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Zebay pintando em seu ateliê na cidade de Ibicuí. |
Desde garoto
que já desenhava, procurava tocar violão e entrar em contato com os livros. Na
década de setenta vieram para a cidade de Ibicuí, interior da Bahia, os
estudantes do Projeto Rondon e queriam conhecer as coisas e pessoas da Cidade.
Eles organizaram uma exposição e Zebay apresentou um trabalho que foi exposto e
premiado. O Projeto Rondon foi criado em 1967 e funcionou até 1989 envolvendo mais
de 350 mil estudantes. O objetivo era contribuir com o desenvolvimento da
cidadania dos estudantes universitários, empregando soluções sustentáveis para
a inclusão social e a redução de desigualdades regionais. O Projeto Rondon tinha como lema "Integrar
para não entregar", expressando um ideário desenvolvimentista articulado à doutrina de
segurança nacional. O projeto
promovia atividades de extensão universitária levando
estudantes voluntários às comunidades carentes e isoladas do interior do país,
onde participavam de atividades de caráter notadamente assistencial,
organizadas pelo governo.
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Retratos de autoria de Zebay mostram a qualidade do desenho, pintura , composição e o cromatismo.. |
A partir desta exposição e sua paixão pelos grandes mestres do passado
da pintura aumentou. Foi quando conheceu as obras do pintor francês
Jacques-Louis David por meio de suas leituras. Passou a observar
cuidadosamente cada detalhe procurando desenvolver a sua técnica. Disse o
artista Zebay que atualmente conversa com outros artistas e continua fazendo suas
telas artesanalmente no seu ateliê e que inclusive que tem uma artista amiga
que reside em Nova Iorque e sempre está lhe passando informações sobre as novidades que surgem por lá. O artista Zebay revelou que fica fascinado
ao fazer suas telas artesanalmente. "Encomendo os chassis em Vitória da
Conquista. Compro os metros de linho ou mesmo de tecido de algodão. Corto no tamanho
desejado e estico nos chassis. Também às vezes prendo na bancada com pregos o
pedaço de tecido que vou usar para fazer a tela, lixo para tirar os caroços e
outras imperfeições, e se não ficar completamente liso com o auxílio de uma
agulha coloco os nós maiores para o fundo do tecido. Passo a lixa levemente, e
em seguida esquenta a Cola Coelho em banho-maria e vai passando no tecido, deixando secar a primeira camada durante um dia para depois dar a segunda
mão de Cola Coelho". Reconhece que "pode ser trabalhoso, mas para mim
dá uma sensação muito grande por estar preparando artesanalmente o meu material
de trabalho”. Ao término das camadas da Cola Coelho ele passa uma camada de
gesso acrílico.
VISÃO DO UNIVERSO
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Também pinta ícones de santos . |
"Sobrevivo com esta energia e o Universo ajuda a
vender meus trabalhos. Quando a obra está pronta coloco na parede fico olhando
todo dia e namorando cada detalhe que pintei.", descreve Zebay.
Disse ainda que fica feliz no seu ateliê em Ibicuí, e que já morou em Salvador,
na praia em Itacaré e que pode morar em qualquer outra cidade, no Recôncavo e
na Chapada. "Minhas coisas acontecem assim. O importante é que o Universo
me ajuda e tenho que trabalhar. Tenho que ter uma dinâmica e disciplina. Quanto
à minha técnica venho aprimorando a cada dia. Começo a pintar com uma tinta bem
rala e vou preenchendo os espaços. Aí me livro da tela em branco, e vou
colocando outras camadas de tintas. Primeiro, é a fase da tinta magra, aí vou
incorporando, e na terceira fase dou os toques de luz e sombra. Ao término
parece que as figuras querem sair da tela e se livrar de mim", diz
brincando o Zebay.
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Zebay ensina crianças a pintar no bairro El Dourado, Ibicuí, 2017. |
A Cola de Coelho
que ele utiliza é muito usada principalmente em restauração, preparação de
telas para pintura e douramento, além de outras aplicações artísticas. É
uma cola tradicional feita a partir do colágeno de coelhos, solúvel em água
morna e conhecida por sua capacidade de selar e unir materiais. Já o gesso
acrílico é usado para preparar telas de pintura, criando uma superfície lisa e
uniforme para receber a tinta. Ele ajuda na aderência da tinta, protege a
tela e pode influenciar na durabilidade e vivacidade das cores. O gesso
acrílico é o mais comum para essa finalidade, sendo dissolvido em água, é de
fácil aplicação e secagem rápida. Finalmente ele passa o Líquen Windsor & Newton na base de água
que acelera a secagem das tintas a
óleo, melhora a fluidez, aumenta o brilho, é resistente ao amarelecimento e
ideal para técnicas de veladura, além de
criar finas camadas vidradas ou pintura em trabalhos detalhados.
QUEM É
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Pintando retratos de Jorge Amado e Adonias Filho da série Terras do Sem-Fim. |
O artista José Alberto Ferreira Silva, que assina Zebay, nasceu em
dezoito de
janeiro de 1964 na cidade de Ibicuí, que dista 461 Km de Salvador.
Filho de Almerindo Gomes Silva e d. Aracy Ferreira Silva. O seu pai era
caminhoneiro e também operava os equipamentos do cinema da cidade. Também trazia as mercadorias de Salvador para o município ,que até hoje é considerado
de pequeno porte, com menos de 16 mil habitantes. O Zebay estudou até o nono
ano, e não concluiu o curso secundário. É artista autodidata e seu conhecimento de técnicas de pintura e de artistas clássicos, renascentistas, neoclássicos, além dos modernos e contemporâneos vem de suas leituras e pesquisas que continua fazendo.
Começou a
desenhar nos anos 70 e tinha uma fascinação pelos circos mambembes que chegavam
à cidade de Ibicuí, principalmente por um deles que "tinha um mágico do
cabelo grande." Eles armavam suas lonas e arquibancadas num campinho
que a garotada costumava diariamente jogar bola. Portanto, tinha a alegria da
chegada do circo, por sua presença com bailarinas, mágicos, palhaços e os
trapezistas, mas por outro lado, privava os meninos do campinho.
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Desenhos de futuras obras do artista. |
"Para entrar
de graça no circo a gente ia buscar água no rio Gongoji para os artistas do circo.
Embora o rio estivesse a poucos metros da cidade não havia água encanada
naquela época. O tempo passou, e certo dia os políticos locais conseguiram que
o Banco do Brasil construísse uma agência na cidade. O local escolhido
foi exatamente o campinho de bola onde a garotada se divertia todos os dias.
Passados uns tempos um circuito elétrico provocou um grande incêndio destruindo
completamente a agência do BB, e o local passou a ser chamado pela população
local de banco queimado. Acontece que àqueles garotos que brincavam no campinho
já estavam adultos e muitos nem mais moravam em Ibicuí. Mas, o campinho
continua sendo utilizado por outros garotos das novas gerações.
A PINTURA
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A elegante d. Edite da série Cine Ibicuí. |
O artista Zebay relembrou que na cidade de Ibicuí tinha um
alfaiate boêmio casado com uma mulher muito elegante e bonita chamada d. Nina.
Naquela época quase não existiam roupas - prêt-à-porter - ou seja pronta para
vestir, e você ia ao alfaiate, ele tirava as medidas e confeccionava sua camisa
ou calça. Hoje ainda existem alfaiates que confeccionam ternos exclusivos para
clientes especiais. O Zebay admirava tanto a d. Nina que certo dia teve um
sonho e decidiu pintar o seu retrato. Disse que ela todos os dias tomava o seu
banho e se postava na janela da casa para ver o movimento na pracinha. Quando
esteve com ela durante a conversa d. Nina lembrou de seu pai operando o
projetor do cinema. Nesta sua visita à elegante d. Nina notou que ela tinha
sido acometida de vitiligo, doença de tira a pigmentação da pele, ofuscando um
pouco da sua beleza. Lembrou ainda do seu tempo de infância de d. Edite e suas
duas irmãs que eram donas do Cartório local. Elas ao sair às ruas se vestiam
como se fossem a uma festa com os melhores vestidos e portando joias. "A
d. Edite tinha os olhos verdes”, e essas reminiscências lhe servem de
inspiração para pintar.
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Mulheres da Rua da Palha. |
Também
relatou sobre suas buscas por um trabalho autoral e falou de sua admiração
pelos pintores pernambucanos Reynaldo Fonseca e do João Câmara. Mas, sua maior
inspiração vem do pintor neoclássico francês Jacques-Louis David (1748-1825). Considerado o
representante francês do neoclassicismo, e consta na História da Arte que ele
controlou durante anos as artes na corte francesa de Napoleão Bonaparte. Ao observar
uma pintura de Zebay notamos que alguns de seus retratos realmente lembram os pintados
naquela época. A técnica é apurada e todo o trabalho artesanal na preparação da
tela e no uso de tinta a óleo para pintar lhe proporciona criar um ambiente de
tempos passados.
Voltando aos personagens do seu mundo de sonhos ele
também falou dos personagens reais que vivem na zona rural do município de
Ibicuí os quais também lhe inspiraram. Citou o romance do escritor Jorge
Amado Terras do Sem-Fim, lançado em 1943. "O livro descreve conflitos em busca da conquista de pedaços de terra nas
florestas da Bahia, para transformá-los em plantações de cacau." Para
realizar esta série que intitulou Terras do Sem-Fim parodiando o romance do grande escritor baiano
Zebay faz viagens pela zona rural e lá de acordo com os familiares da casa
escolhem uma pessoa, mais querida da família, e pinta na frente da casinha.
Também já pintou as senhoras que na época moravam na Rua da Palha que era a rua
de diversão dos jovens que estavam de passagem para a vida adulta. Eram
mulheres que viviam de comercializar os seus corpos, muitas vezes pela grande
dificuldade de sobrevivência.
EXPOSIÇÕES
COLETIVAS
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Exposição no Condomínio Cidadelle, em Itabuna. |
Em 1974 fez
sua primeira exposição organizada pelo Projeto Rondon - Ibicuí/BA. 1983 -
Feira de Arte – Itabuna/Ba; 1983 a 1985 - I, II e II
Salão de Artes Plásticas da Região Cacaueira, Ilhéus/Ba. 1984 -
FUNARTE – Rio de Janeiro/RJ. 1985/86 - I e III Salão de Arte
– Ibicuí/Ba; 1a e 2a Semana de Arte – Ibicaraí/Ba; 1° Salão de Arte –
Ibicuí/Ba; Semana Cultural de Nova Canaã/BA. 1987 -Teatro
Municipal de Ilhéus/BA. 1988 - Centro de Cultura –
Itabuna/BA. 1989 - Galeria de Arte Vila Imperial –
Vitória da Conquista/BA. 1990 - Clube Social – Vitória
da Conquista/BA. 1991- Galeria de Arte Vila Imperial –
Vitória da Conquista/Ba. 1992 - III Salão Regional de
Arte – Itabuna/BA. 1993 - Exposição Coletiva –
Barcelona /Espanha; Exposição Coletiva – Centro de Cultura Adonias Filho –
Itabuna/BA. 1996 - Exposição Coletiva – Galeria de
Artes Valéria Vidigal – Vitória da Conquista/BA; Exposição Coletiva - Centro de
Convenções – Salvador/Ba. 1998 - Exposição Coletiva -
Livraria Papiros – Ilhéus/BA; Exposição Coletiva - Galeria Valéria Vidigal –
Vitória da Conquista/BA; 1ª Mostra de Arte e Decoração – Vitória da
Conquista/Ba; coletiva com Adelson do Prado. 1999 -
Exposição Coletiva Hotel Transamérica – Ilha de Comandatuba; Mostra de Natal –
Livraria Papiros – Ilhéus/BA. 2002 - Coletiva Centro de
Cultura Adonias Filho – Jornal Agora – Itabuna/BA. 2004 -
Coletiva Jequitibá – Jornal Agora - Plaza Itabuna/BA. 2013 -
Exposição Coletiva Cidadele – Itabuna/Ba. 2017 -
Exposição Coletiva - Carrousel Du Louvre – Paris; Exposição Coletiva – Galeria
Geraldes – Porto, Portugal. 2019 - Exposição Coletiva –
Gilda Queiroz Galeria – Belo Horizonte/MG.
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Cinco obras da exposição na Galeria Geraldes, cidade do Porto, em Portugal. |
INDIVIDUAISEm 1984 -
Salão Paroquial -Ibicuí/BA. 1985 - Coelba - Ibicuí/BA. 1987 - Galeria de ArteÂnima -Itabuna-BA. 1988-
Murais em Salvador-BA. 1989 - Galeria de Arte Vila
Imperial - Vitória da Conquista-BA. 1995 - Individual
FransCafé – São Paulo-SP.1997- Galeria da Arte
Valéria Vidigal - Vitória da Conquista/BA. 2000 -
Galeria de Arte Valéria Vidigal - Vitória da Conquista-BA.
PREMIAÇÕES: Em 1983 -
1° Lugar – II Salão de Artes Plásticas da Região Cacaueira. 1984 -
Premiado do III Salão de Artes Plásticas da Região Cacaueira. 1985 -
Salão de Artes da Região Cacaueira. 1986 - 1° Lugar –
1° Salão de Arte – Ibicuí-BA; 1° Lugar – III Salão de Artes Plásticas da Festa
do Cacau – Ilhéus-BA. 1992 - III Salão Regional de
Artes Plásticas – Itabuna-BA. 1997: Troféu Cidade Artista do Ano – Vitória da
Conquista-BA; Homenagem Câmara de Vereadores de Ibicuí-BA.
Belos quadros!
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