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domingo, 19 de maio de 2013

BRASILEIROS E ALEMÃES


JORNAL A TARDE SALVADOR SÁBADO, 13 DE NOVEMBRO DE 1976

              
Realidades foram confrontadas de diferentes países e culturas: Alemanha e Brasil.No final, um trabalho sério e com um conteúdo que deverá servir para outros estudos posteriores que serão feitos na Alemanha. Assim os artistas alemães berlinenses do grupo cooperativa Kwartz estiveram durante um mês em Salvador reunidos com artistas brasileiros, nordestinos onde trocaram ideias e discutiram coisas. A vivência foi  de muito importância para os brasileiros que desconheciam técnicas principalmente da serigrafia e muita coisa da nova maneira ou processo da linguagem contemporânea através da cinematografia, foto linguagem, desenhos, montagens, vídeo-arte, audiovisual e até nos gestos esforçados para quebrar a grande barreira das línguas, o alemão e o português.
Inicialmente as dificuldades foram grandes, especialmente, aquelas tão comuns entre pessoas que falam línguas diferentes e não tem conhecimento recíproco.Deste encontro nasceu a mostra que está aberta ao público no Instituto Goethe, no Corredor da Vitória. O artista Bené Fonteles que participou do encontro e agora coordena a exposição afirmou que " nos reuníamos diariamente discutindo e trabalhando em equipe. Enfrentamos muitos problemas além das línguas e falta de tempo porque as pessoas tinham outras obrigações a cumprir ligadas à sobrevivência. Mas continuamos trabalhando e no final nos entendíamos perfeitamente. O material utilizado era escolhido com ampla liberdade como também as coisas que  abordamos. Assim usamos envólucros de filme super-8, rótulos de cerveja, recortes de propaganda imobiliária de grandes lançamentos nos jornais da cidade, realizamos colagens e montagens mostrando a disparidade entre as obras suntuosas dos espigões e gente passando fome na Maciel."
"No final todos ficaram satisfeitos porque embora de países e origens diversas temos as mesmas preocupações  e queríamos nos expressar da mesma forma através dos processos artísticos",disse ainda Bené.


O alemães fizeram questão de declarar que não estão ligados apenas à técnica da serigrafia, pois dedicam-se também à criação de objetos e outras manifestações para se expressarem.Disseram que trabalham com água-forte em metal, usam tintas acrílicas, aquarela e guache, além do spray, na confecção dos murais integrados na arquitetura. Trabalham com embalagens , com materiais considerados imprestáveis ela sociedade de consumo.
O artista Reister -  alemão - trabalha com sacos plásticos, embalagens e executa pintura sobre objetos pré-fabricados. Já o Foeller tem a preocupação em construir molduras para o público usar em si mesmo ou escolher determinado objeto ou paisagem para enquadrar seu achado de imagem. O Hoffmann estende nas suas obras de suporte de objetos nelas representados. Estes objetos estão expostos na mostra, feitos de materiais plásticos e com seus tamanhos acrescidos. Já Sylla inventa objetos eletrônicos para serem usados no corpo com adereços numa proposta de continuidade: corpo-arte eletrônico. Estes objetos são criados também para ser utilizados sobre qualquer superfície. Ele não vê qualquer diferença em se comprar um quadro e colocar na parede ou se adquirir um objeto e adornar o corpo.
Na realidade estes artistas buscam uma saída dos limites convencionais no conteúdo e na forma e utilização dos objetos de arte. Tem uma preocupação em inovar, preocupação, esta, que sempre deveria existir em todos aqueles que vivem da criação. Todo o trabalho e fundamento numa vivência existencial desses artistas que é compartilhada pelo grupo e por todos aqueles que visitam ou visitarão suas exposições. Eles não tem um compromisso formulado, pronto. É como diz Reister " não tenho um compromisso formulado, completo. Estou cercando o problema.Não cheguei ainda diretamente ao homem, mas estou a caminho. Talvez daqui a dois anos, já possa dizer alguma coisa mais eficaz sobre este comportamento."
Todos estão situados dentro de uma linguagem atual, moderna, procurando o melhor caminho para uma comunicação mais eficaz através do trabalho de arte.
Um trabalho feito fora de uma linguagem conceitual, conhecida, isto é, numa linguagem progressista. Estão preocupados também em criar novas formas que sejam percebidas pelos homens e através da recriação de coisas existentes numa percepção inovadora. O próprio Reister quando coloca um saco plástico na cabeça de um pássaro está, segundo ele, mostrando uma nova maneira de perceber as contradições existentes.
O realismo que norteia o trabalho do grupo tem uma ligação muito grande com a estética e aprofundamento da temática que possibilita o deciframento das mensagens. Todas as propostas do grupo visam ainda encontrar uma boa qualidade do trabalho.
Vejam algumas informações e conceitos sobre a mostra que foram apresentadas pelos artistas berlinenses: Peter Foeller, Janek Sylia e Werner Reister. Pelos cearenses: Henrique Barbosa e Alberon Soares e pelos baianos: Edson Calmon, Rose Urban, Ronaldo Taccarezza, Gray Melo, Chico Barreto, Bené Fonteles e Cosme Gumas:
 -  Esta exposição procura se mostrar de uma maneira direta e didática como principal intenção conceitual;
Insistir que a obra tendo ou não de suporte, ativa para qualquer dos fins a ela destinadas da mesma maneira que são usados outros meios mais avançados ou vanguardistas;
 - Desmistificar desta maneira todas as mistificações em torno de uma visão da arte como se vê no habitual:
 - Procurar suportes não utilizados habitualmente para comunicar novas sensações vivenciais;
 - Esta mostra se reverte de algo mais do que simples celebrações da mente, A procura de estética-estilo. Ela é um exercício livre de grupo procurando a descoberta da emoção de viver junto um trabalho de conhecimento arte-vida;
 - Esta mostra foi totalmente montada com obras propostas pelo grupo nordestino utilizando material vivencial dos três artistas alemães, e demais obras que o grupo propôs depois deste trabalho de convivência;
 - São expostos por exemplo, roupas os três macacões amarelos com o logotipo do Kwartz nas costas. Estas roupas na mostra estão em vitrines fazendo parte de processos de foto linguagem ou sendo comparadas a uma proposta de roupa Vista Brasil acontecimento em super-8, ou ainda sendo exposta em andaimes repuxada por fios, significando o sacrifício de um artista alemão tentando se comunicar com pessoas e materiais diferentes;
 - Uma mostra que se completa a cada lance, materiais meios de expressão que são utilizados como fragmentos para  complementar outros momentos.Um exemplo é que, um super-8 complementa um ambiente que por sua vez completa seu círculo-obra com uma serigrafia, um desenho ou uma montagem. Interligam-se meios de expressão em partes diversas da mostra para denunciar uma sensação única.
 - Latas de tinta, rolos, pincéis, estopa suja, fitas, papéis, esboços, estudos, desenhos, serigrafia, cartaz, montagens, colagens, postais, cartas, fotocópias, documentos, fotografias, a linguagem da foto em seqüência, esboços de foto linguagem, audiovisual, visual, áudio, super-8, vídeo a vida... são materiais utilizados para cumprir circuitos de imaginação e propor uma diferente forma de visualização destes circuitos imaginados, solucionados, realizados.
 - Portanto, os meios de comunicação tentando até o último momento desta mostra procuram estabelecer um labirinto didático sem fazer concessões á linguagem do habitual, os suportes de  mostragem de uma exposição de arte, mesmo porque seria impossível estabelecer limites, para uma maioria de artistas que neste encontro tiveram o habito de se mostrar inteiramente abertos para novas linguagens de aprendizado. O que se mostra aqui é uma pequena documentação destes hábitos.

           III CONCURSO NACIONAL DE ARTES PLÁSTICAS

O Governo do Estado de Goiás lançou o Concurso Nacional de Artes Plásticas de caráter anual e permanente, a ser realizado e patrocinado pela Caixa Econômica do Estado de Goiás. O valor dos prêmios vincula-se ao salário mínimo regional vigente, para que não haja desatualização, estando fixada a importância correspondente a duzentos e cinqüenta vezes o valor do aludido salário mínimo. Assim, a premiação, este ano, monta em CR$150 mil cruzeiros. Quanto aos gêneros plásticos poderão ser alterados anualmente de acordo a diversidade de preferência dos candidatos. Eis o regulamento na íntegra para conhecimento dos artistas interessados em participar do concurso:

ARTES PLÁSTICAS
01-  Fica instituído o III Concurso Nacional de Artes Plásticas, compreendendo os gêneros: Pintura, Desenho e Gravura.
02-  O artista poderá concorrer em mais de um gênero, ficando, todavia, obrigado a apresentar, exatamente, três obras em cada gênero de Artes Plásticas em que se inscrever.
03-  O valor dos prêmios em Pintura, Desenho e Gravura totaliza CR$ 150.600,00 cento e cinqüenta mil  e seiscentos cruzeiros. A Comissão Especial de Julgamento determinará, tendo em vista a qualidade e quantidade dos trabalhos apresentados em cada gênero bem como o interesse da Caixego em formar seu acervo, a divisão da verba da premiação destinada aos três gêneros.
04-  Haverá um prêmio-aquisição, no valor de CR$ 15.000,00 quinze mil cruzeiros, que será conferido a artistas(s) domiciliado (s) em Goiás há mais de três anos, a critério da Comissão Especial de Julgamento.
05-  A Caixa Econômica do Estado de Goiás se reserva o direito de convidar, oficialmente, artistas renomados para participarem do Salão de Artes Plásticas do Concurso, isentos de seleção.
Único- A estes artistas a Comissão Especial de Julgamento poderá atribuir até 30% do valor do prêmio estipulado em cada gênero.
06-  As obras contempladas com o prêmio de aquisição será atribuído o valor correspondente aquele declarado pelo artista, na ficha de inscrição.
único- a Comissão Especial de Julgamento verificará, também se o valor declarado pelo artista corresponde ao nível de avaliação no mercado de artes do País.
07-  A Comissão Especial de Julgamento atribuirá prêmios de aquisição ás obras cuja soma dos respectivos valores não ultrapassa a quantia estipulada no item 03 deste regulamento.
08-  Caberá, ainda, á Comissão Especial de Julgamento:
a)- selecionar, entre os trabalhos enviados, aqueles que deverão ser expostos no Salão do III Concurso Nacional de Artes Plásticas;
b)- promulgar o resultado, fornecendo a relação das obras contempladas com os prêmios de aquisição em cada gênero;
c)-redigir a ata do julgamento;
d)- redigir uma apresentação, com comentários críticos, das obras adquiridas.
09- As obras adquiridas passarão a integrar o patrimônio da Caixa Econômica do Estado de Goiás.
10- Poderão inscrever-se artistas estrangeiros, desde que comprovem residir no País, há mais de 3 (três) anos.

                    PAINEL

MUDANÇA- de quando em vez sinto uma necessidade de mudar as coisas.Agora juntamente com o artista Carlos França que é um dos chargistas de  A Tarde planejamos a mudança do logotipo desta coluna. Aliás todas as outras modificações foram efetuadas com a ajuda do Carlos França que é um dos novos talentos a Escola de Belas Artes da UFBA.

MINHA CIDADE - O Projeto de Atividades Culturais Cacau e a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna resolveram lançar um concurso Minha Cidade é Bonita para as melhores fotografias enviadas pelas prefeituras dos diversos municípios da região cacaueira.
A melhor fotografia de cada município passará a fazer parte de uma exposição permanente no escritório do órgão em Salvador, e as três consideradas de melhor nível serão distribuídos prêmios especiais.

GAÚCHO NO CIA -O gaúcho Túlio Olliver está expondo na biblioteca do Colégio Polivalente de Aratu, no Cia. Ele chegou a Bahia em 1970 e vive refugiado em seu atelier no Jardim Bahiano onde vem concebendo alguns trabalhos de qualidade. Aprendeu a manejar o pincel e a misturar convenientemente as tintas com o italiano Aldo Locatelli. Durante uns 10 anos frequentou o atelier deste artista italiano e depois decidiu viver de sua arte. Sua temática não apresenta nada de novidades. As flores exuberantes e coloridas , as figuras de baianos e os casarios bucólicos das ruas enladeiradas da velha Salvador. Sem dúvida; que Tullio ainda está extasiado com a beleza e magia desta Bahia que ele viu como viajante, e até hoje, não conseguiu deixar de retratá-la. Os jogos de sombra e luz satisfazem. Consegue uma transparência e tons sobre tons que determinam o seu conhecimento da técnica. Porém, Tullio ainda está preso ao desenho, as formas rígidas. Sua pintura ainda não saiu do acasalamento. Tem talento. Um talento que necessita ser objeto de uma depuração e estudo contínuo. Acredito que a sensibilidade de Tullio e sua vontade inata de criar, vão proporcionar a execução de trabalhos mais bem cuidados e originais.

HANSEN BAHIA – O gravador Hansen Bahia inaugura a Galeria Sereia, na Ladeira da Barra, com uma exposição intitulada Despedida. Esta galeria pretende realizar uma experiência apresentando simultaneamente um artista consagrado e um artista novo.Agora foi a vez de Walber, um talento que desabrocha.
COSTA PINTO – O artista Costa Pinto conhecido por seus casarios e marinhas , está participando da coletiva organizada pela Galeria O Cavalete. Esta mostra é comemorativa do aniversário da galeria que fica no bairro do Rio Vermelho. Foto

NA GALERIA BONFIM – Quatro artistas estão expondo na Galeria Bonfim entre eles Emídio Magalhães, Ângelo Roberto, Edvaldo Gato e Marcos dos Santos.

SUMIU –  Está sumido o furioso catálogo da Fundação Cultural do Estado...


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