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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

SURPRESO COM A QUALIDADE DA ARTE DE GUEL SILVEIRA

A
Guel diante de seu última obra
 minha reação foi de surpresa ao ser apresentado à produção artística de Guel Silveira realizada das últimas décadas.  Estive com ele em 1978 e de lá para cá vi algumas publicações em jornais de exposições realizadas aqui e em outras capitais. Mas, tinha conhecimento que Guel teria decidido largar a pintura e passara a se dedicar à pecuária criando gado na região de Vitória da Conquista, onde passou a morar com sua família. Foram treze anos nesta atividade e o que levou a esta ruptura foi um fato que lhe deixara chateado porque ao realizar uma exposição em Recife, foi publicado um texto sobre a exposição e trocaram o seu nome pelo do pai Jenner Augusto. Foi um choque, e ele resolveu parar para pensar um pouco se deveria continuar trabalhando com arte. Porém, Guel Silveira é muito mais do que o filho de um artista plástico famoso. 
Guel Silveira é um artista na essência da palavra, tem criatividade, sabe mexer com as formas, tintas e outros materiais. Possui além de formação acadêmica, na Escola de Belas Artes da UFBA, onde estudou com grandes mestres baianos, também frequentou os ateliers de Calazans Neto, aprendendo a xilogravura, e no atelier de Mário Cravo Jr. Participou de um curso promovido pelo meu saudoso amigo Sante Scaldaferri, ministrado no Teatro Castro Alves, na época em que funcionou o Museu de Arte Moderna da Bahia no foyer daquela casa de espetáculos, nos idos dos anos 60. Depois de décadas de trabalho ele está com seus últimos trabalhos intitulados de Dobras saindo do plano rumo ao tridimensional. Em breve veremos esculturas abstratas e geométricas criadas pelo artista. Sua produção artística nada tem a ver com o que produzia seu pai. São completamente distintas. E ponto final nisto!
Xilogravura de 1974,de Guel
Anos depois, já no ano de 2001, Sante Scaldaferri escreve: "Surge um pintor que de há muito tempo conhece técnica, sabe pintar e faz pintura de boa qualidade apresentada em diversas exposições, que pesquisou muito, fez pintura abstrata, que sempre procurou um caminho, que têm muita sensibilidade e outros predicados, porém, nesta exposição, ele nos mostra tudo que estava latente dentro de si, e que agora começa a aflorar. Mudou tudo: a temática, o discurso e a escrita. Ele consegue transfigurar, ironizar, reinterpretar, e colocar a realidade e os fatos que o cercam, de uma forma pessoal e contemporânea. Este é um texto de um pintor, sobre a exposição de outro, com muito orgulho) colega." 

Portanto, tem uma sólida formação e disciplina de trabalho, que faltam a muitos artistas. Diariamente, sai de sua casa e vai para o atelier localizado num amplo apartamento no Morro do Gato, em Salvador, onde cria suas obras. Guel Silveira não gosta de limites e de ficar preso a determinadas temáticas. Hoje pode pintar uma marinha, amanhã uma natureza morta e depois vai para as dobras e colagens misturando temáticas e materiais. 

"Violeta Varonil", obra feita em spray 1984.
Fiquei também surpreendido com a quantidade de catálogos e livros escritos sobre sua obra. Portanto, estamos diante não do filho de um pintor famoso. Estamos diante de um artista que sabe o que quer, tem uma obra consolidada, e importante, registrada para a posteridade. É muito meticuloso, diria até um pouco tímido, porque sua obra já deveria ser muito mais conhecida dos brasileiros e, particularmente dos baianos, e está necessitando urgente ganhar novos espaços. Tem qualidade, são pinturas feitas dentro da técnica e não àquela pintura chapada que muitas vezes encontramos por aí.

Relembra Guel Silveira que foi muito profícua a convivência com os grandes artistas modernistas baianos "porque cada encontro era um aprendizado." Aos 18 anos já frequentava o atelier de Calazans Neto, o querido Calá, que passava as informações necessárias para que criasse suas gravuras as quais eram impressas na prensa do mestre, no atelier que funcionava na casa de Calá no bairro de Itapuã. Depois comprou uma prensa e posteriormente alugou um espaço no bairro da Boca do Rio, por sinal vizinho ao amigo e contemporâneo Mário Cravo Neto, o Mariozinho, o grande fotógrafo reconhecido mundialmente, que nos deixou prematuramente. 

Em 1999 mostra naturezas-mortas
Escrevi em 1978 no jornal a Tarde na minha coluna Artes Visuais: "Disse certa vez um político mineiro que "o homem não tem culpa de três coisas na vida: a cor da pele, o sobrenome que carrega, nem o lugar onde nasceu." Esta frase é suficiente para entendermos que Guel teve a felicidade de nascer no meio de um forte movimento artístico modernista que vivia a Bahia, e isto deve ser celebrado. Aqui este movimento se fortaleceu tendo como um dos principais incentivadores o grande escritor Jorge Amado que era um agregador de amizades que duraram enquanto viveram. Foi neste ambiente salutar que se formou a personalidade artística de Guel vendo àqueles mestres do modernismo baiano atrair inclusive artistas de outros países e estados como o Floriano Teixeira, do Maranhão, e seu próprio pai que era sergipano, Carybé vindo da Argentina e Hansen Bahia, da Alemanha, dentre outros. 

Nesta marinha em acrílica sobre tela me chama
a atenção a transparência e a luminosidade .
O artista Guel Silveira começou com uma pintura abstrata e depois passou pelo figurativo. Atualmente está desenvolvendo uma série de obras que ele chama de Dobras inspiradas na arte milenar dos orientais e asiáticos de dobrar, os famosos origamis. A delicadeza desta arte, que reproduz animais e mesmo objetos, nos remete a delicadeza e   leveza do fazer. Como disse anteriormente, só mesmo as pessoas meticulosas, calmas e persistentes conseguem realizar bem esta arte. Assim Guel Silveira vai calmamente criando suas obras utilizando materiais diferentes em pequenos e até mesmo minúsculos pedacinhos de papel e outros materiais para compor uma obra. Sempre nas formas que cria podemos ver de longe a uma referência com um animal marinho e mesmo com a paisagem iluminada da orla do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde cresceu e viu começar a florescer a sua arte. 

"A Inquisição", também em acrílica e tela.
O curioso é que mesmo interrompendo suas Dobras para pintar marinhas e até mesmo abstratos notamos que existe uma certa coerência nesta passagem e como que se completam para formar este conjunto, aparentemente complexo, mas harmônico. As cores quase sempre caminham dentro de uma ideia maior que é de expressar livremente o sentimento do ambiente em que vive. E quando seu assistente o Paulo Sérgio foi pacientemente apresentando as obras fui também observando que elas embora tenham unidade não repetem a maioria dos elementos que as compõem. Portanto, uma demonstração da elasticidade de sua criação.

Uma das características da forma de trabalhar de Guel Silveira é que além de pintar ao mesmos obras usando o abstracionismo e o figurativo ele nunca está satisfeito com o quadro que teria concluído. Ao olhar sempre volta e faz algumas modificações retirando ou introduzindo novos elementos. A sua intenção é que a obra realmente tenha tudo que ele imaginou em momentos diferentes. Sempre foi assim quando começou com as gravuras, depois com a técnica do spray, com a pinturas em acrílico sobre tela e agora com as dobras onde faz recortes, colagens e pintura na mesma obra, utilizando alguns tipos de materiais como juta, cartonado, papéis lisos, estampados e reciclados e Arches, este muito utilizado pelos seus colegas artistas para pintar aquarelas, além de pedaços de placas de isopor full. Portanto, além da criação pictórica tem esta coisa do fazer, da habilidade manual de um artesão que vai construindo o meticulosamente o seu mundo dentro de uma dimensão de intimidade com os diversos materiais. 

Pintou e ainda pinta inspirado nas pinaúnas,
que existiam em grande número nos arrecifes
das praias do bairro do Rio Vermelho.

A propósito de suas Dobras o próprio Guel Silveira escreveu :Dobras: Virar, revirar, dobrar, transpor em múltiplas viras. / Buscar todas as viradas de cada esquina, de cada rua, de cada labirinto, de todos os avessos / Tudo na vida é dobra. / O que não pode ser dobrado é fixo, estático, não se multiplica, não dá sombra, não revela, também não esconde. / Não ilumina, não mostra a intensidade da luz. / Não amplifica, não reverbera e nem vibra / É oco, não ecoa, não transmuta. /...

Na conversa que tivemos numa tarde ensolarada em seu atelier disse que sofreu alguma influência dos artistas o paulista Arthur Luiz Piza que nasceu em 13.01.1928 e faleceu em 26.05.2017 na França / Ile de France / Paris. Do cearense   Antônio Bandeira nascido em 26 de maio de 1922 e falecido em Paris, 6 de outubro de 1967), e também dos mestres nipo-brasileiros Manabu Mabe (1924-1997) e Kazuo Wakabayashi (nasceu em 1931) e Tikashi Fukushima,(1920-2001) que os conheceu frequentando sua casa.

Vejo também um distanciamento completo da sua produção e do que fazia o seu pai, que era um figurativo, enquanto o Guel Silveira tende mais   para o abstrato, e mesmo quando se inspira numa singela piraúna ou ouriço do mar, como é conhecida em outros locais do litoral brasileiro, ele consegue transmutar este molusco e representá-lo dentro de sua linguagem abstrata. E aqui reproduzindo as sábias palavras do caro Geraldo Edson de Andrade, escritas em 2012, infelizmente Edson está em outra dimensão. Veja: "A linguagem abstrata não é tão fácil como costumam afirmar os diletantes. Uma composição abstratizante pode conter, sim, elementos reais quando transfigurados pela sensibilidade do artista que nela expressa não somente sua catarse interior nela inserida memória e afetividade. Há, pois sensível ligação entre formas e cores com sentimento e emoção norteando as intenções de Guel nas mais recentes pinturas".

Esta obra ele estava trabalhando nela quando cheguei
ao seu atelier para iniciar a nossa conversa.

Outra surpresa foi saber que Guel Silveira era amigo do poeta Thiago de Mello com quem privou desta amizade alguns dias em sua casa construída às margens de um rio em plena floresta Amazônia. Aí lembrei de um episódio que vivi no final dos anos 1960 quando fui ao Rio de Janeiro participar de um congresso estudantil realizado na Faculdade Cândido Mendes, e o então agentes do DOPS, que era o temido Departamento de Ordem Político e Social apareceram com várias viaturas cercando o prédio da Faculdade. Foi exatamente logo após o poeta Thiago de Mello, que estava todo vestido de branco, acabara de recitar vários poemas de cunho político para nós estudantes. Foi um momento sublime, interrompido com a possibilidade de sermos presos e levados para a sede do DOPS. Felizmente o então reitor da Faculdade o professor Cândido Mendes era um homem muito querido e respeito interveio e lá pela madrugada as viaturas começaram a sair. Foi um alívio geral. 

Guel ao lado de seu amigo o poeta Thiago de Mello na sua casa doada por
Lúcio Costa em  plena floresta amazônica, onde passou alguns dias.
Mas, voltando a falar desta amizade o Guel Silveira esteve algumas vezes na casa que foi construída e doada ao poeta Thiago de Mello pelo arquiteto Lúcio Costa, aquele mesmo que juntamente com Oscar Niemeyer construiu a ilha da fantasia, a nossa Brasília. A casa fica às margens do rio no município de Barreirinha e o acesso é feito de barco.

 A propósito o poeta dedicou alguns versos em ocasiões distintas sobre a obra pictórica do Guel Silveira. Escolhi esses versos e aqui os transcrevo: "É nas cores que está a linguagem poética de Guel. / Como a moça da janela, o pássaro no vento, a doçura no pêssego. / No convívio com elas, amoroso e constante aprendeu sozinho / o que o mestre Albee ensinou na sua teoria das cores. / Passa horas, tem vez que atravessa o dia na frágua palheta, / trabalhando só para encontrar a sua cor mágica. / Recordo que respondeu Rodin, quando o poeta Rilke, jovem, ?

lhe perguntou o que era preciso para ser um grande artista: /-Primeiro nascer artista e depois trabalhar , trabalhar e trabalhar". E em outra ocasião escreveu o poeta Thiago de Mello: "Faz tempo considero que não deve haver discórdia / entre o artista e a pessoa... Os dois são um só / Guel Silveira, belo artista, um homem bom".

Atualmente Guel Silveira está expondo vários trabalhos da série Dobras, na Galeria Zeca Fernandes, localizada na Rua Alameda dos Mulungus, 83, Praça dos Eucaliptos, bairro Caminho das Árvores.  Guel está também expondo várias obras no evento de decoração Casas Conceitos, que está sendo realizado no bairro de Santo Antônio Além do Carmo , no Centro Histórico de Salvador. É um evento que reúne  arquitetura, decoração, arte e entretinimento e estará aberto até 30 de outubro. Está instalado na Escola Divino Mestre, um antigo centro de ensino que não funciona há 20 anos. A área te, 3 mil metros quadrados e o evento tem três ambientes. Vale a pena conferir. Ao lado o convite da outra exposição, que você ainda pode visitar na Praça dos Eucaliptos. 

 

 

 

 

 

 

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sábado, 16 de julho de 2022

MORRE TATTI MORENO O ESCULTOR DOS ORIXÁS

Esta foi sua escultura móvel que causou surpresa
com a Fonte Nova completamente lotada.
Conheci o Tatti Moreno na Rua da Flórida nos anos 60 quando fui designado para fazer uma reportagem sobre um jovem escultor que tinha transformado o seu Fusca numa escultura móvel. Na realidade o Fusca virou um grande besouro  dourado e ele vestido em seu terno cor de rosa. Foi uma sensação na época, e para coroar o feito ele deu uma volta olímpica na Fonte Nova antes de começar o BA x VI.  A disputa entre os dois times estava acirrada com o estádio completamente lotado de torcedores. Daí em diante sempre tive contatos esporádicos com Tatti acompanhando suas primeiras exposições até o seu reconhecimento com um artista de sucesso. As obras públicas contribuíram em muito para que passasse a ser conhecido por todos. O conjunto de Orixás do Dique do Tororó é hoje um dos cartões postais da nossa Cidade. Os orixás foram colocados ali em em 2 de abril de 1998 graças a iniciativa do senador Antônio Carlos Magalhães, que era um incentivador das artes na Bahia. Dizem que ele levou nada menos que dezesseis anos para que seu projeto se concretizasse, e isto ocorreu quando da reforma da área do Dique do Tororó no governo de Paulo Souto. Embelezando e protegendo o local estão representados na lâmina d'água Oxalá, Xangô, Oxum, Iansã, Ogum, Iemanjá, Nanã e Logun-Edé. Na terra as esculturas de Oxóssi, Exu, Oxumarê e Ossanha.

Além de outras obras espalhadas em locais públicos, principalmente as estátuas de Jorge Amado e Zélia, no Rio Vermelho, a escultura de Mãe Stella na avenida que leva o seu nome, datada de 2019, dentre outras. Sua morte no último dia 13 deixou uma lacuna no cenário das artes na Bahia, mas descansou, já que vinha sofrendo de uma doença incurável que lhe ceifou a sua vida. Fica a lembrança do seu jeito brincalhão, do seu afeto, pois adorava abraçar as pessoas que ele gostava, e também de tomar um drink para festejar bons momentos da vida. 

Ele estudou com Mário Cravo, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e fez sua primeira exposição em 1970. No início da carreira algumas esculturas de santos, mas foi nos Orixás que passou a ser conhecido. Tenho duas dessas esculturas um Oxóssi garboso e vitorioso e uma Iemanjá que ele me presentou durante as vezes que sentamos para conversar com tranquilidade. 

Seu nome de batismo era Octávio de Castro Moreno Filho, tinha 77 anos de idade, e foi sepultado no ontem, dia 14, no Cemitério da Saudade com grande acompanhamento de amigos e admiradores de sua obra. Estava casado com Gisele Fraga e do seu primeiro casamento com Mimi Fonseca, já falecida, teve três filhos André, Gustavo e Paula Moreno. Ele também tem obras espalhadas por algumas cidades brasileiras uma no Lago Paranoá, em Brasília; nos Jardins da Estação Tucuruvi, no Metrô de São Paulo, e um Cristo Redentor de tamanho quase igual à do Rio de Janeiro que se encontra em Lima, no Peru.

Reproduzo aqui algumas das matérias que escrevi sobre Tatti Moreno, que começou grafando  seu nome artístico com apenas um t e depois passou a usar dois ts. Infelizmente, não pude ir ao seu sepultamento, mas daqui deixo minha homenagem.



OS TATTI MORENO E SEUS ORIXÁS, SANTOS E BICHOS

ARTES PLÁSTICAS - 6 DE MARÇO DE 1976 - JORNAL A TARDE - SALVADOR - BAHIA - BRASIL


ORENO FORAM DANÇAR EM BRASÍLIA 

JORNAL A TARDE SALVADOR TERÇA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 1983.

OS ORIXÁS DE TATTI MORENO FORAM DANÇAR 
EM BRASÍLIA


O escultor Tatti Moreno não poderia escolher uma época melhor para levar seus orixás para a capital federal.Quando os boatos agourentos ganham os imensos espaços do Planalto Central chegam ao Sul e ao Nordeste do país, somente a força dos Orixás pode afastar ou anular os apóstolos da desgraça.
Recentemente entrevistando um velho carranqueiro do São Francisco, ele disse que ao fazer uma carranca, que é a representação do demônio, tem o cuidado para não ser surpreendido pelo diabo. Uma crença que herdou de seus ancestrais, como também acontece com a maioria das pessoas que cultua os deuses africanos. Assim, uma simples escultura em bronze de um Orixá, ganha força de misticismo porque atrás de sua imagem, existe toda uma herança cultural religiosa e uma gama de seguidores convictos e fervorosos.
A postura dos Orixás, que foram agrupados para a fotografia da capa do catálogo, nos lembra um flagrante de um terreiro de candomblé, quando os Orixás baixam para a felicidade dos pobres mortais desta terra. É um encontro celestial entre vivos e mortos, homens e deuses que encarnam seus espíritos fazendo as pessoas cair, roda e se bater contra o solo. Uma manifestação de fé.
Portanto, mesmo que o artista esteja imune a própria relação objeto-religião, pessoas que olham suas esculturas representando os Orixás, não estão centenas e centenas de outras pessoas  que olham suas esculturas representando os Orixás.
E, utilizando latão, ele vai armando o seu mundo místico unindo os pedaços deste metal de cor dourada com pontos de solda elétrica. Um trabalho tão significativo, como dos verdadeiros artesãos que o antecederam nesta tarefa de cultuar os deuses da África negra. Seu trabalho é como a prece de um crédulo.
Com as palavras de suas orações vai alinhando pensamentos, pedidos e agradecimentos. Só que Tatti dá um sentido mais concreto, quando retorce, corta, fura e bate a folha do latão e vai juntando os pedaços, até a encarnação de seu Orixá.
São esses Orixás de latão, cobre e ferro que deixaram Salvador e voaram para Brasília, local próprio para exercer a proteção sobre este país, que mais parece um porta-aviões à deriva. Aproveitando os grandes espaços de Brasília que são tão escassos em nossa Bahia, eles vão dançar e cantar para afastar os perigos que nos rondam. A exposição será aberta no dia 21 e permanecerá até 30 de junho no Saint Paul Park Hotel.


Em 1º de dezembro de 1986 escrevi em minha Coluna Artes Visuais no Jornal A Tarde.

              IMAGENS DE  ESCULTOR TATI MORENO


O escultor Tati Moreno retocando uma peça
Depois das esculturas geométricas em grandes dimensões o escultor Tati Moreno retorna com trabalhos mais detalhados, mais singelos que são suas imagens de folhas de latão, cortadas e soldadas, apresentando doces movimentos. Isto demonstra a sua versatilidade em trabalhar com esculturas mais densas, como as de antes e agora, em trabalhos  onde o artista deixa escapar o seu lado mais detalhista, mais rico em simbologia.
Tati é um santeiro moderno.Trabalha com instrumentos movidos por energia elétrica, serras que cortam o metal, deixando no ar os sons estridentes como a anunciar a chegada de seu elenco imaginário. São martelos possantes, tesouras que rompem a folha do latão para possibilitar que brotem os detalhes de suas imagens.

 Em 14 de novembro de 1998 em minha Coluna Artes Visuais do jornal A Tarde 


OS CRISTOS DE TATI MORENO ESTÃO NA  GALERIA ÉPOCA

Depois de passar uma boa temporada venerando os orixás do candomblé, o escultor Tati Moreno resolveu voltar sua atenção para a figura do Cristo e introduzir mais um elemento como matéria-prima de sua arte, a madeira. Com esta sua nova visão plástica surgiram obras de grande significado e, também, carregadas de uma carga de religiosidade principalmente quando pensamos no mistério da cruz que o Cristianismo, durante séculos, vem pregando em suas catacumbas, igrejas e, mais recentemente, em sedes de entidades associativas dos bairros periféricos das grandes cidades.
Aí surge a dualidade entre o bem e o mal. Tema sempre tratado no decorre dos séculos e que podemos observar dos museus europeus e americanos, onde existem guardados e preservados tesouros pictóricos retratando o Cristo e cenas de sua passagem por esta terra.
São os 12 grandes cristos e 11 menores onde Tati Moreno surpreende a todos àqueles que vem acompanhando o seu trabalho. Vejo a introdução da madeira como um elemento muito positivo em sua obra e, também, o respeito a própria tradição do Cristianismo onde aprendemos que Jesus carregou uma pesada cruz em seus ombros percorrendo as ruas íngremes de Jerusalém para depois ser crucificado. Esta sua preocupação, intuitiva ou não, serva para mostrar que o mistério da cruz é um dado importante na própria formação do artista. Também nos apresenta cristos com um toque de modernidade, fugindo dos padrões estabelecidos. Tati ousou, ao voltar os seus olhos para uma temática eminentemente religiosa, forte, mística.








terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ESCULTURA E EXPOSIÇÃO LEMBRAM CENTENÁRIO DE JORGE AMADO

ESCULTURA E EXPOSIÇÃO LEMBRAM CENTENÁRIO DE JORGE AMADO


Duas homenagens  pelo centenário do escritor Jorge Amado, ocorrido no último dia 19 de dezembro, foram concretizadas pelos artistas Tatti  Moreno , com uma escultura que está numa praça do bairro do Rio Vermelho e, a exposição de Maria Adair e Eliana Kertész , no Palacete das Artes, na Graça. Homenagens mais do que merecidas, porque Jorge faz parte da Bahia , aqui criou, viveu e levou o nome da nossa terra e da nossa gente para os quatro cantos do mundo.
Tatti foi um dos artistas chegados ao escritor e ele concebeu uma escultura em tamanho natural feita de bronze e pátina esverdeada, sentado em um banco no Largo de Santana, ao lado de seu grande amor Zélia, e de Fadul , o seu cachorro de estimação da raça pug. Ele foi o último animal criado pelo casal, e morreu em abril deste ano.
Os corpos foram esculpidos por parte e depois soldados. Já o banco onde Jorge e Zélia Amado estão sentados permite que os baianos e turistas sentem para tirar fotos ou admirar a escultura.
Na escultura Jorge aparece com uma  camisa  com flores, como ele sempre gostava de se vestir. Tatti juntamente com Paloma, filha do escritor, escolheram a foto para servir de modelo. Só que ele estava de chapéu e o artista resolveu tirar o chapéu para eternizar a cabeleira farta de Jorge. Tatti conseguiu fazer em baixo relevo as flores da sua camisa colorida.
O artista ficou lisonjeado por ter sido escolhido para fazer a escultura . Revelou que tem " um carinho  guardado pelo casal, não só pelo amor e generosidade deles,mas também por serem pessoas fantásticas,que levaram o nome do Brasil para o mundo".
A escultura custou R$400 mil e foi patrocinada pela Bahiatursa,Caixa Econômica e Bahiagás e a ideia foi de Ricardo Barreto, que era na época  presidente da Associação dos Moradores do Rio Vermelho - Amarv.
Três dias depois um vândalo riscou a escultura . São atos condenáveis, mas que acontecem por falta de respeito e educação.Este pobre diabo que fez isto é digno de pena.




domingo, 27 de novembro de 2016

OBRA DE TATTI MORENO REGISTRADA EM LIVRO

Ao folhear o livro A Arte de Tatti Moreno me transportei aos anos de 1960, quando tive o primeiro contato com ele ao ser designado pela Chefia de Reportagem do jornal A Tarde para fazer uma entrevista com um jovem artista que morava no bairro da Graça e teria feito uma escultura num carro. A pauta não dava maiores detalhes sobre o feito do artista, e tão pouco do seu autor.
Quando lá cheguei, encontrei um jovem  nu da cintura para cima , cabelos encaracolados, envolvido na garagem de sua casa com suas ferramentas de trabalho e ansioso em mostrar sua última criação. Foi aí que me surge um Fusca  transformado em escultura com cara de monstro e dentes afiados, nariz projetado e olhos grandes.
Tatti foi logo falando de sua expectativa de no domingo seguinte dar uma volta triunfal na Fonte Nova, na partida entre o Bahia e Vitória, garantia de casa cheia . Lembro que a volta foi rápida e que muitos torcedores nem perceberam do que se tratava, já que o foco era a partida entre  os maiores rivais do futebol baiano.E assim, aconteceu a apoteose do seu trabalho escultórico, que  atraía a curiosidade das pessoas quando saia pelas ruas de Salvador .
O artista teve algumas dificuldades para conseguir um documento da polícia de trânsito, que relutava em dar autorização para que aquele estranho carro circulasse pelas ruas da cidade.
Os comentários variavam. Uns diziam tratar-se de  extravagância de um playboy, outros apenas que era uma coisa estranha que andava. Evidente, que naquela época não se tinha à disposição o volume de informações que temos hoje , inclusive sobre uma obra de arte, e estava no auge as extravagâncias de alguns milionários como o Baby Pignatary, Jorginho Guinle, inclusive de alguns endinheirados baianos.
No meu acervo estão dois orixás
esculpidos por Tatti. Tenho preferência
por este Oxóssi de 60 cm.



Na parte traseira  de seu carro-escultura ele instalou uma fonte luminosa que jorrava água em até 2 metros de altura; na lataria fez algumas  máscaras, parte do capô se movia mostrando os  dentes dourados, e no lugar dos faróis os olhos se movimentavam. Tinha a cor preto e  dourado .
Era na verdade uma obra de arte, onde o artista fazia seu protesto contra a massificação do consumo através do automóvel. Imagine que a insipiente indústria automobilística estava apenas começando no Brasil e já assustava o Tatti, devido ao apego que as pessoas demonstravam, já naquela época, ao automóvel. Esta escultura depois foi participar de uma exposição do Rio de Janeiro e nunca mais soube do seu paradeiro.

Nos anos seguintes, passei a me interessar mais por arte e acompanhei a trajetória de Tatti, que a cada ano ganhava prestígio, e suas esculturas passaram a ser adquiridas por colecionadores daqui e de fora do Brasil. Hoje, um escultor consagrado, o Tatti continua com seu jeitão descontraído , sempre disposto a realizar novos trabalhos, fiel à sua temática calcada na arte afro-brasileira.Já esculpiu insetos, máscaras e totens. Porém, o seu forte são os Orixás.
A propósito para sua cidade criou àquelas belas e grandes esculturas representando os Orixás que estão no Dique do Tororó, local dedicado ao culto de Oxum, a Rainha das Águas Doces . Suas esculturas são referência, e mesmo uma atração turística a mais para os que nos visitam ,e até mesmo para os baianos que passam pelo local. Todos querem fazer uma foto, que fica bonita de qualquer ângulo que você focar.
As  esculturas de Tatti Moreno ressaltaram
mais ainda a beleza natural do Dique do Tororó.
São doze Orixás , sendo que oito ficam no espelho d'água -Oxalá,Oxum,Xangô,Yemanjá,Yansã,Ogum,
Logun- Edé e Nanã, e outras quatro , na terra que são Exu, Oxumaré,Ogun-Edé e Ossanha. São esculturas com sete metros de altura , em estrutura de ferro, revestida de fibra de vidro, polietileno, para evitar ferrugem. Estão dispostas em círculo, numa formação das cerimônias do candomblé.
Ele já tem muitas esculturas em áreas públicas e privadas em várias cidades e capitais brasileiras. Recentemente, fez aquela escultura de Jorge e Zélia Amado que está no bairro do Rio Vermelho.




quinta-feira, 14 de julho de 2022

OS ARTISTAS POPULARES QUE TEIMAM EM CRIAR

 Temos em todas as cidades do interior os chamados artistas populares que nunca frequentaram escolas de arte ou mesmo tiveram orientação de um professor mais especializado. Eles surgem com seus talentos espontaneamente e vão tateando daqui e dali até serem reconhecidos pelo que criam e produzem. Assim surgem escultores, pintores, desenhistas, gravuristas, artesãos, fotógrafos dentre outras categorias. Portanto, este texto se propõe a mostrar alguns desses artistas que estão aí no mercado em Ribeira do Pombal tentando mostrar e sobreviver da arte que fazem. Sendo um amante da arte por onde passo procuro ver e descobrir novos talentos. Minha casa tem suas paredes repletas de obras de arte e sempre estou olhando e admirando cada detalhe. Elas servem para dar alegria e vida, transformando as paredes frias em locais de boas vibrações, além de proporcionar o embelezamento. Uma casa sem uma obra de arte, quer seja uma pintura, uma fotografia ou escultura é uma casa sem vida, de paredes mortas. Portanto, procurem colocar em suas casas e apartamentos uma obra de arte, e prestigiem os artistas da terra que precisam sobreviver de sua arte, e que teimam em mostrar seus talentos. Ao adquirir uma obra de arte você também está contribuindo para a melhoria da qualidade da arte que eles produzem, porque à medida que pintam, esculpem, gravam ou fotografam vão aperfeiçoando suas habilidades e a qualidade de suas obras.

Vânia Reis e algumas telas de sua autoria. A maior é
da Praça Getúlio Vargas , vendo o sobrado dos Brito.
 A Josivânia Santana dos Reis , que assina suas obras como Vânia Reis, é natural do Povoado de Barrocão, é  a mais talentosa, conhecida experiente  entre os artistas populares do município. Ela nasceu em 15 de junho de 1967 e diz que seu interesse pelas artes começou desde criança  quando descobriu que poderia fazer alguns objetos de barro, e também  passou a realizar  seus primeiro desenhos. Frequentou alguns cursos temporários ministrados no município e até mesmo em São Paulo , e em 1997 passou a expor algumas obras. Hoje é uma artista reconhecida na região e de quando em fez solicitada a fazer um mural em pousadas, bares e mesmo em residências particulares. Também, escreve poemas e é uma ativista contra a violência doméstica. Sempre está participando de lives ou outros eventos mostrando sua arte e levando a mensagem contra a violência doméstica, a que inclusive  diz que foi uma das vítimas.

Vânia Reis tem realizado também um trabalho de resgate pintando prédios históricos que desapareceram devido a insensibilidade de gestores públicos e mesmo de famílias que se desfizeram de seus imóveis por várias razões. A nossa Cidade tem uma memória curta, como se diz no popular. Preservação aqui é quase um palavrão. O último prédio histórico que foi demolido  para a construção da sede do Tribunal Regional Eleitoral  foi a Cadeia Pública. Eu cheguei a falar com um Diretor do TRE , que trabalhou comigo no jornal A Tarde sob a possibilidade de pelo menos preservar a fachada da Cadeia Pública, mas ele respondeu que seria impossível porque o projeto é padrão. Isto não iria interferir no projeto. Apenas um simples recuo poderia ter salvo mais este prédio histórico. A culpa foi do prefeito da época que simplesmente permitiu sem qualquer reflexão.

A arte de Marlene, índia Kiriri, utiliza materiais
recolhidos da natureza. 
Temos a índia Kiriri Marlene Maria de Jesus, 57 anos, casada com Orlando Jesus dos Santos e tem oito filhos: Josileide, Rogério, Ricardo, Maíra, Rosângela, Cleoma, Sueli e Ronaldo.  Nasceu na Mirandela, quando pertencia a Ribeira do Pombal, e ela trabalha com palha do ouricurizeiro de onde tirar a fibra que confecciona bolsas, tranças,  tangas e sutiãs. Também sem tirar a fibra usa a palha in natura faz as esteiras e abanos , e com outros materiais confecciona cocares,   maracás e colares . "Um galho de ouricurizeiro para mim é vida! Às vezes trabalho com meu filho Rogério  que faz também aiôs com a fibra do ouricurizeiro, mas, ele sabe fazer também com linhas industriais  tricotadas. "

 E continua Marlene "tenho trabalhado fazendo sutiãs e tangas de fibras de pindoba (ouricurizeiro) mas sinto falta de um manequim para ver melhor o resultado do que faço. Muitas vezes a gente pede a uma sobrinha para vestir, para olhar como está o caimento, e mesmo se precisa ser feito algum ajuste. Com o manequim seria melhor porque estaria sempre a disposição para isto. "

Ela mora na comunidade de kiriri , na Mirandela, que hoje pertence ao município de Banzaê, que foi desmembrado de Ribeira do Pombal em 24 de fevereiro de 1989. Começou a trabalhar com a mãe em utensílios domésticos feitos de barro e quando sua mãe faleceu ela continuou e aprendeu a fazer outros utensílios e elementos de sua cultura que são comercializados em feiras e outros eventos. 

Obras de  Humberto Souza. Abaixo vemos o antigo
Mercado Municipal, que foi demolido.
 Humberto Santos Souza, 71 anos, filho de Zezito Paulo dos Santos e  Josefa Cristina de Souza (falecida),  montou a primeira galeria de arte que funcionava na Rua Fernanda Gama, ao lado do Bradesco, mas terminou fechando porque não tinha movimento comercial. "Depois que me aposentei  do Banco do Brasil tive que procurar fazer algo. A saída foi me dedicar à arte senão ia endoidar. Queriam me transferir para São Paulo, Paraná e outros estados . Foi quando preferi aceitar o Pedido de Demissão Voluntária - PDV, em 1996 . Depois passei um ano mal,  adoeci e tive um AVC. Foi a arte que me salvou. Desde criança que desenhava e já adulto comecei a pintar a partir dos 18 anos. Nunca tive curso, embora os colegas na época me incentivaram muito a fazer um curso na Escola de Belas Artes da Ufba." Ele é natural de Jandaíra, Bahia, e está em Ribeira do Pombal há mais de cinquenta anos. Confessa Humberto que " hoje estou com os movimentos limitados do lado direito e isto tem dificultado pintar. Tenho várias obras  aqui em Ribeira do Pombal ."

Geovane e as luminárias  feitas de tubos  de  pvc.
 Geovane Bitencourt Gomes, diz ser  natural de Tucano, 59 anos, "mas vivo aqui há mais de quarenta anos, sou praticamente pombalense. Desde os quatorze anos que estou envolvido com a arte. Primeiro fazia entalhes em madeira e depois fiz algumas pinturas, e cheguei a fazer uma exposição na Mona Pizza, aqui mesmo em Ribeira do Pombal. Parei de pintar por falta de incentivo e as pessoas não dão o valor que a gente espera. Publiquei um livro de poemas  "Desabafo do Poeta", em 2001, e a partir de 2018 descobri o pvc como material para fazer a minha arte. Hoje elaboro abajures, luminárias, miniaturas, caricaturas o que você pensar em pvc eu faço. Já tenho minha Carteira Nacional de Artesão e estou esperando ajuda do Governo "porque a coisa está braba".

Ricardo e suas esculturas de cimento e casca de coco.
O artesão Ricardo Oliveira Silva, o Ricardo Arte ,  trabalha com vários materiais, inclusive com casca de coco, pó de madeira e cola. São materiais naturais reciclados. Faz também entalhes de madeira reproduzindo animais da região e mesmo de outros estados do Brasil. "Ultimamente tenho feito algumas esculturas de cimento e já tenho peças de espalhadas em vários cidades do país. É um trabalho simples, humilde, procuro sempre dar vida aos meus trabalhos." Sempre procurou aproveitar materiais da natureza, que estão disponíveis na região. 
Essas pequenas esculturas de tartarugas mostram que o Ricardo poderia criar outros produtos, mas para isto precisaria de cursos para conhecer novos materiais e novas técnicas para melhorar ainda mais a qualidade dos produtos que cria. Também, seria necessário que houvesse um local onde os artistas pudessem expor seus produtos e obras para que os visitantes pudessem conhecer e adquiri-los.

Ana Belck usa massa de biscuit. em suas obras.
A jovem paulista Ana Belck de vinte e seis anos, nasceu em São Paulo, mas mora em Ribeira do Pombal desde um ano de idade. Ela disse que
 teve contatos com os mais variados tipos de materiais e instrumentos ligados à arte. Escolheu trabalhar com a massa de biscuit ou porcelana fria em 2017. A Ana  modela as peças e depois passa a pintar suas pequenas esculturas.  Já adquire a massa de biscuit pronta e para colorir as peças usa tinta de tecido ou mesmo corantes em pó. Trabalha e manuseia cola branca, isopor, rolo para misturar a massa , arame galvanizado e estecas, que são ferramentas em metal usadas em modelagem e esculturas de argila para retirar excessos, cortar e criar sulcos.

Fabrício , artista versátíl no seu ofício de pintar.
O artista Fabrício Santana, embora seja natural de Euclides da Cunha, também reside em Ribeira do Pombal. É desenvolto para falar dos seus trabalhos e segundo ele tudo começou espontaneamente desenhando até chegar aos pincéis. Já fez algumas exposições. Ele contou que o primeiro desenho que fez foi para um tio que na época lhe pagou R$5,00. A partir daí viu que poderia ganhar algum dinheiro  desenhando, porque antes trabalhava na roça. A diária era muito baixa. Então no colégio ele desenhava os mapas das aulas de Geografia e outros trabalhos escolares. Sempre teve interesse em tornar-se profissional e sempre que pedia materiais à sua mãe para pintar ela não podia dar e ficava muito triste com isto. Até hoje quando lembro, ela chora". Lutei muito para vender meus quadros e com 17 anos vim para a Cidade e fui trabalhar de cabelereiro, onde fiquei durante um ano. Todo início de trabalho é difícil e passei muitas dificuldades, inclusive passei até fome. As coisas foram acontecendo e continuei desenvolvendo o meu trabalho de artista plástico. Participei de um concurso no colégio e ganhei o primeiro lugar e o segundo da região. Ganhei um kit de pintura e uma viagem para Salvador onde passei uma semana no Hotel Fiesta Bahia participando de um Workshop (é seminário ou curso intensivo, de curta duração, em que técnicas, habilidades, saberes e artes tudo aplicado e demonstrado). Tudo foi pago pelo Governo Federal e isto foi um ponto chave para continuar. Trabalhei na lanchonete MeKoma, que ficava na Praça Getúlio Vargas, e quando sai fui trabalhar no Centro Municipal de Cultura como desenhista. Ai passei a ficar mais conhecido e vendi minha casa e uma moto que tinha e me mandei para Carmo do Paranaíba, em Minas Gerais,  para participar de um evento com o artista mineiro  com o artista hiper realista Fabiano Milani e voltei com R$120,00 no bolso. Lá conheci minha atual esposa e estamos aqui na luta. Trabalho hoje com pintura residencial e artística. Ainda não fiz uma exposição individual, mas pretendo fazer em breve. O nome já foi escolhido Gratidão, a todos que me ajudaram".
José Ailton e algumas de suas obras realistas.
Morador da localidade de Barro Vermelho, na zona rural de Ribeira do Pombal o jovem  José Ailton Bezerra de Oliveira, que assina José Ailton, de 23 anos, disse que começou desenhando desde 10 anos de idade. Sempre que tinha uma folga das aulas do colégio desenhava uns coelhos e outros animais e as pessoas que viam ficavam admiradas dos desenhos. De lá para cá acho que evolui muito e fui mesmo levar a sério este meu dom de desenhar a partir de 2016 quando comecei a me interessar pelo desenho realista, que lembra uma fotografia. "
Trabalha como ferramenta os lápis em várias graduações que vai do HB até o 8B para conseguir dar todos os traços desde o mais fino ao mais grosso. Diz que "temos que ter uma boa técnica para tirar a dureza do lápis e dar uma ideia de pele quando desenhamos pessoas. Uso o ´papel Canson e para conseguir tenho que comprar em Feira de Santana e Salvador. Estou iniciando o uso de  lápis de cor para os desenhos. Atualmente os lápis de cor são  marca Faber Castel que é bem melhor para   desenhar.  Estou também fazendo escudos e letreiros, uma forma de sobreviver com a minha arte. Mas, confesso que está muito difícil no momento sobreviver de arte em Ribeira do Pombal. Atualmente estão devagar as encomendas de desenhos. Agora estou também cortando cabelo e ainda trabalho na roça, e dá uma risada, mostrando sua disposição em enfrentar a vida  sem lamúrias. Já mostrou seus desenhos na Cultureira, em 2018 aqui em Ribeira do Pombal . Com a pandemia tudo parou. O meu sonho é expandir minha arte e mostrar em outras cidades." 

NR - Meus agradecimentos a Hamilton Rodrigues por sua busca pelos artistas . Quando é um texto com vários depoimentos dá mais trabalho porque depende dos horários e disponibilidade das pessoas.