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Célia Mallett pintando no ateliê. |
A Célia Mallett é uma artista visual conhecida
nos meios culturais baianos onde sempre está presente participando ou
visitando exposições de seus colegas e amigos. Ela desenvolveu sua
produção artística “numa relação estreita com a escrita: a linha, o gesto, a
exposição da individualidade, o peso da veracidade contido num “ponto branco”.
Com fortes pinceladas se expressava. Também passou pelo abstracionismo,
portanto, se distanciando do aprendizado na Inglaterra onde aprendeu a desenhar
a figura humana, paisagens e objetos. Assim o figurativo foi desaparecendo em
meio aos gestos e outros elementos que compõem suas obras gestuais e abstratas.
É conhecida também por sua arte artesanal com seus bordados, lembranças da
infância quando seus ancestrais gostavam de bordar para matar o tempo . É licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e bacharela em Artes
Plásticas em Pintura e Desenho pela Escola de Belas Artes, pela Universidade
Federal da Bahia, concluindo o Mestrado em Artes Visuais. Foi professora
substituta na EBA de Desenho I, II, III, Modelo ao Vivo, Teoria e Técnica de
Pintura e Composição Decorativa I. Vem apresentando trabalhos em exposições individuais e
coletivas desde 1989. Seu nome de batismo é Célia Maria Baldas e nasceu
em Salvador no dia vinte e seis de outubro de 1937. É filha de Roberto Baldas e
Joana Martins Baldas. Fez parte do primário em Salvador e em seguida foram
morar em São Gonçalo dos Campos, interior da Bahia. Estudou no Grupo Escolar
Antônio Carlos Pedreira, sendo aluna da professora Theonila da Silva Correa, que também foi professora de Emanoel
Araújo, que vem a ser a mãe da artista Yedamaria. Voltaram para Salvador e
estudou no Colégio Nossa Senhora da Salete, nos Barris , e no Colégio Severino Vieira, que
fica no bairro de Nazaré. Em seguida se transferiu para o Colégio Central da
Bahia. Fez vestibular para Licenciatura de Psicologia e Filosofia na
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Estudos a óleo sobre compensado feitos durante seu aprendizado na Inglaterra. |
Universidade Federal da Bahia e trabalhava no Banco Nacional de Minas Gerais,
que ficava na Praça da Inglaterra, no bairro do Comércio. Era recepcionista e
lembra da farda das recepcionistas que era de cor verde oliva, camisa branca, sapatos
pretos fechados e meias brancas. Na época o banco atendia aos estivadores do
Porto de Salvador e lembra que era muito movimentado. Trabalhou ainda na Cesmel
com o empresário Ulisses Barbosa Filho, que foi inclusive Presidente da
Federação da Indústria da Bahia; e com o filho do ex-governador Landulfo Alves
na Empreendimentos da Bahia, onde Antônio Luís Alves de Almeida coordenou
importantes projetos como do Centro Industrial de Aratu, da Sibra, Frigoríficos
da Bahia outros para depois serem financiados através a SUDENE. Ela classifica que este trabalho onde exercia a função de secretária de projetos como o mais importante e que foi uma experiência enriquecedora.
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Desenhos em bico de pena, crayon e carvão com modelos vivos. |
Uma
curiosidade é que ele era esposo da famosa artista americana Betty King de
Almeida, a Betty King, pintora e escultora que chegou ao Brasil em 1958, fixando-se em
Salvador até 1966. Tenho uma
passagem interessante com Betty King. Estava na redação no jornal num certo dia de julho de 1980 durante à noite quando recebi um telefonema que ela estava em
Salvador, numa casa do bairro de Amaralina, e gostaria de conversar sobre seus
últimos trabalhos. Lá fui eu e o fotógrafo Arestides Baptista. Escrevi um texto com o título
“Betty King: A Família como Referencial”, foi publicado em vinte e cinco de julho de
1980, no jornal A Tarde e está no blog Artes Visuais, é só colocar em
Pesquisar. Esta exposição de Betty King foi na galeria ACBEU, no Corredor da Vitória, em Salvador.
Voltando para a conversa com Célia Mallett ela me
disse que já tinha três filhos do seu casamento com o inglês
Henry John Mallett o qual foi transferido para Londres pela empresa Corrêa Ribeiro S.A. Comércio e Indústria. A
empresa foi fundada em 1926 com o objetivo de exportação de produtos primários
dentre os quais se destacavam cacau em bagas e café. Lá ficaram durante seis anos, enquanto seu esposo trabalhava
em Londres envolvido com o seu trabalho de acompanhar de perto a cotação do
cacau na bolsa de Londres e de outros afazeres ligados à comercialização dos
produtos que a empresa exportava. O local onde moravam distava de Londres
apenas vinte minutos de trem. Depois de matricular seus filhos na
escola decidiu procurar algo para fazer. Foi quando a proprietária do
apartamento onde moravam sugeriu se matricular numa instituição que oferecia
vários cursos para adultos. Célia Mallett se matriculou na Escola Sir John
Cass, da Politécnica de Londres. Lá aprendeu as principais técnicas de Desenho
e Pintura, inclusive com modelo vivo. Um detalhe que a artista lembrou foi
que a professora de pintura só trabalhava com tinta a óleo, não usava acrílica . Ao retornar para
Salvador esteve com a professora e artista Ana Maria Villar que lhe indicou
procurar Maria Adair que estava ministrando um curso de extensão na Escola de
Belas Artes. Se inscreveu no curso e em seguida decidiu prosseguir seus estudos
em artes visuais.
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Obras contemporâneas que mostram o talento versátil da artista. |
Também já trabalhou com Mário Cravo Jr e Renato Ferraz quando o museu estava iniciando. Não era ainda o Museu de Arte Moderna. É conhecida na arte artesanal por executar intervenções nas
tramas de antigos bordados, uma lembrança de sua infância. Quando lhe perguntei
se chamava de bordados ou abordados ela disse que nunca tinha pensado nisto, mas
gostou de bordados abordados. São bordados que ela desfaz uma trama
pré-estabelecida e “ recria uma nova que diz mais de você, que fala da
sua vontade em superar o que está estabelecido, criar e recriar. Emprestando um
novo significado , a vontade, o desejo de expressão.” Me falou ainda das
rodilhas, inclusive fez uma escultura de rodilhas. Quando lhe falei da origem
africana das rodilhas onde as mulheres sempre utilizam para carregar cestas,
feixes de lenha e todo tipo de objetos sobre as suas cabeças, ela disse que a
ideia das rodilhas veio bem diferente. Certa vez estava pensando em vários
problemas pessoais, e nos de fora de outras pessoas, parentes e conhecidas aí
imaginou que sua cabeça era uma verdadeira rodilha amparando tantos problemas.
Daí passou a fazer as rodilhas, inclusive nas pinturas.
REFERÊNCIAS
Em 1990 o professor Herbert Magalhães reproduziu as
palavras de Ailton Lima sobre uma exposição de alunos da Escola de Belas Artes entre
os quais estava Célia Mallett. “Sobre Célia Mallett, quem melhor a descreve é
Ailton Lima, que inclusive
lhe passou conhecimentos e muito a incentivou. Diz ter tido a honra de assistir ao nascimento dessa artista: "O que era semente tornou-se para ela uma constante busca intencional. Sua evolução como artista é uma
consequência da seriedade com que encara
sua permanência no elenco das artes plásticas”.
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Bordado que expôs na mostra - 50 Anos de Arte na Bahia. |
"A Afirmação No Gesto, essa é a exposição da artista plástica Célia Mallett, na Galeria
ACBEU em 12 de maio de 1997 e foi
publicado no jornal A Tarde. “Com formação em Filosofia e Artes Plásticas,
incluindo curso de especialização na Inglaterra, Célia Mallett tem no currículo dezenas de exposições
coletivas e individuais, algumas delas realizadas na própria Galeria ACBEU. Apaixonada pelo estudo da
gestualidade e pela perspectiva de
traduzi-la em arte, a artista há algum
tempo vem se dedicando a uma linha de
trabalho que tem como referência ẹ ponto de partida o universo da caligrafia. Ela explica
que no princípio o uso da caligrafia como referência para a criação de
trabalhos abstratos surgiu quase que por
acaso, pelo fato de representar uma das mais fortes marcas de individualidade do homem.
“Sempre me interessei muito pelo prazer contido nos gestos, e a escrita, traduzida pela caligrafia, é um dos gestos mais individuais que conhecemos. Comecei trabalhando com curvas e retas, isso foi se ampliando e fugindo
cada vez mais do figurativo",
explica ela. Outro aspecto do seu trabalho é que, apesar de usar quase sempre
os tons terrosos aliados aos azuis e verdes, tudo em acrílica sobre tela, ela nunca se preocupa com
modo de aplicá-los,
de forma que o resultado estético e plástico de seu trabalho é ímpar e não se
presta a qualquer tentativa de rotulação.” EXPOSIÇÕES
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Catálogos de algumas de suas exposições. |
Entre as exposições : 2023 -
2 de Julho, A Independência do Brasil na Bahia, na Galeria Cañizares – Coletiva
– Salvador-Ba; 2017 - Olhares para Matilde - 90 Anos de
Vida, Galeria EBEC, Salvador-Ba; 2016 - A Produção da
Mulher na Contemporaneidade, no MAB – coletiva – Salvador-Ba; 2015 - Circuito Arte e Moda- Salvador Shopping –
Salvador-Ba; 2014 -Coleção Matilde Matos - Palacete das Artes –
Salvador-Ba; Exposição Circuito das Artes- Aliança Francesa – Salvador-Ba; 2013 - 50 Anos de Arte na
Bahia na Caixa Cultural – Salvador-Ba – coletiva ; 2012- Oferenda à Iemanjá - Ateliê Leonel Mattos – Salvador-Ba; 2011 - Oferenda a Yemanjá -
Artistas 100 nomes, Salvador-Ba ; 2010 - Circuito das Artes no Museu
Rodin – coletiva – Salvador-Ba; Colóquio Franco Brasileiro - Coletiva - Escola de Belas Arte – Salvador-Ba; 2009 - Doce
de Santo, Galeria ACBEU- Salvador-Ba; Mulheres em Movimento 2 - Galeria Cañizares
-Salvador-Ba; 2007 - Circuitos das Artes, na Galeria Aliança Francesa – Afetos Roubados - coletiva – Salvador-Ba ; Caixa Cultural
Salvador, "Espacio Cotidiano. Espacio de Supervivencia" - Museu de
Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira -Feira de Santana – Bahia; 2006
- "Ruínas", Intervenção - Fábrica de Cristais Fratelli Vita -Salvador;
2005- "Ora pro nobis " Instalação - Conjunto Cultural
da Caixa – Salvador-Ba; 2003 - "Nós Mulheres!", EBEC
Galeria de Arte – Salvador-Ba; 2002 - "ART FOR SALE" - Galeria ACBEU – Salvador-Ba; + 100 Artistas
Plásticos da Bahia, Museu de Arte Sacra – Salvador-Ba; 2001 -Antônio!
Tempo, Amor & Tradição"- Centro de Memória e Cultural dos Correios,
Salvador-Ba; 1999 - “Tenho Uma Rima Solta Dentro de Mim"- Galeria ACBEU,
Salvador-Ba; 1997 - Reeducação do Olhar- Museu de Arqueologia e Etnologia
Salvador-Ba; Festival de Artes do Recôncavo"-
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Célia Mallett na mostra A Afirmação no Gesto. |
Fundação Museu Hansen Bahia
- Cachoeira - Bahia 1996- 2º Festival de Artes Visuais do
Pelourinho - "Pinte no Pelô". SEBRAE- Salvador-Ba; “Orixás",
Receptivo do ABAV - Aeroporto Internacional Dois de Julho; Ambientação da Sala
de Carteado" Casa Cor - Bahia – Salvador-Ba; 1995 - "Afirmação no
Gesto"- Galeria ACBEU – Salvador-Ba; 1992 -
"Interpretando a América 2"- Galeria ACBEU – Salvador-Ba; 1990
- Interpretando a América 1"- Galeria ACBEU – Salvador-Ba; Caminhos"
- Galeria ACBEU; - Salvador-Ba; "Técnica Mista'" Galeria Cañizares–Salvador-Ba. Participação em Salões e Bienais:Em 2008 -IX Bienal do Recôncavo - Centro
Cultural Dannemann - São Felix – Bahia; 2006 -VIII Bienal do
Recôncavo - Centro Cultural Dannemann - São Felix – Bahia; 1991 -
I Bienal do Recôncavo - Centro Cultural Dannemann - São Felix - Bahia.Premiações : 1990 -1° Lugar -
Categoria Pintura s/ tela, 27ª Feira de Arte; Menções Bibliográficas: +100 Artistas Plásticos da Bahia-Salvador: Prova
do Artista; 2001 - 50 Anos de Arte na Bahia -Matilde Matos, 2011-
Escola de Belas Artes UFBA, Salvador-Ba.
Célia é artista de prateleira alta! Mais um ótimo trabalho do Professor Reynivaldo Brito, trazendo ao público, principalmente o jovem, a arte e artistas da Bahia que a grande mídia desconhece e ignora.
ResponderExcluirParabéns, Celia Mallett pela sua rica trajetória artística. Você sempre se renova e nos presenteia com belos trabalhos contemporâneos. Além disso, é uma pessoa ativa e generosa com os amigos.
ResponderExcluirAgradeço a Reynivaldo por seu texto ágil e informativo. Valeu!