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sábado, 11 de maio de 2013

CONVENTO DO DESTERRO ABRE AS PORTAS MOSTRANDO ACERVO


JORNAL A TARDE ,SALVADOR,SÁBADO, 13 DE AGOSTO DE 1977



Encerrando as comemorações alusivas ao seu tricentenário, o Convento de Santa Clara do Desterro inaugura amanhã uma exposição de obras do seu acervo, principalmente peças do século XVIII, entre imagens, telas de autores desconhecidos, vestuários e pratarias, além de abrir a visitação pública sua capela e o parlatório, onde as irmãs Clarissas, fundadoras do Convento, receberam visitas de parentes ou assinavam escrituras.
Dentro da programação para a data, estão previstas duas missas, sendo uma celebrada pelo Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, onde será lida a breve do Papa Clemente XX, autorizando o funcionamento do Convento, e também a abertura de uma exposição de artesanato, elaborado por alunas internas do orfanato de Santa Clara do Desterro.

DIA DE SANTA CLARA
Imagem de Santa Clara,século XVII
Fundado em 8 de maio de 1677, o Convento de Santa Clara do Desterro, ao comemorar seu tricentenário, vem realizando uma série de atividades que culminarão com missas e exposições de arte e artesanato, justamente no dia 14 de agosto, data dedicada a Santa Clara, padroeira da instituição.
Organizada por uma equipe de historiadoras e professoras de museologia, coordenada pelo Diretor da Fundação Cultural do Estado, Valentim Calderon, a exposição de Arte Sacra, será inaugurada ás 18 horas, devendo permanecer aberta á visitação pública durante uma semana.
Entre o imenso acervo que possui o Convento as organizadoras desta exposição escolheram peças de grande valor e beleza, detendo-se especialmente ás do Século XVII, XVIII e XIX, mostrando inclusive vestes religiosas ainda do tempo em que as irmãs Clarissas eram responsáveis pela instituição religiosa.
Estarão expostas no segundo pavimento do Convento, peças e alfaias para celebração de atos litúrgicos, imagens antigas de diversos santos, destacando-se a imagem mais antiga do acervo, que é de sua Santa padroeira (Santa Clara), um trabalho cuidadoso e rico em seus menores detalhes.
Belas e antigas imagens nunca expostas ao
público baiano

Entre as peças de vestuaério que poderão ser apreciadas pelo público, encontram-se confecções e bordados feitos pelas clarissas, bem como por suas sucessoras, as irmãs franciscanas do Sagrado Coração de Jesus, atuais responsáveis pelo convento Arcas seiscentistas onde as Clarissas costumavam guardar seus enxovais e objetos de prata constituirão ainda atração para os apreciadores de arte que forem visitar a exposição.
Os organizadores da exposição chamam a atenção também para o fato de ser esta uma oportunidade de se conhecer a Capela do Convento, onde existe um tabernáculo de prata em estilo barroco, bem como a própria arquitetura e beleza interior das instalações do Convento, primeiro estabelecimento para religiosas construído no Brasil.
Poderão ser visitados a Cela de Madre Vitória da Encarnação, religiosa que ingressou no convento em 1686, falecendo em 1715, com fama de Santidade, e o pariatório das Clarissas, também chamado de casa das grades, onde estas religiosas recebiam seus parentes e assinavam documentos.

FUNDAÇÃO DO CONVENTO

As irmãs franciscanas quando arrumavam a
exposição na manhã de ontem
O Convento de Santa Clara do Desterro foi fundado em 1677, quando quatro irmãs da Ordem das Clarissas, de Évora, Portugal, vieram para o Brasil, a fim de implantar o ensino religioso. Quando chegaram á Bahia, permaneceram durante 10 dias a bordo do navio, aguardando que fossem finalizadas algumas obras no Convento, que até esta época não passava de uma pequena igreja, denominada de Desterro.
No ano de 1907, por decreto superior. A ordem deixou de formar religiosas, porque foi proibido o noviciado. As poucas clarissas sobreviventes foram transmitindo seus ensinamentos e suas funções para as suas seguidoras, as irmãs franciscanas.
Para dar continuidade a obra das Clarissas atualmente existem 20 irmãs no Convento do Desterro, encarregadas de manter um orfanato para 50 crianças. As maiores, diz irmã Maria do Rosário, ajudam nas costuras, no preparo de doces e licores e nos trabalhos de cozinha, vendidos para que possa ser garantida a manutenção do internato. Além disto, o Convento tem atualmente uma escola em regime de externato e com as mensalidades engariadas possibilita respaldo financeiro para as obras assistenciais.
Nos seus três séculos de funcionamento, o Convento do Desterro já sofreu alguns reparos, mas ainda conserva grande parte da antiga estrutura. No dia em que comemoram a data dedicada a sua padroeira e encerram as festividades do tricentenário, além da exposição de Arte Sacra, será realizada outra de bordados, trabalhos de aplicação em tecidos, toalhas de mesa e peças de artesanato feitas pelas alunas internas.

TÉCNICOS DA OIT DENUNCIAM VIDA DE ARTISTAS

 A diferença entre os salários dos artistas e outros trabalhadores, bem como o desemprego e a inadequada proteção da propriedade intelectual, são algumas das denúncias contidas no informe da Organização Internacional dos Trabalhadores - OIT, que foi elaborado para a próxima reunião do órgão em Genebra.
Os artistas mais desprestigiados são os de palco, ou seja atores, cantores e músicos. O informe revela que na Noruega a maioria dos artistas ganha menos de 1.900 dólares anuais, um quarto do salário médio inicial de um funcionário público e ainda que na França atores e escultores ganham menos que o salário mínimo estipulado a nível nacional.
Sobre os músicos, cantores e atores, o documento revela que estão sempre á revelia dos altos e baixos da temporada e que, ultimamente, tem sofrido o impacto dos espetáculos eletrônicos, tais como os transmitidos pelo rádio e televisão, ou ainda dos discos e fitas gravadas.
Diz ainda o documento que em quase todo o mundo um número considerável de artistas são obrigados a procurar trabalhos suplementares para garantir a sobrevivência. Vale notar que no informe da OIT os Estados Unidos não foram citados.
No Brasil a situação chega a ser catastrófica porque não existem empregos para suplementação do salário e mesmo outros elementos importantes, como poder aquisitivo para consumo da arte e educação que influenciam no mercado, e portanto, diretamente no bolso do artista. Na Bahia terra de muitos artistas, terra de casarios e outros bichos, a coisa chega a nos deixar desanimados quanto a novas perspectivas. Temos que separar os bons dos ruins para que possamos aplaudir os verdadeiros artistas e assim dotá-los dos instrumentos necessários a uma vida digna.
A maioria dos artistas plásticos holandeses não consegue sobreviver com o produto de sua arte. A venda ocasional de uma obra não permite que se sustentem por muito tempo, embora exista um pequeno grupo cujo sucesso permite não apenas sobreviver, mas viver bem! decorre do fato a impressão errônea de que a arte que produzem é melhor que a de seus colegas menos  afortunados. Outra crença sem fundamento e oposta é de que um artista somente, se, engrandece se labutar na pobreza e na miséria, incompreendido pelos contemporâneos. Estas duas interpretações coexistem.
Museum Fodor Keizersgracht,em Amsterdam,
Holanda, 
onde ocorrerá a exposição
A maior parte dos artistas plásticos vive de outra profissão. Poucos deles possuem casa própria, grande número vive de biscates ou leciona. Vários deles vivem á custa do conjugue, inúmeros dependem da assistência social estatal.
Até a segunda guerra mundial, os artistas holandeses necessitados recebiam ajuda financeira do governo equivalente àquela paga aos desempregados. Sob a influência do sindicato de classe, ganhou terreno a idéia de que um produtor! A ajuda governamental deveria portanto ser encarada como ajuda ao desenvolvimento artístico o pagamentos passaram a ser feitos não somente para cobrir a subsistência como também para criar condições favoráveis ao desempenho da profissão.
Com isso, a remuneração mensal passou a ser mais elevada que a de um desempregado.
Para fazer jus á pensão paga pelo Estado o artista deverá comprovar seu progresso. Foi criada uma comissão que periodicamente avalia o mérito das obras e a evolução do autor. Esta nova regulamentação veio estimular grandemente a maior parte dos artistas clássicos, e teve três consequências imediatas:vários deles tiveram comprovado seu crescimento em termos artísticos, embora continuassem a não encontrar compradores no mercado; as academias e escolas de arte estão formando artistas de categoria em número crescente, sem se preocupar com a escassa demanda no mercado de trabalho!
Surgiu certa indecisão da comissão julgadora sobre qual a forma ou expressão artística moderna deve justificar a concessão de ajuda governamental.
Para compensar a ajuda financeira recebida, os artistas entregam regularmente, á comissão julgadora, obras de sua autoria. Que destino será dado a este acervo, que aumenta constantemente?
No momento, o governo encomenda aos artistas subsidiados, obras com finalidade determinada: ornamentação de prédios públicos, jardins, praças etc. Uma organização especializada se encarregada de administrar a vida das obras ás quais a comissão atribui valor artístico, emprestando-as a entidades que se manifestam a respeito e criando pólos de interesse em escolas, bairros, clubes etc onde são realizadas exposições ou onde as mesmas ficam emprestadas por tempo limitado.
O que de início era apenas uma pequena ajuda, dentro da regulamentação  da contra prestação, transformou-se em uma complementação de ganhos obtidos com trabalho artístico mudando inclusive de nome: Regulamentação das Atividades dos Artistas Plásticos (Beeldende Kunstenaars Regeling.
No momento, há uma exposição de obras subsidiadas no Museum Fodor Keizersgracht 609, Amsterdam que estará aberta até o dia 5 de setembro de 1977.

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