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Escultura Maternidade de Mário Cravo, em pedra sabão. Uma obra maravilhosa! |
Os amantes da arte na Bahia estão
comemorando os 35 anos da Galeria MCR do casal Marco Couri Brown Ribeiro e Cláudia Moniz Barreto Ribeiro. É uma história de luta e dedicação neste
tortuoso e difícil mercado de arte num país onde sua economia oscila ao sabor
da incompetência e da superação de fatos internos e externos. Ao longo de mais de três década foram
realizados importantes leilões e exposições dos grandes nomes da arte baiana e brasileira.
Os galeristas têm uma linha de trabalho que visa priorizar a compra e revenda
aos clientes e colecionadores de obras de qualidade indiscutível. Estive na última quinta-feira, portanto um dia após a abertura da mostra comemorativa do
aniversário da galeria, e posso afirmar que muitas das obras expostas são
verdadeiras peças dignas de figurar em qualquer particular ou de museus daqui e de fora do país.
No comunicado de aniversário que os galeristas
enviaram convidando seus clientes e amigos está escrito: “Sempre evitamos
modismos e neste período acredito que desenvolvemos um bom trabalho de valorização
dos artistas... Arte de qualidade é uma excelente reserva de valor e bom
investimento a longo prazo”. Concordo com os galeristas porque acredito que
investir numa obra de arte de qualidade e até mesmo apostar num novo talento é
um investimento a longo prazo de boa liquidez assegurada. Entre os inúmeros
artistas que já participaram de leilões e exposições na MCR Galeria de Arte figuram
o mineiro Inimá de Paula, Rescala, Bianco, Jenner Augusto, Carlos Scliar, Calasans
Neto, Floriano Teixeira, Jamison Pedra, Carybé, Genaro de Carvalho, Carlos
Bastos, Jayme Hora e muitos outros.
A História
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Os galeristas Marco Curi e Cláudia Moniz. |
O Marco Couri Ribeiro é
engenheiro civil e ainda jovem era um jogador de tênis de destaque e chegou a
ganhar um campeonato nacional na sua categoria. Porém, ao se formar foi
trabalhar no mercado financeiro e certo dia o banco onde já exercia suas
atividades há alguns anos fechou. Já estava prestes a iniciar em outra
instituição financeira teve a ideia de abrir uma galeria de arte. Nesta
época como gostava de arte já tinha uma pequena coleção de obras de artistas
baianos. Sua esposa Claudia Moniz Barreto Ribeiro é pedagoga, e também chegou a
pensar em abrir uma escola, mas depois de muita conversa decidiram pela galeria.
Vemos que estavam certos, e hoje a MCR Galeria de Arte é uma das mais
importantes de Salvador, inclusive tem sede própria a qual acaba de ser
ampliada ocupando mais uma das lojas do Ondina Apart/Hotel onde funciona desde
a sua fundação. Abriram a galeria que era tocada inicialmente pela Claudia Ribeiro e quando Marco Couri foi surpreendido pelo fechamento do banco ele passou uns três meses
ao lado da esposa na galeria. Como tinha muitos contatos de gente do mercado
financeiro e com empresários as vendas aumentaram e ele depois deste período
decidiu que ali era o seu lugar. Desistiu de ir para uma nova instituição
financeira que lhes ofereceu alguns cursos e achou por bem declinar. Ele fez a
escolha certa e hoje é um galerista respeitado. Faz questão de falar sobre cada
obra sempre contando detalhes da trajetória da mesma ou destacando algum fato curioso
ligado aquela obra ou ao seu autor.
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Catálogos de algumas das exposições feitas pelos galeristas da MCR. |
A primeira exposição que fez foi
em 1991 do pintor baiano Helder Carvalho, recentemente falecido. Helder foi seu
amigo de infância e um bom pintor que na época era figurativo. Com o passar dos
anos abraçou definitivamente o abstracionismo, e acredito que sua obra é uma
das que melhor representa o movimento abstracionista na Bahia. Estive várias
vezes com Helder que tinha grande talento e um temperamento
controverso.
Voltando a falar do trabalho do galerista Marco Couri ele ressaltou que naquela época existia um grande movimento cultural
e a economia baiana estava em alta com as atividades do Polo Petroquímico de
Camaçari, o Centro Industrial de Aratu e o cacau representava uma grande fatia
no pib do Estado. Isto refletia no mercado de arte. Depois vieram as
conturbações políticas resultando em problemas na economia durante várias
décadas até a chegada da pandemia. Por ser uma atividade que trabalha com um
produto que não é de primeira necessidade o mercado de arte é um dos que mais
sofre com essas conturbações na economia. O importante é que os galeristas
atravessaram esses mares tortuosos com altivez e estão aí mostrando os talentos
dos artistas baianos e brasileiros.
“OS BAIANOS” NO OLHAR DE ARMANDO CR
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Capa do livro Os Baianos e foto de um guardião de oferendas. |
Fiz um texto longo em maio do corrente ano contando a
trajetória de Armando Correa Ribeiro que o conhecia quando era repórter do
jornal A Tarde como um vitorioso empresário do setor de exportação de cacau.
Fiquei curioso quando anos depois o encontro envolvido com a fotografia. Sou
particularmente um apreciador da fotografia e na minha atividade profissional
como repórter e depois editor no jornal A Tarde tinha uma convivência diária com vários
fotógrafos. Alguns de excelente qualidade profissional e outros nem tanto. No texto publicado neste blog tem o
título “Armando CR o empresário que virou fotógrafo”. Ele inclusive reproduz este título na sua apresentação do livro Os Baianos dizendo “Recentemente, um
jornalista publicou ...” e transcreve o título sem citar o meu nome. O Armando Correa Ribeiro,
ele assina Armando CR, é apaixonado pela fotografia a ponto de largar outras
atividades que exerceu durante a maior parte do tempo de sua vida para focar na
sua paixão. Procurou ler, estudar e participar de cursos e de encontros com grandes
mestres da fotografia. Olha com seu olhar profissional as fotos dos fotógrafos
consagrados mundialmente e assim vai traçando uma trajetória de sucesso também
nesta nova atividade.
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Armando CR lendo a apresentação do seu livro Os Baianos. |
Quando fomos folhear o seu livro Os
Baianos ele disse que nada foi planejado e que está lançando esta obra ao
completar seus oitenta anos de idade. Para ele está " com a energia de um homem
de sessenta anos, gozo de boa saúde e disposição para fazer muitas fotografias”. Parece estar mesmo! Quando examinávamos uma das fotos do seu livro me
deparei com a foto de umas caretas que ele fotografou em Maragogipe, interior
da Bahia. Foi quando lhe informei da existência de grupos de caretas muito
importantes no povoado do Barrocão, no município de Ribeira do Pombal, no
sertão da Bahia. Imediatamente mostrou interesse de conhecer esses grupos e
pediu à sua secretária que pesquisasse na internet. De posse das informações
afirmou que vai tentar fotografar na época da sua apresentação pelas ruas do
povoado.
O Armando CR escreveu na
apresentação que “O livro Os Baianos é um ato de gratidão ao povo da minha
terra, que tanto me inspira e que me deu régua e compasso.” Outro aspecto
interessante foi revelar que “a fotografia lhe conectou com o mundo real, o
mundo das ruas, capturando alegrias, tristezas, melancolia, mas, sobretudo,
extraindo beleza de tudo isso”
Também conversamos como é difícil
explicar as pessoas de fora a condição de ser baiano e toda a complexidade deste povo miscigenado
e plural. Vivemos num micro espaço neste Planeta cheio de beleza e
contradições. Aqui a alegria está estampada no rosto das pessoas, a vendedora
da loja lhe chama de “meu amor”, sem nunca ter lhe visto uma vez sequer. O
vendedor ambulante ou o guardador de carro lhe chama de barão, coronel, e os
mais descontraídos de “meu tio”. Quando não “diga aí Bahia” Confesso que não
gosto quando me chamem de “meu tio” ou “diga
aí Bahia”. Primeiro não sou tio do cidadão e segundo sou torcedor do Vitória. Voltando
ao livro o Armando CR fez as fotos nas festas populares em Salvador, na Feira
de São Joaquim, em Igatu, na Chapada Diamantina, em São Félix - Cachoeira e
Maragogipe.
Vale a pena conferir a exposição
da MCR Galeria de Arte e também o livro Os Baianos de Armando CR.
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