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Zémaria de Matos finaliza mais uma obra em seu ateliê no bairro de Stella Maris. |
Depois de alguns anos reencontro
o pintor baiano natural de Conceição do Coité, interior da Bahia, o Zémaria de
Matos que tem uma trajetória de sucesso com a realização de várias exposições
individuais e coletivas, e trabalhos em importantes coleções daqui e de fora. É
um pintor que gosta de retratar o mar, os pescadores na sua lida diária de
lançar seus barcos e canoas em busca do sustento, os coqueirais, o encontro do rio com o
mar, os banhistas nas praias, enfim seu olhar atento está sempre voltado para
as coisas do mar. O colorido de suas obras registra bem esta paleta de cores
fortes e tropicais com a luminosidade que encanta não só os residentes aqui,
mas principalmente os visitantes que vêm de outros continentes. O professor
Romano Galeffi quando da sua exposição na NR Galeria de Arte das saudosas July - Julieta Isensée - e de Graça Coelho, em 1998, viu as marinhas do
artista e escreveu: “...o epiteto de poeta das marinhas, não tanto pela insistência ou
quase exclusividade do tema que o inspira, quanto, de preferência, pela peculiaridade
de sua linguagem pictórica”.
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Obras em óleo sobre tela onde aparecem barcos, marisqueiras, e pescadores na lida. |
O Zémaria de Matos além de pintor
é um bom tocador de violão e gosta de cantar nos encontros com seus amigos. Ele
disse que por muitas vezes esteve na casa do escultor Tati Moreno, para o condomínio Iterlagos, localizado no muncípio de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador para participar de encontros dos amigos para bebericar e curtir uma
boa música. “Eram momentos de muita alegria e felicidade. Falávamos de tudo de
arte, política, pessoas e o que prevalecia mesmo era alegria e muita música
enquanto bebíamos e comíamos alguns tira-gostos. Nem percebíamos o tempo
passar. Muitas vezes a gente ficava a noite inteira”. Portanto, além de ser um
poeta da cor o Zémaria é um poeta da vida. Gosta de curtir o seu tempo entre a
pintura e a música. Restam poucos artistas que retratam as coisas do mar em Salvador. O
maior expoente aqui foi o Pancetti que tinha sido marinheiro e conhecia bem as
coisas do mar. Já o Zémaria de Matos veio do sertão da Bahia e o mar causou nele um
impacto muito forte. Aqui encontrou uma razão maior para expressar a sua arte
ao se deparar com este mundão de azul deste mar que nos surpreende a cada dia.
É difícil que uma pessoa atenta e sensível não pare diante de uma tela e passe
a contemplar os detalhes ali registrados por este pintor.
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Passeio na praça, mais um óleo sobre tela . |
Também gosta de
pintar as pessoas simples nos seus afazeres como coletadores de café,
marisqueiras, vendedores de feiras livres, lavadeiras, dentre muitos outros sempre
procurando enaltecer a figura humana com um colorido pessoal. Ele disse numa
entrevista em 2005 a um jornal local que "primeiro penso que é um presente
que estou dando às pessoas, este meu mundo exposto. " Em outro trecho diz que
"as coisas que sei fazer é pintura e tocar violão. Não acredito que hoje
eu possa viver de violão. Nesses anos de ofício à pintura tem sido o meu
sustento e de minha família. Não é fácil, mas é possível". Co m estas duas
frases ditas pelo artista dão para entender melhor o seu jeito de ser e a
essência deste ser humano afável e que sempre traz um sorriso nos lábios.
QUEM É
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O Zémaria durante a nossa conversa sobre a sua trajetória artística. |
Seu nome é José Maria de Matos nasceu em oito de
maio de 1945, filho de João Evangelista de Matos e d. Olímpia Cunha de Araújo.
O pai era agente ferroviário em Salgadália, pertencente ao município de
Conceição do Coité, na Bahia, e seu pai foi registrar na sede do município
porque o cartório ficava lá. Ficou em Salgadália até os cinco anos de idade.
Quase não se lembra da infância onde nasceu. É o caçula de onze filhos do
casal, dos quais apenas estão vivos ele e uma irmã. Brincando disse naquela
época “os casais trabalhavam direitinho”. Quando a família veio para Salvador
foi morar no Alto do Peru, localizado entre os bairros de Fazenda Grande e São
Caetano. Ele disse que morava numa rua que ficava bem no alto e de lá avistava
os barcos singrando a Baía de Todos os Santos. Era sua principal diversão ficar
observando o mar e o movimento das embarcações, e lembrou que estava acostumado a
ver bodes, carneiros e o gado. Aqui passou a ver e admirar o mar e na época
existiam duas pequenas ilhas na área do bairro dos Alagados. Uma ocupada pela indústria de óleo comestível a
Sanbra e outra que o padre João construiu a igreja da Assunção. Estas ilhas
foram interligadas ao continente quando do aterro para construção de casas do
bairro dos Alagados que na época acabou com as palafitas. Atualmente novas
palafitas vêm sendo construídas mar adentro.
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Pintura Natureza Morta com Paisagem, óleo sobre tela. |
Lembra que ainda criança seu pai faleceu e sua mãe
comprava cadernos de desenhos onde ele copiava Gibis e a figura do Amigo da
Onça, criado por Péricles, e que fez grande sucesso na Revista O Cruzeiro. Sua
mãe casou novamente e teve o décimo primeiro filho. Disse que o acompanhava
para receber a pensão no prédio da Leste Brasileiro, que fica na Rua Conde D’Eu,
na zona do Comércio, na Cidade Baixa, em Salvador. Estudava o primário na
Escola Castro Alves, que fica na Rua Barão de Cotegipe, defronte ao icônico
prédio da Fábrica de Refrigerantes da Fratelli Vita, na Cidade Baixa. Imaginava
nos seus sonhos infantis que ao crescer seria cantor ou jogador de futebol,
porque já tocava violão desde cedo, talento que herdou do pai. Foi estudar o ginásio,
mas não conseguiu terminar o curso. O professor Ivan Lopes, pai do pintor Ivo Neto o
conheceu e mandou que ele pintasse a óleo. Lembrou que Ivan era todo machão e
lhe disse “este negócio de desenho a bico de pena é coisa de mulher. Vá pintar
a óleo. Ele era todo metido a machão e lembro que colocava um coco no chão e
quebrava com o pé." Aos vinte e sete anos casou, tem dois filhos, e foi ensinar
cartazismo e vitrinismo no SENAC. Ficaram desempregados ele e a mulher que na época
tinha
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Obra Poças , óleo sobre tela. |
trabalhado no Serpro. Ao olhar uma folha de jornal no chão de sua casa
viu um anúncio de emprego de esteticista. Recortou o anúncio e foi até o local.
O recrutador gostou dele e mandou para São Paulo onde passou dois meses
treinando com o médico Hosmany Ramos, que na época era ligado a uma senhora da
família Klabin. Ele vinha para Salvador às segundas e sextas-feiras para fazer o procedimento de implantação de cabelo. O médico marcava a área onde ia o implante e o Zémaria o ajudava
a colocar a peruca. Os donos da clínica criaram o salão de beleza sofisticado e
os frequentadores eram pessoas que frequentavam as altas rodas e os clubes
sociais de ponta. O dono da clínica era um ítalo-americano chamado Jimi Antony Luciano
e a esposa era d. Úrsula, alemã. Um
certo dia falou para d. Úrsula que não viria naquele sábado porque teria que pegar
um cavalete nas lojas Os Pithons para levar para casa .Um amigo iria transportar o cavalete em sua camionete. Foi quando ela disse non, non eu mesma
levo. Colocarm o cavalete num rack do carro dela e quando chegaram na casa de Zémaria ela viu seus
trabalhos e resolveu fazer uma exposição na própria clínica. Comprou garrafas
de uísque e muitos canapés e convidou as pessoas amigas e clientes. Foi um sucesso o Zémaria vendeu quase todos os quadros e com o dinheiro das
vendas comprou o seu primeiro carro, que naturalmente foi um fusquinha. Ficou
alguns anos na Clínica Hair Center, na Ladeira da Barra, e depois de uma
denúncia a polícia fechou a clínica. Dias depois foi reaberta. Foi quando Zémaria resolveu deixar
o trabalho antes da clínica fechar definitivamente. Continuou pintando e em
1979 fez uma exposição na no Centenário do Diário de Notícias ,na Rua Carlos Gomes, hoje o casarão é ocupado pelo Centro Cultural da Caixa Econ|ômica Fderal. Em seguida fez outra exposição na Galeria Grossmann que funcionava no Orixás Center, na
Avenida Sete de Setembro, e nunca mais parou. Vive exclusivamente de sua arte
cada vez se empenhando em realizar um trabalho mais autoral e este seu esforço
tem sido reconhecido por colecionadores e seus colegas e críticos de arte.
REFERÊNCIAS
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Zémaria em 2002 na exposição da NR Galeria de Arte, no shopping Iguatemi. |
Entre
as referências sobre a sua obra encontramos textos de Carybé, Calasans Neto, Floriano Teixeira, Claudio
Eduardo da Rocha, Alto Tripodi, Romano Galeffi, Reynivaldo Brito, Matilde
Matos, dentre outros.
Vejamos:"(...) O que move o artista é a convicção de que há na
natureza determinado valores que precisam ser resguardados, e sua arte é uma
busca neste sentido. (...) Se o artista procura reforçar os laços do homem com
a natureza através dos seus quadros, é a sua intimidade com o assunto escolhido
que o leva a fazer de cada uma aquela mistura muito especial e beleza morna e
suave, pura e ao mesmo tempo selvagem (...)" Matilde Matos.
"(...) As marinhas de Zémaria bem poderiam justificar, e sem
favor nenhum, ao jovem artista, o epíteto de `poeta das marinhas", não
tanto pela insistência ou quase exclusividade do tema que o inspira quanto, de
preferência, pela peculiaridade de sua linguagem pictórica. O colorido natural
que lhe é sugerido por uma espécie de incontido prazer mimético = tão
respeitável quanto vários outros tipos deleite que caracterizam a escolha de
muitos artistas de todos os tempos - não impede a este jovem quase distinga no difícil
jogo da simplificação., Isso ele consegue mediante massas tonais
metamorfoseadas à guisa de uma espécie flui fotográfico por pinceladas
horizontais- enquanto a escolha predominante de horizontes altos na composição
de cada tela lhe permite aquelas ritmadas alternâncias de cheios e vazios, de
massas cromáticas suscitadoras de imagens sólidas e de imagens fluidas ou
aeriformes, que lhe sugere aquelas sábias transições entre tons mais ou menos
quentes e tons mais ou menos frios. E se cada tela se constitui numa unidade
inconfundível com todas as outras, um verdadeiro espetáculo de coral harmonia
poderá ○ fruidor encontrar neste conjunto de telas agora exposta,
onde não há indícios daquele
primarismo que é responsável por tanta parte
de devaneios antiestéticos."Romano Galeffi.
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Obra Lavadeiras, óleo sobre tela. |
"O artista plástico Zémaria foi evoluindo
a cada exposição, apresentando uma produção digna de ser apreciada em qualquer galeria do país. O
figurativo tem forte presença em sua obra baseado na gente simples
envolvida em seu labor cotidiano. São as lavadeiras, os
pescadores e as marisqueiras, dentre outros, que lutam com dificuldade para
garantir a sobrevivência de sua prole, examinando uma obra de Zémaria é possível saber que ela produzida nos trópicos pela sua luminosidade e força das cores. Ele segue com sua calmaria, própria de uma
personalidade contemplativa, construindo seus personagens que passam a ganhar
via, quando a gente passa a olhar com mais vagar. Outras coisas que me chamam a
atenção é que ele não fica preso a uma temática, procura outros caminhos e este
é ○
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Obra Acupe, óleo sobre tela. Veja o contraste das cores escolhidas . |
papel do artista que deve sempre buscar. Esta busca
incessante é que faz com que alguns se destaquem e exponham
coisas novas, que comumente chamamos de fase. Essas fases são assim classificadas para nominar as mudanças que vão ocorrendo no caminho de cada artista. Alguns
criticam esta denominação, mas existe uma tendência do ser humano em rotular as
coisas como uma forma mais fácil de identificá-las. Reynivaldo Brito .
"Anjos da guarda todos nós tivemos e Zémaria tem o seu. A mão de José
Pancetti o guia pelo difícil caminho de pintar o mar de pintar seu fim que são
as praias, seus rochedos e sua gente. E o moço Zémaria vem construindo seu
espaço com tenacidade e muito trabalho. Trabalhar, procurar fazer e desfazer e
refazer é a única maneira que os artistas têm para um dia encontrar-se, já com
seu estilo próprio, buscado e suado, poder mostrar sua maneira de ver a vida."Carybé.
"Zémaria e a Luz do Mar
Do Sertão para O mar foi trajetória traçada por Zémaria a procura do seu porto temático. Não teve pressa seguiu a trilha das cores do ocre da terra até onde
vinha a grande luz azul do mar. E foi criando sem mundo povoado que vive ao
sabor das ondas brancas derramadas nas areias da Bahia com sensibilidade e
observação de quem tem a obrigação de fidelidade das figuras que emergem da
linha do horizonte. O que é admirável em Zémaria? O pintor é o seu trato de equilíbrio entre suas
cores e é o que segura a composição com canoas, saveiros e habitantes do
litoral como se fossem uma peça indivisível; cheias de vida e esta luz tão
forte que vem em ondas também deste nosso Atlântico Sul. Existe um mundo fantástico
nestes quadros que nos prende fazendo do espectador um bem estar fugindo da
inquietude barulhenta das cidades."Calasans Neto.
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Canoas ancoradas na praia depois da lida no mar, óleo sobre tela. |
"A Bahia é uma terra brasileira farta em pintores de marinha. (.) Zémaria, um
desses adeptos dessa forma de pintura, decidiu mudar de caminho. Agora, os seus
quadros são povoados de figuras humanas que ele vai criando com cautela e
habilidade. Talento e força de vontade não lhe faltam, por isso acredito que em
pouco tempo teremos mais um artista baiano subindo a escada do sucesso e
ganhando espaço no nosso mercado de arte."Floriano Teixeira .
EXPOSIÇÕES COLETIVAS
Em 1979
- Galeria Grossmann ; 1982 - Itaigara Galeria de Arte; 1983 -
Itaigara Galeria de Arte; Panorama Galeria de Arte; 1984 - Itaigara
Galeria de Arte; 1985 - Panorama Galeria de Arte; 1986
- 0 Cavalete Galeria de Arte; Época Galeria de Arte ; 1987- Galeria
Arte Viva ; Época Galeria de Arte; 1988 - O Cavalete Galeria de
Arte ; NR Galeria de Arte ; Galeria Faz Arte ; 1995 - Casa do
Benin ; 1997 - Raquel Galeria de Arte ; Resort Praia do Forte ; 2000
- Museu Náutico da Bahia; 2001-Teatro Gregório de Mattos.
PAINÉIS
Restaurante Cocos de Itapuã (destruído)e no Restaurante Badauê.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
Em 1982 - 0 Cavalete Galeria de Arte ; 1983 - 0
Cavalete Galeria de Arte ; 1986 - 0 Cavalete Galeria de Arte ; 1987-
Acervo da Bahia Galeria de Arte; 1989 -Foyer do Teatro Municipal
de Ilhéus; Galeria Arte Viva ; 1995 - NR Galeria de Arte; 1997-
Salão Carlo Barbosa no Museu Regional de Arte da UEFS / CUCA- Feira de Santana
; 1998 - NR Galeria de Arte; Club Mediterranée Bahia, em
Itaparica; 2002- NR Galeria de Arte.
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