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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

PEDROSO É UM EXPOENTE DA PINTURA NAIF

Pedroso aos 86 anos continua pintando diariamente.
 Depois de mais de quarenta anos fui ao encontro de um dos artistas criativos  e que durante mais de seis décadas vem calmamente pintando a nossa Bahia, seu casario, sua gente e  suas manifestações populares e religiosas. Uma pintura cândida que nos revela este lado poético, quase inocente , transpondo para as telas em cores  cruas e cheias de luzes esses momentos mágicos do dia a dia e também àqueles momentos   onde juntos os baianos celebram seus santos, seus orixás e toda sua miscigenação.  O pintor é Joaquim Pedroso Gomes de Oliveira , ou simplesmente Pedroso, como ele assina suas obras. Morador do bairro de Brotas onde ele vive e tem o seu atelier na mesma casa quando o conheci há décadas atrás. Ele já pintou centenas de quadros e realizou quase duzentas exposições entre individuais e coletivas. É um dos artistas naifs mais importantes do país.


O curioso é que tinha perdido o contato com Pedroso , porque já não estou na lida diária de um jornal impresso, e também houve uma diminuição drástica do número de galerias em nossa Cidade, onde eram realizadas muitas exposições. Havia um movimento de arte considerável em Salvador . Os quais estão registrados em minha coluna de arte que escrevi por mais de 25 anos no jornal A Tarde, a maioria consegui delas transportar para este blog. Dizem que à medida que envelhecemos costumamos ficar olhando para trás, para o retrovisor, como se diz no popular, lamentado "antigamente era assim e assado". Acontece que são fatos, e isto pode ser comprovado através de publicações, catálogos e fotografias. Nesta publicação alemã ao lado a Zeitgenössische Naive Malerei Aus Brasilien - Brazilian Naïf Art Of Today - Naifs Brasileiros de Hoje constam obras e os nomes dos artistas naifs do Brasil, e Pedroso está presente. 

Pedroso com uma tela ainda em
execução onde aparece uma favela.
            O REENCONTRO
Voltando ao Pedroso temos um amigo comun o escritor e animador cultural Franklim Jorge que  é potiguar e atualmente reside em Natal. Franklin dirige uma revista eletrônica chamada Navegos , de sucesso no meio intelectual, onde colaboradores publicam seus artigos, crônicas etc. Inclusive de quando em vez ele me surpreende publicando algum dos artigos que escrevo. Um dia  o Franklin lembrou-se de Pedroso e me pediu que tentasse localizá-lo porque tinha uns quarenta nos que não o via e perdera o contato. Foi assim que apelei para minha amiga  Anna Georgina, da Galeria Panorama, onde Pedroso expôs algumas vezes .Indaguei se sabia por onde andava o nosso personagem. Para minha  alegria ela tinha o telefone de Pedroso. Fiz algumas ligações , deixei mensagens no zap e não obtive resposta. Voltei a falar com Anna Georgina dizendo que o homem não retorna as ligações. Ela entrou em contato com ele, e finalmente nos falamos. Lá chegando com a ajuda da tecnologia do celular entramos em contato com Franklim Jorge . Foi um momento inesquecível e marcante.

Pedroso tem uma história longa e interessante de sua trajetória como pintor. Ele nasceu na cidade do Crato, no Ceará, em 6 de dezembro de 1935, portanto, está com 86 anos de idade, e comemorando sessenta e quatro anos de pintura. Magrinho e lépido diz que diariamente limpa o jardim de sua casa onde um cacaueiro frondoso , um pé de pimenta do reino e outro da cravo da Índia fornecem a sombra necessária para um descanso tranquilo.

 Já passou por várias fases de bonança e turbulência, como muitos de nós, neste país onde a moeda já mudou várias vezes e a instabilidade política não nos dá trégua. Fiquei sabendo que trabalhou como balconista na Loja Titan, na Avenida Joana Angélica, loja esta pertencente ao paulista do Brás,  José Marques de Castro, seu Castro, aquele mesmo dono da famosa e Galeria Bazarte, que ficava no Politeama, próximo ao Instituto Feminino da Bahia. Quem lhe apresentou a seu Castro foi seu irmão mais velho José Geraldo Gomes de Oliveira que trabalhava no Banco do Brasil e o conhecia , ai indagou se não arranjava um emprego  para o irmão.

                                        SUA TRAJETÓRIA

Paralelamente ao trabalho de balconista vendendo confecções masculinas na Loja Titan, Pedroso ia fazendo suas pinturas. Certo dia ao passar pelo Politeama viu uma galeria de arte aberta e resolveu entrar para apreciar as obras de arte. Até então não sabia que a galeria pertencia ao patrão seu Castro. De repente se esbarra com seu Castro e então foram conversando e Pedroso lhe disse que fazia uns trabalhos de arte. Ficou acertado que  levaria alguns para seu Castro examinar, e assim foi feito.Em pouco tempo três obras de sua autoria foram vendidas. Assim, ele iniciou seu caminho como artista profissional.
Pedroso  em seu atelier
Como o salário que recebia na Loja Titan era insuficiente para sua manutenção falou com seu Castro e ele se prontificou a arranjar um trabalho em outra empresa onde fosse ganhar mais. Mandou que vestisse o paletó e juntos se dirigiram ao Relógio de São Pedro para falar com Zivi e Jacob que eram dois empresários donos da Schindler-Adler , do segmento de ar cndicionado. O curioso é que o Zivi era russo e o Jacob judeu. Ele não lembra se ambos eram russos. Assim, passou a ganhar mais e continuou pintando e levando suas obras para a Galeria Bazarte. Fez sua primeira exposição individual , no foyer do Teatro Castro Alves em 1958. .Comemorou seus 25 anos de arte em 1985 com uma exposição muito concorrida na Panorama Galeria de Arte.  Atualmente, contabiliza mais de 180 exposições  individuais e coletivas tanto no Brasil como no exterior.

Recentemente, fiz um artigo sobre a Galeria Bazarte e falando sobre seu Castro, todos os artistas que expuseram na Galeria Bazarte que entrevistei não sabiam detalhes do desaparecimento dele. Conversando com Pedroso fiquei sabendo que seu Castro teve um problema de saúde que foi um efizema pulmonar , devido a quantidade de cigarros que ele consumia diariamente, e terminou sendo internado no Hospital Santo Amaro, na Federação. Certo dia Pedroso recebeu um telefonema da esposa de  seu Castro informando que  tinha piorado, e lá chegando em poucas horas veio a falecer. Ele está sepultado no cemitério do Campo Santo.

Pedroso já foi pequeno comerciante de artigos e acessórios para decoração com uma loja estabelecida no Campo Grande. Foram três anos de atividade nos anos de 1965 a 1968. Com essa atividade conseguiu  comprar um terreno na Ladeira da Cruz da Redenção e negociou com o arquiteto Ronald Lago o projeto para sua casa, dando como pagamento obras de sua autoria. Assim, iniciou a batalha de construir  casa e o atelier, onde hoje mora e trabalha. 

Atualmente,  expõe suas obras na Galeria de Roberto  Alban , no bairro de Ondina, na Rua Senta Púa,53. Quando indagado se tem exclusividade com esta galeria ele respondeu que hoje a maioria das galerias prefere comercializar obras de artistas contemporâneos, e assim os artistas naifs ou primitivos ficam esquecidos." É uma pena, porque as obras de Pedroso e de outros artistas baianos primitivos ou naifs são tão importantes quanto as dos  contemporâneos. Tudo depende da qualidade da obra e do olhar de quem tem a oportunidade de apreciá-las com a sensibilidade que a obra de arte requer .