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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O MESTRE DO DESENHO A BICO DE PENA

A Bahia perdeu mais um dos seus grandes artistas contemporâneos que é o desenhista Ângelo Roberto, natural de Ibicaraí,  que faleceu ontem aos 80 anos de idade ,e teve hoje seu corpo cremado no cemitério Jardim da Saudade.
Nasceu em 1938, na cidade de Palestina, hoje Ibicaraí, ao sul da Bahia. E morava em Salvador desde 1944. Ângelo Roberto se considerava um "menino das linhas de bonde e linhas de arraia". 
Deixou vários amigos, especialmente os remanescestes da velha boêmia que frequentavam os bares e restaurantes cults como o bar Raso da Catarina, o Restaurante do Moreira, no Mercado das Flores ; o bar do Clarindo Silva, no Terreiro de Jesus, entre outros . Ultimamente tinha trocado o álcool por café ,e assim continuava fazendo seus extraordinários desenhos a nanquim em bico de pena.
Ele mostrava sua maestria nos movimentos que conseguia dar aos  animais que desenhava especialmente os cavalos e pássaros.
Achava o cavalo o mais belo e majestoso dos animais, e por isto sempre estava criando novos desenhos de cavalos.Fui dar uma pesquisada neste blog onde estão as colunas que escrevi por mais de vinte anos no jornal A Tarde e encontrei quatro delas onde o destaque é o trabalho de Ângelo Roberto. Separei esta que republico ao lado de 1989 quando ele fez uma exposição com caricaturas de 30 amigos .
Foi um sucesso porque o artista conseguiu com sua sensibilidade ímpar captar os traços essenciais de cada um de seus amigos . Lembro que na exposição todos riam e ficavam fascinados por esta sua capacidade de trazer o essencial de cada um deles com seus traços refinados.
Ai estão reunidos Ubaldo Ribeiro com seu riso rasgado, o papagaio Guido Guerra, o saudoso Bell Machado e assim por diante.
Faço aqui este triste registro de mais um grande artista que parte, mas deixa sua obra como uma prova da sua existência criativa .

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

FOTOGRAFIA E ARTES VISUAIS DA BELAS ARTES DE SP

Uma das obras da série Imagem Provisória,
de Giovanna Vacani.

Na minha ida à São Paulo estive também visitando num dos pavilhões do Memorial da América Latina, exatamente na Galeria Marta Traba , a exposição de Fotografia e Artes Visuais dos projetos finais dos alunos do Centro Universitário de Belas Artes  . Foi uma surpresa agradável porque eles estavam dando visibilidade a trabalhos acadêmicos que normalmente ficam arquivados em algum canto. 

O pró reitor Sidney Ferreira Leite escreveu : "Qual o destino mais comum dos trabalhos de conclusão de curso? Ser apagado pela aguarrás do tempo, colocado em uma prateleira ou, solenemente guardado no fundo de um depósito. O BA Criative Collectibles chegou para mudar este destino".
Máscaras de cerâmica envolvidas em ataduras distribuídas
na parede até o piso de Júlia Profeta.
Na realidade ai se inicia uma nova caminhada porque é o momento em que os formandos vão tentar sua inserção no mercado e graças a esta iniciativa de expor os trabalhos é uma boa oportunidade de começar a trilhar o caminho do profissionalismo.
Os alunos são do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, entidade que tem 92 anos de atividade e já revelou muitos talentos. Escreveu o professor Roberto Bertani que " o Bacharelado em Artes Visuais, Pintura, Gravura e Escultura existe há mais de 92 anos, a mesmo idade do Centro Universitário Belas Artes, e foi o primeiro curso implantado por esta instituição de ensino."
Obras de Ana Barbaro são figuras feitas em papel
marché. Destaco as expressões significativas e colorido.
Já a professora Rosa Matilde, que coordena o Curso Tecnológico de Fotografia destacou  que "o processo de escolha das imagens e de curadoria foi enriquecedor como experiência didática pedagógica. O resultado foi a revelação de novos talentos , que começam a imprimir sua identidade profissional e que, por meio de sua arte, questionam o mundo e seus diversos aspectos e nos convidam a refletir sobre ele".
Me chamaram mais atenção as obras de autoria de Giovanna Vacani - "Série Imagem Provisória"; as de Júlia Profeta "Sinédoque",com ataduras envolvendo as máscaras de cerâmica, e as de Ana C.B.Barbaro "O Sétimo livro e a pena do destino", com esculturas feitas em papel marché.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

MUSEU AFRO BRASIL RESGATA PARTE DE NOSSA HISTÓRIA

Este belo oratório encanta também
 pelo seu tamanho.
A primeira sensação dos que visitam o Museu Afro Brasil  é que estamos diante de um trabalho hercúleo do curador baiano Emanoel Araújo que conseguiu reunir peças importantes e muito valiosas do imaginário e de tudo que diz respeito ao Barroco em nosso país e em Portugal . São cerca de quatrocentas obras bem distribuídas nos espaços onde funciona a Bienal Internacional de São Paulo, no Parque do Ibirapuera. 
exatamente no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, Sob o título de Barroco Ardente e Sincrético - Luso-Afro-Brasileiro, a exposição é uma homenagem ao Jubileu de 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil e "traça variadas manifestações do estilo artístico em Portugal e no Brasil, com ênfase em suas expressões em um país miscigenado". A mostra leva o visitante ao espírito do Barroco, tão presente em nosso país, inclusive na Bahia, passando por referências nas culturas erudita e popular dos séculos XVII e XIX.
Nas paredes externas do Pavilhão onde fica
o Museu você visualiza várias obras de arte.


Entre as obras expostas estão algumas de autoria de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho ( 1730?-1814), em Ouro Preto, Minas Gerais, e do Mestre Valentim da Fonseca e Silva ( 1745-1813), no Rio de Janeiro, além do mestre do Aleijadinho, o escultor Francisco Xavier de Brito ( ? - 1751). São obras sacras de Portugal e criações de artistas anônimos .Isto confirma o sincretismo da exposição.Numa publicação da assessoria do Museu Afro Brasil o curador Emanoel Araújo declarou : “Eu chamo de ardente a questão da tropicalidade do Barroco, evocando o trabalho com a madeira e a mecânica dos afrodescendentes. É também sincrético a partir dessa vertente que engloba o lado profano das festas religiosas, como o bumba-meu-boi do Maranhão, que celebra o São João;a cavalhada de Pirenópolis, em Goiás; os reisados de Alagoas e os cortejos dos maracatus de Pernambuco. O Barroco, para mim, é um movimento que não tem fim. É contínuo na cultura brasileira. Vem de Portugal, mas encontra aqui o campo ideal para essa construção de identidade”.
Estão expostas também pinturas de José Joaquim da Rocha (1737-1807), Joaquim José da Natividade (? -1841), Leandro Joaquim (1738-1798), José Patrício da Silva Manso (1753-1801), Frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), José Teófilo de Jesus (1758-1847) e Antônio Joaquim Franco Velasco (1780-1883). Ex-votos e artefatos desse período histórico (oratórios, talhas, esculturas, azulejaria, ourivesaria, prataria, porcelanato) se incorporam à travessia do espírito do barroco, tudo em diálogo com a poesia dos baianos Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711), Frei Manuel de Santa Maria (1704-1768) e Gregório de Mattos (1636-1696).
A exposição também conta com a ambientação musical dos principais compositores sacros brasileiros, como José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita (1746-1805), Damião Barbosa de Araújo (1778-1856) e Domingos Caldas Barbosa (1739-1800). Você fica emocionado com o clima dento do museu.
Diz ainda Emanoel Araujo, na publicação que esse Barroco multifacetado expõe a força da contribuição portuguesa, mas evidencia “a atitude tropical miscigenada da África e do Brasil”, do sagrado ao profano. “Os africanos e seus descendentes, com presença maciça no Brasil, se apropriaram do movimento do barroco, sobretudo porque as corporações de ofícios mecânicos absorvem essa mão escrava e contribuem para a ascensão social do negro”.
A azulejaria da igrejinha da Pampulha (em Belo Horizonte), pintada por Portinari, é projetada no ambiente de uma escada desenhada por Oscar Niemeyer, autor do projeto arquitetônico do Pavilhão Manuel da Nóbrega, onde está o Museu Afro Brasil desde 2004. Tetos de igrejas brasileiras são projetados em outro espaço, em uma elegia à influência francesa das igrejas do Carmo, em Salvador (BA), São Bento e São Francisco da Penitência, no Rio de Janeiro. A artista portuguesa Manuela Pimentel foi responsável  instalação pela  azulejaria lusitana.
Emanoel Araújo afirma na publicação que “Essa exposição se ambientaliza com uma cenografia que envolve diferentes aspectos da arte Barroca. Da azulejaria às paredes internas das igrejas da Bahia fotografadas por Sílvio Robatto na série ‘Barroco Rebolado’, em que ele visualiza a sensualidade das talhas dos anjos e das figuras mefistofélicas”.Para assinalar o contexto histórico, a exposição registra a Revolta dos Alfaiates (1798-1799), na Salvador do século XVIII, e apresenta algumas das festas profanas que surgem do advento do Barroco: as cavalhadas de Goiás, a luta dos mouros e cristãos, o maracatu, o Rei de Congo e o bumba-meu-boi maranhense. A exposição “Barroco Ardente e Sincrético - Luso-Afro-Brasileiro”. Vários artistas baianos estão presentes com suas obras plásticas.

A exposição iniciou em 3 de agosto de 2017 e estará aberta até 3 de março de 2018.Imperdível.

O MUSEU AFRO BRASIL

As manifestações populares tem presença destacada
no Museu Afro Brasil.
A exposição sobre o Barroco é itinerante,mas você ficará muito satisfeito ao visitar as obras permanentes que integram o Museu Afro Brasil criado por Emanoel Araújo.
Este museu certamente veio contribuir em muito para a compreensão , preservação e divulgação desta herança cultural e artística do negro que é tão forte em nosso país.
As obras nos permitem entender melhor a História de nosso país, pois vai além dos livros didáticos na medida em que nos apresenta a igualdade do pertencimento e respeito por uma parte importante da população matriz da nossa brasilidade.
Existe um roteiro impresso que pode ser adquirido na lojinha do museu onde você observa a temática central de cada núcleo, onde ao lado das obras existem pequenos textos explicativos que ajudam a entender e sentir a importância de cada obra. Foi pensado até nas cores que aparecem abrindo cada núcleo para melhor orientar o visitante. Uma visita imperdível.
O Museu está localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no Parque Ibirapuera, em São Paulo , e abre de terça a domingo das 10 horas até às 16 horas. Tel (11)5579-0593.