sabendo que era um trocador de roupas que ele comprou numa feira livre. Enfim, ainda tem vários outros objetos e tudo me dá uma sensação de caótico, embora esteja em processo de mudança na realidade tem uma lógica no mundo onírico por onde transita o criativo Caetano Dias. Em seguida me convida a sentar diante da tv-monitor e começa a apresentar alguns vídeos que ele chama de poéticos que fez sobre seus pensamentos que se transformaram em criações e nos remetem às mais diferentes interpretações. Ao término de cada vídeo procurava entender o que o artista queria transmitir e para minha surpresa ele disse que a interpretação de cada um é válida. Sendo jornalista que trabalhou por décadas com a objetividade queria também saber através o seu spoiler a interpretação que o Caetano Dias dava a cada um daqueles vídeos poéticos. Confesso que eram bem diferentes das que imaginei e isto me deixou intrigado. Volto a perguntar o que acontece quando projeta estes vídeos e se as interpretações dos presentes coincidem com as suas. Ele dá um riso controlado e diz: “Muito difícil. Alguns chegam perto. Cada um interpreta de uma forma e isto é o que interessa.”

Caetano Dias com suas telas do seu autorretrato.
Sua arte não se restringe ao olhar os scaths de um vídeo poético ou mesmo a um muro ou labirinto construídos com açúcar. Estas obras conceituais nos remetem a pensar, nos levam para um mundo de possibilidades, de visões e questionamentos, e em seguida passamos a imaginar a significância dos muros e dos labirintos que nos apresentam fisicamente ou mentalmente. Além de pensador e reflexivo Caetano Dias é um provocador porque por menos informações ou erudição que tenha o espectador ele fará a leitura dessas obras dentro do seu mundo e vai começar a se questionar procurando entender e saber de outras pessoas o que o artista quis dizer com aquelas imagens dos vídeos poéticos, nas pinturas, objetos , esculturas e nas obras conceituais. Na conversa que tivemos disse que escolheu inicialmente a linguagem da pintura para se expressar. Ainda trabalhava na Caraíba Metais, no Polo Petroquímico, de Camaçari, na Bahia, e depois de nove anos decidiu deixar a empresa e se dedicar exclusivamente às artes. Sabia desde o início que a pintura era uma porta inicial e que iria se expressar em várias outras linguagens, o que realmente vem ocorrendo através a utilização de meios como o cinema, a fotografia, a digitalização de imagens, apropriação e construção de objetos e os transformando em arte. Não abandonou a pintura. Tudo caminha dentro dos momentos criativos de Caetano Dias. Diante de mim estão por exemplo duas obras expressionistas que são  autorretratos.

                                            DESEJO DE CRIAR

Caetano com um futuro violoncelo
em processo  de construção.

Caetano mesmo nos finais dos anos 80 quando saiu do polo petroquímico já tinha a intenção de se jogar na arte de corpo e alma. Quase simultaneamente a isto já trabalhava com vídeo, fotografias e desenho artístico e técnico. Era o chefe coordenador do setor multimeios. Este trabalho lhe deu mais compreensão e técnica apurada.  Não fez a Escola de Belas Artes e sim foi estudar Letras, na Universidade Católica de Salvador, mas ao sair do trabalho teve que optar pela arte. “Optei pela arte e acho que foi assertivo. Meus pais na realidade não queriam que me dedicasse à arte, porque ser artista naquela época não era uma boa carreira para um filho. Porém nunca fizeram uma oposição firme. Desde criança gostava de pintar, esculpir e a arte sempre esteve em minha vida. Fiz alguns cursos livres, mas o domínio técnico e capacidade de invenção e descobertas de novos meios eram presenças no meu dia a dia.” Disse que por ter trabalhado na Caraíbas Metais o ajudou a exercitar o uso da fotografia, do vídeo e do desenho técnico e artístico, e mesmo por ser uma indústria de beneficiamento do cobre e de outros produtos, esta alquimia também lhe interessava. E por se interessar por este processo alquímico isto refletia nas coisas que tentava. "Uma das características do meu trabalho é de tentar e refletir sobre o que faço. Venho também desenvolvendo textos sobre meus trabalhos, que é uma das últimas etapas deste processo criativo. Outra forma de me expressar com os textos críticos da minha arte e na literatura, inclusive acabei de concluir meu primeiro conto com quase quarenta páginas.  Enquanto vou continuando com meus vídeos poéticos que muito me encantam e tenho muito prazer em fazer, adianta Caetano Dias.”

                                           OS VÍDEOS POÉTICOS

Janiele rodando seu bambolê na laje 
de uma casa numa favela em Salvador.
"No vídeo O Mundo de Janiele trata de algumas coisas que são importantes para mim. Tem três minutos, e a ideia é uma pessoa jovem que rotaciona um bambolê em volta do próprio corpo indicando uma órbita. Este movimento de rotação do aro em torno de si indica a própria construção da identidade que é um processo de formação. Você tem aí um dado importante sobre a identidade e a individualidade, e a rigor todo ser humano está em processo de formação. A adolescência é apenas uma fase rápida e densa da vida onde tudo muda rapidamente. Por outro lado, no travelling completo com o aro gira em sentindo oposto reforçando mais uma vez a ideia de translação e de rotação formando um sistema cósmico, quase metafísico que é indicado pelos movimentos. Quando ela gira o bambolê em torno de si, o mundo vai se movimentando e um movimento leva a outro", diz Caetano Dias. Escolheu gravar à tarde e a câmara estava posicionada para que o sol quando baixasse formasse uma áurea na cabeça dela. "E neste momento ela é o centro do universo. Ai mais uma vez temos uma dimensão muito além do mundo que ela está rodando e o sol que faz transcender aquele universo," explica Caetano Dias.

Ao assistir o vídeo fiz uma leitura um pouco diferente, mas alguns elementos que imaginei coincidiram com o pensar do criativo e reflexivo Caetano Dias. Porém, confesso que mesmo assim ainda ficou longe desta sua ideia poética. E na conversa que fluiu prazerosa ele me respondeu que quando apresenta o vídeo as leituras são as mais variáveis possíveis e que vê isto com muito alegria porque a arte não pode ter apenas uma leitura, senão ela morre. A arte tende a ser aberta a várias leituras e interpretações. "Temos que ter várias leituras de pessoa a pessoa e isto é muito importante e incentivador. A interpretação da poesia é livre. O pensar para ele é a coisa mais importante", entende Caetano Dias.

 personagem depois de nadar enche o barco de água 
até desaparecer com a embarcação no fundo do mar.
Neste outro vídeo poético  a concepção, o roteiro, a ideia original, a fotografia, e a primeira montagem são de sua autoria. Depois chamou um amigo para dar uma finalizada na edição, e reconhece que ficou bem melhor. O nome do vídeo é Água, e o personagem foi interpretado pelo artista plástico Carlos Rodrigues, conhecido por Carlinhos Rodrigues que trabalhou em A Tarde como programador visual, e  faleceu precocemente. Ele aparece nadando sem ver o horizonte e de repente encontra um velho barco que já tem pouco água dentro. Sobe no barco e com um balde plástico vai enchendo o barco de água até que ambos desaparecem no fundo do oceano. Segundo Caetano Dias é alguém que vem nadando sem rumo, sem horizonte e continua nadando até que encontra um velho barco em meio aquele mundo de água. O barco tem um pouco de água no casco e ele encontra um recipiente. Ao invés de retirar a água do barco recolhe mais água do mar e vai enchendo o barco até que juntos vão afundando e desaparecendo. Ele diz que o vídeo é curtinho tem uns três minutos de duração, mas tem um rico universo signífico. A questão não é esta. A construção de conceito deste vídeo poético é que uma pessoa partiu do inicial para pegar o espectador pelo pé. Vem nadando sem rumo, sem horizonte. A leitura segundo Caetano é que ele é o próprio barco e o barco a extensão do seu corpo e da alma . O mar também é ele ou a extensão dele. Quando coloca água no seu corpo que se confunde com o barco está fazendo um mergulho em si mesmo que é todo o oceano, que é o ser. Cada ser é um oceano de sentimentos, de beleza, de dores, de alegrias e de solidões. Com esta visão poética e única do artista que quase sempre não coincide com as das pessoas que assistem os vídeos perguntei ao Caetano se ele costuma dar alguma explicação depois de exibi-los ou deixa que as pessoas se manifestem. Respondeu com sua calma , voz baixa e pausada  "quando perguntam costumo explicar, mas deixo que fluam as interpretações as mais variadas. É uma grande provocação ao pensamento."

O pescador entrando no lago em busca do seu barco.
Outro vídeo poético de Caetano  chamado 1978-Cidade Submersa versa sobre a cidade de Remanso que foi encoberta pelas Águas do Rio São Francisco para a construção da Barragem do Sobradinho. Aparece um pescador que vai entrando no lago em direção a velha caixa  d'água da cidade que ainda permanece parcialmente sem ser encoberta pelas águas até encontrar o seu barco e daí sai navegando para cumprir sua missão diária de pescar. Ele navega e tira sua sobrevivência das águas que cobriram sua cidade e suas memórias. O vídeo leva a pensar no grau de sentimentos que o desaparecimento de uma cidade provoca em seus antigos habitantes. Quase tudo fica submerso em nome do progresso e da necessidade de mais energia para que o país possa se desenvolver. Após exibir as pessoas são provocadas a dar suas leituras sobre o vídeo que tem um poder impactante grande, especialmente nas pessoas que viveram aquele episódio.

                                     A RABECA

Rabequeiros Eder Fersant e d. Domingas.
O artista Caetano Dias tem um documentário de pouco mais de 70 minutos de duração sobre o instrumento rudimentar e popular na zona rural brasileira que é a rabeca. É um instrumento rudimentar de cordas friccionadas e seu corpo normalmente não tem um acabamento refinado, e é encontrado  especialamente na zona rural. Tem de três a cinco cordas de aço e mesmo de tripas de animal. Filmou entre os municípios de Irecê e Correntina. O filme versa sobre a possível existência ou inexistência da rabeca na Bahia. Este instrumento está em processo de  desaparecimento, mas ainda tem  presença na zona rural de Goiás e de outros estados brasileiros, inclusive na Bahia. Inicialmente o roteiro surgiu da necessidade que ele teve de falar sobre o instrumento que era presente no conto que escrevia. Uma coisa foi se conectando com a outra e resultou no documentário. Ele diz que imaginou inicialmente o instrumento do conto Água que estava escrevendo seria uma rabeca que apareceu em suas memórias de criança nas feiras livres e em frente as igrejas das cidades do interior onde morou. Foi aí que conheceu em Irecê o jovem Eder Fersant fabricante e tocador de rabeca e na fazenda Santo Antônio no município de Correntina, no extremo oeste da Bahia a d. Domingas da Rabeca que é uma exímia tocadora do instrumento, uma senhora com quase noventa anos de idade. Também visitou outras cidades e encontrou alguns tocadores de rabeca, mas nem todos entraram no documentário. Chegou a conclusão que o instrumento que imaginara no conto não era a rabeca. Durante a pandemia aproveitou para reescrever o seu conto que segundo Caetano Dias será realmente sua estreia na Literatura. O conto versa sobre o Deus africano que aqui chegou durante as navegações que traficaram milhares de escravos africanos e com eles veio um capitão de uma nau que trouxe o seu diário de bordo. O conto se desenrola em Canudos e ele já fez um total de dezesseis pequenos ensaios sobre algumas obras que versam sobre a história de Canudos e Antônio Conselheiro. Por descobrir que a rabeca não era o instrumento arcaico que imaginou passou a considerar a ideia de construir alguns até encontrar aquele que mais se aproxima do que está no conto. De posse de alguns tacos de snooker , cabaças, um pedaço de osso, cordas e outros objetos vem também se dedicando a construção desses instrumentos arcaicos até encontrar aquele que mais se aproxima do que imaginou no conto.

                                               O PENSADOR 

Detalhes de obras de Caetano Dias
 de 2015-2019.
O artista Alberto Caetano Dias Rodrigues ou Caetano Dias nasceu no distrito de Bonfim de Feira, município de Feira de Santana, na Bahia, em sete de agosto de 1959. Filho de Isabel Marques Rodrigues e de Cleonice Dias Rodrigues, tem três irmãos, sendo dois homens e uma mulher. Passou sua infância em várias cidades, sendo a maioria do tempo em Feira de Santana. Morou em Lapão, Irecê, Distrito de Bonfim de Feira, Feira de Santana e finalmente em Salvador. Ao falar de seu pai informou que era um pequeno empreendedor fabricante de jurubeba, uma bebida retirada da fruta da jurubeba que é um arbusto que aparece muito nos campos e pastos das fazendas em nosso país, fabricava cachaça e até mesmo sabão em barras para vender.

Estudou o primário no colégio Municipal Joselito Amorim, em Feira de Santana e depois fez o vestibular para Letras na Universidade Católica de Salvador, mas não chegou a concluir o curso. 

Uma ação com o trocador de roupas  
que o chamou de Trocador de Corpos.

" Uma das características do meu trabalho é de tentar e refletir sobre o que faço. Venho também desenvolvendo textos sobre meus trabalhos, que é uma das últimas etapas deste processo criativo. Outra forma de me expressar com os textos críticos da minha arte e na literatura, inclusive acabei de concluir meu primeiro conto com quase quarenta páginas.  Enquanto vou continuando com meus vídeos poéticos que muito me encantam e tenho muito prazer em fazer confirma Caetano Dias.”

                                              EXPOSIÇÕES E ACERVOS

Instalação Delírios de Catarina, com 
cabeças feitas de açúcar.
O  artista feirense Caetano Dias tem obras nos acervos da Casa de Las Americas, em Havana, Cuba; Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana, Bahia; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; Unama Galeria de Arte, em Belém do Pará; Museu AfroBrasil em São Paulo; Coleção Gilberto Chateaubriand - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea – Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, Ceará; Museu Berardo de Lisboa, Portugal – Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Coleção Berardo. Fez cursos: 2009 em Le Fresnoy e na Cite Internationale des Arts, ambos na França; 2009 na Can Xalant, em Barcelona, na Espanha;2008 no  Museu da Imagem e do Som, em São Paulo; 2005 – Fundação Derouin, em Quebec, no Canadá, e em 1994 participou do Workshop Cultural em Museus, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Fez exposições individuais em 2010 na Paulo Darzé Galeria de Arte; 2006 – Galeria de Arte Marilia Razuk, em São Paulo; 2003 – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; 2002 – Galeria de Arte Marília Razuk, São Paulo; 2002 – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; Paço das Artes – Temporada de Projetos 2001/2002, São Paulo; 2001 – ICBA – Instituto Cultural Brasil Alemanha, Salvador; 1999 – Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador; 1995 – Galeria de Arte Rubem Valentim, Brasília, DF; 1995 – Museu de Arte Moderna da Bahia; 1994 – Casa de Las Americas : Ritmos Visuais, em Havana, Cuba;1993 – Anarte Galeria de Arte, Salvador; 1989 – O Cavalete Galeria de Arte, Salvador. Participou ainda de mais de oitenta salões e exposições coletivas fora do país e em outros estados brasileiros.

                                                       REFERÊNCIAS

Instalação  Lago-Indigente, de Caetano 
Segundo o professor Eric Cone que é artista, curador e professor da Ecole Nationale des Beaux Arts de Bourges, na França, “No seu vídeo, O Mundo de Janiele, que foi destaque no Paço das Artes, em São Paulo, e adquirido pelo Museu Berardo de Lisboa e que tive o prazer de apresentar em 2009, ele nos faz penetrar nesta “concrete love jungle” da favela. Ele grava uma menina brincando de bambolê: à primeira vista, esta cena nos parece simples e lúdica com a a musiquinha lancinante e infantil, parecendo chegar a uma caixa de música. Pouco a pouco, na repetição do movimento e a aparição lenta do rosto e logo total da menina, reinando no centro da favela, é a alteração da imagem e sua mensagem se impõe..... Mas, além da doçura e da beleza quase idílica desta cena, na espiral obcecante de O Mundo de Janiele, se percebe, em realidade, um encarceramento no qual Janiele é forçada a sufocar par todo o sempre, conservando a qualquer preço, a miséria sem esperança das prendas para a maturidade. E esta obra tão sensível e justa, em suas múltiplas ambiguidades traduz toda a arte de Caetano Dias, onde a gravidade se superpõe à meiguice, a dignidade à vulnerabilidade, e reciprocidade”.

Diz o André Parente artista e pesquisador do audiovisual e das novas tecnologias da imagem que “A arte de Caetano Dias tem como estratégia primordial investir no campo fértil das experimentações sociais, como um espaço de relações que resiste de todos os lados a massificação e uniformização. Não se trata de uma arte que toma o social como tema, como muitas vezes se diz no campo da cultura, mas de fazer do social um campo de forças aberto, a ser explorado, questionado, renovado, erotizado. Na verdade, a obra de Caetano nos propõe um novo corpo, novas relações sociais e culturais, ao nos propor imagens que transforme as condições gerais de produção de subjetividade. A obra de Caetano concentra-se cada vez mais nas relações que seu trabalho irá criar com o público ou na invenção de novos modos de relações sociais....”

 

 

 

 

 

 

sábado, 14 de outubro de 2023

TELMA FALCK E SUA ARTE EXPRESSIONISTA

Telma ao lado de  obra expressionista de sua autoria.
Vou falar hoje de uma artista expressionista que já participou de inúmeras exposições individuais e coletivas aqui e fora do país e quem tem uma disposição invejável em criar. É licenciada em Desenho e Plástica pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, tem curso de Especialização em Metodologia do Ensino de Desenho, pela Universidade de Feira de Santana. É também professora especializada em Educação de Portadores de Necessidades Especiais, especializada em Libras, a língua de sinais, e idealizadora do projeto Arte ao Alcance de Todos, na EBA. Foi coordenadora de Artes na Federação das APAES, na Bahia.

Esta bela tela  Anjos Azuis é uma das obras mais significativas de Telma.
Fui encontrá-la em seu apartamento no bairro de Ondina onde pude ver vários
trabalhos de fases distintas de sua autoria. Nota-se uma evolução e uma busca de expressar seus sentimentos mais profundos. Mesmo estando com viagem marcada e próxima para a Alemanha ao encontro de seu filho que reside por lá arranjou um tempo para conversarmos sobre sua arte e seus projetos futuros. Na conversa que tivemos ficou patente que a artista Telma Falck tem uma capacidade de enfrentar as diversidades que a vida nos apresenta e vai em frente procurando criar e se expressar em cores vibrantes que mostram de certa maneira sua alegria em viver. Sofreu juntamente com seu esposo a repressão da ditadura militar. Ficou viúva, já enfrentou um câncer de mama, mas sempre vem mostrando uma imensa vontade de viver e se expressar através da sua arte que nos brinda com alegria.

Autorretrato de quando perdeu
os cabelos na quimioterapia.
A sua arte vem de encontro ao movimento expressionista que surgiu na Alemanha em oposição ao impressionismo francês. É uma arte visceral, e as cores e as formas que Telma Falck cria não correspondem a realidade que estamos vivenciando ou observando. O desenho das formas humanas ou mesmo de objetos fogem do esperado numa fotografia, porque ao criar a figura de um personagem de sua pintura ela navega no seu mundo pictórico e idealiza as formas que vai apresentar na tela dentro de seu mundo mágico sem a preocupação em ser fiel a figura humana ou aos objetos que vai representar  Foi aluna do professor Roberval José Marinho, hoje, aposentado, e presidente do Instituto Sociocultural Ogum Gb Á K, que viu em suas obras e a maneira dela se expressar um caminho para o tridimensional e a arte conceitual. Mas, a Telma Falck preferiu continuar pintando e fazendo gravuras, embora também tenha realizado algumas esculturas no decorres de sua vida artística, inclusive realizou uma exposição de esculturas no Museu Costa Pinto..

                                                QUEM É 

Ai vemos duas obras com a temáticas flores e frutos de 
uma fase anterior a dos elementos humanos.
A artista Telma Falck Souza Lima nasceu em Salvador no bairro de Ondina, onde mora até hoje, filha de Nelson Souza e Waldete Falck Souza. Nasceu em 12 de dezembro de 1958 e lembra que sua infância foi naquele bairro frequentando muito a casa de sua avó e a praia. Minha mãe disse que “aprendi a andar na areia da praia Bacia das Moças, em Ondina”. Casou aos 19 anos de idade e em 1982 fez o vestibular para a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. O esposo, já falecido, trabalhava na Petrobras e participava ativamente do sindicato e quando em 1986 irrompeu uma greve na empresa eles foram morar em São Luiz, no Maranhão. Ela lembra que foi um choque muito grande porque  era muito atrasada em relação a Salvador e diz que até o lixo da cidade era recolhido em carroças puxadas por cavalos. 

Obra Pensando onde observamos traços 
retos na construção da figura humana.
Passaram dois anos por lá e quando retornou teve alguma dificuldade em
reassumir seu curso na Escola de Belas Artes. Disse que a pessoa que lhe atendeu na Secretaria Geral de Cursos, da UFBA, insistia que ela teria que fazer um novo vestibular. Porém, saiu em busca de apoio e conseguiu algumas cartas da Anistia, da Petrobras, e outra redigida pelo professor Luiz Gonzaga, dentre outras e assim pode retornar e concluir seu curso na EBA. O esposo trabalhava na montagem de plataformas marítimas e quando retornou para a escola acabara de ter seu primeiro filho e muitas vezes teve que  levar o menino para a escola por estar amamentando. Até que em 2016 seu esposo veio a falecer e ela teve que tocar a vida com dois filhos um que reside em Zurique, na Alemanha, que tem uma carreira brilhante de astrofísico e a outra é formada em arquitetura. Pensa assim em ir morar na Alemanha, tendo em vista as dificuldades porque está passando o nosso país, principalmente a violência que ocorre na Bahia. Por coincidência embarcou ontem para o encontro com seu filho na véspera da publicação deste texto.

                                               EXPOSIÇÕES

Coletiva que participou.
A Telma Falck disse que “sempre fui expressionista e pinto o que sinto.” Já participou de várias exposições aqui e lá fora, mas pelo seu jeito de ser não tem um currículo sistematizado, o que é importante para qualquer atividade humana. Mas, depois de insistir me enviou algumas anotações sobre as exposições que já participou que lembrou a saber : Exposição na Galeria Cañizares, no foyer do Teatro Castro Alves, na Casa do Comércio, uma de esculturas no Museu Costa Pinto, outra no Palacete das Artes, no Rio de Janeiro no Centro Cultural do Banco do Brasil, na Eco 92, e em Portugal e Viena. Perdeu a paciência em lembrar e escreveu “é muito espaço e perdi a conta”. Acho importante que o artista vá organizando o seu currículo com nomes das exposições, dos espaços e as datas. É um cartão de visitas  e que deixa aí escrito o seu legado.